Ricardo
André
Neste artigo gostaria
de meditar num episódio bíblico repleto de importantes lições espirituais. Nele,
podemos ver até onde chega a abundância da Graça de Deus. Encontramos este
texto nos livros de 2 Reis 21:1-18 e 2
Crônicas 33. Comumente achamos que há pessoas irrecuperáveis. Que há
pecadores que estão fora do alcance da graça. A história de Manassés vai nos
mostrar que não há poço tão fundo que a graça de Deus não possa ser mais
profunda. A graça é maior do que o pecado. “Onde aumentou o pecado, transbordou
a graça” (Romanos 5:20, NVI).
De todas as
experiências marcantes nas Sagradas Escrituras, nenhuma pode ser comparada
absolutamente com o caso da conversão de Manassés. Quem era Manassés? Diz-nos o
texto sacro que ele era filho do rei Ezequias, um dos maiores reis do povo de
Deus. A Bíblia diz que “fez ele o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o
que fizera Davi, seu pai” (2Re 18:3). Manassés tornou-se rei aos 12 anos, após
a morte de seu pai, e reinou em Jerusalém por cinquenta e cinco anos, de
697-642 a.C. (2Re 21:1). Manassés fez o oposto do que fizera seu
pai. Ele degradara tanto a nação a ponto de ser escrito a seu respeito que “ele
fez o que o Senhor reprova, imitando as práticas detestáveis das nações que o
Senhor havia expulsado de diante dos israelitas. [...] Manassés, porém,
desencaminhou Judá e o povo de Jerusalém, a ponto de fazerem pior do que as
nações que o Senhor havia destruído diante dos israelitas” (2 Crônicas 33:2, 9,
NVI). Contudo este ímpio soberano decidiu voltar-se ao Senhor, e Deus aceitou
misericordiosamente seu humilde arrependimento e até mesmo permitiu que ele
fosse restaurado da escravidão ao reinado.
Manassés
cometeu abominações
A parte da conversão
forma um belo texto. Alegra-nos ler acerca de pessoas que foram transformadas
pela graça de Deus. No entanto, os longos anos de má liderança fariam a maioria
de nós rechaçar tão violentamente o governo de Manassés, que provavelmente
riscaríamos sua história como um caso impossível. Vamos conhecer mais sobre a vida
e as más ações de Manassés, e ver o quanto uma pessoa nascida para ser santo
pode cair.
1)
Se tornou um idólatra. Manassés adorou imagens e falsos
deuses. As Escrituras dizem que ele “tornou a edificar os altos que Ezequias,
seu pai, havia destruído, e levantou altares a Baal, e fez um poste-ídolo como
o que fizera Acabe, rei de Israel, e se prostrou diante de todo o exército dos
céus, e o serviu” (2Re 21:3).
2)
Tornou-se um prevaricador profano. A ousadia de Manassés
não teve limites. Ele não só cometeu idolatria, mas também colocou ídolos abomináveis no Templo de Deus,
reavivando o antigo culto pagão no Templo de Deus. “Edificou altares na Casa do Senhor, da qual o Senhor tinha dito: Em Jerusalém porei o meu nome.
Também edificou altares a todo o
exército dos céus nos dois átrios da Casa do Senhor” (2Re 21:4, 5). “Também
pôs a imagem de escultura do poste-ídolo que tinha feito na casa de que o Senhor dissera a Davi e a Salomão, seu filho: Nesta casa e em Jerusalém,
que escolhi de todas as tribos de
Israel, porei o meu nome para sempre” (2Re 21:7).
3)
Cruel. Em sua maldade e crueldade veio a cometer atos
horrendos. Os degraus de degeneração
deste homem desciam em abismo profundo. A
história diz que “queimou a seu filho como sacrifício” (2Re 21:6), oferecendo-o em honra aos seus deuses.
