Leandro
Dalla*
Neste cenário de
mistura entre o sagrado e o profano está o estilo que ficou conhecido no Brasil
como “música gospel”. Para que encontremos uma definição satisfatória, não
podemos consultar os chamados “conservadores”, pois seriam acusados de emitir a
opinião pessoal. Busquemos a definição no ambiente secular que apoia esse tipo
de música:
“Gospel é uma
composição escrita para expressar a crença individual ou de uma comunidade com
respeito à vida cristã, assim como, de acordo com seus gêneros musicais
variados, também oferece uma alternativa ao povo cristão à música secular
convencional. A música gospel é escrita e executada por muitos motivos, desde o
prazer estético, com motivo religioso ou cerimonial, ou como um produto de
entretenimento para o mercado comercial. Contudo o tema principal na maioria
das músicas gospel é o louvor e adoração a Deus, Cristo e o Espírito Santo.”
Glossário Gêneros Musicais, Portal R7.
Disponível em: http://entretenimento.r7.com/
musica/glossario/glossario-2.html#letraG.
Podemos notar nessa
definição que o gospel brasileiro nada mais é do que uma alternativa criada
para “cristãos” que desejam continuar consumindo as mesmas músicas que consumiam
quando viviam nos costumes mundanos. Esse estilo prega que não é preciso deixar
o passado, a velha vida; prega que não é preciso buscar mudanças de hábitos e
gostos sob o poder do Espírito Santo. Isto contraria a Palavra de Deus.
“Assim que, se alguém
está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo.” 2 Coríntios 5:17, ACF.
“A vida do cristão não
é uma leve modificação ou melhoria, mas uma completa transformação da natureza.”
Manual da IASD, ed. 2015, p. 146.
No estilo gospel de
viver, a situação de nova criatura é considerada desnecessária.
“A ideia de que o fiel
tem a obrigação de abandonar velhos hábitos e pensamentos não vinculados a um
modo de vida religioso, nas propostas ministeriais modernas, não existe mais.
Ao que parece, a oferta é de uma conversão ‘negociada’.” Patrícia Villar
Branco. O metal cristão: música,
religiosidade e performance. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento
de Antropologia da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2011, p. 27.
“Um dos atrativos é
que, desde que aceitassem ‘Jesus’ e passassem a frequentar as igrejas, eles
poderiam continuar a ‘ser como antes’.” Márcia Regina da Costa. Os Carecas de Cristo e as Tribos Urbanas do
Underground Evangélico. São Paulo: Annablume, 2004, p. 49.
Na definição citada
anteriormente afirmou-se que o gospel também é um produto de entretenimento que
visa o comércio; isto é, uma música midiática cujo objetivo é atingir as “massas”
e transformá-las em fiéis consumidores. E não é de se estranhar que o estilo
tenha crescido vertiginosamente, tornando-se o segundo mais consumido no
Brasil, perdendo apenas para o sertanejo (https://veja.abril.com.br/entretenimento/musica-gospel-trinados-fe-e-dinheiro).
Muito se tem ouvido a
respeito de artistas da música popular que deixam suas bandas e se unem a
alguma igreja evangélica. Ainda que existam conversões verdadeiras –
considerando o conhecimento que aquele artista pôde obter – há casos em que não
há conversão, mas sim uma migração. Considerando que o gospel é o segundo
gênero musical mais consumido no Brasil, é natural que muitos artistas passem a
explorar esse novo mercado, principalmente quando suas carreiras começam a
declinar. A palavra “conversão” significa uma mudança acentuada de rumo. Ora,
se eu era rockeiro e agora passo a produzir rock gospel, onde está a conversão?
Continuo produzindo e consumindo o mesmo veneno, mudando apenas o rótulo. Mas
mudar o rótulo anula o efeito do veneno?
Veja a declaração de um
dos componentes da Stryper, uma banda de heavy metal gospel:
“Realmente cremos que
Jesus Cristo é o Salvador, mas somos uma das bandas cristãs menos religiosas
que você poderia imaginar. Religião é real para nós, mas rock and roll também.”
Hit Parade, nov. 1986, p. 21.
