Teologia

terça-feira, 24 de março de 2020

DESMASCARANDO A MÚSICA GOSPEL


Leandro Dalla*

Neste cenário de mistura entre o sagrado e o profano está o estilo que ficou conhecido no Brasil como “música gospel”. Para que encontremos uma definição satisfatória, não podemos consultar os chamados “conservadores”, pois seriam acusados de emitir a opinião pessoal. Busquemos a definição no ambiente secular que apoia esse tipo de música:

“Gospel é uma composição escrita para expressar a crença individual ou de uma comunidade com respeito à vida cristã, assim como, de acordo com seus gêneros musicais variados, também oferece uma alternativa ao povo cristão à música secular convencional. A música gospel é escrita e executada por muitos motivos, desde o prazer estético, com motivo religioso ou cerimonial, ou como um produto de entretenimento para o mercado comercial. Contudo o tema principal na maioria das músicas gospel é o louvor e adoração a Deus, Cristo e o Espírito Santo.” Glossário Gêneros Musicais, Portal R7. Disponível em: http://entretenimento.r7.com/ musica/glossario/glossario-2.html#letraG.

Podemos notar nessa definição que o gospel brasileiro nada mais é do que uma alternativa criada para “cristãos” que desejam continuar consumindo as mesmas músicas que consumiam quando viviam nos costumes mundanos. Esse estilo prega que não é preciso deixar o passado, a velha vida; prega que não é preciso buscar mudanças de hábitos e gostos sob o poder do Espírito Santo. Isto contraria a Palavra de Deus.

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” 2 Coríntios 5:17, ACF.

“A vida do cristão não é uma leve modificação ou melhoria, mas uma completa transformação da natureza.” Manual da IASD, ed. 2015, p. 146.


No estilo gospel de viver, a situação de nova criatura é considerada desnecessária.

“A ideia de que o fiel tem a obrigação de abandonar velhos hábitos e pensamentos não vinculados a um modo de vida religioso, nas propostas ministeriais modernas, não existe mais. Ao que parece, a oferta é de uma conversão ‘negociada’.” Patrícia Villar Branco. O metal cristão: música, religiosidade e performance. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2011, p. 27.

“Um dos atrativos é que, desde que aceitassem ‘Jesus’ e passassem a frequentar as igrejas, eles poderiam continuar a ‘ser como antes’.” Márcia Regina da Costa. Os Carecas de Cristo e as Tribos Urbanas do Underground Evangélico. São Paulo: Annablume, 2004, p. 49.

Na definição citada anteriormente afirmou-se que o gospel também é um produto de entretenimento que visa o comércio; isto é, uma música midiática cujo objetivo é atingir as “massas” e transformá-las em fiéis consumidores. E não é de se estranhar que o estilo tenha crescido vertiginosamente, tornando-se o segundo mais consumido no Brasil, perdendo apenas para o sertanejo (https://veja.abril.com.br/entretenimento/musica-gospel-trinados-fe-e-dinheiro).

Muito se tem ouvido a respeito de artistas da música popular que deixam suas bandas e se unem a alguma igreja evangélica. Ainda que existam conversões verdadeiras – considerando o conhecimento que aquele artista pôde obter – há casos em que não há conversão, mas sim uma migração. Considerando que o gospel é o segundo gênero musical mais consumido no Brasil, é natural que muitos artistas passem a explorar esse novo mercado, principalmente quando suas carreiras começam a declinar. A palavra “conversão” significa uma mudança acentuada de rumo. Ora, se eu era rockeiro e agora passo a produzir rock gospel, onde está a conversão? Continuo produzindo e consumindo o mesmo veneno, mudando apenas o rótulo. Mas mudar o rótulo anula o efeito do veneno?
Veja a declaração de um dos componentes da Stryper, uma banda de heavy metal gospel:

“Realmente cremos que Jesus Cristo é o Salvador, mas somos uma das bandas cristãs menos religiosas que você poderia imaginar. Religião é real para nós, mas rock and roll também.” Hit Parade, nov. 1986, p. 21.

