Teologia

segunda-feira, 30 de março de 2020

ROCK PARA JESUS?


Leandro Dalla*

Dentro desse contexto da música rock e estilos correlacionados, faz-se necessária uma pergunta: é adequado oferecer Rock, e seus híbridos, como louvor e adoração ao Criador?

“Ninguém melhor do que Satanás conhece a maneira perfeita do tipo de louvor que Deus aceita, não podemos ser crianças em achar que ele não iria desvirtuar o louvor na igreja contra a qual ele veio fazer guerra, seria muita ingenuidade de nossa parte pensar assim.” Hilton Bastos. A Bateria e o Transe nos Rituais Xamânicos. Disponível em: http://musicaeadoracao.com.br/20131/a-bateria-e-otranse-nos-rituais-xamanicos.

“Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida.” Ellen G. White. Mensagens Escolhidas vol. 2, p. 38.

O argumento corrente é que misturar estilos populares com letra religiosa representa uma forma eficaz de atingir pessoas que, de outra forma, talvez jamais tivessem contato com o evangelho. Segundo alguns autores, para que a comunicação seja eficaz é preciso que o ouvinte compreenda o que está sendo dito. Partindo dessa ideia, acreditam que para alcançar um rockeiro é preciso pregar a mensagem de salvação em estilo rock. O mesmo se faria com os demais estilos populares como forma de alcançar os seus adeptos. Apesar de haver certa lógica nesse raciocínio, nem sempre a lógica humana é a lógica de Deus. E ainda que um método seja agradável ao homem, deve-se, em primeiro lugar, saber se é o método divino. Precisamos lembrar que estamos numa guerra espiritual, O Grande Conflito; e numa guerra quem estabelece as estratégias é o General, e não o soldado.

Imaginemos que um casal está prestes a se casar. O noivo traz uma linda aliança para a noiva. Porém, ao olhar para dentro da aliança de seu noivo, a noiva percebe que está gravado ali o nome de outra moça. Obviamente ela recusa o presente. O noivo explica:

– Sabe, este nome que está aqui é da minha ex-noiva. Eu comprei esta aliança para ela, mas terminamos o relacionamento. Guardei a aliança e agora estou dando a você. Além do mais, é só uma argola de metal que não me fará ser mais fiel ou menos fiel a você. Mas se o problema é o nome que está aí, não se preocupe; eu levo a um ourives, apago este nome e escrevo o seu.

A noiva responde:

– Não adianta mudar o nome que está aí, por três razões muito simples: 1) Eu sei que esta aliança não foi feita para mim; 2) Não é só uma argola de metal, mas tem uma história e uma experiência de vida por trás; 3) Essa aliança, por mais que tenha meu nome nela, te fará lembrar constantemente da sua ex-noiva.

Transferindo para o contexto da música de adoração a Deus, imagine que eu tenha passado muito tempo em um compromisso, consciente ou inconsciente, com o diabo. Nossa aliança se chamava Rock, por meio da  qual promovia tudo aquilo que é contra Deus e Suas leis. Em determinado momento, decido “terminar” com o diabo e começar um relacionamento novo, agora com Deus. Então pego a velha aliança e ofereço ao Senhor. Ele vê que ali não está escrito o Seu nome, mas o nome de outro. Então, explico:

– Sabe, Senhor, este nome que está aqui é do meu ex-senhor, mas terminamos o relacionamento. Guardei a música e agora estou dando ao Senhor. Mas é só uma música, ela não me fará ser mais fiel ou menos fiel a Ti, pois o importante é o meu coração. Mas se o problema é o nome que está aí, não se preocupe; eu mudo a letra e escrevo ‘Deus’.

Qual será a resposta de Deus? Exatamente a mesma da noiva:

– Não adianta mudar a letra, por três razões muito simples: 1) Eu sei que esta música não foi feita para mim; 2) Não é só uma música, mas tem uma história e uma experiência de vida por trás; 3) Essa música, por mais que tenha mudado a letra, te fará lembrar constantemente do seu ex-senhor.

Se nós, seres mortais, jamais aceitaríamos uma aliança nessas condições, por que o Deus Eterno, Santo, Justo, Todo-Poderoso tem que aceitar? Mudar a letra de uma música não muda o seu efeito.

