Teologia

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

JUÍZO ANTERIOR AO ADVENTO


Pr. Morris Venden

O que você pensaria se descobrisse, ao chegar ao Céu, que Billy Graham não estava lá? Além disso, suponhamos que você soubesse que Adolf Hitler seria o seu vizinho. Provavelmente, sua primeira pergunta seria: "Estarei porventura no lugar errado?" Entretanto, caso se convencesse de estar realmente no Céu, você teria algumas importantes perguntas a fazer, não é mesmo?

Imaginemos que você se dirija a um ser celestial, que esteja passando por ali, e diga:
— Desculpe, mas é permitido fazer perguntas aqui?
— O que é que você deseja saber? Você então faz a sua pergunta, mas ele responde:
— Não faça tal pergunta. O Senhor conhece os que Lhe pertencem.
Daí você desiste, pois realmente ama ao Senhor. Mas vive eternidade afora com dúvidas sobre Graham e Hitler.

Vamos agora complicar um pouco mais este enredo. Suponhamos que você chegue ao Céu e descubra que o seu próprio filho não está lá! Ao mesmo tempo, você fica sabendo que a pessoa que arrastou o seu filho para o caminho da perdição é também seu vizinho! Você volta para a rua, aborda um anjo, e diz:
— Desculpe, mas posso fazer uma pergunta?
— Sobre o quê?
Você então lhe conta o seu problema. Mas ele responde:
— Você não deve perguntar isto.
O Senhor conhece os que Lhe pertencem.

A essa altura você não aguenta e pergunta onde é a saída. Penso que quando chegarmos ao Céu e tivermos perguntas, os seres celestiais terão prazer em respondê-las. Eles dirão: "Foi bom ter perguntado. Queremos que você entenda." Deus sempre tratou Suas criaturas como seres inteligentes.

Uma das razões por que precisamos de um juízo anterior ao advento, é para que você e eu entendamos as decisões que Deus tomou com relação aos nossos queridos. Outra razão é silenciar as acusações de Satanás, o acusador dos irmãos. E uma terceira razão é reivindicar a justiça divina perante o Universo todo.

Vou tentar demonstrar a necessidade de um juízo anterior ao advento, ou juízo investigativo, através de uma parábola, apresentada em duas partes. A primeira parte é intitulada "O Que Aconteceu".

Havia muita agitação na pequena cidade de Mill Creek, Illinois, naquela tarde, em 1845. O juiz da Oitava Vara de Illinois, David Davis, de Bloomington, acabara de chegar, acompanhado por vários advogados itinerantes, inclusive um chamado Abraão Lincoln. A presença de Lincoln contribuía para a agitação, pois além de ser um bom advogado, ele contava as histórias mais engraçadas que o povo jamais havia ouvido.

Já se haviam passado quase seis meses desde que o tribunal se reunira pela última vez em Mill Creek, e havia um acúmulo de casos que deviam ser julgados. O velho Thomas Jacobs era suspeito de ter ateado fogo na oficina do ferreiro. Ele o ferreiro haviam discutido, o velho Thomas haviam feito sérias ameaças. Naquela mesma noite a oficina do ferreiro ficou reduzida a cinzas. Testemunhas afirmavam ter visto o velho Thomas assistindo ao incêndio, rindo e batendo nos joelhos.

Também tinha havido uma luta no bar, entre Henry Whitney e Ebenezer Bates. Whitney finalmente sacou seu revólver e matou Ebenezer a sangue frio. Alguns diziam que Ebenezer havia provocado a briga, e que Whitney apenas se defendera, mas outros estavam do lado de Ebenezer, e diziam que se tratava de assassinato puro e simples.

Finalmente, havia o caso de Jesse Adams. Ele havia entrado na cidade, um dia, fora direto ao banco e apontara um revólver ao caixa, exigindo todo o dinheiro. Embora tivesse conseguido fugir do local, fora alcançado a 24 quilômetros de distância pelo xerife e mais um policial. Desde então, permanecera na prisão local.

Além destes casos mais espetaculares, havia as disputas rotineiras sobre divisas de propriedade, débitos e execuções de hipoteca, processos por difamação, e o caso de um homem chamado Silas Foster, que era acusado de ter roubado porcos.