Jon Micah Sumrall, componente da banda Kutless, disse: “Esperamos que nossa música seja boa e divertida o bastante para trazer pessoas que não são cristãs. Esperamos que possamos abrir seus olhos e a porta para eles compreenderem, no primeiro instante, que você pode dançar rock, se divertir, e ainda ser um cristão.” Entrevista à CCM Magazine, jun. 1991.

Esta é a mensagem do gospel atualmente. Não é preciso mudança de vida, mudança de costumes, não é necessário abandonar práticas de antigas rotinas, como a música profana e diversões mundanas.

Retomando a analogia do casal de noivos prestes a se casar, compreende-se porque não é possível que Deus aceite uma estrutura musical derivada do blues (melancolia e depressão), do jazz (sêmen ou ejaculação) e do swing (sensualidade), mesmo que a letra da música seja “cristã”. Deus não aceita um tipo de música concebido e promovido num meio satânico que, de acordo com os próprios artistas deste meio, promove rebeldia, anticristianismo e fortalece a carnalidade humana. O que há de positivo neste tipo de música para a adoração ao Criador? Este tipo de música contribui para o discipulado cristão? Este tipo de música santifica os pensamentos e sentimentos?

“Foi-me mostrado que a juventude necessita assumir posição mais alta e fazer da Palavra de Deus sua conselheira e guia. Solenes responsabilidades repousam sobre os jovens, as quais eles levianamente consideram. A introdução de música em seus lares, em vez de incitá-los à santidade e espiritualidade, tem sido um meio de desviar-lhes a mente da verdade. Canções frívolas e peças de música popular do dia parecem compatíveis com seus gostos.” Ellen G.  White. O Lar Adventista, pp. 407-408.

“Jovens reúnem-se para cantar e, se bem que cristãos professos, desonram frequentemente a Deus e sua fé com conversas frívolas e com a escolha que fazem da música. A música sacra não está em harmonia com seus gostos.” Ellen G. White. Testemunhos para a Igreja vol. 1, p. 506.

A música gospel faz parte de um conjunto de músicas que honram aquele que queria ser Deus. Satanás conhece a forma de agir do Espírito Santo e sabe exatamente qual o ambiente propício para o Seu trabalho na mente humana, ou seja, um ambiente racional e consciente. E é justamente por isso que Satanás deseja tornar os nossos cultos de adoração cada vez mais agitados e barulhentos, pois deste modo atrapalha a ação do Espírito Santo.

 “As forças satânicas misturam-se com o barulho, para se ter um carnaval, e isto será chamado de operação do Espírito Santo. ... O Espírito Santo nada tem que ver com tal confusão de ruído e multidão de sons. ... Satanás opera entre a algazarra e a confusão de tal música. ... Nessas demonstrações, acham-se presentes demônios em forma de homens.” Ellen G. White. Mensagens Escolhidas vol. 2, pp. 37-38.

“Aquele que acha que o Senhor é honrado e exaltado por estes métodos está enganado por sua paixão cega pelo som do mundo e iludido por suas emoções.” Timothy Lee Barret. Músico e pastor. Música na Balança. Disponível em: http://www.ministeriosibe.com.br/blog/entry/1099811/msica-na-balana-lio-13-elementos-da-msica-que-honra-a- -cristo-continuao.

O evangelista Lowell Hart, que já foi músico de rock, escreveu: “Muitos anos atrás, como um jovem músico numa banda de dança, eu gostava de tocar em boates e clubes noturnos. Se alguém tivesse sugerido para mim naquela época que este mesmo tipo de música seria ouvido em igrejas evangélicas, eu teria considerado a sua sugestão como a piada do dia. Hoje estamos ouvindo tal som, mas não é piada!” Satan’s Music Exposed, p. 7.

“A subida meteórica da música rock tem causado uma revolução total no campo da música, com um pesadíssimo impacto no campo da música na igreja. A batida, o ritmo e o estilo do rock têm invadido a igreja. ... Precisa ser abominada e rejeitada a música que traz à memória do ‘recém-nascido’ a sua velha vida de pecado.” Ernest Pickering, presidente do Seminário Teológico Batista, Minneapolis-USA. O Tipo de Música que Honra a Deus, pp. 6, 25.

