Teologia

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O CRISTÃO E O PORTE DE ARMAS – O QUE DIZEM AS SAGRADAS ESCRITURAS?


Ricardo André

O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), no dia 15 de janeiro, tornando mais flexível a posse de armas de fogo em casa - primeiro passo para a revogação do Estatuto do Desarmamento (legislação que limita tanto o uso quanto o porte de armas pela população brasileira) para que os cidadãos possam voltar a ter porte de arma, foi, inclusive, uma das propostas de campanha do então candidato Jair Bolsonaro - tem provocado intenso debate na sociedade brasileira, dividindo-a. Há os que são contra e há os que são a favor do porte de arma. O assunto nunca foi tão debatido no Brasil como nestes últimos dias e promete se intensificar nos meses seguintes quando essa medida for questionada no STF pelos partidos que fazem oposição ao presidente, bem como quando a chamada “Bancada da Bala”, na Câmara Federal forçar o presidente da Casa a pautar esse tema.

Cristãos divididos

Esse debate ocorre também entre os cristãos. Diversos religiosos ultraconservadores simpatizantes da extrema direita política, tanto católicos como evangélicos, têm feito nas redes sociais defesa ardorosa do porte de armas pelos cristãos, inclusive, usando de forma equivocada textos bíblicos para apoiar suas teses.

No campo católico podemos citar como exemplo o Padre Paulo Ricardo, da Arquidiocese de Cuiabá, que tem 1,4 milhões de seguidores nas redes sociais e publicou recentemente no Twitter que "os cristãos buscam a paz, mas isso não significa que sejam pacifistas". A reportagem também destaca a declaração do padre Paulo Ricardo dizendo que "a legítima defesa é cristã, moral e perfeita". Já no âmbito protestante, citamos o reverendo Augustus Nicodemus, que em vídeo, no seu canal do YouTube “Perguntar não Ofende”, se manifestou favorável ao porte de armas pelos cristãos quando a lei do país permite (https://www.youtube.com/watch?v=2qV9bGfgdjI). Mencionamos também o jornalista e pastor Leandro Quadros, apresentador do Programa “Na Mira da Verdade”, da TV Novo Tempo, que para defender a ideia de que cristãos civis podem andar armados, no seu Blog afirmou, entre outras coisas, que “a Bíblia não é contra o porte de armas em algumas situações específicas, e além disso, ela estabelece limites”.

Com base no texto bíblico de Êxodo 22:2, 3, assevera que “a Bíblia não é contra o filho de Deus portar armas, porém tem limites. Não pode sair por aí matando qualquer um; não pode sair por aí fazendo besteiras. Aqui nós vemos que nesse texto está num contexto de proteção da propriedade. Baseado no texto de Romanos 13:1-4, argumenta que “o cristão deve submeter-se às leis e a proteção do Estado. Isso significa, de acordo com Romanos 13:1-4, que se o estado permite o porte legal de armas, um cristão pode ter um porte de armas. Agora, se o estado não permite, o cristão não pode ter, ir de encontro as normas do Estado. Romanos 13:1-4 é muito claro em dizer, que quem tem a autoridade mesmo para usar a espadada e, inclusive, decepar o criminoso é o Estado, o cristão, não, a não ser naquele contexto que falei de Êx 22:2, 3, de proteção da propriedade. Mesmo assim, não é uma coisa frouxa e aberta. Deus coloca ali limites” (http://leandroquadros.com.br/os-adventistas-e-a-posse-e-porte-de-armas/).

As questões de capital importância são: Seria a Bíblia favorável ao armamento da população? E o que diria Jesus acerca disso? Dar ao cidadão comum o direito de possuir ou portar uma arma coibirá ou estimulará ainda mais a violência?

