Teologia

sábado, 28 de março de 2020

TETELESTAI: ESTÁ CONSUMADO!


Ricardo André

“Tendo-o provado, Jesus disse: "Está consumado!" Com isso, curvou a cabeça e entregou o espírito” (João 19:30, NVI).

Era uma sexta-feira, hora nona no relógio judaico. No nosso relógio moderno, a hora nona eram aproximadamente três horas da tarde, o momento exato em que os sacerdotes hebreus ofereciam o cordeiro no templo. Uma sexta-feira que, definitivamente, não passaria para a história como um dia comum.  O sacerdote estava no pátio do templo de Jerusalém, pronto para oferecer um inocente cordeirinho como sacrifício ao Senhor pelos pecados do povo. Quando suas mãos se erguem ao céu, empunhando o cutelo assassino, pronto para derramar o sangue da inocente vítima, a terra entra em verdadeira convulsão. 

Ellen White assim descreve a cena: “Seguiu-se violento terremoto. As pessoas foram atiradas umas sobre as outras, amontoadamente.  Estabeleceu-se a mais completa desordem e consternação [...] Fenderam-se sepulcros, sendo os mortos atirados para foras das covas [...] Sacerdotes, príncipes, soldados, executores e povo, mudos de terror, jaziam prostrados por terra”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 756).

Lucas descreve no capítulo 23 de seu evangelho que “trevas cobriram toda a terra até às três horas da tarde; o sol deixara de brilhar. E o véu do santuário rasgou-se ao meio” (v. 44,45, NVI). O Centurião romano, o sacerdote no templo, e a multidão nas ruas ficaram todos com o mesmo sentimento em seus corações: Algo extraordinário, realmente extraordinário, acontecera naquela tarde no cimo do monte do Calvário (Gólgota).

Naquela tarde, na colina do Monte da Caveira, Jesus Cristo, o Filho de Deus, nos seus momentos finais de agonia na cruz, solta um brado que ecoa por toda Jerusalém: “Está Consumado”. Então inclinou a cabeça e morreu. O que Ele quis dizer? O que estava consumado? É a grande pergunta que precisamos fazer. Indubitavelmente, a maioria ou até mesmo todas as pessoas presentes à crucifixão não sabiam do que se tratava. Vejamos, então, os significados da expressão.

Está consumado: o ritual simbólico do Santuário terrestre não mais é necessário.

No Sinai, Deus instituiu sistema sacrifical instituído por Deus que Israel devia observar; e que se realizava primeiro, no santuário; depois, no templo. A partir daí, a cada manhã e a cada tarde o sacrifício contínuo havia oferecido um cordeiro sem defeito pelos pecados inconscientes do povo. A cada dia, sacrifícios de expiação pela culpa ou delito contra o próximo. Uma vez ao ano, no Dia da Expiação, o sacrifício eliminava o registro da culpa (Nm 28:3, 4; Lv 4:2, 27-30; Lv 16; Nm 29:11).  

Esse sistema sacrifical era uma forma de ensinar aos israelitas e, por meio deles, ao mundo, a verdade da salvação. Naqueles dias cada pecado cometido por um israelita era cobrado com a morte de um cordeiro inocente. Cada cordeiro morto, tanto nos serviços diários como no anual, apontavam para a obra salvadora de Cristo, sua morte na cruz. O autor de Hebreus afirma que o santuário e seus serviços eram “uma ilustração para os nossos dias” (Hebreus 9:9). Por essa maneira era mostrado ao pecador arrependido que seus pecados haviam de afinal tirar a vida inocente do Filho de Deus. Todo o cerimonial ritualístico do Velho Testamento encontra agora em Jesus o seu cumprimento final. 

Ao Jesus morrer na cruz do Calvário, o sacrifício do inocente cordeiro não mais era necessário. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29), oferece-se uma vez para sempre (Hebreus 9:28) para lavar e purificar os pecados de toda a humanidade, a fim de “que todo o que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16, NVI). Isto é amor universal; isto é graça em sua aplicação totalmente eficaz.

Mateus informa que no momento da Sua morte, “o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo” (Mateus 27:51, NVI). “O rompimento do véu do templo [...] simbolizava o fim do antigo sistema hebraico e apontava à inauguração de um novo e vivo caminho para a presença de Deus por meio do Seu corpo ferido (Heb. 10:19-21), dando fim de uma vez por todas à necessidade de outros sacrifícios de animais (Heb. 9:26)” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trimestre 2005, ed. do Professor, p. 101).

