Teologia

domingo, 14 de dezembro de 2014

DEVEM OS CRISTÃOS CELEBRAR O NATAL?



Ricardo André

O dia de Natal é considerado o mais jubiloso feriado de todo o ano, destinado à celebração do nascimento de Jesus Cristo, o Senhor. Entretanto, muitos cristãos o rejeitam alegando tratar-se de uma festa de origem pagã. É o Natal uma festividade pagã? Deve os cristãos comemorar o Natal? É certo que Cristo não nasceu no dia 25 de dezembro. Nada existe na Palavra de Deus, nem na história secular, onde se possa determinar Seu aniversário. Ele nasceu, provavelmente, no ano 4 ou 5 a.C. Mas, o dia certo ninguém sabe. A Bíblia não menciona o dia, nem o mês, possivelmente para evitar a idolatria de uma data.  A Bíblia informa que, quando Jesus nasceu, os pastores estavam no campo com suas ovelhas. Lucas 2:8 diz: "Ora, havia naquela mesma região pastores que estavam no campo, e guardavam os seus rebanhos, durante as vigílias da noite.” Pois bem, de março a meados de novembro, eles talvez pastoreassem à noite; mas dificilmente dormiriam ao ar livre no mês de dezembro, que é a estação fria na Palestina. Isso reforça a tese de que o Natal pode estar em dia errado. Nos primeiros séculos, o Natal foi celebrado em 25 de março, 6 de janeiro (na festa das  Epifanias, no Oriente) e mesmo em 25 de dezembro. A última data, porém só se firmou no quarto século, numa cristianização da grande festa mitraico-pagã Natale Solis Invicti (nascimento do Sol invencível). Na época, havia várias festividades situadas no solístico de inverno, em dezembro, como a Saturnália dos romanos e os cultos solares dos celtas. Foi o papa Júlio I que optou pelo dia 25. Isso teria acontecido por volta de 336. A data pegou primeiro no Ocidente, depois no Ocidente.

Deve os Cristãos Rejeitar as Celebrações Natalinas?

Por conta da origem pagã da data, muitas pessoas questionam se os cristãos devem comemorar o Natal. Deveríamos nós adventistas rejeitar o Natal por origens pagãs?  Não, pois não há na celebração da Natividade “origens pagãs”. Apesar de o Natal possivelmente coincidir com outras datas seculares, em si, seu estabelecimento celebra um evento profundamente Cristão, a encarnação de Jesus Cristo. O EVENTO celebrado é que cristianiza a data. A Bíblia tem vários exemplos de símbolos pagãos que foram usados para expressar verdades eternas, como a serpente no deserto que era símbolo de um Deus egípcio e símbolo do Dragão (Apo. 12), mas que Deus usou como símbolo de Cristo (João 3:14). A cruz era símbolo de tortura e opressão pelos romanos mas Deus a usou para realizar a expiação. O uso cristão desses símbolos modificou suas conotações.

Invertendo um pouco a analogia, o arco-íris foi usurpado pelo movimento homossexual e tem hoje fortes associações pagãs. Por que não vemos os críticos do Natal rejeitando o arco-íris como um símbolo da promessa divina por causa dessa associação?

Como Celebrar o Natal?

Assim sendo, é correto que celebremos o Natal? Respondemos: Sim, se o celebramos de maneira correta, coerentemente, se temos em mente o maravilhoso acontecimento que ele visa comemorar. Portanto, a questão é como celebrar o Natal. É como celebramos o Natal que agrada ou desagrada o Senhor. Que não devemos celebrar a data, isso é consenso entre os cristãos. Saber a data é irrelevante, pois comemoramos o evento e não uma data! Quem sabe Deus velou a data para nos concentrarmos justamente no evento, já pensou nisso? Na verdade, nessa ocasião deveríamos volver-nos, em espírito, ao magnífico dom do Salvador aos homens. O natal é uma oportunidade de refletirmos sobre o quanto Cristo está vivo em nossos corações, é tempo de renovarmos nossa entrega a Ele e, principalmente agradecermos ao Nosso Maravilhoso Deus por nos ter dado Seu Supremo Filho, Emanuel, Deus Conosco (Mt 1:23). Portanto, hoje celebramos simbolicamente o Natal em 25 de dezembro, mas esta não é com certeza a data em que Cristo nasceu. Como já foi dito dezembro é estação de inverno no hemisfério norte, onde não encontraríamos nenhum pastor cuidando do rebanho ao ar livre, como descreve o relato bíblico, e época também em que o Imperador não exigiria que houvesse um censo que obrigasse as pessoas a viajarem em pleno inverno. Contudo, não é pecado celebrar o Natal em 25 de dezembro ou em qualquer outro dia. Na verdade poderíamos e deveríamos celebrar e viver o espírito do Natal todos os dias do ano. Podemos, com propriedade, ler os relatos desse nascimento nos evangelhos de Mateus e de Lucas.