Análise dos textos bíblicos

À semelhança dos pastores Augustus Nicodemus e Leandro Quadros, diversos religiosos armamentistas costumam usar o texto de Êxodo 22:2, 3 para defender o armamento da população. A passagem diz o seguinte: "Se o ladrão que for pego arrombando for ferido e morrer, quem o feriu não será culpado de homicídio, mas se isso acontecer depois do nascer do sol, será culpado de homicídio. Um ladrão terá que restituir o que roubou, mas se não tiver nada, será vendido para pagar o roubo” (NVI).

Ao analisar o texto em lide, é preciso considerar três pontos:

1) A passagem em questão não diz que a vítima pode matar em legítima defesa, mas FERIR ou GOLPEAR. Contudo, se ao ferir, o ladrão for morto acidentalmente dento da casa da vítima e durante a noite, a vítima não seria culpada de homicídio, pois só estava se defendendo e não teria tencionado tirar a vida do ladrão. É o que defende, por exemplo, o Dr. Alan Cole, teólogo batista norte-americano. Em seu comentário de Êxodo, ele afirma que a morte à noite é justificada, pois “pode até mesmo ser acidental, resultado de uma luta cega no meio da noite” (Êxodo, Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova & Mundo Cristão, 1981. p. 165). Portanto, o texto de Êx 22:2, 3 sugere a ideia de que a pessoa vítima de roubo dentro de casa não teve a intenção de tirar a vida do próximo, mas que ele veio a falecer por causa das pancadas. É assim que a Bíblia define a morte por legítima defesa: quando a vítima não mata intencionalmente o meliante.

A expressão “depois do nascer do sol” indica um julgamento diferente daquele permitido à noite. O texto não deixa nítido porque há culpa em matar um ladrão durante o dia, mas não durante a noite. Possivelmente, a diferença do dia para a noite reside na identificação das intenções do ladrão e na estimativa do perigo representado por ele. À noite, por conta da escuridão, é mais difícil distinguir ou identificar se a pessoa que está arrombando a casa é um ladrão ou um assassino, se ele estava armado e se ele tinha intenções homicidas. Além disso, a noite torna mais difícil a tarefa de se defender e, ao mesmo tempo, evitar matar o ladrão. Durante o dia, seria melhor se esconder ou fugir e pedir ajuda (Provérbios 22:3; 27:12). Nas palavras do Dr Alan Cole, “matar um ladrão que tenta perfurar uma parede de tijolos para entrar na casa (Ezequiel 12:5) é homicídio justificável, se acontecer depois de escurecer. O arrombador pode ser um assassino armado, no entender do dono da casa [...] À luz do dia, entretanto, o dono da casa não tem desculpa se matar o arrombador: além do mais, ele é capaz de identificar o indivíduo.” (Ibid.) A Bíblia de Estudo de Genebra também considera essa possibilidade, ao afirmar: “A morte de um assaltante noturno desconhecido não incorria em culpa de sangue, visto que confrontar o assaltante poderia pôr em perigo a vida do dono da casa. Mas um ladrão que atacasse durante o dia poderia ser prontamente identificado, e matá-lo não era justificado” (p. 105). Portanto tirar a vida de um assaltante durante o dia, quando ele pode ser identificado, a defesa se torna vingança; logo, configuraria crime de assassinato, pois o ato seria premeditado.

2) Ao defender a posse de arma pelos cristãos, os pastores e padres armamentistas parecem desconsiderar que a concessão em Êx 22:2, 3 fora feita a um povo nômade em vias de se estabelecer numa terra sem lei, onde não havia qualquer tipo de policiamento, nem código penal, nem mesmo um governo organizado. Em outras palavras, era cada um por si. Hoje, os povos possuem o aparato estatal que possuem o dever de oferecer proteção aos cidadãos. Ademais, se é para cumprir o mandamento ao pé da letra, os religiosos que defendem o armamento civil deveriam também defender que as pessoas não usem a arma para matar, apenas para ferir, e que o façam à noite, jamais à luz do dia, e que, por fim, vendam o ladrão como escravo para pagar eventuais prejuízos.