Ellen G. White descreve a ocasião em que Jesus expira, bem com as implicações: “Tudo é terror e confusão. O sacerdote está para matar a inocente vítima, mas o cutelo cai-lhe da mão paralisada, e o cordeiro escapa.  O tipo encontra o antítipo por ocasião da morte do Filho de Deus.  Foi feito o grande sacrifício.  Acha-se aberto o caminho para o santíssimo.  Um novo, vivo caminho está para todos preparado”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 757).

O tipo encontra o antítipo, ou seja, a sombra, a figura, o modelo, que eram os cordeiros do Velho Testamento e todo o sistema cerimonial tipificado no antigo santuário, encontra agora em Cristo Jesus sua realidade plena, total e absoluta.

Está consumado: a vitória do bem sobre o mal no grande conflito cósmico

A frase que Jesus bradou, um pouco antes de Sua morte, em em grego é tetelestai, que significa "dívida paga" ou "liquidado". Que palavra de irrevogável certeza! “Esta expressão era muito utilizada em recibo de impostos onde a expressão era escrita no documento atestando que a dívida estava paga. [...] Quando Jesus disse tetelestai, Ele afirmava que a nossa dívida estava paga a partir daquele momento!” (O que Significa Tetelestai? Disponível em: https://www.respostas.com.br/tetelestai/

Paulo afirma em Romanos 5 que, se pelo pecado de um único homem (Adão), todos se tornaram pecadores e se colocaram debaixo da maldição do pecado; agora também, pela justiça de um único homem – Cristo, o segundo Adão – estava consumado, quitado, liquidado, o pagamento da nossa dívida de pecado.

Talvez não entendamos quão vil é realmente o pecado. A dívida do mundo para com Deus por causa do pecado era tão grande que só o próprio Deus poderia pagá-la. “Só na cruz podemos ver como o pecado realmente é terrível, porque foi necessário algo tão extremo, tão incrível como a cruz para expiá-lo. [...] Assim, nada revelou tanto o horror e a gravidade do pecado como a cruz, onde Deus, “em Cristo”, sofreu as consequências mais graves do pecado a fim de não termos que sofrê-las por nós mesmos” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trimestre 2005, ed. do Professor, p. 102).

Já em Colossenses 1: 13, 14, o apóstolo nos explica que Deus “nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados”. “Redenção” é o ato de “comprar de volta ou resgatar uma propriedade ou escravos”, “libertar de escravidão física ou cativeiro” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 1141). E o significado da palavra “remissão” é: “Libertar”, “perdão” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 181). Ou seja, Jesus pagou o preço da nossa redenção (da nossa libertação da escravidão) e quitou toda nossa dívida, e o preço foi o seu sangue, a sua vida, o seu corpo, o seu sacrifício na cruz (1 Pe 1:18-20). Significando dizer que não há mais dívida alguma a ser paga, nem carma algum que devamos sofrer, nem maldição algumas pela qual devamos passar e nem coisas semelhantes a estas, porque se crermos que o sangue de Jesus Cristo é suficiente para nos justificar de todos os nossos pecados e nos dar a salvação para a vida eterna, o cobrador que é satanás não poderá mais nos cobrar nada, porque Jesus já pagou com preço de sangue, do seu próprio sangue que foi derramado para a remição dos nossos pecados, como Ele mesmo disse quando tomou o cálice e disse: “[...] Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós” (Lucas 22:20).

Nessa mesma linha Ellen G. White escreveu: “Cristo pagou um infinito preço por nós, e deseja que nos mantenhamos à altura do preço que custamos” (A Ciência do Bom Viver, p. 498).

Com Sua morte na Cruz, Jesus concluiu a obra que viera fazer: Reconciliar o mundo com Deus (2 Co 5:19). Realmente, Ele levou o mundo de volta para Deus. O mundo se havia desviado por causa dos pecados humanos. Antecipando Sua vitória final sobre Satanás no Calvário, na noite anterior à crucifixão, Jesus orou a Seu Pai: “Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer” (João 17:4, NVI). Com o Universo reconciliado, abriu o caminho para o Céu a todos quantos Lhe aceitassem a graça. Deus tinha feito provisão para tirar os pecados do mundo. O Salvador deu a Sua vida por aqueles que não O conheciam ou mesmo O odiavam. Os pecadores podem ser salvos se buscarem a salvação em Jesus, o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Aqui está o evangelho eterno. O poder do pecado e da morte acabou. Em João 19:31-33, “Jesus mostra que a cruz resulta na condenação de Satanás e do pecado em um ato poderoso de julgamento. A Cruz se torna um maravilhoso ímã quer atrai “todos” (v. 32 – no original, o sentido pode incluir o Universo inteiro!) a Jesus” (Lição da Escola Sabatina, 1º Trimestre 2004, ed. do Professor, p. 145)

Mário Veloso, teólogo adventista, comentando essa mesma passagem afirmou o seguinte: “A missão estava acabada. Jesus declara: ´Está consumado`.  Ele não está na cruz como um fracassado, nem sequer como um sofredor [...] Jesus apresenta-se a Si mesmo como o Comissionado do Pai que completa inteiramente a missão que lhe foi confiada”. (Comentário Sobre o Evangelho de João, p. 157).

