Teologia

terça-feira, 7 de junho de 2016

OS VENDILHÕES DO TEMPLO DA PÓS-MODERNIDADE



Ricardo André

No domingo, 09 de Nisan, da semana da Sua última Páscoa, Jesus entrou em Jerusalém. Ele começou inspecionar silenciosamente o templo, e deparou-se com uma cena chocante: o templo estava cheio de animais, comerciantes e bancas de moedas. O pátio do templo mais se assemelhava a um mangueiro de gado ou uma bolsa de valores do que a uma casa de oração. Despercebido em meio ao burburinho, Jesus Se retirou para Betânia.

Mas, no dia seguinte, Ele voltou para demonstrar com o cetro da justiça o propósito do Templo que os sacerdotes haviam corrompido, em sua ganância e avareza (Mc 11:11-19; Mt 21:12-16; Is 56:4-8; Je 7:8-15), a quem havia sido confiada a realização dos serviços, que “aos olhos do povo tinha sido destruída, em grande parte, a santidade do serviço sacrifical” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 590). Os peregrinos que subiam a Jerusalém três vezes ao ano não podiam trazer consigo os seus sacrifícios. Ao contrário, tinham que comprá-los em Jerusalém. Os sacerdotes controlavam essa venda de animais. Além disso, os animais só podiam ser comprados com moedas do Templo e, portanto, os peregrinos primeiro tinham que trocar seu dinheiro na banca ali existente e depois comprar os animais para o sacrifício. Em ambas as transações - o câmbio de dinheiro e a venda de animais – as autoridades religiosas se beneficiavam grandemente.

Assim, a adoração do Templo havia ficado corrompida. O que devia ter sido uma casa de oração para todas as nações se deteriorara em um esquema de fazer dinheiro que explorava o povo comum e enriquecia os líderes religiosos. Não é de admirar que Jesus ardesse de justa ira. Palavras não eram suficientes: Imediatamente, com “ um chicote de cordas”, Ele próprio foi expulsando esses profanadores (Jo 2:15). “Jesus entrou no templo e expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, e lhes disse: "Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; mas vocês estão fazendo dela um ‘covil de ladrões’" (Mt 21:12, 13, NVI). “Não suportava a ideia de que o templo havia se transformado em centro comercial. Quando a religião se transforma em um negócio, nada mais resta e seu vazio é transferido às pessoas que vivem uma religião formal. Apenas formas religiosas sem conteúdo, que em lugar de aproximar de Deus Seus seguidores, os afastam dEle” (Mario Veloso, Mateus – Comentário Bíblico Homilético, p. 267).

Que ironia brutal! Os próprios animais que simbolizavam o sacrifício de Cristo estavam sendo vendidos pelos sacerdotes por preços exorbitantes! Com o objetivo de lucro, eles sufocavam as gloriosas lições o evangelho, corporificadas nos serviços do santuário. Ofendido pela enorme perda espiritual assim provocada, Jesus mostrou Sua legítima autoridade para purificar do tráfico profano o templo do Seu Pai, que havia transformado Sua casa de oração em um antro de ladrões.

Se os sacerdotes houvessem dado valor ao significado dos serviços do templo e a essência do verdadeiro judaísmo, que influência eles poderiam ter exercido para a expansão do evangelho, e que dons espirituais eles poderiam ter desempenhado!

Os modernos vendilhões do Templo

Em nosso tempo, denominado de pós-moderno, há outro registro de líderes religiosos que se utilizam da religião para obter lucro, explorando a fé alheia. Como na Antiguidade, hoje, os negociantes e suas negociatas profanam a Casa do Senhor: Os pastores das maiores igrejas neo-pentecostais enriqueceram-se a custa dos símplices do Evangelho (2 Pe 2:3). Os pastores Edir Macedo (fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da Rede Record), Valdemiro Santiago (ex-pastor da IURD e fundador da Igreja Mundial da Graça de Deus), Romildo R. Soares (cunhado do Edir Macedo e fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus) e Estevam Hernandes (fundador da Igreja Renascer em Cristo) acumularam, com a facilidade, verdadeiras fortunas. E com elas construíram verdadeiros impérios da Comunicação, ao comprarem rádios, jornais e TVs. Há um claro interesse comercial, uma rede de negócios, que envolve meios de comunicação, gravadoras, editoras, shows, viagens turísticas, empreendimentos imobiliários, franquias e muito mais. As “campanhas”, “correntes”, dízimos e ofertas doados pelos fiéis, bem como a vendas de uma infinidade de materiais “sagrados” fazem com que essas igrejas pentecostais sejam negócios altamente lucrativos, e seus líderes, milionários. É a chamada "indústria da fé".

Muitos analistas comparam os templos neopentecostais com eficientes centros de arrecadação de dinheiro, bem como grandes empreendimentos de geração de capital. Surpreendo-me cada dia mais com a incalculável arrecadação diária dessas igrejas, suficiente para abrir mais templos e financiar horário televisivo e radiofônico.  Parte desse dinheiro arrecadado entre os fieis vão para os políticos, para financiar campanhas eleitorais de políticos evangélicos, que propiciou a formação da bancada evangélica, bem como o aumento desta bancada no Congresso Nacional, na eleição de 2014. A maioria dos deputados que fazem parte dessa bancada evangélica são corruptos.