3) Nenhum texto no Antigo Testamento autoriza o civil a carregar armas; afinal, para se defender, qualquer objeto ou até mesmo a própria força física poderia servir como meio de defesa. Qualquer objeto pode virar uma “arma” de defesa pessoal, desde que não seja usado com o objetivo de tirar a vida do bandido. Afinal, como já dissemos acima, legítima defesa é quando a morte do bandido resulta de um acidente. Quem carrega um revolver e puxa o gatilho contra o próximo, por exemplo, sabe que isso poderá resultar na sua morte (principalmente se for disparado contra alguma região vital do corpo). Logo, neste caso, de acordo com a Bíblia, não se trata de legítima defesa, mas sim de assassinato, pois é um ato consciente e premeditado. Logo, é crime de assassinato (Êxodo 20:13).

Outra passagem evocada pelos pastores supracitados para sustentar a tese do armamento civil é Romanos 13:1-4. De acordo com eles, como o texto de Romanos ordena que obedeçamos as autoridades constituídas, se as leis do Estado permitirem o porte de armas legal, então, o cristão pode portar armas. Entretanto, esqueceram-se que não há absolutamente nada na Santa Bíblia que embase tal pensamento. Não discordamos que devemos nos submeter às autoridades governamentais do país onde vivemos (Romanos 13:1-5), porém, essa submissão não é cega. Ela se dá somente se elas estiverem de acordo com a Palavra de Deus. Como frisaram Pedro e os outros apóstolos: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” (Atos 5:29). Portanto, ainda que o Estado permita, o cristão não deve se submeter; antes, deve obedecer a Deus.

Até porque não é o fato de o Estado permitir algo que aquilo seja realmente o certo. Aqui no Brasil, por exemplo, em 2011, os ministros do STF reconheceram a união estável para casais do mesmo sexo. Deveríamos concluir que é permitido e certo para um cristão se casar com alguém do mesmo sexo? É óbvio que não! (Romanos 1:24-28; 1 Coríntios 6:9-10; 1 Timóteo 1:8-10; Apocalipse 21:8; 22:15). E se algum dia o Congresso aprovar o aborto em qualquer situação, será que uma mulher cristã poderá abortar? É claro que não! Antes é preciso obedecer a Deus do que aos homens!

Ademais, o texto de Romanos 13:1-4 deixa claro que é a autoridade que pode usar armas. Nas palavras de Paulo, “ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal” (Romanos 13:4, NVI). O apóstolo Pedro também orienta nesse mesmo sentido: “Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema, seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem. Pois é da vontade de Deus que, praticando o bem, vocês silenciem a ignorância dos insensatos” (1 Pedro 2:13-15, NVI). Logo, somente a autoridade pode usar armas, e com o fim exclusivo de defender a sociedade contra os bandidos. Nada é dito sobre civis portarem armas. Dizer que Êx 22:2, 3 permite o civil usar armas no sentido de proteger a propriedade, como quer o jornalista Leandro Quadros, é forçar o texto a dizer o que não quer dizer.

O que disse Jesus

Penso que como cristãos devemos promover a cultura da paz. Defender o porte de arma é contribuir para que a violência aumente em nosso país. Um dos princípios ensinados por Jesus foi o da não violência, “pois a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tiago 1:20). Ele afirmou: “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.” (Mateus 5:9). A escritora cristã Ellen G. White, afirma “que o espírito de paz é um testemunho de sua ligação [dos seguidores de Cristo] com o Céu. Envolve-os a suave fragrância de Cristo. O aroma da vida, a beleza do caráter, revelam ao mundo que eles são filhos de Deus. Vendo-os, os homens reconhecem que eles tem estado com Jesus” (O Maior Discurso de Cristo, p. 28). O cristão deve, como filho de Deus, desenvolver “o espírito de paz”. Evidentemente que não é pacificador, não tem o espírito de paz nem a promove aquele que, não sendo uma autoridade, carrega ou possui uma arma, pois clara intenção é, no mínimo, revidar qualquer agressão ou ameaça.

