Teologia

sexta-feira, 12 de março de 2021

QUANDO AS COISAS NÃO DÃO CERTO


Ricardo André

Todo ser humano deseja uma vida melhor, prosperidade, um salário mais alto, harmonia na sua casa, paz interior, um trabalho que lhe satisfaça, que lhe dê alegrias e prazer de trabalhar, uma família feliz, entre outras coisas. Porém, por mais que nos esforcemos não conseguimos obter muitas dessas coisas que almejamos. Gastamos nosso tempo. Trabalhamos duro e mesmo assim, parece que nada acontece. Muitas vezes somos confrontados com a perda de um emprego, não conseguimos fazer a faculdade do sonho, o fim do casamento, conflito com os filhos, crise financeira, um diagnóstico de uma doença grave. Nessas ocasiões, muitas vezes, os amigos e irmãos de fé desaparecem. Então, somos tomados pelo sentimento de derrota quando vemos as coisas darem errado na nossa vida. Somos levados a indagar: por que as coisas não dão certo comigo? Por que, Senhor, tudo isso acontece comigo, apesar de ser um servo teu, buscar diariamente a Tua presença, querer o bem das pessoas, dos meus familiares, ser uma pessoa honesta, … Por que as coisas não dão certo? Por que, Senhor?

A história de Hannah More

Encontramos na história inicial do adventismo do sétimo dia o nome de Hannah More, uma moça em que as coisas não deram certo para ela. Hannah tinha uma excelente formação para a época. Possuía excelente potencial para contribuir para o adventismo. Ávida estudante da Bíblia, ela havia memorizado o Novo Testamento. Tinha experiência no trabalho cristão como professora, administradora de escola, missionária do Comitê Americano de Chamados a Missões estrangeiras, em meio às distantes tribos indígenas, em Oklahoma. Aos 31 anos, também serviu como missionária no oeste da África, no início de 1841, custeada pela Associação Missionária Norte-Americana.

Em 1862, ela conheceu o Pr. Sthephen Haskell que a encheu de bons livros adventistas, inclusive History of the Sabbath [História do Sábado], de John Andrews. Depois de voltar para a África, aceitou o adventismo por meio de leituras.

Rejeitada por sua antiga comunidade por causa do adventismo, “na primeira metade de 1867, viajou a Batle Creek, esperando encontrar emprego e um lugar para morar na crescente comunidade adventista. Contudo, chegou à cidade em um momento em que Ellen e Tiago White estavam ausentes em uma jornada de viagens, de modo que não conseguiu nem emprego nem um lugar para morar entre os membros da igreja. Alguns deles, a julgaram “fora de moda”. Tendo-lhe sido negado um lugar em Batle Creek, acabou aceitando o convite de uma colega da missão africana para morar com a família dela ao noroeste de Michigan” (Enciclopédia Ellen G. White, p. 516).

Apesar de tudo, Hannah não desistiu de sua fé. Os White ao saberem dessa tragédia na vida de Hannah, começaram a se corresponder com ela, prometendo ajudá-la a se mudar para Batle Creek, mas isso não chegaria a acontecer. Hannah More adoeceu. Segundo a Enciclopédia Ellen G. White, ela adoeceu “provavelmente de insuficiência cardíaca congestiva e dificuldades respiratórias correlatas, e acabou falecendo em 2 de março de 1868” (Idem). Ellen G. White condenou de forma dura o tratamento mesquinho dado a Hannah pelos membros da igreja em Batle Creek, usando inclusive uma linguagem confrontadora, escreveu: “ela morreu como mártir de egoísmo e da cobiça dos professos guardadores dos mandamentos” (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 674).

Disse ainda que Hannah Morre “está morta, mártir do egoísmo de um povo que professa estar em busca da glória, honra, imortalidade e vida eterna” (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 332).

Anos mais tarde, quando os adventistas tentavam introduzir-se no campo das missões estrangeiras, Ellen G. White escreveu: “Oh, quanto necessitamos de nossa Hannah More para ajudar-nos agora a chegar a outras nações! Seu vasto conhecimento de campos missionários nos daria acesso a outras línguas das quais não nos é possível agora aproximar. Deus trouxe essa dádiva [...] mas não a apreciamos” (Testemunhos Para a Igreja, v. 3, p. 407, 408).

A maneira mesquinha como foi tratada por seus irmãos adventistas e sua morte solitária no norte do Michigan levaram Ellen G. White a escrever um dos textos mais comoventes (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 666-679; v. 2, p. 140-144).