 “A influência deletéria do rock em algumas igrejas evangélicas é evidente: basta ver o uso do play-back, dos instrumentos musicais elétricos (guitarra), eletrônicos (sintetizador) e da batida rítmica simétrica. O rock tem contaminado até jovens crentes, com linguagem ímpia, sons alucinantes e ritmo sensual.” Rolando de Nassau (prefácio). A Mensagem Oculta do Rock. Rio de Janeiro, 1986, p. 214.

“Devemos admitir honestamente que quanto mais pesada for a influência do rock sobre a música, menos as Escrituras irão aparecer no todo da música.” Tim Fisher, mestrado em teologia, cantor e produtor, professor de música da Bob Jones University-EUA. O Debate Sobre a Música Cristã, p. 114.

“O uso desse tipo de música na adoração tem produzido atitudes erradas e encorajado estilos de vida carnais; e ambos estão destruindo a unidade e a eficiência dos crentes. Também creio que evangelizar aqueles que estão fora da igreja não foi, como nos contaram, a razão principal para adotar a Música Cristã Contemporânea na adoração e louvor; creio que a Música Cristã Contemporânea foi implantada para satisfazer o desejo pessoal por nossa música favorita. ... O rock produz uma atmosfera que não tem lugar na igreja! Paremos de oferecer a Satanás, em nosso culto de adoração, uma oportunidade de seduzir os santos.” Dan Lucarini. Confissões de um Ministro de Louvor, pp. 16, 70.

“O diabo raramente criou algo mais perspicaz do que sugerir à igreja que sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo. A igreja abandonou a pregação ousada; em seguida, ela gradualmente amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e justificar as frivolidades que estavam em voga no mundo e, no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas fronteiras; agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões. ... Os profetas foram perseguidos porque divertiam as pessoas ou porque recusavam-se a fazê-lo? Os concertos de música não têm um rol de mártires. ... Se Cristo houvesse introduzido mais elementos brilhantes e agradáveis em seu ministério, teria sido mais popular em seus resultados, porque seus ensinos eram perscrutadores. Não O vejo dizendo: ‘Pedro, vá atrás do povo e diga-lhe que teremos um culto diferente amanhã, algo atraente e breve, com pouca pregação. Teremos uma noite agradável para as pessoas. Diga-lhes que com certeza realizaremos esse tipo de culto. Vá logo, Pedro, temos de ganhar as pessoas de alguma maneira!’ ... Em vão pesquisaremos as cartas do Novo Testamento a fim de encontrar qualquer indício de um evangelho de entretenimento. A mensagem das cartas é: ‘Retirai-vos, separai-vos e purificai-vos!’ ... Por último, a missão de prover entretenimento falha em conseguir os resultados desejados. Causa danos entre os novos convertidos. Permitam que falem os negligentes e zombadores, que foram alcançados por um evangelho parcial; que falem os cansados e oprimidos que buscaram paz através de um concerto musical. Levante-se e fale o alcoólatra para quem o entretenimento na forma de drama foi um elo no processo de sua conversão! A resposta é óbvia: a missão de prover entretenimento não produz convertidos verdadeiros. A necessidade atual para o ministro do evangelho é uma instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade; uma resulta da outra, assim como o fruto procede da raiz. A necessidade de nossa época é a doutrina bíblica, entendida e experimentada de tal modo, que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.” Charles C. Spurgeon. Alimentando as ovelhas ou divertindo os bodes. Disponível em: https://ministeriofiel.com.br/artigos/ alimentando-as-ovelhas-ou-divertindo-os-bodes.

 “Jesus se propôs que nenhuma atração de natureza terrena levasse homens ao Seu lado. Unicamente a beleza da verdade celeste devia atrair os que O seguissem.” Ellen G. White. O Desejado de Todas as Nações, p. 23.

Compreendemos que existem pessoas sinceras que, após a conversão, têm dificuldades em remover de suas práticas musicais aquela identidade construída por anos ou décadas de atuação na música do mundo. Mas é importante lembrar que é o Senhor que nos transforma. Por isso Ele deve ser buscado incessantemente, em oração e estudo da Bíblia, suplicando essa transformação com perseverança, até que possa produzir um louvor a Deus sem resquícios de sua antiga vida longe do Senhor.