Jesus ainda ensinou: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.” (Mateus 5:38-39). Segundo Jesus, os cristãos são mansos e pacificadores. Eles “não resistem ao mal”. Essa é uma função do exército, da polícia e dos tribunais de justiça de um país. E, de acordo com Romanos 13, Deus se utiliza dos governos para manter a ordem e resistir o mal. Mas esse não é o papel de cristãos individualmente. Não devemos impor a lei com as próprias mãos. Não devemos viver uma vida de retaliação. Devemos viver de acordo com as bem-aventuranças; devemos ser pacificadores e amar nossos inimigos (Mt 5:44).

No episódio da sua prisão no jardim do Getsêmani, Jesus ensinou aos seus discípulos que, não importava a situação, eles nunca deveriam recorrer à violência, mas serem sempre pacíficos. Quando os soldados romanos aproximaram-se de Jesus para o prender, Pedro tomou uma de suas espadas e decepou a orelha do soldado Malco. Imediatamente Jesus o repreendeu com essas palavras: “Guarde a espada! Pois todos os que empunham a espada, pela espada morrerão” (Mateus 26:52, NVI). Com essas palavras, Jesus nitidamente reprovou a violência de Pedro. Desse modo, Jesus pretendia ensinar a grande lição da não-violência ao Seu discípulo que tinha temperamento forte, pois ele enfrentaria situações injustas e desesperadoras também, em que seria vítima de calúnias, perseguições e agressões de toda sorte e deveria suportar o sofrimento com paciência. E Pedro realmente aprendeu a lição, pois em sua primeira carta aconselhou os irmãos a sofrerem com paciência, assim como Jesus sofreu: “Porque é louvável que, por motivo de sua consciência para com Deus, alguém suporte aflições sofrendo injustamente. Pois que vantagem há em suportar açoites recebidos por terem cometido o mal? Mas se vocês suportam o sofrimento por terem feito o bem, isso é louvável diante de Deus. Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos” (1 Pedro 2:19-21, NVI).

Além disso, o apóstolo Paulo claramente ensinou que a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra o diabo, e que nossa arma de defesa e de ataque não é a arma humana, mas é a espada do Espírito – a Palavra de Deus; a oração como uma importantíssima arma na contra o mal. Ele firmou: “Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo.” (2 Coríntios 10:3-5)

“Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do diabo, pois a nossa luta não é contra pessoas, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Efésios 6:11-17).

Toda essa armadura está à inteira disposição de cada cristão: a palavra de deus, verdade, justiça, fé e oração.

Nenhum apóstolo andava armado e os mártires não se defendiam dos seus assassinos com “armas humanas”. Afinal, o Senhor havia dito: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: ‘Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso! E se vocês saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo demais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês.’” (Mateus 5:43-48)

Enquanto morria apedrejado, Estêvão não procurou se defender com armas humanas. Antes, orou por seus perseguidores (Atos 7:59-60). E ele só estava seguindo o exemplo do Mestre, que, na cruz, orou por seus assassinos, dizendo: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo” (Lucas 23:34).

Paulo e Silas foram duramente maltratados e agredidos em Filipos, e em momento algum a Escritura diz que eles tinham alguma arma e a usaram (Atos 16:16-24).

Muitos outros exemplos bíblicos como esses poderiam ser usados, mas esses são suficientes para mostrar a inconsistência da ideia de armar a população civil.

A Posição da Igreja Adventista Sobre o Porte de Armas

Qual é o posicionamento da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre a questão do porte de armas? Transcrevemos abaixo a Declaração oficial da Igreja sobre o tema. Tal Declaração foi liberada pelo então presidente da Associação Geral, Neal C. Wilson, após consulta com os 16 vice-presidentes da Igreja Adventista, em 5 de julho de 1990, durante a Assembleia da Associação Geral realizada em Indianápolis, Indiana. Nela, os líderes da igreja demonstram claramente a preocupação com a crescente violência resultante da facilidade da aquisição de armas pelos civis nos EUA e em outras partes do mundo, enfatizando que a “acessibilidade só pode abrir a possibilidade de mais tragédias”. Da Declaração abaixo conclui-se que a IASD se posiciona contrária ao porte de armas pelos cristãos. Vejamos:

As armas automáticas ou semiautomáticas de estilo militar estão se tornando cada vez mais disponíveis aos civis. Em algumas regiões do mundo é relativamente fácil a aquisição de tais armas.