4)
Supersticioso. Para aumentar sua impiedade, voltou-se
para a feitiçaria e a magia na direção dos negócios da nação. “Adivinhava pelas nuvens, era
agoureiro e tratava com médiuns e
feiticeiros” (2Re 21:6). Como se vê, sua mente foi dominada quase
totalmente por Satanás.
5)
O pervertedor de pessoas. A Bíblia diz não só que Manassés
era perverso, mas que ele também
incitava outros a seguirem o seu mau caminho. “Afora o seu pecado, com que fez pecar a Judá, praticando o que era mau perante o Senhor” (2Re
21:16).
6) Assassino. Mas isto não foi tudo. Quando aqueles que haviam
permanecido leais a Deus falaram contra seu mau reinado, ele os perseguiu com
tal vigor que causou o derramamento do sangue dos justos nas ruas de Jerusalém.
O escritor de Reis afirma que “Manassés derramou muitíssimo sangue inocente, até encher Jerusalém de um ao outro
extremo” (2Re 21:16). Ellen G. White afirma que “um dos primeiros
a cair foi Isaías, que durante mais de meio século estivera perante Judá como
mensageiro apontado por Jeová” (Profetas e Reis, p. 382). Uma antiga tradição
judaica conta que Manassés matou o grande
profeta Isaías. Isaías foi o profeta que Deus tinha usado para salvar seu pai. Por vontade de Deus, ele nasceu porque Isaías salvou seu pai. Manassés colocou Isaías dentro de uma
caixa de madeira e o cerrou,
deixando-o em pedaços (compare com Hb 11:37). Flávio Josefo diz que todos os
dias se sacrificavam pessoas em Jerusalém a mando de Manassés. Ele era um homem
mau, virulento, truculento, assassino e sanguinário. Dos
vinte governantes da história de Judá, Manassés foi o pior.
Deus
avisa e castiga Manassés
Por meio de seus
servos, os profetas, Deus advertiu o povo e seu rei ímpio que Ele não ficaria
indiferente a sua maldade. O pecado traz consequências. “Assim diz o Senhor,
Deus de Israel: Eis que hei de trazer tais males sobre Jerusalém e Judá, que
todo o que os ouvir, lhe tinirão ambos os ouvidos” (2Re 21:12).
Deus não desistiu de
Manassés. Durante muito tempo, o Senhor falou a ele e a Seu povo, chamando-os à
conversão, mas não quiseram ouvi-lo (2 Crônicas 33:10). Então, Deus decidiu
falar mais alto. Manassés não queria dar-lhe ouvidos enquanto Deus falava
através dos profetas. O resultado: Deus permitiu que os comandantes do exército
do rei da Assíria prendessem Manassés. A Bíblia afirma “que o Senhor trouxe
sobre eles os príncipes do exército do rei da Assíria, os quais prenderam
Manassés com ganchos, amarraram-no com cadeias e o levaram à Babilônia” (2Cr
33:11). Ele desceu ao fundo do poço. Ele é arrancado do trono, de Jerusalém. É
levado como um bicho, com canga no pescoço, em anzóis em sua boca e jogado numa
prisão. Ele é levado para a Babilônia, o centro da feitiçaria do mundo. Os
ídolos da Babilônia que ele adorava não puderam livrá-lo. Preso com algemas,
amarrado com correntes. De rei a escravo, de comandante a prisioneiro, do trono
para o calabouço. Este é o caminho da degradação que segue todos os que
rejeitam a mensagem da graça de Deus.
Imagine na prisão
aquele que nasceu para o trono. Imagine a degradação para aquele que nasceu
para a glória. Muitos fizeram o mesmo com as oportunidades que Deus lhes deu;
simplesmente estragaram tudo. Quantos têm desperdiçado suas vidas e se tornaram
uma maldição para o mundo! Muitos hoje são ligados por cadeias escolhidas por
eles mesmos. Quantos estão longe de Deus e se encontram na ruína e no fracasso.