“Há muito show, muita música, muito louvor, mas pouco ensino bíblico. Nunca os evangélicos cantaram tanto e nunca foram tão analfabetos de Bíblia. Nunca houve tantos animadores de auditório e tão poucos pregadores da Palavra de Deus. Quando o Espírito de Deus está agindo de fato, Ele desperta o povo de Deus para a Palavra.” Augustus Nicodemos Lopes. Avivamento? Infelizmente, ainda não. The Cristian Post. 22 jan. 2014. Disponível em: http://portugues.christianpost.com/news/rev-augustus-nicodemus-avivamento- -infelizmente-ainda-nao-18645

Quando o Espírito Santo age na mente do adorador, Ele o encaminha à Palavra de Deus. Significa que, para um verdadeiro adorador, o momento mais importante e mais esperado do culto de adoração será o da pregação, quando a Palavra de Deus é estudada e examinada com o interesse de aprender Sua vontade. E hoje, como nunca antes, estamos sob a carga pesada de música secular que desvia as mentes da Palavra de Deus, além de influenciar o comportamento dos indivíduos na sociedade e na igreja.

“[O rock and roll] é mais do que um gênero de música. Esta é a única coisa que a música rock tem representado ao longo  dos anos: rebelião contra a autoridade; rebelião contra as normas sociais tradicionais; rebelião contra a ‘repressão’ dos valores judaico-cristãos. Fundamentalmente, rebelião e rejeição de Deus e da Bíblia.” David Wheaton, escritor, colunista, radialista e ex-tenista profissional. University of Destruction: your game plan for spiritual victory on campus. Bethany House, 2005, p. 88.

Desde que o rock “explodiu” no mundo, é nítido o crescimento da postura de rebelião contra a autoridade. Se este foi o resultado na sociedade, não seria natural que o mesmo se desse no ambiente da igreja? A autoridade da igreja quase não mais é respeitada, as normas estabelecidas não são mais consideradas, a disciplina eclesiástica quase inexiste e muitas das orientações do Manual da Igreja são completamente ignoradas. O fato é que a igreja vem perdendo sua autoridade.

“O que acontece é que a juventude, segundo estudos, tem se voltado para certo tipo de religiosidade que não permite mais as restrições e os velhos costumes tradicionais.” Patrícia Villar Branco. O metal cristão: música, religiosidade e performance. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2011, p. 26.

A música rock trouxe consigo esse espírito de rebelião contra a autoridade, tanto em nossa sociedade quanto em nossas igrejas. E a situação se agrava quando há líderes que, em vez de manterem-se firmes diante do dever, passam a ter medo dos membros, principalmente dos jovens, a quem é permitido fazer o que desejam sem advertências, sem orientações, sem ensinamentos bíblicos e do Espírito de Profecia.

Observa-se hoje que os músicos alcançaram um status de autoridade que os tem colocado acima dos próprios pastores e até mesmo das normas institucionais da igreja. Quando um músico conhecido e influente faz uma declaração pública ou produz ou canta/toca uma música com  características contrárias às diretrizes do Manual da IASD, ao invés de ser advertido ele é aplaudido. Tanto essa inversão de valores quanto a atitude de rebeldia contra as normas estabelecidas têm sido alguns dos resultados da absorção da “cultura Rock” nas igrejas adventistas do sétimo dia.

“A Música Cristã Contemporânea está roubando nossas igrejas e nossos jovens e colocando-os contra suas autoridades – pais, pastores e professores cristãos.” Tim Fisher, mestrado em teologia, cantor e produtor, professor de música da Bob Jones University-EUA. O Debate Sobre a Música Cristã, pp. 125-126.

“O uso de apresentações teatrais e musicais em espaços públicos, as abordagens pessoais, os usos da guitarra e bateria (entre outros que remetem aos gêneros aos quais esses ‘buscados’ se interessavam, como o rock e a balada romântica) produziram um modo de cultuar, cantar e pregar que influenciou a juventude protestante brasileira nos movimentos para-eclesiásticos que já existiam e ainda viriam. Como se percebe, desponta um cenário da música gospel que começou nos anos 50, abandonando uma prática musical tradicional herdada de missionários protestantes, para, com o tempo, ir tomando liberdade de alcance a determinados públicos, como é o caso da adequação ao público jovem; que, na verdade, foi uma adequação que se alastrou para além da música, pois ocorreu também um ajuste comportamental de acordo com essa nova demanda.” Patrícia Villar Branco. O metal cristão: música, religiosidade e performance. Dissertação de mestrado apresentada ao Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2011, p. 20.