Elas aparecem não apenas nas ruas, mas também nas mãos de jovens nas escolas. Muitos crimes são cometidos por meio do uso dessas armas. São feitas para matar e não têm nenhuma utilidade recreativa legítima.

Os ensinos e o exemplo de Cristo constituem a norma e o guia para o cristão de hoje. Cristo veio ao mundo para salvar vidas, não para destruí-las (Lucas 9:56). Quando Pedro sacou de sua arma, Jesus lhe disse: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão” (Mateus 26:52). Jesus não Se envolvia em violência.

Alguns argumentam que a interdição das armas de fogo limita os direitos das pessoas e que as armas não cometem crimes, mas sim as pessoas. Embora seja verdade que a violência e as inclinações criminosas conduzem às armas, também é verdade que a disponibilidade das armas leva à violência.

A oportunidade de civis comprarem ou adquirirem de outro modo as armas automáticas ou semiautomáticas apenas aumenta o número de mortes resultantes dos crimes humanos. A posse de armas de fogo por civis nos Estados Unidos aumentou a uma estimativa de 300 por cento nos últimos quatro anos. Durante o mesmo período, houve um assombroso aumento de ataques armados e, consequentemente, mortes.

Na maior parte do mundo, as armas não podem ser adquiridas por nenhum meio legal. A igreja vê com alarme a relativa facilidade com que elas podem ser adquiridas em algumas regiões. Sua acessibilidade só pode abrir a possibilidade de mais tragédias.

A busca da paz e a preservação da vida devem ser os objetivos do cristão. O mal não pode ser combatido eficazmente com o mal, mas deve ser vencido com o bem. Os adventistas, como outras pessoas de boa vontade, desejam cooperar na utilização de todos os meios legítimos para reduzir e eliminar, onde possível, as causas fundamentais do crime.

Além disso, tendo-se em mente a segurança pública e o valor da vida humana, a venda de armas de fogo automáticas ou semiautomáticas deveria ser estritamente controlada. Isso reduziria o uso de armas por pessoas mentalmente perturbadas e por criminosos, principalmente aqueles envolvidos com drogas e atividades de quadrilhas.

Consequências de se armar a população civil

Acredito profundamente que armar a população não resolve o problema da violência tampouco dará mais segurança ao cidadão. Ao contrário, num mundo com violência crescente e pessoas estressadas, qualquer briga de trânsito, de bar e de vizinhos será motivos para, num momento de fúria, sacar a armar para tirar a vida do outro. A violência tendem a aumentar substancialmente. O pesquisador Daniel Cerqueira mostra que o aumento de 1% na quantidade de armas nas cidades se reflete em 2% a mais nas taxas de homicídio (acesse essa tese no link: https://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/empresa/download/Concurso0212_33_premiobndes_Doutorado.pdf). Se isso já acontece hoje sem a liberação das armas, imagine com a liberação da posse e depois a de porte de arma para a população. Muitas pessoas ditas do “bem” vão acabar usando a sua arma para resolver problemas pessoais (como som alto, problemas amorosos, problemas de estresse, entre outros.) que nada têm a ver com bandidos, ou seja, resolver atritos com outras pessoas do bem.