Jon Micah Sumrall, componente
da banda Kutless, disse: “Esperamos que nossa música seja boa e divertida o
bastante para trazer pessoas que não são cristãs. Esperamos que possamos abrir
seus olhos e a porta para eles compreenderem, no primeiro instante, que você
pode dançar rock, se divertir, e ainda ser um cristão.” Entrevista à CCM Magazine, jun. 1991.
Esta é a mensagem do
gospel atualmente. Não é preciso mudança de vida, mudança de costumes, não é necessário
abandonar práticas de antigas rotinas, como a música profana e diversões
mundanas.
Retomando a analogia do
casal de noivos prestes a se casar, compreende-se porque não é possível que
Deus aceite uma estrutura musical derivada do blues (melancolia e depressão),
do jazz (sêmen ou ejaculação) e do swing (sensualidade), mesmo que a letra da
música seja “cristã”. Deus não aceita um tipo de música concebido e promovido
num meio satânico que, de acordo com os próprios artistas deste meio, promove
rebeldia, anticristianismo e fortalece a carnalidade humana. O que há de
positivo neste tipo de música para a adoração ao Criador? Este tipo de música
contribui para o discipulado cristão? Este tipo de música santifica os
pensamentos e sentimentos?
“Foi-me mostrado que a
juventude necessita assumir posição mais alta e fazer da Palavra de Deus sua
conselheira e guia. Solenes responsabilidades repousam sobre os jovens, as
quais eles levianamente consideram. A introdução de música em seus lares, em
vez de incitá-los à santidade e espiritualidade, tem sido um meio de
desviar-lhes a mente da verdade. Canções frívolas e peças de música popular do
dia parecem compatíveis com seus gostos.” Ellen G. White. O
Lar Adventista, pp. 407-408.
“Jovens reúnem-se para
cantar e, se bem que cristãos professos, desonram frequentemente a Deus e sua
fé com conversas frívolas e com a escolha que fazem da música. A música sacra
não está em harmonia com seus gostos.” Ellen G. White. Testemunhos para a Igreja vol. 1, p. 506.
A música gospel faz
parte de um conjunto de músicas que honram aquele que queria ser Deus. Satanás
conhece a forma de agir do Espírito Santo e sabe exatamente qual o ambiente
propício para o Seu trabalho na mente humana, ou seja, um ambiente racional e
consciente. E é justamente por isso que Satanás deseja tornar os nossos cultos
de adoração cada vez mais agitados e barulhentos, pois deste modo atrapalha a
ação do Espírito Santo.
“As forças satânicas misturam-se com o
barulho, para se ter um carnaval, e isto será chamado de operação do Espírito Santo.
... O Espírito Santo nada tem que ver com tal confusão de ruído e multidão de sons.
... Satanás opera entre a algazarra e a confusão de tal música. ... Nessas
demonstrações, acham-se presentes demônios em forma de homens.” Ellen G. White.
Mensagens Escolhidas vol. 2, pp.
37-38.
“Aquele que acha que o Senhor
é honrado e exaltado por estes métodos está enganado por sua paixão cega pelo
som do mundo e iludido por suas emoções.” Timothy Lee Barret. Músico e pastor.
Música na Balança. Disponível em: http://www.ministeriosibe.com.br/blog/entry/1099811/msica-na-balana-lio-13-elementos-da-msica-que-honra-a-
-cristo-continuao.
O evangelista Lowell
Hart, que já foi músico de rock, escreveu: “Muitos anos atrás, como um jovem
músico numa banda de dança, eu gostava de tocar em boates e clubes noturnos. Se
alguém tivesse sugerido para mim naquela época que este mesmo tipo de música
seria ouvido em igrejas evangélicas, eu teria considerado a sua sugestão como a
piada do dia. Hoje estamos ouvindo tal som, mas não é piada!” Satan’s Music Exposed, p. 7.
“A subida meteórica da
música rock tem causado uma revolução total no campo da música, com um
pesadíssimo impacto no campo da música na igreja. A batida, o ritmo e o estilo
do rock têm invadido a igreja. ... Precisa ser abominada e rejeitada a música
que traz à memória do ‘recém-nascido’ a sua velha vida de pecado.” Ernest
Pickering, presidente do Seminário Teológico Batista, Minneapolis-USA. O Tipo de Música que Honra a Deus, pp.