Dados do Transparência Brasil indicam que:

1) Da bancada evangélica, a maioria esmagadora dos deputados que a compõe respondem processos judiciais;
2) 95% da referida bancada estão entre os mais faltosos;
3) 87% da referida bancada estão entre os mais inexpressivos do DIAP;
4) Na última década não houve um só projeto de expressão, ou capaz de mudar a realidade do país, encabeçado por um parlamentar evangélico.

Essa bancada, se seguisse os princípios de Jesus, seria conhecida por promover a justiça, defender a vida e o direito dos cidadãos, por trazer projetos para coibir a corrupção em todos os níveis do governo e para a diminuição da desigualdade social no país. Porém, nossa “bancada evangélica” é conhecida por sua truculência, por sua perseguição ao inimigo número um dos evangélicos (os “malditos e monstruosos pecadores homossexuais” ), por seus projetos pífios e inócuos (mudança de nomes de ruas para homenagear líderes gospel, invenção de datas comemorativas como o dia da mulher do pastor ou o dia do levita, defesa dos interesses das denominações que os elegeram, mesmo que em detrimento do resto da sociedade).

Empreendimentos monstruosos financiados por tais igrejas causam dúvidas e críticas para quem não participa desse engodo. Um exemplo é a construção da réplica do “templo de Salomão” do tamanho de um estádio de futebol e com o custo em torno de R$ 200 milhões, promovida pelo bispo Edir Macedo. Mas para realizar uma construção dessa envergadura foi necessário arrecadar fundos a partir do dízimo, entre outros, seguido de um discurso do tipo: “Se você for tocado pelo Espírito Santo a colaborar, então, por favor, use a seguinte conta bancária para fazer sua doação em nome da “Igreja Universal do Reino de Deus” e entregue o recibo de depósito numa IURD”.

Em 2013, a revista “Forbes” fez uma lista com os líderes religiosos mais ricos do Brasil. No topo da lista, está o bispo Edir Macedo, que tem uma fortuna estimada em R$ 2 bilhões, segundo a revista. Em seguida, vem Valdemiro Santiago, com R$ 400 milhões; Silas Malafaia, com R$ 300 milhões; R. R. Soares, com R$ 250 milhões; e Estevam Hernandes Filho e a bispa Sônia, com R$ 120 milhões juntos. O casal foi manchete dos jornais internacionais em 2007, quando foram presos em Miami sob a acusação de levarem consigo mais de R$ 100 mil não declarados. Algumas notas estavam escondidas em meio às páginas da Bíblia, segundo agentes norte-americanos. Eles voltaram ao Brasil um ano depois, onde responderam por outros crimes, entre eles a queda do teto de um de seus templos, que deixou nove pessoas mortas em 2009.


Nos seus cultos, esses pastores falam o tempo todo em dinheiro. Além do dízimo, os fiéis são estimulados a fazerem propósitos com Deus e pagam por isso. Levam ao máximo a famigerada Teologia da Prosperidade, criada por evangélicos nos Estados Unidos, no início do século XX. A tão propalada teologia da prosperidade que faz comércio da Santa Palavra de Deus tomou níveis que nunca imaginaríamos serem possíveis. Pregações simplesmente regadas de emocionalismo deturpam os textos bíblicos; falsas profecias e pedidos aterradores de ofertas são tão comuns hoje que, para muitos, essa só pode ser a realidade bíblica, pois é o único tipo de pregação que vários crentes ouvem. De acordo com essa falsa teologia, a relação do crente com Deus é de contrato. Não se espera a salvação com a vinda de Cristo. O que interessa é o aqui e agora. Os fiéis investem agora, dando dinheiro à igreja nesse acordo com Deus, para ter o lucro lá na frente.

Em 2011, Silas Malafaia lançou uma campanha a fim de arrecadar R$ 1 bilhão para a sua igreja, com a fim de criar uma emissora de televisão global, que seria transmitida em 137 países. Os interessados poderiam contribuir com somas a partir de R$ 1.000, e em troca receberiam um livro. Esses tele-evangelistas acabam por comprometer o testemunho cristão sendo os principais promotores de uma cultura de consumismo e de idolatria dentro do arraial cristão.


São obreiros fraudulentos, gananciosos, avarentos e enganadores. São amantes do dinheiro e estão embriagados pela sedução da riqueza. Pregam prosperidade e enganam o povo com mensagens tendenciosas, para abastecer a si mesmos; correntes de libertação, pregações triunfalistas com ênfase em prosperidade financeira e muitos milagres são exibidos pelos “apóstolos” do momento.