Como é sabido por todos, nos Estados Unidos é possível comprar armas com extrema facilidade e de modo legal. Mesmo estudos já mostrando que o número de mortes e violência por armas de fogo só aumentou. Tanto é assim, que em março deste ano, milhares de jovens se reuniram no dia 24 de março, em Washington para pedir um BASTA à facilidade para se comprar armas nos EUA, país que é recorrente em massacres em escolas. Mais detalhe vejam a matéria no link: http://ansabrasil.com.br/brasil/noticias/mundo/noticias/2018/03/24/em-marcha-historica-jovens-pedem-restricoes-a-armas-nos-eua_ec367f7e-7558-4b1c-847a-855c1dbbd1b0.html.


Para se ter uma ideia, só em 2016, foram quase 60.000 incidentes com armas de fogo, mais de 15.000 mortos e 383 tiroteios em massa nos Estados Unidos. E olha que estamos falando de um país bem mais seguro que o Brasil…


O problema de armar a população é que as pessoas ditas do “bem” acabam usando a sua arma para resolver problemas pessoais (como som alto, brigas de trânsito, problemas amorosos, problemas de estresse, etc.) que nada têm a ver com bandidos, ou seja, resolver atritos com outras pessoas do bem. Portanto, a maior presença de armas dá contornos sangrentos a brigas fúteis. Segundo o último anuário do Fórum Brasileiro de Segurança, menos de 3% dos homicídios decorrem de latrocínio – roubo seguido de morte - acesso os dados do relatório no link: http://www.forumseguranca.org.br/produtos/anuario-brasileiro-de-seguranca-publica/8o-anuario-brasileiro-de-seguranca-publica.
“Muita gente morre por motivos banais”, diz Cerqueira. “O assassino, geralmente, é um cidadão honesto que não tinha interesse em matar para se apropriar de um bem econômico. Costuma ser aquele sujeito que brigou no bar e, por estar sob a influência do álcool, usou a arma de fogo – altamente letal.” Na ânsia de se proteger de bandidos, o “cidadão de bem” compra uma arma. Perde a cabeça, comete um crime e acaba se tornando aquilo que ele queria combater.

Mas o argumento mais forte para se restringir o acesso a armas pode não ter nada a ver com assassinato: as grandes vítimas de armas nos Estados Unidos não foram mortas por outros. Cometeram suicídio. Segundo um relatório da Universidade de Harvard de 2008, o número de suicídios superou o de homicídios numa proporção quase de dois para um. O estudo diz que muitos dos 30 mil suicídios registrados todos os anos podem ser evitados. “A pesquisa mostra que a chance de um suicida viver ou morrer está em parte na disponibilidade de meios altamente letais, especialmente armas de fogo”.

Precisamos entender que mesmo que “o cidadão de bem” possa possuir e portar uma arma, ele não estará magicamente mais seguro só por isso. Por quê? Porque ele não vai andar por aí com a arma em punho – mas o bandido vai! De que adianta, então, “o cidadão de bem” ter uma arma, que provavelmente estará guardada na cintura ou na mochila ou no porta-luvas do carro se para pegá-la, apontá-la para o bandido e disparar o gatilho levará alguns segundos, segundos esses nos quais o bandido, que já vem para cima da vítima com a arma carregada e em punho, apontando para a vítima, vai atirar, e, depois disso, roubar o celular, a carteira e, ironicamente, até a arma dela? Assim, a única coisa que vamos conseguir é dar aos bandidos mais armas que eles usarão para cometer mais e mais crimes. Nós temos a falsa ilusão de que, ao sermos abordados por um bandido, conseguiremos reagir rapidamente, e é o bandido que levará a pior, e eu vou salvar a minha vida e a das pessoas que estão comigo. Chamo isso de SÍNDROME DO SUPER-HERÓI.

Por incrível que pareça alguns cristãos argumentam que enquanto a população for mantida desarmada, os bandidos farão a festa. Então, perguntamos: Em vez de desarmar a bandidagem, a saída é armar o restante do povo? Vamos apagar fogo com fogo? Como garantir que os bandidos se inibiriam diante de uma população armada? Se eles não se inibem nem diante de policiais exaustivamente treinados para combatê-los, por que se inibiriam diante de um chefe de família qualquer? Talvez isso fizesse com que mudassem a abordagem e já chegassem atirando, antes que pudesse haver uma reação.