Existem músicas que não são apropriadas para o ambiente de adoração ao Criador. Nosso Deus aceita somente música que nos santifique, nos enobreça e eleve nossas mentes a Ele. Nosso Deus não aceita uma música desgastada e mergulhada na sensualidade, na promiscuidade e na rebeldia contra Seus princípios. Não se oferece a alguém um presente que foi pego no lixo, muito menos ao Criador.

Muitos argumentam que usar a música popular na igreja seria a resposta ao “cântico novo” que a Bíblia recomenda (Sal. 96:1). Mas o texto bíblico não está relacionado à contemporaneidade nem à cronologia, mas a uma nova experiência, uma nova motivação, ainda que seja usado um cântico já conhecido. Além disso, não é preciso reflexão profunda para concluir que o Rock não tem absolutamente nada de novo.

Uma revista promotora da música contemporânea apresentou em um dos seus artigos o “credo do rockeiro cristão”, que diz: “Nós asseguramos que todas as músicas foram criadas iguais; que nenhum instrumento ou estilo de música é mau em si mesmo.” CCM Magazine, nov. 1988, p. 12.

Discordamos veementemente desta declaração e não nos surpreende ter partido de uma publicação que visa o desenvolvimento do “Rock Cristão”. A ideia de que não existe música má tem induzido milhões de pessoas a introduzirem seus estilos musicais preferidos no arraial do Senhor, enganando a si mesmas e aos outros, supondo que estão agradando e adorando ao Senhor, quando na realidade estão agradando e adorando a si mesmos.

Na capa de uma de suas edições, a revista Time apresentou uma pergunta: “Deus está morto?” No artigo que tratou deste assunto havia a seguinte observação:

“Os artistas da Música Cristã Contemporânea são idênticos aos artistas populares, exceto pela letra.” Time, vol. 87, n.14, 8 abr. 1966.

Quando citarmos Música Cristã Contemporânea (MCC ou CCM), não estaremos nos referindo a músicas produzidas na atualidade, uma vez que não é o ano de composição que determina se a música é ou não apropriada, mas nos referimos a um Movimento caracterizado pelo uso de ritmos populares com letras de temática cristã.

Por muito tempo temos presenciado em nossas igrejas a introdução de músicas populares que, não fossem as letras, não saberíamos se tratar de algo que pretende ser religioso. Em muitos casos, nem mesmo a própria letra nos permite identificar tratar-se de algo religioso.

Infelizmente, nos últimos anos, temos encontrado na Igreja Adventista do Sétimo Dia muitas músicas pseudocristãs, que têm obscurecido nossa identidade distintiva, se aproximando cada vez mais do mundo com o pretenso objetivo de atrair o mundo. Mas o que temos visto na prática é que o mundo tem atraído a igreja.

“Colocar o nome de Jesus na música rock não significa mudar sua natureza essencial. As pessoas estão tomando o que é basicamente inaceitável para os cristãos e trocando a etiqueta. Mas continua sendo tão mau como era antes. ... Não estamos somente falando do rock pesado, mas também do rock suave e música do tipo ‘boate’ que infelizmente tem sido ouvida em reuniões adventistas.” Pr. Ivay Araújo. Guia do Ministério da Música. União Sudeste Brasileira da IASD, p. 16.

Alterar a letra da música não muda o seu efeito. O Rock continuará sendo Rock e causando os mesmos efeitos físicos, mentais e espirituais, independentemente do que as palavras dizem. A música transmite uma mensagem em si mesma. A prova disso é que apreciamos músicas cantadas em vários idiomas que não compreendemos; e muitas vezes nem damos importância àquilo que está sendo dito.

“A maioria dos discos faz o seu impacto musicalmente em vez de por palavras. As palavras, se forem percebidas, penetram depois da música ter deixado sua marca.” Simon Frith, sociólogo inglês, graduado em Oxford e Universidade da Califórnia, professor de sociologia na Universidade Warwick – Inglaterra. Sound Effects, Youth, Leisure and the Politics of Rock and Roll, p. 14.

Qual é a posição oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia em relação a isso? Citamos o Manual da IASD:

“A música secular ou de natureza duvidosa nunca deve ser introduzida em nossos cultos. ... Toda melodia que partilhe da natureza do jazz, rock ou formas híbridas relacionadas, ou toda linguagem que expresse sentimentos tolos ou triviais, serão evitadas.” Manual da IASD, ed. 2015, pp. 97, 154.