6, 25.
“A influência deletéria do rock em algumas
igrejas evangélicas é evidente: basta ver o uso do play-back, dos instrumentos
musicais elétricos (guitarra), eletrônicos (sintetizador) e da batida rítmica
simétrica. O rock tem contaminado até jovens crentes, com linguagem ímpia, sons
alucinantes e ritmo sensual.” Rolando de Nassau (prefácio). A Mensagem Oculta do Rock. Rio de
Janeiro, 1986, p. 214.
“Devemos admitir
honestamente que quanto mais pesada for a influência do rock sobre a música,
menos as Escrituras irão aparecer no todo da música.” Tim Fisher, mestrado em teologia,
cantor e produtor, professor de música da Bob Jones University-EUA. O Debate Sobre a Música Cristã, p. 114.
“O uso desse tipo de música
na adoração tem produzido atitudes erradas e encorajado estilos de vida
carnais; e ambos estão destruindo a unidade e a eficiência dos crentes. Também
creio que evangelizar aqueles que estão fora da igreja não foi, como nos
contaram, a razão principal para adotar a Música Cristã Contemporânea na
adoração e louvor; creio que a Música Cristã Contemporânea foi implantada para
satisfazer o desejo pessoal por nossa música favorita. ... O rock produz uma
atmosfera que não tem lugar na igreja! Paremos de oferecer a Satanás, em nosso
culto de adoração, uma oportunidade de seduzir os santos.” Dan Lucarini. Confissões de um Ministro de Louvor,
pp. 16, 70.
“O diabo raramente
criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em
prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A
igreja abandonou a pregação ousada; em seguida, ela gradualmente amenizou seu
testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam
em voga no mundo e, no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras;
agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões. ... Os
profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a
fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires. ... Se Cristo
houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério,
teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram
perscrutadores. Não O vejo dizendo: ‘Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos
um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos
uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos
esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma
maneira!’ ... Em vão pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de
encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das
cartas é: ‘Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!’ ... Por último, a missão
de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa
danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e
zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os
cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se
e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no
processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover
entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o
ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente
espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A
necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de
tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.” Charles C.
Spurgeon. Alimentando as ovelhas ou divertindo os bodes. Disponível em: https://ministeriofiel.com.br/artigos/
alimentando-as-ovelhas-ou-divertindo-os-bodes.
“Jesus se propôs que nenhuma atração de
natureza terrena levasse homens ao Seu lado. Unicamente a beleza da verdade celeste
devia atrair os que O seguissem.” Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações, p. 23.
Compreendemos que
existem pessoas sinceras que, após a conversão, têm dificuldades em remover de
suas práticas musicais aquela identidade construída por anos ou décadas de atuação
na música do mundo. Mas é importante lembrar que é o Senhor que nos transforma.
Por isso Ele deve ser buscado incessantemente, em oração e estudo da Bíblia,
suplicando essa transformação com perseverança, até que possa produzir um
louvor a Deus sem resquícios de sua antiga vida longe do Senhor.
“Há muito show, muita
música, muito louvor, mas pouco ensino bíblico. Nunca os evangélicos cantaram
tanto e nunca foram tão analfabetos de Bíblia. Nunca houve tantos animadores de
auditório e tão poucos pregadores da Palavra de Deus. Quando o Espírito de Deus
está agindo de fato, Ele desperta o povo de Deus para a Palavra.” Augustus
Nicodemos Lopes. Avivamento? Infelizmente, ainda não. The Cristian Post. 22
jan. 2014. Disponível em: http://portugues.christianpost.com/news/rev-augustus-nicodemus-avivamento-
-infelizmente-ainda-nao-18645
Quando o Espírito Santo
age na mente do adorador, Ele o encaminha à Palavra de Deus. Significa que,
para um verdadeiro adorador, o momento mais importante e mais esperado do culto
de adoração será o da pregação, quando a Palavra de Deus é estudada e examinada
com o interesse de aprender Sua vontade. E hoje, como nunca antes, estamos sob
a carga pesada de música secular que desvia as mentes da Palavra de Deus, além de
influenciar o comportamento dos indivíduos na sociedade e na igreja.