Havia sido anunciado que o tribunal se reuniria na semana seguinte, e o povo trouxe suas demandas legais. Os advogados começaram a trabalhar imediatamente nos casos que lhes foram designados, e quando a data marcada chegou, o tribunal itinerante se reuniu. A cidade inteira se aglomerou no fórum, e durante os intervalos vários grupos discutiam acaloradamente os prós e contras de cada caso. Os advogados examinaram e reexaminaram os casos, provocando apartes em várias oportunidades. Lincoln possuía uma habilidade especial para fazer com que a verdade surgisse, e nos casos que defendeu, até mesmo o promotor acabou admitindo que ele estava certo. A medida em que o povo via e ouvia as evidências, mais e mais se convencia de que se estava fazendo justiça.

Os casos foram trazidos perante o tribunal um após o outro. Os jurados se retiraram para decidir, e voltavam com um veredicto – culpado ou inocente. Quando o juiz Davis acabou de sentenciar os culpados e absolver os inocentes, a cidade ficou satisfeita. Na última manhã que o juiz e seus advogados passaram na cidade, houve um enforcamento. Henry Whitney fora julgado culpado de homicídio. E o tribunal itinerante prosseguiu viagem para a cidade seguinte.

Esta é a parábola intitulada "O Que Aconteceu". Voltemos à mesma história outra vez, e vejamos agora "O Que Não Aconteceu".

Havia muita agitação na pequena cidade de Mill Creek, Illinois, naquela tarde, em 1845. O juiz da Oitava Vara de Illinois, David Davis, de Bloomington, acabara de chegar, acompanhado por Abraão Lincoln e vários outros advogados itinerantes. Já se haviam passado quase seis meses desde que o tribunal se reunira pela última vez em Mill Creek, e havia um acúmulo de casos que aguardavam julgamento.

O velho Thomas Jacobs era suspeito de ter ateado fogo na oficina do ferreiro. Tinha havido luta no bar, entre Henry Whitney e Ebenezer Bates. Bates estava morto. Jesse Adams estava na prisão aguardando julgamento por ter assaltado um banco. E havia uma porção de outras disputas menores.

O juiz Davis anunciou que o tribunal se reuniria imediatamente. A cidade toda se aglomerou no fórum. O juiz bateu o martelo no púlpito e declarou: "Thomas Jacobs, inocente; Silas Foster, inocente; Henry Whitney, culpado, e será enforcado ao amanhecer; Jesse Adams, inocente. O júri está encerrado."

O promotor ergueu-se de um salto. "O senhor não pode fazer isto!" exclamou ele. "Quem o senhor pensa que é? O senhor não pode absolver estas pessoas sem um julgamento regular, nem condená-las sem provar que são culpadas."

O povo da cidade apoiou o promotor, gritando: "Ele está certo. Como é que o juiz sabe quem é culpado e quem é inocente?"

Lincoln levantou a voz a fim de ser ouvido apesar do tumulto: "Vocês não confiam no juiz? O juiz conhece aqueles a quem absolve. Ele vem acompanhando as coisas desde que voltou a Bloomington. Ele tem anotado tudo cuidadosamente, dispõe de provas, e nãocomete erros.”

Mas o povo ficou ainda mais contrariado. "O juiz pode ou não ter provas", objetaram eles. "Mas nós não temos provas. Não é suficiente simplesmente alegar ter provas. Os casos precisam ser examinados abertamente antes de ser dada a sentença. Todo o tribunal, e não apenas o juiz, precisa examinar as provas."

Os advogados itinerantes continuaram tentando desesperadamente convencer o povo de Mill Creek de que o juiz era digno de confiança. Mas o povo insistiu em afirmar que a confiança deve se basear numa compreensão inteligente das razões que levaram o juiz a tomar suas decisões.

Na última manhã que o juiz e seus advogados passaram na cidade, houve um enforcamento. O juiz é que foi enforcado.

Não parece claro isto? Deus deseja solucionar este grande conflito de modo tão transparente, que mesmo Satanás e seus anjos, e os ímpios de todos os tempos se curvem juntamente com os remidos e confessem que Deus tem sido justo (ver Filip. 2:10 e 11). Os que estiverem em Seu reino, mesmo que algum de seus queridos esteja ausente, não terão dúvidas ou indagações permanentes, mas dirão de coração: "Grandes e admiráveis são as Tuas obras, Senhor Deus, todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei das nações]" Apoc. 15:3.