Alguns até podem argumentar: “temos que acompanhar a modernidade, não podemos ser arcaicos, a igreja precisa ser relevante”. É possível adotar tecnologias atualizadas em abordagens que despertem a atenção das pessoas para o evangelho. Porém, existem princípios a serem observados nesta obra, e nenhum deles tem como fundamento o gosto pessoal ou a vontade da maioria. E uma igreja se torna relevante quando está cumprindo sua missão. E sua missão inclui contribuir para a transformação da pessoa em uma nova criatura semelhante a Jesus Cristo.

“É essa solução [a volta de Jesus] que torna a mensagem adventista verdadeiramente relevante para um mundo em agonia. ... A única resposta suficiente e permanente para as dificuldades que envolvem um mundo perdido, conforme Cristo ensinou tanto nos evangelhos quanto no livro do Apocalipse, seria o Seu retorno nas nuvens do céu. Na Sua volta há verdadeira esperança. O resto não passa de simples curativo.” George R. Knight. A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo, pp. 102, 105.

O que torna a Igreja Adventista do Sétimo Dia relevante para a sociedade não é necessariamente o promover obras sociais ou atrair pessoas a eventos, algo que outras denominações religiosas também podem fazer. A relevância da IASD está na pregação das três mensagens angélicas de Apocalipse. Com a voz e com o estilo de vida, a missão da IASD é convidar pessoas ao arrependimento e a aceitar a transformação do caráter realizada pelo Espírito Santo. Agindo desta forma, a igreja apressa o retorno de Jesus Cristo, o que trará a solução definitiva para todos os problemas deste mundo. E nesta missão devemos usar os métodos que Deus escolheu.

“Os mensageiros de Deus não devem seguir, em seus esforços para atrair o povo, os métodos do mundo.” Ellen G. White. Obreiros Evangélicos, p. 357.

“Não permitais que vossos esforços sejam no sentido de seguir os métodos do mundo, mas as maneiras de Deus.” Ellen G. White. Evangelismo, p. 148.

Os métodos adequados não são aqueles dos quais gostamos, ou aqueles que agradam aos jovens, ou aqueles que atraem mais pessoas, mas aqueles métodos que agradam a Deus. Propõe-se um questionamento à liderança da IASD: as comissões das igrejas já se reuniram para estudar detidamente a Bíblia e refletir nos métodos de trabalho de Cristo? Os diretores de departamentos das igrejas têm estudado os livros “Evangelismo”, “Testemunhos para Ministros”, “Serviço Cristão”, “Conselhos sobre a Escola Sabatina”, “Mensagens aos Jovens”, “Conselhos sobre Mordomia”, “Testemunhos para a Igreja”, entre outros livros inspirados por Deus que equivalem a manuais de instruções de procedimentos?

Caso esses livros estejam sendo objeto de diligente estudo, louvado seja o Senhor! Caso contrário, onde têm sido buscados os métodos a serem usados nas atividades da igreja? Onde são buscadas as instruções para agir dessa ou daquela maneira? Parece que a “inspiração” para os métodos usados em muitas igrejas está nos conceitos empresariais. Parece que as estatísticas, as pesquisas de mercado e as estratégias de marketing são as fontes de consulta, e não a Palavra de Deus.