Se o rock é comprovadamente um estilo concebido pelo diabo e para ele, sendo uma ferramenta poderosa para corromper o ser humano; se o Manual da IASD, o documento oficial mais importante que temos, afirma que o Rock não deve ser usado em nossos cultos e produções musicais por ser incompatível com os princípios da igreja, pergunta-se: por que ainda existe Rock na IASD? Quem, na realidade, está gerando conflitos? Quem está, de fato, causando divisão na igreja? Aqueles que defendem os princípios da música sacra e não se conformam com a música popular sendo acintosamente praticada em nosso meio, ou aqueles que sancionam e produzem música popular, desrespeitando abertamente os princípios estabelecidos por Deus para Sua igreja e as próprias diretrizes oficiais da IASD?

Vejamos o que orienta outro documento oficial da IASD:

“Certas formas de música como o jazz, o rock e outras formas híbridas semelhantes, são consideradas pela Igreja como incompatíveis com [os] princípios. ... [Esses estilos] são notórios em criar reações sensuais nas multidões. ... [O cristão] considerará músicas como blues, jazz, o estilo rock e formas similares como inimigas do desenvolvimento do caráter cristão.” Filosofia Adventista de Música. Documento Oficial da IASD. Votado e aprovado pela Associação Geral no Concílio Outonal de 1972, pp. 1201, 1203, 1206. Disponível em: http://documents.adventistarchives.org/Minutes/GCC/GCC1972-10b.pdf

É importante repetir que aqueles que optam impedir o uso do rock e seus híbridos nas igrejas, estão de fato agindo em perfeita harmonia com as normas oficiais da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Alguém poderia questionar: e se o Manual da IASD sofrer alterações, por meio das quais forem omitidas ou modificadas orientações claras e diretas como esta? Se isso acontecer, estaremos em terreno perigoso, quebrando um princípio bíblico anteriormente citado:

“Não removas os antigos limites que teus pais fizeram.” Provérbios 22:28, ACF.

Houve uma razão para que esta instrução fosse incluída no Manual da IASD e noutros documentos oficiais, e não se trata de questão administrativa passível de alterações ou de adaptações burocráticas; trata-se de princípios estabelecidos na Palavra de Deus que, quando não praticados, desencadeiam reais e sérias consequências no desenvolvimento espiritual da igreja. Por isso tais limites devem ser preservados e perpetuados, bem como outros que veremos mais adiante. Se o autor do Rock continua sendo o mesmo, se a estrutura e os efeitos do Rock continuam sendo os mesmos, se o Rock não mudou absolutamente nada, por que a igreja deveria mudar seu posicionamento oficial a respeito?

“Jamais derrube uma cerca sem saber a razão porque ela foi construída.” G. K. Chesterton, escritor, jornalista, historiador e teólogo britânico. Citado em Singapore Journal of Legal Studies, 2008, p. 347.

E qual é o pensamento do atual presidente mundial da IASD?

“Embora tenhamos diferentes culturas e perspectivas em relação à música, é importante que não permitamos que músicas contemporâneas e não religiosas se infiltrem na igreja, de modo que não vejamos nenhuma diferença entre o que ouvimos no rádio e na igreja.” Pr. Ted Wilson. Adventist World, set. 2011, pp. 8-10.

“Resistam aos estilos de adoração e música que estão mais centrados no entretenimento do que na humilde adoração a Deus. ... Não quero ofender a ninguém e esta é minha opinião pessoal, mas se a música soa como pertencendo a um concerto de rock ou uma casa noturna, ela deve permanecer lá [no concerto de rock e na casa noturna].” Pr. Ted Wilson. Pregação à Conferência Geral, 13 ago. 2011. Disponível em: http://perspectives.adventist.org/pt/sermoes/sermons/ go/2011-08-12/gods-remnant-church-finish-strong.

Nota-se que o pensamento do presidente, ainda que reconheça como sendo uma opinião pessoal, está fundamentado nas instruções oficias da IASD que são desdobramentos dos parâmetros existentes na Bíblia e no Espírito de Profecia.

