Teologia

sexta-feira, 20 de março de 2020

MANASSÉS, O REI PERVERSO QUE FOI TRANSFORMADO PELA GRAÇA DE DEUS


Ricardo André

Neste artigo gostaria de meditar num episódio bíblico repleto de importantes lições espirituais. Nele, podemos ver até onde chega a abundância da Graça de Deus. Encontramos este texto nos livros de 2 Reis 21:1-18 e 2 Crônicas 33. Comumente achamos que há pessoas irrecuperáveis. Que há pecadores que estão fora do alcance da graça. A história de Manassés vai nos mostrar que não há poço tão fundo que a graça de Deus não possa ser mais profunda. A graça é maior do que o pecado. “Onde aumentou o pecado, transbordou a graça” (Romanos 5:20, NVI).

De todas as experiências marcantes nas Sagradas Escrituras, nenhuma pode ser comparada absolutamente com o caso da conversão de Manassés. Quem era Manassés? Diz-nos o texto sacro que ele era filho do rei Ezequias, um dos maiores reis do povo de Deus. A Bíblia diz que “fez ele o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Davi, seu pai” (2Re 18:3). Manassés tornou-se rei aos 12 anos, após a morte de seu pai, e reinou em Jerusalém por cinquenta e cinco anos, de 697-642 a.C. (2Re 21:1). Manassés fez o oposto do que fizera seu pai. Ele degradara tanto a nação a ponto de ser escrito a seu respeito que “ele fez o que o Senhor reprova, imitando as práticas detestáveis das nações que o Senhor havia expulsado de diante dos israelitas. [...] Manassés, porém, desencaminhou Judá e o povo de Jerusalém, a ponto de fazerem pior do que as nações que o Senhor havia destruído diante dos israelitas” (2 Crônicas 33:2, 9, NVI). Contudo este ímpio soberano decidiu voltar-se ao Senhor, e Deus aceitou misericordiosamente seu humilde arrependimento e até mesmo permitiu que ele fosse restaurado da escravidão ao reinado.

Manassés cometeu abominações

A parte da conversão forma um belo texto. Alegra-nos ler acerca de pessoas que foram transformadas pela graça de Deus. No entanto, os longos anos de má liderança fariam a maioria de nós rechaçar tão violentamente o governo de Manassés, que provavelmente riscaríamos sua história como um caso impossível. Vamos conhecer mais sobre a vida e as más ações de Manassés, e ver o quanto uma pessoa nascida para ser santo pode cair.

1) Se tornou um idólatra. Manassés adorou imagens e falsos deuses. As Escrituras dizem que ele “tornou a edificar os altos que Ezequias, seu pai, havia destruído, e levantou altares a Baal, e fez um poste-ídolo como o que fizera Acabe, rei de Israel, e se prostrou diante de todo o exército dos céus, e o serviu” (2Re 21:3).

2) Tornou-se um prevaricador profano. A ousadia de Manassés não teve limites. Ele não só cometeu idolatria, mas também colocou ídolos abomináveis no Templo de Deus, reavivando o antigo culto pagão no Templo de Deus. “Edificou altares na Casa do Senhor, da qual o Senhor tinha dito: Em Jerusalém porei o meu nome. Também edificou altares a todo o exército dos céus nos dois átrios da Casa do Senhor” (2Re 21:4, 5). “Também pôs a imagem de escultura do poste-ídolo que tinha feito na casa de que o Senhor dissera a Davi e a Salomão, seu filho: Nesta casa e em Jerusalém, que escolhi de todas as tribos de Israel, porei o meu nome para sempre” (2Re 21:7).

3) Cruel. Em sua maldade e crueldade veio a cometer atos horrendos. Os degraus de degeneração deste homem desciam em abismo profundo. A história diz que “queimou a seu filho como sacrifício” (2Re 21:6), oferecendo-o em honra aos seus deuses.

4) Supersticioso. Para aumentar sua impiedade, voltou-se para a feitiçaria e a magia na direção dos negócios da nação. “Adivinhava pelas nuvens, era agoureiro e tratava com médiuns e feiticeiros” (2Re 21:6). Como se vê, sua mente foi dominada quase totalmente por Satanás.

5) O pervertedor de pessoas. A Bíblia diz não só que Manassés era perverso, mas que ele também incitava outros a seguirem o seu mau caminho. “Afora o seu pecado, com que fez pecar a Judá, praticando o que era mau perante o Senhor” (2Re 21:16).