É muito preocupante constatar que em algumas instituições adventistas do sétimo dia predominam métodos com base naquilo que agrada ao “cliente”, e este tem que ser atraído a qualquer custo para fazer parte da membresia. Assim, os princípios de fidelidade e de obediência ao Criador são sacrificados. Assim, os líderes dessas instituições tornam-se apenas prestadores de serviços aos “clientes”, perdendo sua autoridade. Imaginemos um obreiro que dirigiu uma série de conferências de quarenta noites e, ao final, ninguém se converteu. Diríamos que este é um obreiro fracassado? Imaginemos outro obreiro que dirigiu outra série de conferências diárias durante doze meses e ninguém se converteu. Outro exemplo de obreiro fracassado? Muitos diriam que sim. E se soubéssemos de um obreiro que dirigiu uma série de conferências que durou cento e vinte anos e não trouxe ninguém para a igreja? Diríamos que este sim foi um completo fracasso. Este obreiro foi Noé. Mas ele não fracassou em seu ministério. Sabemos, de acordo com o Espírito de Profecia, que pessoas creram na pregação de Noé, mas morreram antes do dilúvio. Porém, ao final de suas conferências, Noé e sua família (total de oito pessoas) entraram na arca e todos os demais ficaram do lado de fora. Noé permaneceu com sua pequena família em sua “igreja” e todos os demais rejeitaram a pregação. Será que Noé não cumpriu sua missão? Afinal, qual era a missão: pregar a mensagem às pessoas ou encher a arca (igreja) de pessoas?

O sucesso do ministério não está na quantidade de pessoas que aceitam e se convertem, mas no fato de estarmos fazendo aquilo que Deus ordenou, pregando aquilo que Deus ordenou e da maneira que Ele ordenou, ainda que ninguém aceite a mensagem.

“A comissão divina não precisa de reforma. O modo de Cristo apresentar a verdade não pode ser aperfeiçoado. O obreiro que tenta introduzir métodos que atraiam os de espírito mundano, supondo que isto removerá as objeções que eles têm quanto a tomar a cruz, diminui sua influência. Conservai a singeleza da piedade.” Ellen G. White. Evangelismo, p. 525.

Qual é a missão do discipulado cristão? Pregar ou converter? Evangelizar ou batizar? Permita-me repetir as palavras do apóstolo Paulo:

“Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar.” 1 Coríntios 1:17, ACF.

“Paulo esperava que apenas Cristo fosse exaltado, e que homens e mulheres fossem ganhos para Ele. Por isso, ele deixou claro que batizar não era seu trabalho principal, mas sim persuadir pessoas a se renderem ao Salvador. Não era sua intenção insinuar que não batizaria ninguém, mas que soubessem que ele não se gloriava com um grande número de batismos.” Comentário Bíblico Adventista vol. 6, p. 732.

Este discipulado diz respeito a testemunhar de Jesus Cristo na maneira diária de viver, refletindo o Seu caráter; diz respeito a pregar o evangelho em palavras e ações, andar humildemente com Deus, trabalhar com os métodos que Ele ordenou e deixar os resultados em Suas mãos. E o batismo será uma feliz consequência de todos estes procedimentos.

“Uma mera profissão de discipulado não tem nenhum valor. ... Uma crença que não leva à obediência, é presunção. ... A obediência é a prova do discipulado.” Ellen G. White. O Maior Discurso de Cristo, p. 146.

Esperemos com paciência o amadurecimento do fruto e de forma diligente entreguemos ao Espírito Santo a obra de germinação das sementes lançadas pelos fiéis semeadores (discípulos), a fim de que frutos sejam produzidos. “Os verdadeiros ministros conhecem o valor da obra interior do Espírito Santo sobre o coração humano. Satisfazem-se com a simplicidade nos cultos. Em vez de dar valor ao canto popular, volvem sua atenção para o estudo da Palavra.” Ellen G. White. Evangelismo, p. 502.

Por décadas os adventistas do sétimo dia foram conhecidos como “povo da Bíblia”. É preciso resgatar a identidade da IASD. É vital recuperar aquilo que sempre a diferenciou: o conhecimento profundo da Palavra de Deus.

Repetindo o Manual da IASD:

“Se deixarmos de ser o povo do Livro, estaremos perdidos e nossa missão terá falhado.” Manual da IASD, ed. 2015, p. 147.

“Nossa meta não deveria ser converter o mundo com nossa música; mas, por meio do Espírito Santo, converter o mundo pela Palavra.” Christian Berdahl. O Dilema da Distração. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=UUwPlDis8Pk.

“As realizações musicais não são a força da igreja.” Ellen G. White. Evangelismo, p. 512.

Aqueles que conhecem o trabalho do Espírito Santo e Seu infinito poder de convencer “o mundo do pecado, e da justiça e do juízo” (João 16:8, ACF), trabalharão com fidelidade e simplicidade.

