Teologia

quinta-feira, 4 de março de 2021

O SACRIFÍCIO VOLUNTÁRIO DE CRISTO ASSEGUROU-NOS A REDENÇÃO


 Ellen G. White

O plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, formulado depois da queda de Adão. Foi a revelação “do mistério que desde tempos eternos esteve oculto”. Romanos 16:25. Foi um desdobramento dos princípios que têm sido, desde os séculos da eternidade, o fundamento do trono de Deus. Desde o princípio, Deus e Cristo sabiam da apostasia de Satanás, e da queda do homem mediante o poder enganador do apóstata. Deus não ordenou a existência do pecado. Previu-a, porém, e tomou providências para enfrentar a terrível emergência. Tão grande era Seu amor pelo mundo, que concertou entregar Seu Filho unigênito “para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. João 3:16.

Lúcifer dissera: “Subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. [...] Serei semelhante ao Altíssimo”. Isaías 14:13, 14. Mas Cristo, “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens”. Filipenses 2:6, 7.

Foi um sacrifício voluntário. Jesus poderia haver permanecido ao lado de Seu Pai. Poderia haver retido a glória do Céu, e as homenagens dos anjos. Mas preferiu entregar o cetro nas mãos de Seu Pai, e descer do trono do Universo, a fim de trazer luz aos entenebrecidos, e vida aos que estavam quase a perecer.

Cerca de dois mil anos atrás, ouviu-se no Céu uma voz de misteriosa significação, saída do trono de Deus: “Eis aqui venho.” “Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo Me preparaste. [...] Eis aqui venho (no rolo do livro está escrito de Mim), para fazer, ó Deus, a Tua vontade”. Hebreus 10:5-7. Nestas palavras anuncia-se o cumprimento do desígnio que estivera oculto desde tempos eternos. Cristo estava prestes a visitar nosso mundo, e a encarnar. Diz Ele: “Corpo Me preparaste.” Houvesse aparecido com a glória que possuía com o Pai antes que o mundo existisse, e não teríamos podido resistir à luz de Sua presença. Para que a pudéssemos contemplar e não ser destruídos, a manifestação de Sua glória foi velada. Sua divindade ocultou-se na humanidade — a glória invisível na visível forma humana.

Esse grande desígnio havia sido representado em tipos e símbolos. A sarça ardente em que Cristo apareceu a Moisés, revelava Deus. O símbolo escolhido para representação da Divindade foi um humilde arbusto que, aparentemente, não tinha nenhuma atração. Abrigou, porém, o Infinito. O Deus todo-misericordioso velou Sua glória num símbolo por demais humilde, para que Moisés pudesse olhar para ela e viver. Assim na coluna de nuvem de dia e na de fogo à noite, Deus Se comunicava com Israel, revelando aos homens Sua vontade e proporcionando-lhes graça. A glória de Deus era restringida, e Sua majestade velada, para que a fraca visão de homens finitos a pudesse contemplar. Da mesma maneira Cristo devia vir no “corpo abatido” (Filipenses 3:21), “semelhante aos homens”. Aos olhos do mundo, não possuía beleza para que O desejassem; e não obstante era o encarnado Deus, a luz do Céu na Terra. Sua glória estava encoberta, Sua grandeza e majestade ocultas, para que pudesse atrair a Si os tentados e sofredores.

Deus ordenou a Moisés acerca de Israel: “E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êxodo 25:8), e habitou no santuário, no meio de Seu povo. Durante toda a fatigante peregrinação deles no deserto, o símbolo de Sua presença os acompanhou. Assim Cristo estabeleceu Seu tabernáculo no meio de nosso acampamento humano. Estendeu Sua tenda ao lado da dos homens, para que pudesse viver entre nós, e tornar-nos familiares com Seu caráter e vida divinos. “O Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. João 1:14.

Desde que Cristo veio habitar entre nós, sabemos que Deus está relacionado com as nossas provações, e Se compadece de nossas dores. Todo filho e filha de Adão pode compreender que nosso Criador é o amigo dos pecadores. Pois em toda doutrina de graça, toda promessa de alegria, todo ato de amor, toda atração divina apresentada na vida do Salvador na Terra, vemos “Deus conosco”. Mateus 1:23.

Satanás apresenta a divina lei de amor como uma lei de egoísmo. Declara que nos é impossível obedecer-lhe aos preceitos. A queda de nossos primeiros pais, com toda a miséria resultante, ele atribui ao Criador, levando os homens a olharem a Deus como autor do pecado, do sofrimento e da morte. Jesus devia patentear esse engano. Como um de nós, cumpria-Lhe dar exemplo de obediência. Para isso tomou sobre Si a nossa natureza, e passou por nossas provas. “Convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos”. Hebreus 2:17. Se tivéssemos de sofrer qualquer coisa que Cristo não houvesse suportado, Satanás havia de apresentar o poder de Deus como nos sendo insuficiente.