Alguns têm a ideia de que o propósito de um juízo de investigação anterior ao advento, é dar a Deus tempo para examinar os livros e decidir quem irá para o Céu. Deus poderia resolver essa questão numa fração de segundo. O verdadeiro propósito do juízo investigativo não é simplesmente decidir quem se salvará; é revelar a respeito de Deus e Seu povo algo que precisa ser revelado para todo o Universo.

Não há espaço aqui para se fazer uma exegese detalhada de Daniel 7, 8 e 9, bem como do livro de Apocalipse, a fim de delinear a doutrina do juízo investigativo. Mas Deus nunca faz qualquer coisa de tamanho significado sem o revelar aos Seus servos, os profetas (ver Amos 3:7). Podemos, portanto, esperar que o juízo investigativo seja ensinado nas profecias. Se Daniel 7, 8 e 9 forem estudados como um todo, percebendo que são profecias paralelas cobrindo o mesmo período, não haverá dificuldade em ver o delineamento profético de um juízo de investigação anterior ao advento. O primeiro anjo de Apocalipse 14 anuncia, antes do advento, que "é chegada a hora do Seu juízo". Não diz que está chegando ou que chegará, mas que "é chegada".

Um dos objetivos de tal juízo é revelar as pessoas que aceitaram o convite de Cristo e que, conforme descrito em Mateus 24:13, perseveraram até ao fim. E durante este juízo que precede o advento, não somente o povo de Deus é defendido mas também são feitos preparativos para que o caráter de Deus seja reivindicado perante todo o Universo.

Quando Jesus morreu na cruz, Ele adquiriu o direito de perdoar a todos, no mundo todo. Mas nem todos são perdoados. Assim, durante o juízo que precede o advento, é justificada a decisão de Deus em perdoar aqueles a quem perdoou. E durante os mil anos que se seguirão ao retorno de Cristo (ver Apocalipse 20), Deus será justificado por não ter perdoado aqueles que não foram perdoados.

O que disse Jesus sobre o juízo que antecede o advento? Tanto a Sua parábola da rede como a do trigo e do joio indicam um tempo de decisão antes de ser dada a recompensa final. Mas Sua alusão principal ao juízo que antecede o advento está em Mateus 22. Leia o capítulo todo para ver o contexto. Os versos 2 a 7 narram a história do povo judeu, e o convite divino a eles feito até a destruição de Jerusalém, no ano 70 de nossa era. Os versos de 8 a 10 indicam que o evangelho seria levado aos gentios. “E a sal de banquete ficou repleta de convidados". O que são as bodas? Apocalipse 19 nos fala de um tempo, imediatamente anterior à volta de Jesus, em que Ele Se une a Sua noiva, a igreja, e as bodas e a festa nupcial têm lugar. A parábola de Jesus, portanto, se refere aos eventos finais que antecedem a Sua volta.

Nos dias de Cristo um indivíduo rico, especialmente um rei, enviava não apenas um convite de casamento mas também uma veste nupcial para o convidado vestir. Isto solucionava uma porção de problemas. Imagine receber um convite para o casamento do filho de um rei hoje! Qual a primeira coisa que a esposa diria? "O que é que eu vou vestir!?"

Este tipo de problema, portanto, estava resolvido naquele tempo. Não importava se o convidado era rico ou pobre, se morava num palácio ou numa choupana. Todos os que recebessem um convite para as bodas do filho do rei, também recebiam uma veste nupcial. Até o mais pobre convidado poderia parecer um milionário.

Obviamente, o rei fez uma enorme despesa para providenciar a veste nupcial. Se alguém aparecesse nas bodas sem tal veste, isto seria considerado um insulto ao rei e a seu filho, e por extensão, o reino todo se sentiria agredido. Assim, nos dias de Jesus duas coisas faziam parte de um casamento importante: um convite e uma veste nupcial.

Com este fato em mente, notemos o que diz o verso 11: "Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial". Evidentemente, o rei entrou para investigar, para examinar os convidados antes que as festividades começassem. E descobriu este homem sem a veste nupcial. Em Apocalipse 3 notamos que aqueles que não possuem as vestes da justiça de Cristo são infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus. Este homem, portanto, não estava vestido com a veste apropriada. Ele estava nu! Ou quando muito, estaria vestido com trapos imundos, pois a nossa justiça se assemelha a trapos da imundícia.