Podemos afirmar com segurança que tais obreiros representam os modernos experts Vendilhões do Templo. Exploraram ostensivamente o desonesto mercado da fé, ocupam cada vez maiores espaços para divulgação de seus negócios, aumentarem o número de fiéis, iludi-los com discursos ocos e faturar cada vez mais, com dízimos, contribuições e sabe-se o quê mais, porque a arrecadação religiosa é uma imensa caixa preta, uma excelente alternativa para insuspeita lavagem de dinheiro.

No passado Jesus expulsou os vendilhões e ladrões do Templo. Similarmente, na Sua segunda vinda ele expulsará também os modernos vendilhões do templo que exploram a fé dos fiéis e fazem dos seus templos verdadeiros “balcões de negócios”.  Jesus afirmou: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? ’ Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! ’ "(Mateus 7:21-23, NVI).

Mas, é preciso que se diga que nem todas as igrejas evangélicas são “balcões de negócios”. Os evangélicos não pentecostais, denominados de históricos, a exemplo dos Adventistas do Sétimo Dia, Batistas e Presbiterianos, e mesmo algumas igreja pentecostais,  não adotam essas práticas abomináveis. São sérios, corretos e transparentes na aplicação dos recursos doados pelos seus membros, e que não são usados para o enriquecimento dos pastores.

A Bíblia Sagrada Desaprova o Comércio Revestido de Religião

As Escrituras Sagradas reprovam esse comércio travestido de religião (At 8.17-24). Distorções bíblicas, aberrações teológicas e verdadeiras loucuras são oferecidas em forma de disfarçados amuletos, unções sem fundamento, seminários de grupo fechado e tantas outras invenções para se ganhar dinheiro dos irmãos do despercebido universo religioso. Campanhas de oração, jejum, cultos de cura interior e libertação tocados à base de ofertas com valores estipulados. Qualquer igreja que, por interesses escusos, se presta a essa prática ridícula, assumindo uma posição de mendicância, contraria os valores do evangelho, que ensina a fazer exatamente o contrário: “Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça; deem também de graça” (Mateus 10:8, NVI). “Disse Pedro: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isto lhe dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, ande" (Atos 3:6, NVI).


Alguns pregadores da época de Paulo eram “mascates” ou “falsificadores da Palavra de Deus” que pregavam sem compreender a mensagem do Senhor e sem se importar com o que acontecia com os seus ouvintes. Não estavam preocupados em promover o Reino de Deus - queriam apenas dinheiro, e o apóstolo Paulo sempre denunciou aquelas pessoas que estavam pregando a Palavra de Deus visando apenas o enriquecimento. Ele afirmou: “Ao contrário de muitos, não negociamos a Palavra de Deus visando lucro; antes, em Cristo falamos diante de Deus com sinceridade, como homens enviados por Deus” (II Co 2:17,NVI).


A salvação e as bênçãos de Deus para a humanidade são de graça e por isso não tem custo financeiro. O apóstolo Paulo escrevendo aos cristãos efésios, afirmou: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Efésios 2:8, NVI). A experiência da salvação é um dos grandes milagres de Deus oferecido gratuitamente aos homens. O meio para tal bênção é a graça de Deus e a expressão do referido termo transporta duas verdades salientes. Primeiro, a graça Divina quanto à salvação eterna não ocorre por nossos méritos, é fruto do amor de Deus (Ef 2.8; Tt 2.11). Segundo, se tamanho dom não é recebido por merecimento em escala moral e espiritual (Is 64:6), o seu preço está além das possibilidades humanas de pagá-lo. O ônus da grandiosa obra da redenção foi custeado pelo sangue de Cristo e sua eficaz obra expiatória (1 Co 6:20; Hb 9:22).

O problema é que tal verdade tem sido distorcida por falsas mensagens que descaradamente tentam vender as bênçãos da gratuidade Divina. A ganância é um abismo de interesses insaciáveis capaz de transformar a casa de Deus numa corja de ladrões e num antro de aproveitadores (Lc 19:45-48). Fora isso, o oportunismo de consumo do "mundo cristão" tornou-se numa tentação que tem desviado muita gente do caminho céu. O famigerado cristianismo ávido por novidades, carente de Deus e distante das Escrituras está à mercê de experts vendilhões do templo, dos charlatões de plantão e dos enganadores disfarçados de crentes. O objetivo dessa gente é escuso, por detrás da cortina de seus "ministérios ungidos" estão motivos e compromissos materiais que os escravizaram mesmo pregando uma mensagem de liberdade.

Caro amigo leitor, o preço de nossa salvação e das bênçãos celestiais reservadas para nós já foi pago. Louvado seja Deus! A sua salvação, a cura divina, os dons espirituais, a transformação da vida, a restauração da família, a libertação de seus filhos e a vida eterna já estão com valores liquidados pelo grandioso amor de Deus e pela oferta voluntária de Cristo Jesus. Não pague mais por aquilo que Deus já te oferece de graça e que está simplesmente ao alcance de sua fé nele! Abaixo as indulgências modernas de um cristianismo corrompido por mundo governado pelo espírito materialista.








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