Portanto, Jesus “como nós, em tudo foi tentado”. Hebreus 4:15. Sofreu toda provação a que estamos sujeitos. E não exerceu em Seu próprio proveito poder algum que nos não seja abundantemente facultado. Como homem, enfrentou a tentação, e venceu-a no poder que Lhe foi dado por Deus. Diz Ele: “Deleito Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração”. Salmos 40:8. Enquanto andava fazendo o bem e curando a todos os aflitos do diabo, patenteava aos homens o caráter da lei de Deus, e a natureza de Seu serviço. Sua vida testifica ser possível obedecermos também à lei de Deus.

Por Sua humanidade, Cristo estava em contato com a humanidade; por Sua divindade, firma-Se no trono de Deus. Como Filho do homem, deu-nos um exemplo de obediência; como Filho de Deus, dá-nos poder para obedecer. Foi Cristo que, do monte Horebe, falou a Moisés, dizendo: “Eu Sou o Que Sou. [...] Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a vós”. Êxodo 3:14. Foi esse o penhor da libertação de Israel. Assim, quando Ele veio “semelhante aos homens”, declarou ser o EU SOU. O Infante de Belém, o manso e humilde Salvador, é Deus manifestado “em carne”. 1 Timóteo 3:16. A nós nos diz: “Eu Sou o Bom Pastor”. João 10:11. “Eu Sou o Pão Vivo”. João 6:51. “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. João 14:6. “É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra”. Mateus 28:18. Eu Sou a certeza da promessa. Sou Eu, não temais. “Deus conosco” é a certeza de nossa libertação do pecado, a segurança de nosso poder para obedecer à lei do Céu.

Baixando a tomar sobre Si a humanidade, Cristo revelou um caráter exatamente oposto ao de Satanás. Desceu, porém, ainda mais baixo na escala da humilhação. “Achado na forma de homem, humilhou-Se a Si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”. Filipenses 2:8. Como o sumo sacerdote punha de parte suas suntuosas vestes pontificais, e oficiava no vestuário de linho branco, do sacerdote comum, assim Cristo tomou a forma de servo, e ofereceu sacrifício, sendo Ele mesmo o sacerdote e a vítima. “Ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele”. Isaías 53:5.

Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. “Pelas Suas pisaduras fomos sarados”. Isaías 53:5. Pela Sua vida e morte, Cristo operou ainda mais do que a restauração da ruína produzida pelo pecado. Era o intuito de Satanás causar entre o homem e Deus uma eterna separação; em Cristo, porém, chegamos a ficar em mais íntima união com Ele do que se nunca houvéssemos pecado. Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade. “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito”. João 3:16. Não O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício por nós; deu-O à raça caída. Para nos assegurar Seu imutável conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito a fim de que Se tornasse membro da família  humana, retendo para sempre Sua natureza humana. Esse é o penhor de que Deus cumprirá Sua palavra. “Um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado está sobre os Seus ombros”. Isaías 9:6. Deus adotou a natureza humana na pessoa de Seu Filho, levando a mesma ao mais alto Céu. É o “Filho do homem”, que partilha do trono do Universo. É o “Filho do homem”, cujo nome será “Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”. Isaías 9:6. O EU SOU é o Árbitro entre Deus e a humanidade, pondo a mão sobre ambos. Aquele que é “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores” (Hebreus 7:26), “não Se envergonha de nos chamar irmãos”. Hebreus 2:11. Em Cristo se acham ligadas a família da Terra e a do Céu. Cristo glorificado é nosso irmão. O Céu Se acha abrigado na humanidade, e esta envolvida no seio do Infinito Amor.

Diz Deus de Seu povo: “Como as pedras de uma coroa eles serão exaltados na sua Terra. Porque, quão grande é a Sua bondade! E quão grande é a Sua formosura!” Zacarias 9:16, 17. A exaltação dos remidos será um eterno testemunho da misericórdia de Deus. Ele há de “mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da Sua graça, pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus”. Efésios 2:7. “Para que [...] a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos Céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor”. Efésios 3:10, 11.

Por meio da obra redentora de Cristo, o governo de Deus fica justificado. O Onipotente é dado a conhecer como o Deus de amor. As acusações de Satanás são refutadas, e revelado seu caráter. A rebelião não se levantará segunda vez. O pecado jamais poderá entrar novamente no Universo. Todos estarão por todos os séculos garantidos contra a apostasia. Mediante o sacrifício feito pelo amor, os habitantes da Terra e do Céu se acham ligados a seu Criador por laços de indissolúvel união.

A obra da redenção será completa. Onde abundou o pecado, superabundou a graça de Deus. A Terra, o próprio campo que Satanás reclama como seu, será não apenas redimida, mas exaltada. Nosso pequenino mundo, sob a maldição do pecado, a única mancha escura de Sua gloriosa criação, será honrado acima de todos os outros mundos do Universo de Deus. Aqui, onde o Filho de Deus habitou na humanidade; onde o Rei da Glória viveu e sofreu e morreu — aqui, quando Ele houver feito novas todas as coisas, será o tabernáculo de Deus com os homens, “com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus”. Apocalipse 21:4. E através dos séculos infindos, enquanto os remidos andam na luz do Senhor, hão de louvá-Lo por Seu inefável Dom — Emanuel, “Deus Conosco”.

 

Trecho do livro O Desejado de Todas as Nações, p. 11-15.

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