Pr.
Morris Venden
O que você pensaria se
descobrisse, ao chegar ao Céu, que Billy Graham não estava lá? Além disso,
suponhamos que você soubesse que Adolf Hitler seria o seu vizinho.
Provavelmente, sua primeira pergunta seria: "Estarei porventura no lugar
errado?" Entretanto, caso se convencesse de estar realmente no Céu, você
teria algumas importantes perguntas a fazer, não é mesmo?
Imaginemos que você se
dirija a um ser celestial, que esteja passando por ali, e diga:
— Desculpe, mas é permitido
fazer perguntas aqui?
— O que é que você
deseja saber? Você então faz a sua pergunta, mas ele responde:
— Não faça tal
pergunta. O Senhor conhece os que Lhe pertencem.
Daí você desiste, pois
realmente ama ao Senhor. Mas vive eternidade afora com dúvidas sobre Graham e
Hitler.
Vamos agora complicar
um pouco mais este enredo. Suponhamos que você chegue ao Céu e descubra que o
seu próprio filho não está lá! Ao mesmo tempo, você fica sabendo que a pessoa
que arrastou o seu filho para o caminho da perdição é também seu vizinho! Você
volta para a rua, aborda um anjo, e diz:
— Desculpe, mas posso
fazer uma pergunta?
— Sobre o quê?
Você então lhe conta o
seu problema. Mas ele responde:
— Você não deve
perguntar isto.
O Senhor conhece os que
Lhe pertencem.
A essa altura você não
aguenta e pergunta onde é a saída. Penso que quando chegarmos ao Céu e tivermos
perguntas, os seres celestiais terão prazer em respondê-las. Eles dirão:
"Foi bom ter perguntado. Queremos que você entenda." Deus sempre
tratou Suas criaturas como seres inteligentes.
Uma das razões por que
precisamos de um juízo anterior ao advento, é para que você e eu entendamos as
decisões que Deus tomou com relação aos nossos queridos. Outra razão é
silenciar as acusações de Satanás, o acusador dos irmãos. E uma terceira razão
é reivindicar a justiça divina perante o Universo todo.
Vou tentar demonstrar a
necessidade de um juízo anterior ao advento, ou juízo investigativo, através de
uma parábola, apresentada em duas partes. A primeira parte é intitulada "O
Que Aconteceu".
Havia muita agitação na
pequena cidade de Mill Creek, Illinois, naquela tarde, em 1845. O juiz da Oitava
Vara de Illinois, David Davis, de Bloomington, acabara de chegar, acompanhado
por vários advogados itinerantes, inclusive um chamado Abraão Lincoln. A presença
de Lincoln contribuía para a agitação, pois além de ser um bom advogado, ele
contava as histórias mais engraçadas que o povo jamais havia ouvido.
Já se haviam passado
quase seis meses desde que o tribunal se reunira pela última vez em Mill Creek,
e havia um acúmulo de casos que deviam ser julgados. O velho Thomas Jacobs era
suspeito de ter ateado fogo na oficina do ferreiro. Ele o ferreiro haviam
discutido, o velho Thomas haviam feito sérias ameaças. Naquela mesma noite a oficina
do ferreiro ficou reduzida a cinzas. Testemunhas afirmavam ter visto o velho
Thomas assistindo ao incêndio, rindo e batendo nos joelhos.
Também tinha havido uma
luta no bar, entre Henry Whitney e Ebenezer Bates. Whitney finalmente sacou seu
revólver e matou Ebenezer a sangue frio. Alguns diziam que Ebenezer havia
provocado a briga, e que Whitney apenas se defendera, mas outros estavam do
lado de Ebenezer, e diziam que se tratava de assassinato puro e simples.
Finalmente, havia o
caso de Jesse Adams. Ele havia entrado na cidade, um dia, fora direto ao banco e
apontara um revólver ao caixa, exigindo todo o dinheiro. Embora tivesse
conseguido fugir do local, fora alcançado a 24 quilômetros de distância pelo
xerife e mais um policial. Desde então, permanecera na prisão local.
Além destes casos mais
espetaculares, havia as disputas rotineiras sobre divisas de propriedade, débitos
e execuções de hipoteca, processos por difamação, e o caso de um homem chamado
Silas Foster, que era acusado de ter roubado porcos.