“[O rock and roll] é
mais do que um gênero de música. Esta é a única coisa que a música rock tem
representado ao longo dos anos: rebelião
contra a autoridade; rebelião contra as normas sociais tradicionais; rebelião
contra a ‘repressão’ dos valores judaico-cristãos. Fundamentalmente, rebelião e
rejeição de Deus e da Bíblia.” David Wheaton, escritor, colunista, radialista e
ex-tenista profissional. University of Destruction: your game plan for
spiritual victory on campus. Bethany House, 2005, p. 88.
Desde que o rock
“explodiu” no mundo, é nítido o crescimento da postura de rebelião contra a
autoridade. Se este foi o resultado na sociedade, não seria natural que o mesmo
se desse no ambiente da igreja? A autoridade da igreja quase não mais é respeitada,
as normas estabelecidas não são mais consideradas, a disciplina eclesiástica
quase inexiste e muitas das orientações do Manual da Igreja são completamente
ignoradas. O fato é que a igreja vem perdendo sua autoridade.
“O que acontece é que a
juventude, segundo estudos, tem se voltado para certo tipo de religiosidade que
não permite mais as restrições e os velhos costumes tradicionais.” Patrícia
Villar Branco. O metal cristão: música,
religiosidade e performance. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento
de Antropologia da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2011, p. 26.
A música rock trouxe
consigo esse espírito de rebelião contra a autoridade, tanto em nossa sociedade
quanto em nossas igrejas. E a situação se agrava quando há líderes que, em vez
de manterem-se firmes diante do dever, passam a ter medo dos membros, principalmente
dos jovens, a quem é permitido fazer o que desejam sem advertências, sem
orientações, sem ensinamentos bíblicos e do Espírito de Profecia.
Observa-se hoje que os
músicos alcançaram um status de autoridade que os tem colocado acima dos
próprios pastores e até mesmo das normas institucionais da igreja. Quando um
músico conhecido e influente faz uma declaração pública ou produz ou canta/toca
uma música com características
contrárias às diretrizes do Manual da IASD, ao invés de ser advertido ele é
aplaudido. Tanto essa inversão de valores quanto a atitude de rebeldia contra
as normas estabelecidas têm sido alguns dos resultados da absorção da “cultura
Rock” nas igrejas adventistas do sétimo dia.
“A Música Cristã
Contemporânea está roubando nossas igrejas e nossos jovens e colocando-os
contra suas autoridades – pais, pastores e professores cristãos.” Tim Fisher,
mestrado em teologia, cantor e produtor, professor de música da Bob Jones
University-EUA. O Debate Sobre a Música Cristã, pp. 125-126.
“O uso de apresentações
teatrais e musicais em espaços públicos, as abordagens pessoais, os usos da
guitarra e bateria (entre outros que remetem aos gêneros aos quais esses
‘buscados’ se interessavam, como o rock e a balada romântica) produziram um
modo de cultuar, cantar e pregar que influenciou a juventude protestante
brasileira nos movimentos para-eclesiásticos que já existiam e ainda viriam.
Como se percebe, desponta um cenário da música gospel que começou nos anos 50,
abandonando uma prática musical tradicional herdada de missionários protestantes,
para, com o tempo, ir tomando liberdade de alcance a determinados públicos, como
é o caso da adequação ao público jovem; que, na verdade, foi uma adequação que
se alastrou para além da música, pois ocorreu também um ajuste comportamental
de acordo com essa nova demanda.” Patrícia Villar Branco. O metal cristão: música, religiosidade e performance. Dissertação
de mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia da Universidade Federal
do Paraná. Curitiba, 2011, p. 20.
Alguns até podem
argumentar: “temos que acompanhar a modernidade, não podemos ser arcaicos, a
igreja precisa ser relevante”. É possível adotar tecnologias atualizadas em
abordagens que despertem a atenção das pessoas para o evangelho. Porém, existem
princípios a serem observados nesta obra, e nenhum deles tem como fundamento o
gosto pessoal ou a vontade da maioria. E uma igreja se torna relevante quando
está cumprindo sua missão. E sua missão inclui contribuir para a transformação
da pessoa em uma nova criatura semelhante a Jesus Cristo.