Observe o que o rei disse ao hóspede, no verso12: "Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu.” O rei chamou de "amigo"! Não são isto boas novas? Deus não está interessado em ver quantas pessoas Ele pode deixar fora do Céu; Ele está procurando ver quantas pessoas Ele consegue trazer para dentro. Ele disse: "Amigo, houve algum mal-entendido? Você deve ter recebido um convite, pois está aqui. Mas teria havido algum engano quanto ao vestido? Você tem algo a explicar?"

O rei lhe deu uma oportunidade. Tratou-o com dignidade. Mas as Escrituras dizem que ele emudeceu. Ele nada tinha a dizer. Somente então ordenou o rei aos servos: "Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos." Mat. 22:13 e 14.

O que Jesus está procurando nos ensinar nesta parábola? Em primeiro lugar, todos somos chamados à ceia das bodas do Cordeiro. Tudo que precisamos fazer é aceitar o convite. Jesus providenciou tudo. Quando inclinou a cabeça e morreu, Ele adquiriu o direito de perdoar a toda e qualquer pessoa nascida neste mundo. Precisamos apenas aceitar o Seu perdão. Estamos todos convidados para as bodas.

E o vestido nupcial? Apocalipse 19 descreve a ceia das bodas do Cordeiro: "São chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos" (versos 7 e 8).

Quais são os atos de justiça dos santos? Qual é a justiça dos santos? Jeremias 23:6 nos diz que o Senhor é a nossa justiça. Portanto, toda e qualquer justiça vista nos santos é obra do Senhor, não é? Isto nos faz lembrar do duplo aspecto da justificação: primeiro, a justificação operada por Cristo em nosso favor, na cruz, ao estender-nos o convite; em segundo, a justiça de Cristo em nós, operada na vida através do poder do Espírito Santo, e representada pela veste nupcial. Ambas são pela fé. Ambas vêm dEle.

Assim, o rei, ao examinar os convidados, notou que um homem não possuía a veste nupcial. Ele evidentemente queria aceitar o convite sem, no entanto, aceitar a veste nupcial. Este homem estava interessado em ir ao Céu, mas não tinha interesse em aceitar a justiça de Cristo, demonstrada na vida a fim de honrá-Lo. "Guia-me pelas veredas da justiça por amor do Seu nome." Sal. 23:3. Há algo mais importante do que conseguir entrar no Céu, e isto é honrar e glorificar o Rei e Seu Filho.

Assim, no juízo que antecede o advento, o Rei vem examinar os convidados e encontra um homem sem a veste nupcial. Ao que tudo indica, o Rei verifica pelo menos duas coisas no juízo investigativo: em primeiro lugar, Ele verifica se o convite foi aceito ou não; em segundo, se a veste nupcial foi aceita e vestida.

Apocalipse 3:5 utiliza a mesma figura: "O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de Meu Pai e diante dos Seus anjos." Deus deseja que não apenas aceitemos ao convite celestial, mas que também sejamos vencedores, através de Sua graça. E isto é o que significa vestir a veste nupcial.

Assim, Ele vem examinar os convidados a fim de revelar perante todo o Universo os que não apenas aceitaram o convite, mas se tornaram também vencedores por meio do Seu poder.

Você agora poderia dizer: "Bem, não estou me saindo muito bem, pois caio e erro cada dia." Seria bom você se lembrar de que a vitória é responsabilidade de Deus e não sua. O convite para as bodas é gratuito, e a veste nupcial também. A obediência é pela fé em Jesus. Não é algo que conseguimos; é algo que recebemos através de um relacionamento contínuo com Cristo. Vestir a veste nupcial é simplesmente aceitar o que Deus oferece.

A santificação é uma dádiva, tal e qual a justificação, e muitos cristãos ainda estão esperando ouvir e entender estas boas novas. Alguns de nós temos nos esforçado arduamente para tentar obedecer, para tentar obter a vitória. Esquecemo-nos de que não se compra um presente. E o vestido nupcial é de graça — é um presente do Rei. Está você interessado, não apenas no convite para as bodas do evangelho, mas também na veste nupcial? Ambos lhes são oferecidos de graça, hoje.

FONTE: Revista Adventista, março de 1985, p. 8-10.


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