Havia sido anunciado
que o tribunal se reuniria na semana seguinte, e o povo trouxe suas demandas
legais. Os advogados começaram a trabalhar imediatamente nos casos que lhes
foram designados, e quando a data marcada chegou, o tribunal itinerante se
reuniu. A cidade inteira se aglomerou no fórum, e durante os intervalos vários
grupos discutiam acaloradamente os prós e contras de cada caso. Os advogados
examinaram e reexaminaram os casos, provocando apartes em várias oportunidades.
Lincoln possuía uma habilidade especial para fazer com que a verdade surgisse,
e nos casos que defendeu, até mesmo o promotor acabou admitindo que ele estava
certo. A medida em que o povo via e ouvia as evidências, mais e mais se
convencia de que se estava fazendo justiça.
Os casos foram trazidos
perante o tribunal um após o outro. Os jurados se retiraram para decidir, e
voltavam com um veredicto – culpado ou inocente. Quando o juiz Davis acabou de sentenciar
os culpados e absolver os inocentes, a cidade ficou satisfeita. Na última manhã
que o juiz e seus advogados passaram na cidade, houve um enforcamento. Henry
Whitney fora julgado culpado de homicídio. E o tribunal itinerante prosseguiu
viagem para a cidade seguinte.
Esta é a parábola
intitulada "O Que Aconteceu". Voltemos à mesma história outra vez, e
vejamos agora "O Que Não Aconteceu".
Havia muita agitação na
pequena cidade de Mill Creek, Illinois, naquela tarde, em 1845. O juiz da Oitava
Vara de Illinois, David Davis, de Bloomington, acabara de chegar, acompanhado
por Abraão Lincoln e vários outros advogados itinerantes. Já se haviam passado quase
seis meses desde que o tribunal se reunira pela última vez em Mill Creek, e
havia um acúmulo de casos que aguardavam julgamento.
O velho Thomas Jacobs
era suspeito de ter ateado fogo na oficina do ferreiro. Tinha havido luta no bar,
entre Henry Whitney e Ebenezer Bates. Bates estava morto. Jesse Adams estava na
prisão aguardando julgamento por ter assaltado um banco. E havia uma porção de outras
disputas menores.
O juiz Davis anunciou
que o tribunal se reuniria imediatamente. A cidade toda se aglomerou no fórum.
O juiz bateu o martelo no púlpito e declarou: "Thomas Jacobs, inocente;
Silas Foster, inocente; Henry Whitney, culpado, e será enforcado ao amanhecer;
Jesse Adams, inocente. O júri está encerrado."
O promotor ergueu-se de
um salto. "O senhor não pode fazer isto!" exclamou ele. "Quem o
senhor pensa que é? O senhor não pode absolver estas pessoas sem um julgamento
regular, nem condená-las sem provar que são culpadas."
O povo da cidade apoiou
o promotor, gritando: "Ele está certo. Como é que o juiz sabe quem é
culpado e quem é inocente?"
Lincoln levantou a voz
a fim de ser ouvido apesar do tumulto: "Vocês não confiam no juiz? O juiz conhece
aqueles a quem absolve. Ele vem acompanhando as coisas desde que voltou a
Bloomington. Ele tem anotado tudo cuidadosamente, dispõe de provas, e nãocomete
erros.”
Mas o povo ficou ainda
mais contrariado. "O juiz pode ou não ter provas", objetaram eles.
"Mas nós não temos provas. Não é suficiente simplesmente alegar ter provas.
Os casos precisam ser examinados abertamente antes de ser dada a sentença. Todo
o tribunal, e não apenas o juiz, precisa examinar as provas."
Os advogados
itinerantes continuaram tentando desesperadamente convencer o povo de Mill Creek
de que o juiz era digno de confiança. Mas o povo insistiu em afirmar que a
confiança deve se basear numa compreensão inteligente das razões que levaram o juiz
a tomar suas decisões.
Na última manhã que o
juiz e seus advogados passaram na cidade, houve um enforcamento. O juiz é que
foi enforcado.
Não parece claro isto?
Deus deseja solucionar este grande conflito de modo tão transparente, que mesmo
Satanás e seus anjos, e os ímpios de todos os tempos se curvem juntamente com
os remidos e confessem que Deus tem sido justo (ver Filip. 2:10 e 11). Os que
estiverem em Seu reino, mesmo que algum de seus queridos esteja ausente, não
terão dúvidas ou indagações permanentes, mas dirão de coração: "Grandes e
admiráveis são as Tuas obras, Senhor Deus, todo-poderoso! Justos e verdadeiros
são os Teus caminhos, ó Rei das nações]" Apoc. 15:3.