Quando somos confrontados por eventos e incidentes que nos causam profundas dores e sofrimentos, somos naturalmente levados ao desânimo e nossa ligação com Deus é fortemente abalada. Alguns amigos confortadores bem-intencionados podem oferecer suas próprias respostas: “Deus está lhe ensinando alguma coisa”, ou “seja grato pelo que você está enfrentando uma vez que este é o método de Deus para purificar você no fogo purificador”. Essa empatia é mais ofensiva do que útil. E também reencarna a heresia que Jesus combateu em Seu ministério: “E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus” (João 9:1-3). Jesus é claro: A ninguém aqui está sendo “ensinada uma lição”.

Surpresas desagradáveis acontecem com todas as pessoas

Devemos aceitar o fato de que a vida é cheia de surpresas desagradáveis. Nós planejamos um casamento feliz, mas ele acaba em um amargo divórcio. Nós oramos e planejamos por crianças saudáveis, mas todos os anos milhares de pais dão à luz a bebês cujas deficiências criam um fardo ao longo da vida. Se aqueles que sofrem agarram-se à crença que Deus controla tudo o que lhes acontece, que estas coisas sempre estão de acordo com os planos de Deus, porque Deus planeja todas as coisas, elas são obrigadas a sentir que Deus as está alvejando, por algum propósito divino inescrutável. Um dia ouvi um irmão da igreja dizer: “Se Deus me envia uma doença debilitante, Ele deve ter uma razão, e eu devo tentar aprender qual é”.

A Bíblia não ensina que Deus envia danos ou bebês deficientes para certos pais para refiná-los através do sofrimento ou castigá-los por suas más ações. Nem todo sofrimento é uma correção de Deus. Pessoalmente não acredito que Deus planeja tudo o que acontece. Quando Jesus chamou Seus discípulos, Ele os avisou que teriam de enfrentar aflições, a perseguição e o sofrimento físico para a proclamação do evangelho (Mt 5;11, 12; 24:9; Jo 16:33). Ele não disse que todo e qualquer sofrimento que experimentariam indicaria “disciplina” de Deus para eles. Sofrer por amor do evangelho certamente refina nosso caráter e fortalecer-nos na obediência. Nós não estamos sendo punidos para sermos purificados; somos purificados porque somos perseguidos por causa de Cristo.

É possível que os infortúnios que nos sobrevêm ao longo da nossa jornada não sejam completamente compreendidos por nós nessa vida, mas precisamos confiar que “na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações na aparência desatendidas e as esperanças frustradas tem lugar entre as nossas maiores bênçãos” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 474).

Penso que a melhor maneira de entender tudo isso, não é dizer: “Esta tragédia é uma parte do plano de Deus”, mas sim: “Agora que isso aconteceu, Deus tem um plano.” Se por minha própria imprudência ou algum acidente trágico acabo um tetraplégico, minhas esperanças (e esperança em Deus) para a minha vida não vão acabar, mas serão drasticamente alteradas. Deus trabalhará comigo e com minha família para nos ajudar a reconstruir a história da minha vida. Porque isso aconteceu, Deus me ajudará a desenvolver um plano e dar sentido à minha nova realidade.

Deus não precisa enviar o sofrimento para nos ensinar uma lição, porque Ele sabe que o sofrimento vai nos encontrar, não importa o que fazemos para evitá-lo. Não importa o que nos acontece, o plano final de Deus para nós não pode ser frustrado, o plano de Deus é restaurar-nos à vida novamente. Quando o apóstolo Paulo diz: “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28), Ele não está dizendo que tudo que nos acontece é bom porque Deus o enviou para a nossa edificação. Ele está dizendo que porque nós amamos e somos amados por Deus, todas as coisas, mesmo as tragédias têm o potencial para tecer uma teia de significado e bênção para nossas vidas. A sabedoria e o poder de Deus transformará a desordem em nossas vidas de forma que irá restaurar a nossa confiança de que tudo está em Suas mãos.

 O segredo infalível para vencer

O que fazer quando tudo está dando errado? Qual é o segredo? Não existe uma fórmula mágica. Muitos livros têm sido escritos a respeito do assunto, apresentando métodos e princípios. Porém, só existe um segredo e para ele chamo sua atenção. O segredo está em Apocalipse 12:11, que diz: “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do testemunho que deram; diante da morte, não amaram a própria vida” (NVI). “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro”. Esta frase é muito significativa. As Sagradas Escrituras estão afirmando aqui que os cristãos do passado, que sofreram perseguição, injúria e morte, venceram não pela própria força, mas “por causa do sangue do Cordeiro”. Ou seja, “com base no sangue” de Jesus vertido na cruz do Calvário. Ele venceu o pecado e Satanás na cruz e continua triunfando hoje e o vencerá definitivamente no fim da história. Pelo poder transformador do sangue de Jesus podemos também vencer a tentação, o pecado, superar a dor das perdas, das desilusões, frustrações, os infortúnios da vida, enfim. E ainda, por viver Jesus em nós, tornamo-nos testemunhas vivas para Ele. Em outras palavras, os filhos de Deus vencem por causa da vitória conquistada por Cristo no Calvário.