“É essa solução [a
volta de Jesus] que torna a mensagem adventista verdadeiramente relevante para
um mundo em agonia. ... A única resposta suficiente e permanente para as dificuldades
que envolvem um mundo perdido, conforme Cristo ensinou tanto nos evangelhos
quanto no livro do Apocalipse, seria o Seu retorno nas nuvens do céu. Na Sua volta
há verdadeira esperança. O resto não passa de simples curativo.” George R.
Knight. A Visão Apocalíptica e a Neutralização
do Adventismo, pp. 102, 105.
O que torna a Igreja
Adventista do Sétimo Dia relevante para a sociedade não é necessariamente o
promover obras sociais ou atrair pessoas a eventos, algo que outras
denominações religiosas também podem fazer. A relevância da IASD está na
pregação das três mensagens angélicas de Apocalipse. Com a voz e com o estilo
de vida, a missão da IASD é convidar pessoas ao arrependimento e a aceitar a
transformação do caráter realizada pelo Espírito Santo. Agindo desta forma, a
igreja apressa o retorno de Jesus Cristo, o que trará a solução definitiva para
todos os problemas deste mundo. E nesta missão devemos usar os métodos que Deus
escolheu.
“Os mensageiros de Deus
não devem seguir, em seus esforços para atrair o povo, os métodos do mundo.”
Ellen G. White. Obreiros Evangélicos,
p. 357.
“Não permitais que
vossos esforços sejam no sentido de seguir os métodos do mundo, mas as maneiras
de Deus.” Ellen G. White. Evangelismo,
p. 148.
Os métodos adequados
não são aqueles dos quais gostamos, ou aqueles que agradam aos jovens, ou aqueles
que atraem mais pessoas, mas aqueles métodos que agradam a Deus. Propõe-se um
questionamento à liderança da IASD: as comissões das igrejas já se reuniram
para estudar detidamente a Bíblia e refletir nos métodos de trabalho de Cristo?
Os diretores de departamentos das igrejas têm estudado os livros “Evangelismo”,
“Testemunhos para Ministros”, “Serviço Cristão”, “Conselhos sobre a Escola
Sabatina”, “Mensagens aos Jovens”, “Conselhos sobre Mordomia”, “Testemunhos
para a Igreja”, entre outros livros inspirados por Deus que equivalem a manuais
de instruções de procedimentos?
Caso esses livros
estejam sendo objeto de diligente estudo, louvado seja o Senhor! Caso
contrário, onde têm sido buscados os métodos a serem usados nas atividades da
igreja? Onde são buscadas as instruções para agir dessa ou daquela maneira?
Parece que a “inspiração” para os métodos usados em muitas igrejas está nos
conceitos empresariais. Parece que as estatísticas, as pesquisas de mercado e
as estratégias de marketing são as fontes de consulta, e não a Palavra de Deus.
É muito preocupante
constatar que em algumas instituições adventistas do sétimo dia predominam métodos
com base naquilo que agrada ao “cliente”, e este tem que ser atraído a qualquer
custo para fazer parte da membresia. Assim, os princípios de fidelidade e de
obediência ao Criador são sacrificados. Assim, os líderes dessas instituições
tornam-se apenas prestadores de serviços aos “clientes”, perdendo sua autoridade.
Imaginemos um obreiro que dirigiu uma série de conferências de quarenta noites
e, ao final, ninguém se converteu. Diríamos que este é um obreiro fracassado?
Imaginemos outro obreiro que dirigiu outra série de conferências diárias
durante doze meses e ninguém se converteu. Outro exemplo de obreiro fracassado?
Muitos diriam que sim. E se soubéssemos de um obreiro que dirigiu uma série de
conferências que durou cento e vinte anos e não trouxe ninguém para a igreja?
Diríamos que este sim foi um completo fracasso. Este obreiro foi Noé. Mas ele
não fracassou em seu ministério. Sabemos, de acordo com o Espírito de Profecia,
que pessoas creram na pregação de Noé, mas morreram antes do dilúvio. Porém, ao
final de suas conferências, Noé e sua família (total de oito pessoas) entraram na
arca e todos os demais ficaram do lado de fora. Noé permaneceu com sua pequena
família em sua “igreja” e todos os demais rejeitaram a pregação. Será que Noé
não cumpriu sua missão? Afinal, qual era a missão: pregar a mensagem às pessoas
ou encher a arca (igreja) de pessoas?