“O Espírito Santo está bem habilitado a quebrar os corações duros dos jovens [e de todos], e trazê-los para um conhecimento salvador de Cristo, sem empregar técnicas musicais agressivas e ímpias.” Ernest Pickering, presidente do Seminário Teológico Batista, Minneapolis - USA. O Tipo de Música que Honra a Deus, p. 14.

Muitos dizem que os melhores métodos são aqueles que diminuem ou anulam nossa distinção em relação ao mundo; alegam que, assim, podemos nos aproximar sem gerar preconceitos, atraindo pessoas a Cristo. Porém, qual é o melhor método para atrairmos pessoas a Cristo?

“Se quiserem exercer verdadeira e salvadora influência, vivam segundo sua profissão de fé, mostrem essa fé pelas obras de justiça, e tornem grande a distinção entre os cristãos e o mundo. ... Se alguém deseja que sua influência fale em favor da verdade, viva segundo esta, imitando assim o humilde Exemplo.” Ellen G. White. Mensagens aos Jovens, p. 128.

A sabedoria de Deus muitas vezes parece loucura para nós. Enquanto muitos desejam diminuir nossa distinção em relação ao mundo, Deus nos orienta a que façamos exatamente o contrário, ou seja, que tornemos grande, clara, nítida, evidente essa distinção. E é este “ser diferente”, de acordo com os padrões de Deus, que atrai as pessoas.

Alguém poderia questionar: “mas eu me converti ouvindo um rock gospel”. Em primeiro lugar, conversão é uma palavra muito séria e apenas Deus conhece os corações. Sabemos que se converter não é apenas batizar e frequentar uma igreja, como muitos pensam. O importante para nós é lembrarmos que Deus pode todas as coisas e usa diversas maneiras para alcançar o perdido. Nós, Suas criaturas, precisamos agir da maneira como nosso Criador determinou.

Também é importante ressaltar que Deus pode alcançar alguém “por meio de” e “apesar de”. Deus pode transformar uma situação desfavorável e revertê-la para Sua glória e a salvação do perdido, transformando maldição em bênção. Deus pode alcançar o perdido com a mensagem de exortação e salvação até mesmo usando uma jumenta (Números capítulo 22).

Lembremos a história de Moisés, relatada em Números 20:1-12. Houve um momento em que o povo teve sua sede saciada com água. Naquele momento alguém poderia ter questionado: “O que Moisés fez não foi correto. Ele não deveria ter ferido a rocha, este não é um método aceitável a Deus para suprir as necessidades do povo”. Outro teria retrucado: “Você não sabe o que diz, não seja extremista! Como você pode dizer que não é um método aceitável ao Senhor se todos nós fomos abençoados com água?”

Foi a vontade de Deus que Moisés ferisse a rocha? Este foi um método aceitável ao Senhor? Qual foi a ordem dada por Deus a Moisés? “Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha.” Números 20:8, ACF.

Mas o que Moisés fez?

“Então Moisés levantou a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saiu muita água; e bebeu a congregação e os seus animais.” Números 20:11, ACF.

O fato de o povo ter sido saciado com água significa necessariamente que o método usado foi aceitável ao Senhor e conforme a Sua vontade?

“Aqui Moisés pecou. ... Por ordem do Senhor, tomou a vara e, em vez de falar à rocha, como Deus ordenara, feriu-a duas vezes com a vara. ... Por esta falha da parte de Moisés, Deus não permitiria que ele guiasse o povo à Terra Prometida. ... O Senhor exaltara muito a Moisés. Havia-lhe revelado Sua grande glória. Tomara-o em sagrada proximidade consigo sobre o monte, e condescendera em conversar com ele como um homem fala com um amigo. Comunicara a Moisés e, através dele, ao povo, Sua vontade, Seus estatutos e Suas leis. O ter sido assim exaltado e honrado por Deus tornou seu erro de maior magnitude. Moisés arrependeu- -se de seu pecado e humilhou-se grandemente diante de Deus. Relatou a todo o Israel sua tristeza pelo pecado. Não ocultou o resultado de seu pecado, mas contou-lhes que por assim ter deixado de atribuir glória a Deus, não podia levá-los à Terra Prometida.” Ellen G. White. História da Redenção, pp. 166-168.