Ellen G. White escreveu: “Cristo não entregou Sua vida antes que realizasse a obra que viera fazer, e ao exalar o espírito exclamou: `Está consumado`.  Ganhara a batalha. [...] Todo o céu triunfou na vitória do Salvador.  Satanás foi derrotado e sabia que seu reino estava perdido. Para os anjos e os mundos não caídos, o brado `Está consumado` teve profunda significação.  Fora em seu benefício, bem como no nosso, que se operara a grande obra da redenção.  Juntamente conosco, compartilham eles os frutos da vitória de Cristo” (O Desejado de Todas as Nações, p. 758)

Na cruz, para todos os intentos e propósitos, Cristo concluiu Sua obra confirmando para sempre Sua vitória sobre Satanás e sobre o pecado. A cruz determinou o veredito final sobre o que acontecerá quando Cristo estabelecer o Seu reino eterno. Amigo, esse conflito já foi decidido em seu coração? Você já aceitou a obra consumada de Cristo por sua salvação pessoal?

Está consumado:  temos acesso ao Santuário Celestial

Lemos no livro de Hebreus: “Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel” (Hebreus 10:19-23, NVI).

No livro de Hebreus, vemos não somente uma continuação, mas uma ampliação, uma modificação e um aperfeiçoamento da mensagem salvífica do santuário do Antigo Testamento. O sacerdote do Velho Testamento era mortal.  Em Cristo, temos agora um novo sumo sacerdote imortal, que é também, doador de vida eterna.

No Antigo Testamento o sacerdote era pecador, e precisava, ele mesmo, de um sacrifício remidor. Em Cristo encontramos um Sacerdote perfeito, puro, incontaminado pelo mal e pelo pecado. No AT o sacerdote entreva no santuário com o sangue de bodes e cordeiros.  Jesus, nosso Sumo Sacerdote, ofereceu o seu próprio sangue, o sangue da nova aliança, através do qual Ele se tornou, ao mesmo tempo, sacerdote e sacrifício em favor da redenção humana.

Podemos, portanto, ter “plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus” (Hebreus 10:19, NVI), na plena certeza de que temos um Sumo Sacerdote intercedendo por nós, nos méritos do seu próprio sangue.

Ao clamar na cruz “Está Consumado!”, Jesus nos garantiu um novo e vivo caminho ao santuário celestial, pela Sua carne e pelo Seu sangue, e com liberdade podemos nos apropriar dele. A grande nova do Evangelho é que, na cruz, Cristo consumou o acesso ao santuário celestial, e desde então, exerce suas funções sacerdotais de mediador e intercessor por todos nós, seus filhos amados (Hb 7:25; 8:1-5).

Naquela trágica tarde de sexta-feira em Jerusalém, há mais de dois mil anos atrás, no cimo do monte do Calvário, por volta das três horas da tarde, Jesus, agonizando em seus últimos momentos da cruz, exclama seu brado de vitória: “Está Consumado!” Esse brado triunfante de Cristo ainda ressoa através do Universo: Tetelestai: “Está consumado!”

A justiça e o caráter de Deus estavam vindicados para sempre.  A vitória do bem sobre o mal no grande conflito cósmico estava ali delineada. Não mais pairavam dúvidas entre os anjos e mundos não caídos sobre a bondade, o amor e a justiça de Deus.  Ali, naquela cruz, estava definida a derrota eterna de Satanás e todas as suas hostes.

Finalmente, naquela tarde, naquela cruz, foi consumado o caminho que nos conduz, pela fé, ao santuário celestial. Temos um novo Sumo Sacerdote, imortal, invencível, perfeito, que com o seu próprio sangue, nos lava, nos purifica e nos perdoa de todo o pecado. Ele “é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles” (Hebreus 7:25, NVI).

Caro amigo leitor, por meio do sacrifício expiatório pleno e completo de Cristo na cruz, a porta para a cidade de Deus está aberta para aqueles que estão despontados com a vida, consigo mesmos, com as filosofias do mundo, com esforços e tristezas. Através daquela porta aberta, Deus nos convida para que se achegue ao Calvário e olhem verdadeiramente para Jesus. Quando passarmos a amá-Lo, nossa vida nunca mais será a mesma. Ele nos dá uma alegria que nada poderá arrebatar. “Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no momento da necessidade” (Hebreus 4:16, NVI).







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