6) Assassino. Mas isto não foi tudo. Quando aqueles que haviam permanecido leais a Deus falaram contra seu mau reinado, ele os perseguiu com tal vigor que causou o derramamento do sangue dos justos nas ruas de Jerusalém. O escritor de Reis afirma que “Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até encher Jerusalém de um ao outro extremo” (2Re 21:16). Ellen G. White afirma que “um dos primeiros a cair foi Isaías, que durante mais de meio século estivera perante Judá como mensageiro apontado por Jeová” (Profetas e Reis, p. 382). Uma antiga tradição judaica conta que Manassés matou o grande profeta Isaías. Isaías foi o profeta que Deus tinha usado para salvar seu pai. Por vontade de Deus, ele nasceu porque Isaías salvou seu pai. Manassés colocou Isaías dentro de uma caixa de madeira e o cerrou, deixando-o em pedaços (compare com Hb 11:37). Flávio Josefo diz que todos os dias se sacrificavam pessoas em Jerusalém a mando de Manassés. Ele era um homem mau, virulento, truculento, assassino e sanguinário. Dos vinte governantes da história de Judá, Manassés foi o pior.

Deus avisa e castiga Manassés

Por meio de seus servos, os profetas, Deus advertiu o povo e seu rei ímpio que Ele não ficaria indiferente a sua maldade. O pecado traz consequências. “Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Eis que hei de trazer tais males sobre Jerusalém e Judá, que todo o que os ouvir, lhe tinirão ambos os ouvidos” (2Re 21:12).

Deus não desistiu de Manassés. Durante muito tempo, o Senhor falou a ele e a Seu povo, chamando-os à conversão, mas não quiseram ouvi-lo (2 Crônicas 33:10). Então, Deus decidiu falar mais alto. Manassés não queria dar-lhe ouvidos enquanto Deus falava através dos profetas. O resultado: Deus permitiu que os comandantes do exército do rei da Assíria prendessem Manassés. A Bíblia afirma “que o Senhor trouxe sobre eles os príncipes do exército do rei da Assíria, os quais prenderam Manassés com ganchos, amarraram-no com cadeias e o levaram à Babilônia” (2Cr 33:11). Ele desceu ao fundo do poço. Ele é arrancado do trono, de Jerusalém. É levado como um bicho, com canga no pescoço, em anzóis em sua boca e jogado numa prisão. Ele é levado para a Babilônia, o centro da feitiçaria do mundo. Os ídolos da Babilônia que ele adorava não puderam livrá-lo. Preso com algemas, amarrado com correntes. De rei a escravo, de comandante a prisioneiro, do trono para o calabouço. Este é o caminho da degradação que segue todos os que rejeitam a mensagem da graça de Deus.

Imagine na prisão aquele que nasceu para o trono. Imagine a degradação para aquele que nasceu para a glória. Muitos fizeram o mesmo com as oportunidades que Deus lhes deu; simplesmente estragaram tudo. Quantos têm desperdiçado suas vidas e se tornaram uma maldição para o mundo! Muitos hoje são ligados por cadeias escolhidas por eles mesmos. Quantos estão longe de Deus e se encontram na ruína e no fracasso.

A graça de Deus alcançou e transformou Manassés

Quando estudamos a história de Manassés sentimos certa satisfação em seu fracasso e ruína. Nosso senso de justiça nos faz desejar que alguém que fez tanto mal precisa pagar por suas ações e sofrer assim como os outros sofreram. Mas a história de Manassés não termina na prisão. Ele não terminou sua vida em fracasso e tragédia. Os eventos mais importantes na vida de Manassés ainda seriam vistos. Vamos ver a continuação de sua história na segunda metade do capítulo 33 do livro de Crônicas. A Bíblia revela que ele orou a Deus. “Ele, [Manassés] angustiado, suplicou deveras ao Senhor, seu Deus” (2Cr 33:12). Em sua angústia, em meio à dor, ele se lembrou de Deus. Nós não somos diferentes de Manassés. No sofrimento é quando mais nos lembramos de Deus. Ah, se lembrássemos do Senhor em todos os tempos!

A Bíblia diz ainda que ele se humilhou. Manassés não apenas orou, mas “muito se humilhou perante o Deus de seus pais” (2Cr 33:12). E Deus o ouviu. “Fez-lhe oração, e Deus se tornou favorável para com ele, atendeu-lhe a súplica” (2Cr 33:13). Deus ama os pecadores e os chama ao arrependimento e salvação. Então, se pecamos, temos que nos humilhar, orar e buscar a face do Senhor, como o fez Manassés. E Deus certamente nos perdoará, pois “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9).

Deus não despreza a súplica de alguém arrependido e humilde. Não importa quem é ou foi. O ladrão inveterado chorou e clamou perdão junto a cruz e a resposta veio imediatamente: “Em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso” (Lc 23:43) disse-lhe Jesus. O juízo de destruição que pesava sobre Nínive, a cidade perversa que seria destruída por seu mal, foi mudada por causa do arrependimento do rei, que convocou a nação para humilhar-se perante Deus, e a cidade foi poupada (Jn 3:3-10).

A Bíblia diz: “Coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51:17). Deus olha para o pecador não como alguém a quem quer destruir, mas sempre como alguém a quem deseja resgatar. Deus já disse pela boca do profeta Ezequiel “Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva” (Ez 33:11).