Existe uma declaração muito poderosa da escritora cristã norte-americana Ellen G. White sobre esse texto bíblico: "Todos quantos queiram podem ser vencedores. Esforcemo-nos fervorosamente para alcançar a norma colocada diante de nós. Cristo conhece nossas fraquezas, e a Ele devemos ir diariamente em busca de auxílio. Não nos é necessário obter força com um mês de antecedência. Devemos vencer dia a dia" (O Cuidado de Deus [MM 1995], p. 313).

Portanto, nosso grande segredo para vencer é apegar-nos a Cristo. Sim, na hora da crise, da angústia e da dor; quando tudo parece estar se desmoronando, quando tudo falha, é hora de buscarmos a Deus; é hora de nos apegarmos, pela fé, à mão de Jesus para superarmos os problemas e encontrar novos significados para eles. Quando tudo falha, quando nossa vida está um verdadeiro farrapo, não devemos desistir, pois temos a promessa da presença de Deus, motivando-nos, inspirando-nos, concedendo-nos poder. Devemos continuar até alcançar o lugar que Deus designou para nós. Lá encontraremos Jesus, o maior exemplo de resiliência e resistência ante o sofrimento. Diz a Bíblia a respeito dEle: “[...] Ele não deixou que a cruz fizesse com que ele desistisse. Pelo contrário, por causa da alegria que lhe foi prometida, ele não se importou com a humilhação de morrer na cruz e agora está sentado do lado direito do trono de Deus” (Hb 12:2, NTLH).

Ainda que não consigamos fazer a faculdade do sonho, o emprego tão almejado, a restauração do nosso casamento, a cura de uma doença crônica, devemos permanecer fiel, confiando que os mesmos braços que foram pregados na cruz por nós em breve se estenderão para dar-nos as boas-vindas no Céu, concedendo-nos a herança imortal.

Conclusão

Qual é o seu problema? Desajuste com a família? Problemas financeiros? Falta de saúde física? Desilusão? Seus castelos ruíram? Tudo falhou para você? Você está aflito? Está desanimado? Sente-se fracassado? Ouça esta palavra de Cristo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28).

O Deus da Bíblia é o Deus que se fez carne. Ele se fez homem, ele é o Deus presente. Considere mais estas promessas bíblica: “Não tenha medo, pois estou com você; não desanime, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; com minha vitoriosa mão direita o sustentarei. Pois eu o seguro pela mão direita, eu, o Senhor, seu Deus, e lhe digo: ‘Não tenha medo, estou aqui para ajudá-lo” (Is 41:10, 13, NVT).

É preciso que se entenda que, embora aqui, muitas vezes, tudo falhe, nem tudo está perdido. “A impossibilidade humana indica a oportunidade de Deus. Portanto, é preciso compreender os caminhos do Onipotente” (Rodolpho Belz, Quando Tudo Falha, p. 1). Jesus é o melhor amigo, o companheiro certo, a nossa luz, a nossa rocha inamovível. Se tudo falhou em sua vida, entregue-se agora, incondicionalmente ao Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Gostaria de concluir essa reflexão com o lindo pensamento do Rodolpho Belz: “Há um poder acima de todos os poderes humanos. Há um nome acima de todos os nomes poderosos. Há um socorro quando todos os socorros de homens falham. Há uma salvação quando toda a ciência terrena se revela limitada. Há algo que o segura quando a tentação procura fazê-lo cair. Há uma felicidade que nenhum mortal com todos os seus prazeres pode lhe proporcionar. Há uma luz quando as trevas o rodeiam. Há um amor quando todos lhe devotam ódio. Tudo isso e muito mais você encontrará em Jesus. Quando tudo falha, Ele resolverá os seus problemas. Será sua luz na escuridão. Salvará você quando estiver perdido no oceano frio da vida. Ele lhe dará felicidade, e você sentirá o Seu amor. Ele lhe dará repouso, descanso e um eterno lar. Só Ele tem esse poder, porque Ele tem “todo o poder”. Você falará com Ele através da oração, como se fala a um amigo. Ouvirá Sua voz por meio das Sagradas Escrituras, a Bíblia. Aí terá a norma de sua vida e encontrará o caminho de volta ao eterno lar feliz. Amigo(a), quando tudo falha, Ele estará com você.”. (Rodolfo Belz, Quando Tudo Falha, p. 2)

 

 

 

 

 

 

 

2 comentários:

  1. Ricardo, meu amigo
    Dois comentários:
    > Para mim, que atravesso um momento difícil, esse seu artigo veio na hora certa. Obrigado.
    > Você precisa pregar sobre isso e o povo de Deus precisa ouvir.
    Parabéns!
    Léo de Vincei

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  2. Parabéns, Ricardo! Mensagem oportuna para os dias em que vivemos.

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