O sucesso do ministério
não está na quantidade de pessoas que aceitam e se convertem, mas no fato de
estarmos fazendo aquilo que Deus ordenou, pregando aquilo que Deus ordenou e da
maneira que Ele ordenou, ainda que ninguém aceite a mensagem.
“A comissão divina não
precisa de reforma. O modo de Cristo apresentar a verdade não pode ser
aperfeiçoado. O obreiro que tenta introduzir métodos que atraiam os de espírito
mundano, supondo que isto removerá as objeções que eles têm quanto a tomar a
cruz, diminui sua influência. Conservai a singeleza da piedade.” Ellen G.
White. Evangelismo, p. 525.
Qual é a missão do
discipulado cristão? Pregar ou converter? Evangelizar ou batizar? Permita-me
repetir as palavras do apóstolo Paulo:
“Porque Cristo
enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar.” 1 Coríntios 1:17, ACF.
“Paulo esperava que
apenas Cristo fosse exaltado, e que homens e mulheres fossem ganhos para Ele.
Por isso, ele deixou claro que batizar não era seu trabalho principal, mas sim
persuadir pessoas a se renderem ao Salvador. Não era sua intenção insinuar que
não batizaria ninguém, mas que soubessem que ele não se gloriava com um grande
número de batismos.” Comentário Bíblico
Adventista vol. 6, p. 732.
Este discipulado diz
respeito a testemunhar de Jesus Cristo na maneira diária de viver, refletindo o
Seu caráter; diz respeito a pregar o evangelho em palavras e ações, andar
humildemente com Deus, trabalhar com os métodos que Ele ordenou e deixar os
resultados em Suas mãos. E o batismo será uma feliz consequência de todos estes
procedimentos.
“Uma mera profissão de
discipulado não tem nenhum valor. ... Uma crença que não leva à obediência, é
presunção. ... A obediência é a prova do discipulado.” Ellen G. White. O Maior Discurso de Cristo, p. 146.
Esperemos com paciência
o amadurecimento do fruto e de forma diligente entreguemos ao Espírito Santo a
obra de germinação das sementes lançadas pelos fiéis semeadores (discípulos), a
fim de que frutos sejam produzidos. “Os verdadeiros ministros conhecem o valor
da obra interior do Espírito Santo sobre o coração humano. Satisfazem-se com a
simplicidade nos cultos. Em vez de dar valor ao canto popular, volvem sua
atenção para o estudo da Palavra.” Ellen G. White. Evangelismo, p. 502.
Por décadas os
adventistas do sétimo dia foram conhecidos como “povo da Bíblia”. É preciso
resgatar a identidade da IASD. É vital recuperar aquilo que sempre a
diferenciou: o conhecimento profundo da Palavra de Deus.
Repetindo o Manual da
IASD:
“Se deixarmos de ser o
povo do Livro, estaremos perdidos e nossa missão terá falhado.” Manual da IASD, ed. 2015, p. 147.
“Nossa meta não deveria
ser converter o mundo com nossa música; mas, por meio do Espírito Santo, converter
o mundo pela Palavra.” Christian Berdahl. O Dilema da Distração. Disponível em:
https://www.youtube.com/
watch?v=UUwPlDis8Pk.
“As realizações
musicais não são a força da igreja.” Ellen G. White. Evangelismo, p. 512.
Aqueles que conhecem o
trabalho do Espírito Santo e Seu infinito poder de convencer “o mundo do
pecado, e da justiça e do juízo” (João 16:8, ACF), trabalharão com fidelidade e
simplicidade.
“O Espírito Santo está
bem habilitado a quebrar os corações duros dos jovens [e de todos], e trazê-los
para um conhecimento salvador de Cristo, sem empregar técnicas musicais
agressivas e ímpias.” Ernest Pickering, presidente do Seminário Teológico Batista,
Minneapolis - USA. O Tipo de Música que
Honra a Deus, p. 14.