Alguns têm a ideia de
que o propósito de um juízo de investigação anterior ao advento, é dar a Deus
tempo para examinar os livros e decidir quem irá para o Céu. Deus poderia
resolver essa questão numa fração de segundo. O verdadeiro propósito do juízo
investigativo não é simplesmente decidir quem se salvará; é revelar a respeito
de Deus e Seu povo algo que precisa ser revelado para todo o Universo.
Não há espaço aqui para
se fazer uma exegese detalhada de Daniel 7, 8 e 9, bem como do livro de
Apocalipse, a fim de delinear a doutrina do juízo investigativo. Mas Deus nunca
faz qualquer coisa de tamanho significado sem o revelar aos Seus servos, os
profetas (ver Amos 3:7). Podemos, portanto, esperar que o juízo investigativo
seja ensinado nas profecias. Se Daniel 7, 8 e 9 forem estudados como um todo,
percebendo que são profecias paralelas cobrindo o mesmo período, não haverá dificuldade
em ver o delineamento profético de um juízo de investigação anterior ao
advento. O primeiro anjo de Apocalipse 14 anuncia, antes do advento, que
"é chegada a hora do Seu juízo". Não diz que está chegando ou que
chegará, mas que "é chegada".
Um dos objetivos de tal
juízo é revelar as pessoas que aceitaram o convite de Cristo e que, conforme descrito
em Mateus 24:13, perseveraram até ao fim. E durante este juízo que precede o
advento, não somente o povo de Deus é defendido mas também são feitos preparativos
para que o caráter de Deus seja reivindicado perante todo o Universo.
Quando Jesus morreu na
cruz, Ele adquiriu o direito de perdoar a todos, no mundo todo. Mas nem todos
são perdoados. Assim, durante o juízo que precede o advento, é justificada a
decisão de Deus em perdoar aqueles a quem perdoou. E durante os mil anos que se
seguirão ao retorno de Cristo (ver Apocalipse 20), Deus será justificado por
não ter perdoado aqueles que não foram perdoados.
O que disse Jesus sobre
o juízo que antecede o advento? Tanto a Sua parábola da rede como a do trigo e
do joio indicam um tempo de decisão antes de ser dada a recompensa final. Mas
Sua alusão principal ao juízo que antecede o advento está em Mateus 22. Leia o capítulo
todo para ver o contexto. Os versos 2 a 7 narram a história do povo judeu, e o
convite divino a eles feito até a destruição de Jerusalém, no ano 70 de nossa
era. Os versos de 8 a 10 indicam que o evangelho seria levado aos gentios. “E a
sal de banquete ficou repleta de convidados". O que são as bodas? Apocalipse
19 nos fala de um tempo, imediatamente anterior à volta de Jesus, em que Ele Se
une a Sua noiva, a igreja, e as bodas e a festa nupcial têm lugar. A parábola
de Jesus, portanto, se refere aos eventos finais que antecedem a Sua volta.
Nos dias de Cristo um
indivíduo rico, especialmente um rei, enviava não apenas um convite de
casamento mas também uma veste nupcial para o convidado vestir. Isto
solucionava uma porção de problemas. Imagine receber um convite para o
casamento do filho de um rei hoje! Qual a primeira coisa que a esposa diria?
"O que é que eu vou vestir!?"
Este tipo de problema,
portanto, estava resolvido naquele tempo. Não importava se o convidado era rico
ou pobre, se morava num palácio ou numa choupana. Todos os que recebessem um
convite para as bodas do filho do rei, também recebiam uma veste nupcial. Até o
mais pobre convidado poderia parecer um milionário.
Obviamente, o rei fez
uma enorme despesa para providenciar a veste nupcial. Se alguém aparecesse nas
bodas sem tal veste, isto seria considerado um insulto ao rei e a seu filho, e
por extensão, o reino todo se sentiria agredido. Assim, nos dias de Jesus duas
coisas faziam parte de um casamento importante: um convite e uma veste nupcial.
Com este fato em mente,
notemos o que diz o verso 11: "Entrando, porém, o rei para ver os que
estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial".
Evidentemente, o rei entrou para investigar, para examinar os convidados antes
que as festividades começassem. E descobriu este homem sem a veste nupcial. Em
Apocalipse 3 notamos que aqueles que não possuem as vestes da justiça de Cristo
são infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus. Este homem, portanto, não
estava vestido com a veste apropriada. Ele estava nu! Ou quando muito, estaria
vestido com trapos imundos, pois a nossa justiça se assemelha a trapos da
imundícia.
