Carlos A. Steger*
Princípios
do louvor que exalta a Deus
Não é segredo que a
música, especialmente a de natureza religiosa, é um dos tópicos mais debatidos
no cristianismo. Sempre que nos deparamos com uma questão tão complexa e
difícil de resolver, é essencial estudar as Escrituras e os escritos de Ellen
G. White para obter princípios orientadores sobre como deve ser nossa música de
adoração.
O assunto torna-se cada
vez mais relevante à medida que nos aproximamos da crise final da história
deste mundo. De acordo com Apocalipse 13 e 14, a adoração será o ponto focal
que definirá o destino de cada ser humano. Teremos que escolher entre adorar a
besta (e sua imagem) e adorar a Deus. Adorar o Deus verdadeiro é tão importante
quanto adorá-Lo da maneira correta. Será que, mesmo com as melhores intenções,
ao usar músicas inadequadas, muitos cristãos estão adorando de maneira errada?
A Bíblia apresenta
muitos exemplos de pessoas que adoraram a Deus, relatando os motivos pelos
quais o fizeram. Com base nessas informações, podemos definir a adoração como a
atitude de humildade, reverência, honra, devoção e adoração dos seres criados
para com seu Criador, em reconhecimento aos Seus atributos (Sl 99:9; Ap 15:4) e
Seu poder criador (Ap 4:10; 14:7), redentor (2Rs 17:36; Ap 5:9) e protetor (Sl
59:16; 118:21).
A adoração é uma experiência pessoal, mas também é uma atividade familiar e comunitária. Nossa compreensão de Deus determina como nos aproximamos Dele e O adoramos. Portanto, é essencial saber, de acordo com a Bíblia, quem é Deus. O atributo da santidade divina destaca-se como essencial à natureza de Deus (Fernando Canale, “Principles of Worship and Liturgy”, Journal of the Adventist Theological Society, v. 20, nº 1-2, 2009, p. 98).
A
SANTIDADE DE DEUS E SEU POVO
Após a queda de Adão e
Eva, a adoração prestada pelos seres humanos ficou manchada, pois o pecado
afetou a todos nós. Não é o caso dos anjos, que não caíram em pecado.
Uma das passagens mais
instrutivas sobre a adoração celestial é Isaías 6, “o principal texto bíblico
sobre adoração” (Lilianne Doukhan, In Tune With God [Autumn House, 2010], p.
99). Isaías viu o Senhor sentado em Seu
trono, cercado por
serafins que cantavam: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a
terra está cheia da Sua glória (Is 6:3). A mesma confirmação é vista no livro
de Apocalipse, em que João viu quatro seres viventes ao redor do trono de Deus,
dizendo: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, Aquele que era,
que é e que há de vir” (Ap 4:8).
O fato de Deus ser
santo exige que Seus filhos também o sejam. O problema é que somos pecadores
por natureza. No entanto, quando nos arrependemos de nossos pecados e os
confessamos a Deus, Ele nos aceita como Seus filhos, perdoa nossos pecados e
nos declara santos, separando-nos para Ele. Esse novo status nos permite, por
meio da fé Nele e por Sua graça, crescer no processo de santificação, que “não
é obra de um momento, de uma hora, de um dia, mas da vida toda” (Ellen G.
White, Atos dos Apóstolos [CPB, 2021], p. 560; veja também Rm 6:19, 22; 1Ts
4:3).
Um Deus santo, que
graciosamente concede um status de santidade a Seus filhos e ordena que eles
cresçam em santidade moral durante toda a vida, também exige que tudo
relacionado à adoração seja santo, tanto em casa quanto na igreja.
A música oferecida pelo
coro de serafins (Is 6:3; Ap 4:8) é um modelo que devemos seguir ao fazer
música na presença do Senhor. “A música faz parte da adoração a Deus nas cortes
do Céu, e em nossos cânticos de louvor devemos tentar nos aproximar o máximo
possível da harmonia do coro celestial” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas
[CPB, 2022], p. 594). O cântico de adoração dos anjos revela que o reconhecimento
da santidade de Deus é a base da verdadeira adoração e da música religiosa.
A
SANTIDADE DE DEUS E A MÚSICA SACRA
A partir de nossa
compreensão do conceito bíblico da santidade de Deus e dos escritos de Ellen G.
White, surgem princípios específicos para a música religiosa, tanto em nível
pessoal quanto corporativo.