A
graça de Deus alcançou e transformou Manassés
Quando estudamos a
história de Manassés sentimos certa satisfação em seu fracasso e ruína. Nosso
senso de justiça nos faz desejar que alguém que fez tanto mal precisa pagar por
suas ações e sofrer assim como os outros sofreram. Mas a história de Manassés
não termina na prisão. Ele não terminou sua vida em fracasso e tragédia. Os
eventos mais importantes na vida de Manassés ainda seriam vistos. Vamos ver a continuação
de sua história na segunda metade do capítulo 33 do livro de Crônicas. A Bíblia
revela que ele orou a Deus. “Ele, [Manassés] angustiado, suplicou deveras ao
Senhor, seu Deus” (2Cr 33:12). Em sua angústia, em meio à dor, ele se lembrou
de Deus. Nós não somos diferentes de Manassés. No sofrimento é quando mais nos
lembramos de Deus. Ah, se lembrássemos do Senhor em todos os tempos!
A Bíblia diz ainda que ele se humilhou. Manassés não
apenas orou, mas “muito se humilhou perante o Deus de seus pais” (2Cr 33:12). E
Deus o ouviu. “Fez-lhe oração, e Deus se tornou favorável para com ele, atendeu-lhe
a súplica” (2Cr 33:13). Deus ama os pecadores e os chama ao
arrependimento e salvação. Então, se pecamos, temos que nos humilhar, orar e
buscar a face do Senhor, como o fez Manassés. E Deus certamente nos perdoará,
pois “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os
nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9).
Deus não despreza a
súplica de alguém arrependido e humilde. Não importa quem é ou foi. O ladrão
inveterado chorou e clamou perdão junto a cruz e a resposta veio imediatamente:
“Em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso” (Lc 23:43) disse-lhe
Jesus. O juízo de destruição que pesava sobre Nínive, a cidade perversa que
seria destruída por seu mal, foi mudada por causa do arrependimento do rei, que
convocou a nação para humilhar-se perante Deus, e a cidade foi poupada (Jn
3:3-10).
A Bíblia diz: “Coração
compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51:17). Deus olha para o
pecador não como alguém a quem quer destruir, mas sempre como alguém a quem
deseja resgatar. Deus já disse pela boca do profeta Ezequiel “Tão certo como eu
vivo, diz o Senhor Deus, não tenho prazer na morte do perverso, mas em que o
perverso se converta do seu caminho e viva” (Ez 33:11).
Como é bom e
misericordioso este Deus. Ele não apenas perdoou Manassés. A Bíblia diz que
também “Deus [...] atendeu-lhe a súplica e o fez voltar para Jerusalém, ao seu
reino” (2Cr 33:13).
Manassés fez tudo o que
era possível para corrigir seu péssimo exemplo. Ele restaurou e fortificou a
cidade (2Cr 33:14). Removeu os ídolos da casa do Senhor e da cidade (2Cr
33:15). O templo foi reparado e restaurou a adoração a Deus (2Cr 33:16). Ele
comandou o povo para servir a Deus (2Cr 33:16).
A
nossa vida é uma réplica da vida de Manassés
A história de Manassés
é a história de todos nós. De acordo com os planos de Deus, você e eu também
nascemos para refletir sua imagem, para viver uma vida plena, cheia de amor e
graça e para ser bênção a muitos. A história de Manassés é a história da
humanidade criada por Deus, mas hoje degradada profundamente pelo pecado.
O apóstolo Paulo
descreve a condição dos homens, nos seguintes termos:
“A ira de Deus se
revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade
pela injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre
eles, porque Deus lhes manifestou [...]; porquanto, tendo conhecimento de Deus,
não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em
seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato [...]; e
mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem
corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou
tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para
desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em
mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador [...]. Por causa
disso, os entregou Deus a paixões infames. [...] E, por haverem desprezado o
conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável,
para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia,
avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade;
sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos,
presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos,
sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de
Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as
fazem, mas também aprovam os que assim procedem” (Rm 1:18-32).
Os homens “pois todos
pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23).
Deus nos criou com um
santo propósito, um plano eterno e maravilhoso. Mas o pecado nos tem prejudicado.