Observe o que o rei
disse ao hóspede, no verso12: "Amigo, como entraste aqui sem veste
nupcial? E ele emudeceu.” O rei chamou de "amigo"! Não são isto boas
novas? Deus não está interessado em ver quantas pessoas Ele pode deixar fora do
Céu; Ele está procurando ver quantas pessoas Ele consegue trazer para dentro.
Ele disse: "Amigo, houve algum mal-entendido? Você deve ter recebido um convite,
pois está aqui. Mas teria havido algum engano quanto ao vestido? Você tem algo
a explicar?"
O rei lhe deu uma
oportunidade. Tratou-o com dignidade. Mas as Escrituras dizem que ele emudeceu.
Ele nada tinha a dizer. Somente então ordenou o rei aos servos: "Amarrai-o
de pés e mãos, e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de
dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos." Mat. 22:13 e
14.
O que Jesus está
procurando nos ensinar nesta parábola? Em primeiro lugar, todos somos chamados
à ceia das bodas do Cordeiro. Tudo que precisamos fazer é aceitar o convite.
Jesus providenciou tudo. Quando inclinou a cabeça e morreu, Ele adquiriu o
direito de perdoar a toda e qualquer pessoa nascida neste mundo. Precisamos
apenas aceitar o Seu perdão. Estamos todos convidados para as bodas.
E o vestido nupcial?
Apocalipse 19 descreve a ceia das bodas do Cordeiro: "São chegadas as
bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se
de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos
de justiça dos santos" (versos 7 e 8).
Quais são os atos de
justiça dos santos? Qual é a justiça dos santos? Jeremias 23:6 nos diz que o
Senhor é a nossa justiça. Portanto, toda e qualquer justiça vista nos santos é obra
do Senhor, não é? Isto nos faz lembrar do duplo aspecto da justificação:
primeiro, a justificação operada por Cristo em nosso favor, na cruz, ao
estender-nos o convite; em segundo, a justiça de Cristo em nós, operada na vida
através do poder do Espírito Santo, e representada pela veste nupcial. Ambas
são pela fé. Ambas vêm dEle.
Assim, o rei, ao
examinar os convidados, notou que um homem não possuía a veste nupcial. Ele
evidentemente queria aceitar o convite sem, no entanto, aceitar a veste nupcial.
Este homem estava interessado em ir ao Céu, mas não tinha interesse em aceitar
a justiça de Cristo, demonstrada na vida a fim de honrá-Lo. "Guia-me pelas
veredas da justiça por amor do Seu nome." Sal. 23:3. Há algo mais
importante do que conseguir entrar no Céu, e isto é honrar e glorificar o Rei e
Seu Filho.
Assim, no juízo que
antecede o advento, o Rei vem examinar os convidados e encontra um homem sem a
veste nupcial. Ao que tudo indica, o Rei verifica pelo menos duas coisas no
juízo investigativo: em primeiro lugar, Ele verifica se o convite foi aceito ou
não; em segundo, se a veste nupcial foi aceita e vestida.
Apocalipse 3:5 utiliza
a mesma figura: "O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de
modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o
seu nome diante de Meu Pai e diante dos Seus anjos." Deus deseja que não
apenas aceitemos ao convite celestial, mas que também sejamos vencedores, através
de Sua graça. E isto é o que significa vestir a veste nupcial.
Assim, Ele vem examinar
os convidados a fim de revelar perante todo o Universo os que não apenas
aceitaram o convite, mas se tornaram também vencedores por meio do Seu poder.
Você agora poderia
dizer: "Bem, não estou me saindo muito bem, pois caio e erro cada
dia." Seria bom você se lembrar de que a vitória é responsabilidade de
Deus e não sua. O convite para as bodas é gratuito, e a veste nupcial também. A
obediência é pela fé em Jesus. Não é algo que conseguimos; é algo que recebemos
através de um relacionamento contínuo com Cristo. Vestir a veste nupcial é
simplesmente aceitar o que Deus oferece.
A santificação é uma
dádiva, tal e qual a justificação, e muitos cristãos ainda estão esperando
ouvir e entender estas boas novas. Alguns de nós temos nos esforçado arduamente
para tentar obedecer, para tentar obter a vitória. Esquecemo-nos de que não se
compra um presente. E o vestido nupcial é de graça — é um presente do Rei. Está
você interessado, não apenas no convite para as bodas do evangelho, mas também
na veste nupcial? Ambos lhes são oferecidos de graça, hoje.
FONTE:
Revista Adventista, março de 1985, p. 8-10.
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