Precisamos entender que os fins não justificam os meios. Se alguém foi alcançado pela mensagem do evangelho ouvindo rock gospel, isto não altera o fato de que é um método não indicado por Deus e, portanto, inaceitável; assim como não importava quantas pessoas tinham sido beneficiadas com água, o ferir a rocha foi uma atitude de direta desobediência às ordens do Senhor.

Podemos recordar também a história de Balaão. O povo de Israel foi abençoado por suas palavras, mas ele estava a serviço dos inimigos do povo de Deus e, portanto, agindo contra Sua vontade. Mesmo assim o povo foi abençoado.

Deus faz e usa aquilo que quer. Ele é o Criador. Porém, nós devemos trabalhar seguindo as Suas orientações e não nossos gostos e sentimentos. E o fato de Deus usar algo inusitado para nós, não significa que o esteja tornando um padrão de procedimento; Ele está tornando em bem, um mal. Ele está revertendo a situação, a fim de resgatar a pessoa perdida.

“Quebrar as ordens de Deus para tentar fazer algo bom não ajuda Deus.” Tim Fisher, mestrado em teologia, cantor e produtor, professor de música da Bob Jones University-EUA. O Debate Sobre a Música Cristã, p. 140.

“Os homens hão de reconhecer o evangelho, quando este lhes for apresentado em harmonia com os desígnios de Deus.” Ellen G. White. Obreiros Evangélicos, p. 383.

 “Nada justifica baixar a qualidade da música. Quanto aos que são do mundo, que sejam atraídos pela pregação pura e simples do Evangelho, acompanhada de um louvor reverente e aceitável ao nosso Deus.” Ernest Pickering, presidente do Seminário Teológico Batista, Minneapolis-USA. O Tipo de Música que Honra a Deus, p. 4.

“Jamais comprometer elevados princípios de dignidade e superioridade em esforços rasteiros para alcançar as pessoas descendo até onde elas estão.” Filosofia Adventista de Música. Documento Oficial da IASD. Votado e aprovado pela Associação Geral no Concílio Outonal de 1972, p. 1201. Disponível em: http://documents.adventistarchives.org/ Minutes/GCC/GCC1972-10b.pdf

A Palavra de Deus é clara quando nos adverte:

“Abstende-vos de toda a aparência do mal.” 1 Tessalonicenses 5:22, ACF.

No contexto musical significa que devemos evitar qualquer estilo que esteja associado ao mal; estilos estes dos quais o rock é o maior destaque.

“O rock se trata de um ritmo que surgiu como ato de rebeldia, carregado de fortes conotações sexuais e cheio de simbolismos diabólicos e de contestação. Colocando a ênfase no ritmo para criar uma ‘batida’ própria e fazendo uso dos decibéis excessivos das caixas acústicas, além das luzes de cores mirabolantes, os roqueiros nada mais fazem do que exercer um domínio maléfico sobre a juventude, cuja mente vai sendo minada de modo sutil até submeter-se, por completo, ao controle de Satanás. Essas constatações claras nos levam a fazer alguns questionamentos sobre nossa responsabilidade como cristãos neste mundo. É correto os nossos jovens usarem esses mesmos elementos para a composição e apresentação de seus hinos de louvor a Deus? Estaríamos, por exemplo, agradando ao Senhor com um festival de música evangélica, onde os cantores se apresentassem com roupas apertadas e cintilantes, camisas desabotoadas, chuvas de luzes lampejantes sobre o auditório e som no mais alto volume? ... Quem tem bom senso chega logo à seguinte conclusão: este não é o meio adequado para que a mensagem evangélica, em toda a sua pureza, possa alcançar corações empedernidos. Em shows como este pode ocorrer tudo, desde a glorificação do homem à excitação da carne, menos sentir-se a verdadeira presença de Jesus Cristo.” Geremias Couto. A Mensagem Oculta do Rock. Rio de Janeiro, 1986, p. 161.

*Leandro Dalla, é estudioso das questões relacionadas ao uso da música no culto e da forma de adoração na Igreja Adventista do Sétimo Dia. É o autor do livro “Música, Reverência e Adoração”.

FONTE: Artigo que constitui o capítulo 8 do livro “Música no Tempo do Fim”, p. 99-117, de Leandro Dalla.

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