Estamos cheios de vícios, maus hábitos e pecados secretos que fazem de nossa vida
uma abominação diante de Deus.
É difícil imaginar a
conversão de um homem que cometera tanta atrocidade. Contudo, apesar do
registro de sua horrível conduta, enquanto no cativeiro Manassés se arrependeu.
Ao achar-se no mais baixo nível ele olhou para cima, e seu olhar deve encorar a
todos nós a nunca desistir de quem quer que seja. Ele entrou pela porta
escancarada da graça, depois de uma vida inteira de crimes e idolatria. Não
devemos jamais esquecer-nos do poder do Espírito Santo em convencer e
converter. A escolha de Manassés é uma evidência de tal poder. Sobre a salvação
de Manassés, Mathew Henry exclamou surpreso: “Quem pode reclamar que o caminho
do Céu está bloqueado, quando vê que entra um pecador como esse?” Se o Deus
Eterno pode perdoar um tipo como Manassés, então pode perdoar qualquer pecador!
Havia perdão para
aquilo que este rei tinha feito? Humanamente não havia, mas a graça abundante
de Deus permitiu que este rei pudesse refazer a sua vida. Em
nossa caminhada, muitas vezes as quedas fazem parte de uma vida em busca da
santidade. Deus nunca desprezará um coração sincero. Se você caiu, independente
de onde foi, do que foi e em que área foi, Deus sabe que você precisa de sua
misericórdia.
Ellen G. White
escreveu: “A misericórdia sem limite de Deus é exercida para com aqueles que
são totalmente indignos. Ele perdoa transgressões e pecados por amor de Jesus,
que Se tornou a propiciação por nossos pecados. Pela fé em Cristo, o
transgressor culpado é trazido ao favor de Deus e à forte esperança de vida
eterna” (A Caminho do Lar [MD 2017], p. 108).
Deus não desiste de
você. Deus continua sempre apostando em nós, apesar de já termos tentado
desistir inúmeras vezes. Ele nos diz: “Não desista! Eu ainda não acabei”. E
quando penso que Deus não desiste de mim, encontro forças para viver, para
lutar, para seguir em frente, e para voltar a sonhar. Quando penso que Deus não
desiste de mim eu passo a vislumbrar um final feliz para a minha história.
“Que ninguém aqui
julgue que seu caso seja sem esperança; porque não é. Podeis ver que sois
pecadores e estais arruinados; mas é justamente por esse motivo que precisais
de um Salvador. Se tendes pecados a confessar, não percais tempo. Estes
momentos são áureos. "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e
justo, para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça."
I João 1:9. Os que têm fome e sede de justiça serão fartos, pois Jesus o prometeu.
Precioso Salvador! Seus braços estão abertos para receber-nos, e Seu grande
coração de amor está à espera para nos abençoar” (Mensagens Escolhidas, v. 1,
p. 352, 353).
Caro amigo leitor, está
se sentindo sujo? Está ferido pela vida e imundo pela lama do pecado? Como
Manassés, estamos envolvidos na miséria do pecado? Ou talvez tenhamos colocado Deus
em segundo ou último lugar em nossa vida? Não espere que os pecados nos alcancem
ou que as consequências de nossas más ações nos cubram, ou que os juízos de Deus
venham sobre nós.
Nossa vida tem sido
como a de Manassés? Um prisioneiro, um escravo de sua própria miséria ou um
dependente das vaidades e vícios desta vida? Será que não estamos precisando de
um resgate? Se até agora sua vida tem sido uma réplica dos primeiros anos da
vida de Manassés, busque viver também a mesma experiência dos últimos anos de
Manassés em sua vida. Não permaneça no calabouço, não continue na prisão, não
continue distante de Deus. A graça escancarou a porta do Céu para você e eu. Só
não entra quem não quer! Ninguém foi tão longe que não possa ser alcançado.
Deus nos livre da crença de que existem caso perdidos! A porta da graça está
aberta. Aproveite!
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