“A posição de algumas pessoas que tentam fixar rumos, é que qualquer tipo de música serve, sempre que tenha um texto sagrado pode ser usada no serviço de adoração. Os meios de informação de massa têm condicionado o público com uma ‘dieta de ritmos de rock’, tentando mostrar que fora desse ritmo tudo é insípido e monótono. Há uma obsessão de vestir toda música para evangelização com alguma forma de ritmo de rock. ... Alguém escreveu o seguinte: ‘tem havido um considerável aumento da música para evangelização do tipo ‘jazz’ nas igrejas nos últimos anos. Isto é, em muitos aspectos, uma coisa diabólica’. O mínimo que isto pode fazer é colocar a igreja em contato com expressões musicais baratas, e de pouco valor artístico e espiritual. O importante neste ponto é que o mal aparece como se fosse bem e que parece natural que uma música barata e com letra trivial leve as pessoas ao descuido inconsciente e a pensamentos puramente sentimentais.” Pr. Ivay Araújo. Guia do Ministério da Música. União Sudeste Brasileira da IASD, p. 13.

Evidentemente há outros líderes em posições de destaque que defendem ideias contrárias. Diante disso, que decisão você tomará? A quem seguirá?

Vejamos o que nos diz a Palavra de Deus:

“Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podeis ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios.” 1 Coríntios 10:21, ARA.

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará o outro.” Mateus 6:24, ARA.

“Porque sois povo santo ao Senhor, vosso Deus, e o Senhor vos escolheu de todos os povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes Seu povo próprio.” Deuteronômio 14:2, ARA.

“Ser-me-eis santos, porque Eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus.” Levíticos 20:26, ARA.

“A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano e o farão discernir entre o imundo e o limpo.” Ezequiel 44:23, ARA.

O texto de Ezequiel 44 nos apresenta um ponto importante para o qual precisamos atentar seriamente. Ali é dito que alguém ensinará o povo. Quem? Muitos poderiam pensar que é Deus. Porém, o próprio Deus está dizendo que alguém ensinará. Todo o conhecimento para a construção e desenvolvimento de um caráter à semelhança de Jesus Cristo tem sua origem no Criador, mas Ele espera que o mesmo seja transmitido por meio de Seus servos, Seus líderes. Eles deverão ensinar o caminho que o povo deve seguir e Deus há de julgar-lhes as palavras, ações, decisões e omissões. “Se precisar de alguma melhora – e toda igreja precisa de melhoras – vai ter que começar com a liderança. ... Tudo levanta ou cai com a liderança.” Tim Fisher, mestrado em teologia, cantor e produtor, professor de música da Bob Jones University-EUA. O Debate Sobre a Música Cristã, p. 208.

Ainda no contexto da mistura sagrado/profano na música, que muitos desejam e defendem, o que nos diz o Testemunho de Jesus Cristo (Apocalipse 19:10)?

“Deus pronunciou uma maldição sobre aqueles que não fazem diferença entre as coisas comuns e as coisas santas. ... Deus requer hoje de Seu povo uma distinção tão grande do mundo, nos costumes, hábitos e princípios, como exigia de Israel antigamente. Se fielmente seguirem os ensinos de Sua Palavra, existirá esta distinção; não poderá ser de outra maneira. As advertências feitas aos hebreus contra o identificarem-se com os gentios, não eram mais diretas ou explícitas do que as que vedam aos cristãos adaptar-se ao espírito e costumes dos ímpios.” Ellen G. White. Patriarcas e Profetas, pp. 257, 335.

Nossa música na IASD precisa ser diferente da música que é praticada no mundo. Pensemos nisso: proporcionaria verdadeira edificação espiritual a alguém oferecer-lhe aquilo que já lhe é conhecido e vivido no mundo?

A distinção que Deus espera de nós em relação ao mundo não é algo sutil, mas algo visível, claro e evidente. Deus requer de nós uma grande diferença em nossa maneira de falar, vestir, alimentar, relacionar, recrear e na maneira como utilizamos a música. Nosso Deus não deixaria as práticas musicais de fora de Suas preocupações, porque Ele em tudo quer pureza nos propósitos e nas realizações.

“A associação com as coisas do mundo no setor musical é considerada inofensiva por alguns observadores do sábado. Tais pessoas estão, porém, em terreno perigoso. É assim que Satanás procura desviar homens e mulheres, e dessa maneira tem ganho o controle de almas. Tão suave, tão plausível é o trabalho do inimigo que não se suspeita dos seus ardis, e muitos membros de igreja tornam-se mais amigos dos prazeres que amigos de Deus.” Ellen G. White. Mensagens Escolhidas vol. 3, p. 332.