Por falar nisso, o presidente Bolsonaro, que defende a posse e o porte de arma pelo “cidadão de bem”, já foi assaltado e teve sua arma roubada. O jornal A Tribuna da Imprensa (RJ) noticiou, no dia 5 de julho de 1995, que no dia anterior Bolsonaro fora assaltado enquanto seguia para panfletar junto a seus eleitores, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Na ocasião, ele afirmou: “Mesmo armado me senti indefeso”. A notícia é verídica e pode ser verificada no acervo digital da Biblioteca Digital do Brasil, na edição 13858, página 5. No mesmo dia, o Jornal do Comércio também noticiou o ocorrido.

Ora, se o maior defensor da posse e porte de arma para os civis, mesmo armado, se sentiu indefeso e não conseguiu se defender, por que pensar que “o cidadão de bem” estará mais seguro dos bandidos somente por portar uma arma? É, no mínimo, ingênuo sustentar isso.

Conclusão:  

O que podemos concluir que é o cristão civil não pode portar armas, mas somente as autoridades e o exército, conforme a Palavra de Deus ensina (Romanos 13:1-8; 1 Pedro 2:13-15). São essas instituições que tem o dever de proteger a população, punindo os malfeitores (Romanos 13:1-8). Não é dever do civil andar armado.

O que nossa sociedade precisa é de desarmar seu espírito, de modo que possa entender que ninguém nasce bandido. O crime é resultado da injustiça predominante na sociedade, das desigualdades sociais e da miséria. No países onde há menos injustiça social, o índice de criminalidade é menor.

Penso que em vez de munir a população com extintores para apagar o incêndio, não seria melhor impedir que o incêndio acontecesse? Medidas preventivas costumam ser mais efetivas do que paliativos usados para remediar, a exemplo de implementação de políticas públicas que ofereça saúde, educação, lazer, cultura e oportunidades para nossas crianças e adolescentes, tirando-os de situações de vulnerabilidade.

Por essas razões religiosas e sócio-política e outras não mencionadas aqui, que somos contra o armamento da população civil.

3 comentários:

  1. No Dia que Você Passar o que Passei,a Noite Em Uma Rodovia com Minha Mulher, e Filha quando Um Bandido Me Ameaçou de Morte e Minha Filha e Mulher Correram Para se Salvarem, do Desgraçado e Ele Correr Após Elas, Quero Ver se Sua Tese Se Sustenta, Só Sabe e quem Passa Viu... Essa Ladainha de que Violência Gera Mais Violência, com Certeza Vai Violência não Mais Legitima Defesa Sim , Porque o Desgraçado na Ficará Pra Contar a Historia. eu Tinha Esse Pensamento Igual ao Seu, Mas Naquela Noite Percebi, que as Coisas não são Tão Românticas Assim, E o Estado não é Deus Para Estar em Todas as Situações,como Foi no Meu Caso Viu.
    Mais um Pouco Ele Dava Um Tiro nas Costas ou da Minha Mulher ou nas Costas da Minha Filha, na Minha Frente e eu com Mãos Atadas, na Escuridão da Rodovia, queria Ver se Fosse Você no Meu Lugar se Essa Sua Tese se Sustentaria, e Tirasse Xerox e Desse pro Meliante Pra Ver se Resolveria Seu Problema Viu...
    Só Sabe é quem Passa Viu, o Resto é Balela, e Um de Seus Textos Usados Aqui está Distorcido Viu Para Defender A Violência de um Lado Só, e Nós Só Andar com Flores( no Caixão ou Coroas).

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  2. Parabéns pela exposição. Foi melhor que a desastrosa e surpreendente defesa do porte de arma de Leandro Quadros e outras "estrelas" da Igreja.

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    1. Oi, Sérgio Chaves. Boa noite! Obrigado por ter lido o texto e ter gostado. Fique com Deus. Abraço afetuoso!!!

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