Alberto
R. Timm
Como explicar o fato de
que o trono apocalíptico é chamado apenas de “trono de Deus e do Cordeiro”
(Apocalipse 22:1 e 3), sem qualquer alusão ao Espírito Santo?
Um dos argumentos mais
comuns contra a doutrina da Trindade é a alegação de que o livro do Apocalipse
não apresenta qualquer alusão a um “trono” do Espírito Santo. Para entendermos
esta questão, é importante considerarmos primeiro o significado do “trono” de
Deus nas Escrituras. Quase todos os textos bíblicos falam desse “trono” no
singular. Por exemplo, o profeta Isaías teve o privilégio de ver “o Senhor
assentado sobre um alto e sublime trono” (Isa. 6:1; ver também Sal. 9:7; Apoc.
4:2; 22:1, 3; etc.). Mas alguns textos mencionam a existência de “tronos” nas cortes
celestiais, especialmente quando outros seres celestiais participam de uma
sessão de julgamento. Por exemplo, o profeta Daniel diz que continuou olhando
“até que foram postos uns tronos” no céu (Dan. 7:9). Também o apóstolo João
afirma ter visto em visão “tronos” sobre os quais se assentavam “aqueles aos
quais foi dada autoridade de julgar” (Apoc. 20:4). As visões e descrições de
Deus assentado em Seu trono revelam primariamente a Sua soberania e majestade
sobre o Universo. Por exemplo, no Salmo 45:6 é dito: “O teu trono, ó Deus, é
para todo o sempre, cetro de equidade é o cetro do teu reino”. Mas, em muitos
casos, Deus Se assenta em Seu trono para julgar as nações. Um exemplo disso é
encontrado no Salmo 9:7 e 8: “Mas o Senhor permanece no seu trono eternamente,
trono que erigiu para julgar. Ele mesmo julga o mundo com justiça; administra
os povos com retidão”. Outra cena judicial, já mencionada, aparece em Daniel
7:9 e 10, onde é dito que “foram postos uns tronos, e o Ancião de dias se
assentou”, e que “assentou-se o tribunal, e se abriram os livros”.
Independentemente da ocasião e das circunstâncias envolvidas, a expressão
“trono”, quando usada em relação a Deus, possui geralmente uma conotação mais
funcional do que essencial. É interessante observarmos que Cristo exerce ao
mesmo tempo os ofícios sacerdotal e real em Seu trono. Já em Zacarias 6:13
encontramos a seguinte profecia messiânica: “Ele mesmo edificará o templo do
Senhor e será revestido de glória; assentar-se-á no seu trono, e dominará, e
será sacerdote no seu trono; e reinará perfeita união entre ambos os ofícios”.
Como rei, Cristo exerce também a função de juiz. Em João 5:22 é dito: “E o Pai
a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento”. Portanto, é plenamente
evidente que Cristo deva compartilhar com o Pai o trono do Universo.
O Espírito Santo, por
Sua vez, exerce funções diferentes nos planos divinos. Entre elas estão as de
representar a Deus no Universo (Sal. 139:7-12), convencer os seres humanos “do
pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8), glorificar a Cristo (João 16:14),
derramar “o amor de Deus” no coração dos crentes (Rom. 5:5), edificar
internamente a igreja (1 Cor. 12) e capacitá-la para o testemunho (Atos 1:8).
Mesmo depois da final erradicação do pecado, o Espírito Santo continuará
exercendo a função de Mantenedor do Universo (cf. Gên. 1:2). Não é de
surpreender, por conseguinte, que Ele não seja mencionado como soberano ou juiz
sobre o trono do Universo. Alguns indivíduos não se constrangem em usam a
expressão “trono de Deus e do Cordeiro” (Apoc. 22:1 e 3) para alegar que, como
o Espírito Santo não aparece nesse trono, Ele não pode ser considerado uma
Pessoa divina. Mas esse tipo de argumento envolve pelo menos dois problemas
fundamentais: Primeiro, ele desconhece a conotação funcional da expressão
“trono”, que descreve mais o status e o ofício de Deus do que a Sua natureza
essencial. Em segundo lugar, esse argumento está baseado em uma espécie de
raciocínio generalizante, sugerindo que alguém só existe se mencionado em todas
as alusões aos demais componentes de seu grupo de pares. Neste caso, se o nome
do Espírito Santo não aparece sempre que o Pai e o Filho são mencionados
juntos, então o Espírito Santo não pode ser considerado parte da Divindade.
Na Bíblia encontramos vários
textos que mencionam ao mesmo tempo o Pai, o Filho e o Espírito Santo (ver Isa.
48:16; Mat. 28:19; Luc. 3:21 e 22; 1 Cor. 12:4-6; 2 Cor. 13:13; Efés. 4:4-6;
Tito 3:4-7; etc.). Embora o Espírito Santo não seja mencionado explicitamente
em Apocalipse 22:1 e 3 com o Pai e o Filho sobre o trono do Universo, esse fato
jamais deveria ser usado para invalidar os demais textos bíblicos que mencionam
o Espírito Santo como exercendo funções distintas do Pai e do Filho.
Fonte: Revista do Ancião em
abr – jun 2006.
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