Muitos dizem que os
melhores métodos são aqueles que diminuem ou anulam nossa distinção em relação
ao mundo; alegam que, assim, podemos nos aproximar sem gerar preconceitos,
atraindo pessoas a Cristo. Porém, qual é o melhor método para atrairmos pessoas
a Cristo?
“Se quiserem exercer
verdadeira e salvadora influência, vivam segundo sua profissão de fé, mostrem
essa fé pelas obras de justiça, e tornem grande a distinção entre os cristãos e
o mundo. ... Se alguém deseja que sua influência fale em favor da verdade, viva
segundo esta, imitando assim o humilde Exemplo.” Ellen G. White. Mensagens aos Jovens, p. 128.
A sabedoria de Deus
muitas vezes parece loucura para nós. Enquanto muitos desejam diminuir nossa
distinção em relação ao mundo, Deus nos orienta a que façamos exatamente o
contrário, ou seja, que tornemos grande, clara, nítida, evidente essa
distinção. E é este “ser diferente”, de acordo com os padrões de Deus, que
atrai as pessoas.
Alguém poderia
questionar: “mas eu me converti ouvindo um rock gospel”. Em primeiro lugar,
conversão é uma palavra muito séria e apenas Deus conhece os corações. Sabemos
que se converter não é apenas batizar e frequentar uma igreja, como muitos
pensam. O importante para nós é lembrarmos que Deus pode todas as coisas e usa
diversas maneiras para alcançar o perdido. Nós, Suas criaturas, precisamos agir
da maneira como nosso Criador determinou.
Também é importante
ressaltar que Deus pode alcançar alguém “por meio de” e “apesar de”. Deus pode
transformar uma situação desfavorável e revertê-la para Sua glória e a salvação
do perdido, transformando maldição em bênção. Deus pode alcançar o perdido com
a mensagem de exortação e salvação até mesmo usando uma jumenta (Números
capítulo 22).
Lembremos a história de
Moisés, relatada em Números 20:1-12. Houve um momento em que o povo teve sua
sede saciada com água. Naquele momento alguém poderia ter questionado: “O que
Moisés fez não foi correto. Ele não deveria ter ferido a rocha, este não é um
método aceitável a Deus para suprir as necessidades do povo”. Outro teria retrucado:
“Você não sabe o que diz, não seja extremista! Como você pode dizer que não é
um método aceitável ao Senhor se todos nós fomos abençoados com água?”
Foi a vontade de Deus
que Moisés ferisse a rocha? Este foi um método aceitável ao Senhor? Qual foi a
ordem dada por Deus a Moisés? “Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão,
teu irmão, e falai à rocha.” Números 20:8, ACF.
Mas o que Moisés fez?
“Então Moisés levantou
a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saiu muita água; e
bebeu a congregação e os seus animais.” Números 20:11, ACF.
O fato de o povo ter
sido saciado com água significa necessariamente que o método usado foi
aceitável ao Senhor e conforme a Sua vontade?
“Aqui Moisés pecou. ...
Por ordem do Senhor, tomou a vara e, em vez de falar à rocha, como Deus ordenara,
feriu-a duas vezes com a vara. ... Por esta falha da parte de Moisés, Deus não
permitiria que ele guiasse o povo à Terra Prometida. ... O Senhor exaltara muito
a Moisés. Havia-lhe revelado Sua grande glória. Tomara-o em sagrada proximidade
consigo sobre o monte, e condescendera em conversar com ele como um homem fala
com um amigo. Comunicara a Moisés e, através dele, ao povo, Sua vontade, Seus estatutos
e Suas leis. O ter sido assim exaltado e honrado por Deus tornou seu erro de
maior magnitude. Moisés arrependeu- -se de seu pecado e humilhou-se grandemente
diante de Deus. Relatou a todo o Israel sua tristeza pelo pecado. Não ocultou o
resultado de seu pecado, mas contou-lhes que por assim ter deixado de atribuir
glória a Deus, não podia levá-los à Terra Prometida.” Ellen G. White. História da Redenção, pp. 166-168.
Precisamos entender que
os fins não justificam os meios. Se alguém foi alcançado pela mensagem do
evangelho ouvindo rock gospel, isto não altera o fato de que é um método não
indicado por Deus e, portanto, inaceitável; assim como não importava quantas
pessoas tinham sido beneficiadas com água, o ferir a rocha foi uma atitude de
direta desobediência às ordens do Senhor.