Atualmente, a
necessidade na música de fazer diferença entre o santo e o profano (Lv 10:10) é
mais relevante do que nunca. Inerentemente, toda música produz nos ouvintes uma
associação com ideias e experiências. “Os estilos musicais vêm com um pacote
cultural. Eles geralmente são associados a lugares, pessoas e ações” (In Tune
With God, p. 71). Associamos certos tipos de música a ambientes, atitudes e
modos de vida específicos. Portanto, conforme diz a declaração oficial da
igreja sobre o tema, “a música sacra não deve evocar associações seculares nem
convidar à conformidade com padrões mundanos de pensamento ou ação” (para ler o
documento na íntegra, clique
aqui).
Com relação à música
vocal, a letra biblicamente correta não é suficiente para que uma música seja
apropriada para adorar o Senhor. O caráter da música em si deve servir “a um
santo propósito, elevando os pensamentos para aquilo que é puro, nobre e
edificante, e despertando na alma devoção e gratidão a Deus” (Patriarcas e
Profetas, p. 594).
Entretanto, nem todos
os estilos musicais cumprem essa finalidade. Os estilos musicais foram criados
para atingir propósitos definidos em ambientes específicos. Portanto, ao
contrário de uma ideia predominante, o estilo musical não é um veículo neutro
para a mensagem cristã. “Um vasto conjunto de estudos musicológicos mostrou
que, em vez de ser um quadro em branco para a injeção de conteúdo proposicional
por meio de letras cantadas, o estilo musical em si comunica um conjunto
específico de ideias e valores para ouvintes cultos” (Monique M. Ingalls,
“Style Matters: Contemporary Worship Music and the Meaning of Popular Musical
Borrowings”, Liturgy, v. 32, n° 1, 2017, p. 7, 8). De fato, “os estilos
musicais são carregados de valores religiosos – eles são verdadeiras
personificações de crenças sobre a realidade” (Wolfgang H. M. Stefani, “The
Concept of God and Sacred Music Style” [Tese de doutorado, Universidade
Andrews, 1993], p. 278).
No entanto, a
combinação de palavras religiosas com estilos musicais profanos é cada vez mais
ouvida. “Infelizmente, grande parte da música cristã contemporânea se baseia no
mesmo tipo de ritmo, instrumentação, arranjo e som que a música do mundo. No
entanto, de alguma forma, espera-se que as letras religiosas transformem essa
música mundana em uma música sagrada” (John Thurber e Cari Haus, The Music of
Heaven [Remnant Publications, 2001], p. 68). Mas as Escrituras ensinam que as
coisas santas não santificam os objetos profanos; pelo contrário, quando essas
duas categorias entram em contato, o profano contamina o santo (Ag 2:12, 13). O
resultado dessa combinação é que o efeito da música em si, que é contrário aos
valores cristãos, sobrepõe-se completamente e prejudica a mensagem da letra. A
música mais apropriada é aquela em que há uma combinação perfeita de letra e
música, de modo que a letra e a música retratam a mesma mensagem (Austin C.
Lovelace e William C. Rice, Music and Worship in the Church [Abingdon Press,
1960], p. 20).
REPERTÓRIO
EDIFICANTE
Não há soluções fáceis
para a complexa questão da música “cristã” e de adoração. Limitar toda a música
religiosa aos hinos tradicionais não é a resposta, porque a questão não é
escolher entre música tradicional e contemporânea. O mais importante não é a
data em que uma música foi escrita, mas a mensagem que ela transmite, tanto na
letra quanto no estilo.
Ellen White escreveu:
“A religião de Cristo refinará os gostos, santificará o juízo, elevará, purificará
e enobrecerá a vida” (Review and Herald, 3 de dezembro de 1889). Em vez de
incorporar estilos musicais inadequados, ofereçamos música santa e edificante a
Deus e àqueles que nos rodeiam.
“Devemos aprender o
cântico dos anjos agora, para que o possamos entoá-lo quando nos unirmos às
suas hostes resplendentes” (Patriarcas e Profetas, p. 289). Que pela graça de
Deus, todos possam “estar preparados para se associarem aos adoradores de Deus
nas cortes celestiais, onde tudo é pureza e perfeição, onde toda criatura
demonstra absoluta reverência a Deus e Sua santidade” (Ellen G. White,
Testemunhos Para a Igreja [CPB, 2021], v. 5, p. 500).
*CARLOS
A. STEGER foi reitor da Faculdade de Teologia da Universidade
Adventista do Prata, na Argentina
FONTE:
Artigo publicado na edição de janeiro/2024 da Revista Adventista/ Adventist
World
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