O Espírito de Profecia foi muito específico ao citar a associação com o mundo, deixando clara a referência direta à música. O objetivo de Satanás é que aos poucos sejam feitas concessões, até que desapareça a distinção entre o povo de Deus e o mundo. Ele tem trabalhado dessa forma desde sua rebelião no Céu. A vontade de Deus é a santificação de Seu povo, a separação do mundo, o abandono do pecado. Mas Satanás tem induzido o povo a fazer exatamente o contrário:

“Antes se misturaram com os gentios, e aprenderam as suas obras.” Salmos 106:35, ACF.

Estar no mundo não é ser do mundo. Os filhos de Deus são aqueles que agem como “luz no mundo”, isto é, são diferentes, são incomuns nos conceitos e procedimentos. A tendência que hoje se vê é que cristãos nominais envolvem-se de tal forma com os valores do mundo, que é impossível ver a diferença entre uns e outros.

“Por que, então, trazer para dentro da igreja esse estilo de música, pervertida em sua origem por Satanás, para destruir a humanidade? A atitude de combatê-la não pode ser classificada de extremismo, quando se sabe do seu profundo comprometimento com o demonismo. ... No entanto, a pretensão de muitos, hoje, sob o disfarce da carência de uma evangelização profícua, é desprezar a música essencialmente divina. ... A realidade cotidiana prova com fatos que o rock não se presta para o louvor a Deus. O máximo que pode fazer é despertar a sensualidade da carne e extravasar instintos até então latentes nos indivíduos. Vamos, pois, retirar as nossas harpas dos salgueiros e entoar os cânticos de Sião (e não do mundo), à semelhança de Cristo, que, após cear com os seus discípulos e antes de partir para o Getsêmani, cantou [um hino] (Mat. 26:30). Sem dúvida, não foi uma dessas músicas de embalo travestidas de hino evangélico.” Geremias do Couto. A Mensagem Oculta do Rock. Rio de Janeiro, 1986, pp. 151-152.

A história de Noé nos fornece uma lição importante. A arca estava na água, mas não se podia permitir que a água entrasse na arca, pois ela afundaria. O cristão está no mundo, mas ele não pode permitir ser dominado pelos valores mundanos, pois haverá o naufrágio de sua fé.

“Como o povo evangélico no Brasil, em sua maioria, ouve pouca música sacra, e suporta diariamente a carga literária e musical impingida pelo rádio e televisão ... acaba aceitando o padrão mais frequente, que é o transmitido pelo rock. Daí, fica mais fácil aceitar música de finalidade religiosa com ritmo de rock.” Rolando de Nassau (prefácio). A Mensagem Oculta do Rock. Rio de Janeiro, 1986, p. 21

A história tem mostrado que, quando nos conformamos com as práticas do mundo, atraímos mundanos para a igreja; quando as normas são afrouxadas, atraímos aqueles que se opõem às normas; quando os princípios revelados na Bíblia são omitidos, atraímos aqueles que de fato não os aceitam. Tudo isso tem acarretado um resultado inverso daquele que supostamente se pretende. A igreja deixa de ser uma influência ao mundo, e o mundo passa a influenciar a igreja; a igreja deixa de ser uma referência para o mundo, e o mundo é que passa a ser a referência para a igreja. Esta nunca foi a vontade do Senhor.

“E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir.” Deuteronômio 28:13, ACF.

Não somos superiores como indivíduos, mas Deus confiou a nós uma missão que não foi dada a outro povo. E as ações em desobediência aos princípios divinos nos colocam como “cauda” e não como “cabeça”; e o que se tem visto em muitos lugares é que pessoas estabelecem as normas e os padrões nas igrejas adventistas do sétimo dia sem considerar o “Assim diz o Senhor”. Isto é extremamente preocupante.

“A conformidade aos costumes mundanos converte a igreja ao mundo; jamais converte o mundo a Cristo.” Ellen G. White. O Grande Conflito, p. 509.

Quando o estilo de viver do mundo é imitado pelas pessoas nas igrejas, e no dia a dia da vida, permitindo que o mundo dite as regras, incorre-se no desagrado do Senhor. Os verdadeiros adoradores do Criador atraem a atenção para Ele; então as pessoas podem ver que vale a pena dispor-se a fazer renúncias conscientes e optarem entrar num processo de transformação individual.