Como é bom e misericordioso este Deus. Ele não apenas perdoou Manassés. A Bíblia diz que também “Deus [...] atendeu-lhe a súplica e o fez voltar para Jerusalém, ao seu reino” (2Cr 33:13).

Manassés fez tudo o que era possível para corrigir seu péssimo exemplo. Ele restaurou e fortificou a cidade (2Cr 33:14). Removeu os ídolos da casa do Senhor e da cidade (2Cr 33:15). O templo foi reparado e restaurou a adoração a Deus (2Cr 33:16). Ele comandou o povo para servir a Deus (2Cr 33:16).

A nossa vida é uma réplica da vida de Manassés

A história de Manassés é a história de todos nós. De acordo com os planos de Deus, você e eu também nascemos para refletir sua imagem, para viver uma vida plena, cheia de amor e graça e para ser bênção a muitos. A história de Manassés é a história da humanidade criada por Deus, mas hoje degradada profundamente pelo pecado.

O apóstolo Paulo descreve a condição dos homens, nos seguintes termos:
“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou [...]; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato [...]; e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador [...]. Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames. [...] E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem” (Rm 1:18-32).

Os homens “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23).

Deus nos criou com um santo propósito, um plano eterno e maravilhoso. Mas o pecado nos tem prejudicado. Estamos cheios de vícios, maus hábitos e pecados secretos que fazem de nossa vida uma abominação diante de Deus.

É difícil imaginar a conversão de um homem que cometera tanta atrocidade. Contudo, apesar do registro de sua horrível conduta, enquanto no cativeiro Manassés se arrependeu. Ao achar-se no mais baixo nível ele olhou para cima, e seu olhar deve encorar a todos nós a nunca desistir de quem quer que seja. Ele entrou pela porta escancarada da graça, depois de uma vida inteira de crimes e idolatria. Não devemos jamais esquecer-nos do poder do Espírito Santo em convencer e converter. A escolha de Manassés é uma evidência de tal poder. Sobre a salvação de Manassés, Mathew Henry exclamou surpreso: “Quem pode reclamar que o caminho do Céu está bloqueado, quando vê que entra um pecador como esse?” Se o Deus Eterno pode perdoar um tipo como Manassés, então pode perdoar qualquer pecador!

Havia perdão para aquilo que este rei tinha feito? Humanamente não havia, mas a graça abundante de Deus permitiu que este rei pudesse refazer a sua vida. Em nossa caminhada, muitas vezes as quedas fazem parte de uma vida em busca da santidade. Deus nunca desprezará um coração sincero. Se você caiu, independente de onde foi, do que foi e em que área foi, Deus sabe que você precisa de sua misericórdia.

Ellen G. White escreveu: “A misericórdia sem limite de Deus é exercida para com aqueles que são totalmente indignos. Ele perdoa transgressões e pecados por amor de Jesus, que Se tornou a propiciação por nossos pecados. Pela fé em Cristo, o transgressor culpado é trazido ao favor de Deus e à forte esperança de vida eterna” (A Caminho do Lar [MD 2017], p. 108).

Deus não desiste de você. Deus continua sempre apostando em nós, apesar de já termos tentado desistir inúmeras vezes. Ele nos diz: “Não desista! Eu ainda não acabei”. E quando penso que Deus não desiste de mim, encontro forças para viver, para lutar, para seguir em frente, e para voltar a sonhar. Quando penso que Deus não desiste de mim eu passo a vislumbrar um final feliz para a minha história.

“Que ninguém aqui julgue que seu caso seja sem esperança; porque não é. Podeis ver que sois pecadores e estais arruinados; mas é justamente por esse motivo que precisais de um Salvador. Se tendes pecados a confessar, não percais tempo. Estes momentos são áureos. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça." I João 1:9. Os que têm fome e sede de justiça serão fartos, pois Jesus o prometeu. Precioso Salvador! Seus braços estão abertos para receber-nos, e Seu grande coração de amor está à espera para nos abençoar” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 352, 353).

Caro amigo leitor, está se sentindo sujo? Está ferido pela vida e imundo pela lama do pecado? Como Manassés, estamos envolvidos na miséria do pecado? Ou talvez tenhamos colocado Deus em segundo ou último lugar em nossa vida? Não espere que os pecados nos alcancem ou que as consequências de nossas más ações nos cubram, ou que os juízos de Deus venham sobre nós.

Nossa vida tem sido como a de Manassés? Um prisioneiro, um escravo de sua própria miséria ou um dependente das vaidades e vícios desta vida? Será que não estamos precisando de um resgate? Se até agora sua vida tem sido uma réplica dos primeiros anos da vida de Manassés, busque viver também a mesma experiência dos últimos anos de Manassés em sua vida. Não permaneça no calabouço, não continue na prisão, não continue distante de Deus. A graça escancarou a porta do Céu para você e eu. Só não entra quem não quer! Ninguém foi tão longe que não possa ser alcançado. Deus nos livre da crença de que existem caso perdidos! A porta da graça está aberta. Aproveite!

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