Podemos recordar também
a história de Balaão. O povo de Israel foi abençoado por suas palavras, mas ele
estava a serviço dos inimigos do povo de Deus e, portanto, agindo contra Sua
vontade. Mesmo assim o povo foi abençoado.
Deus faz e usa aquilo
que quer. Ele é o Criador. Porém, nós devemos trabalhar seguindo as Suas
orientações e não nossos gostos e sentimentos. E o fato de Deus usar algo
inusitado para nós, não significa que o esteja tornando um padrão de
procedimento; Ele está tornando em bem, um mal. Ele está revertendo a situação,
a fim de resgatar a pessoa perdida.
“Quebrar as ordens de
Deus para tentar fazer algo bom não ajuda Deus.” Tim Fisher, mestrado em
teologia, cantor e produtor, professor de música da Bob Jones University-EUA. O Debate Sobre a Música Cristã, p. 140.
“Os homens hão de
reconhecer o evangelho, quando este lhes for apresentado em harmonia com os
desígnios de Deus.” Ellen G. White. Obreiros
Evangélicos, p. 383.
“Nada justifica baixar a qualidade da música.
Quanto aos que são do mundo, que sejam atraídos pela pregação pura e simples do
Evangelho, acompanhada de um louvor reverente e aceitável ao nosso Deus.” Ernest
Pickering, presidente do Seminário Teológico Batista, Minneapolis-USA. O Tipo de Música que Honra a Deus, p.
4.
“Jamais comprometer elevados
princípios de dignidade e superioridade em esforços rasteiros para alcançar as
pessoas descendo até onde elas estão.” Filosofia Adventista de Música.
Documento Oficial da IASD. Votado e aprovado pela Associação Geral no Concílio
Outonal de 1972, p. 1201. Disponível em: http://documents.adventistarchives.org/
Minutes/GCC/GCC1972-10b.pdf
A Palavra de Deus é
clara quando nos adverte:
“Abstende-vos de toda a
aparência do mal.” 1 Tessalonicenses 5:22, ACF.
No contexto musical
significa que devemos evitar qualquer estilo que esteja associado ao mal;
estilos estes dos quais o rock é o maior destaque.
“O rock se trata de um
ritmo que surgiu como ato de rebeldia, carregado de fortes conotações sexuais e
cheio de simbolismos diabólicos e de contestação. Colocando a ênfase no ritmo
para criar uma ‘batida’ própria e fazendo uso dos decibéis excessivos das caixas
acústicas, além das luzes de cores mirabolantes, os roqueiros nada mais fazem
do que exercer um domínio maléfico sobre a juventude, cuja mente vai sendo
minada de modo sutil até submeter-se, por completo, ao controle de Satanás.
Essas constatações claras nos levam a fazer alguns questionamentos sobre nossa
responsabilidade como cristãos neste mundo. É correto os nossos jovens usarem
esses mesmos elementos para a composição e apresentação de seus hinos de louvor
a Deus? Estaríamos, por exemplo, agradando ao Senhor com um festival de música
evangélica, onde os cantores se apresentassem com roupas apertadas e
cintilantes, camisas desabotoadas, chuvas de luzes lampejantes sobre o auditório
e som no mais alto volume? ... Quem tem bom senso chega logo à seguinte
conclusão: este não é o meio adequado para que a mensagem evangélica, em toda a
sua pureza, possa alcançar corações empedernidos. Em shows como este pode ocorrer
tudo, desde a glorificação do homem à excitação da carne, menos sentir-se a
verdadeira presença de Jesus Cristo.” Geremias Couto. A Mensagem Oculta do Rock. Rio de Janeiro, 1986, p. 161.
*Leandro
Dalla, é estudioso das questões relacionadas ao uso da
música no culto e da forma de adoração na Igreja Adventista do Sétimo Dia. É o
autor do livro “Música, Reverência e Adoração”.
FONTE:
Artigo que constitui o capítulo 8 do livro “Música no Tempo do Fim”, p. 99-117,
de Leandro Dalla.
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