Convencer indivíduos é radicalmente diferente de convertê-los, porque a conversão é obra sobrenatural do Espírito Santo. Deus tem uma advertência séria aos afoitos por imitar as modas do mundo:

“Se alguém sentir o desejo de imitar as modas do mundo e não controlá-lo de imediato, Deus prontamente deixará de reconhecê-lo como filho.” Ellen G. White. Testemunhos para a Igreja vol. 1, p. 137.

Aquele que deseja seguir os métodos e as modas do mundo deve controlar essa tendência imediatamente e buscar em Deus, em Sua Palavra e no Espírito de Profecia os métodos corretos. E este princípio é aplicável, também, às nossas atividades na música de adoração.

“Há distinções claras e precisas a serem restauradas e expostas ao mundo. ... Se, em desafio às disposições divinas, for permitido ao mundo influenciar nossas decisões ou ações, o propósito de Deus será frustrado. ... Se a igreja vacilar aqui, por mais enganador que seja o pretexto apresentado para tal, contra ela haverá, registrada nos livros do Céu, uma quebra da mais sagrada confiança, uma traição ao reino de Cristo. ... A igreja tem que manter seus princípios perante todo o universo celestial e os reinos deste mundo, de maneira firme e decidida.” Ellen G. White. Testemunhos para Ministros, pp. 16-17. Citado pelo Manual da IASD, ed. 2015, pp. 23-24.

Talvez devido ao enorme desejo de atrair e crescer em número, temos permitido que as pessoas de fora da igreja estabeleçam os padrões conceituais e comportamentais na igreja. Passamos a cantar e tocar músicas que agradam a essas pessoas, sem considerar o que agrada a Deus.

“Caso abaixem a norma a fim de conseguir popularidade e aumento de números, fazendo desse acréscimo objeto de regozijo, estarão demonstrando grande cegueira. Fossem os números indício de êxito, Satanás poderia reclamar a soberania; pois, neste mundo, os que o seguem constituem a grande maioria. ... A virtude, inteligência e piedade do povo que compõe nossa igreja deveriam ser causa de alegria e gratidão, não seu número.” Ellen G. White. Testemunhos para a Igreja vol. 5, pp. 31-32.

“Deus Se agradaria mais de ter seis pessoas verdadeiramente convertidas à verdade do que sessenta que fazem profissão de fé nominal, mas não se converteram de todo.” Ellen G. White. Evangelismo, p. 320.

O apóstolo Paulo reconhecia que Deus está mais interessado em qualidade do que quantidade quando afirmou:

“Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar.” 1 Coríntios 1:17, ACF.

“Paulo esperava que apenas Cristo fosse exaltado, e que homens e mulheres fossem ganhos para Ele. Por isso, ele deixou claro que batizar não era seu trabalho principal, mas sim persuadir pessoas a se renderem ao Salvador. Não era sua intenção insinuar que não batizaria ninguém, mas que soubessem que ele não se gloriava com um grande número de batismos.” Comentário Bíblico Adventista vol. 6, p. 732.

Devemos realizar o trabalho usando os métodos de Deus e deixar os resultados em Suas mãos.

“Existem diferentes tipos de discípulos professos de nosso Senhor. Um tipo está muito pronto a moldar sua religião de acordo com os tempos – muito pronto quando eles ouvem ‘toda espécie de música’ (Dan. 3:7) a se prostrar e adorar a imagem mais popular da invenção humana. ... Mas há outro tipo de discípulos professos pelos quais agradecemos a Deus, que são puros de coração, cuja consciência está tão longe de ser cauterizada, que eles podem ‘suspirar e gemer’ por todas as abominações que são feitas na Terra.” Benjamin Clark. Review and Herald vol. 3, n. 4, 24 jun. 1852, p. 30.

Que tipo de discípulos temos sido?

*Leandro Dalla, é estudioso das questões relacionadas ao uso da música no culto e da forma de adoração na Igreja Adventista do Sétimo Dia. É o autor do livro “Música, Reverência e Adoração”.

FONTE: Artigo que constitui o capítulo 7 do livro “Música no Tempo do Fim”, p. 84-98, de Leandro Dalla.


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