Não deveríamos celebrar egoisticamente essa ocasião. Caso presenteemos nossos familiares e amigos, devemos fazê-lo com coisas úteis e de real valor. E muito adequado é lembrarmo-nos, nessa ocasião, dos pobres e necessitados, dos doentes e sofredores. Achamos que o costume de muitas famílias e indivíduos de mandar cestas de Natal aos necessitados, é na verdade um belo costume.  A Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil há 21criou um Projeto denominado de “Mutirão de Natal”, que consiste na distribuição de cestas básicas, roupas e brinquedos a famílias carentes no período natalino. Penso que essa é uma maneira correta de celebrar esse evento maravilhoso. “As festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados que têm família grande para sustentar”. (Ellen G. White, Manuscrito 13, 1896).

Cremos que o leitor pode ampliar essa compreensão, e ampliá-la grandemente, na verdade, suplantá-la por um ideal mais elevado, e este é colocando uma árvore de Natal na igreja, numa cerimônia apropriada para a ocasião, e colocar nela dádivas em dinheiro para o avançamento do evangelho. E quão adequado seria, realmente, celebrar o nascimento de Jesus prestando apoio à obra de pregação, levar a luz do evangelho aos que não o conhecem. 

Comemorar o Natal, em si, não tem nada de errado. Mas o modo como o celebramos pode tornar-se errado. Por exemplo:

a) Enfatizar demais a figura do Papai Noel não faz bem a nossos filhos. O personagem central do Natal não é o Papai Noel, mas Jesus. Ele deve ser o objetivo supremo; mas da maneira em que o Natal tem sido observado, a glória é desviada dEle para o homem mortal, cujo caráter pecaminoso e defeituoso tornou necessário que Ele viesse ao nosso mundo.

 b) Valorizar apenas o ato de ganhar muitos presentes;

c) Exagerar nos alimentos ingeridos. “Lembremo-nos de que o Natal é celebrado em comemoração do nascimento do Redentor do mundo. Este dia é geralmente gasto em festas e glutonaria. Grandes somas de dinheiro são gastas em desnecessárias condescendências pessoais. O apetite e os prazeres sensuais são satisfeitos a expensas da força física, mental e moral. Todavia, isto se tornou um hábito. O orgulho, a moda e a satisfação do paladar têm tragado imensas quantias que a ninguém, em verdade, beneficiaram, mas animaram uma prodigalidade de meios desagradável a Deus. Esses dias são passados mais em glorificar ao próprio eu do que ao Senhor. A saúde tem sido sacrificada, o dinheiro, pior do que se fosse jogado fora; muitos têm perdido a vida. (Ellen G. White, Mensagens aos jovens, p. 311).

c) Extravagância nos gastos. Diz-nos Ellen G. White: “Pelo mundo os feriados são passados em frivolidades e extravagância, glutonaria e ostentação. (...) Milhares de dólares serão gastos de modo pior do que se fossem lançados fora, no próximo Natal e Ano Novo, em condescendências desnecessárias. Mas temos o privilégio de afastar-nos dos costumes e práticas desta época degenerada; e em vez de gastar meios meramente na satisfação do apetite, ou com ornamentos desnecessários ou artigos de vestuário, podemos tornar as festividades vindouras uma ocasião para honrar e glorificar a Deus”. Review and Herald, 11 de dezembro de 1879.

Conclusão

Embora alguns cristãos não concordem com a celebração do Natal não encontramos na Bíblia nenhuma proibição contra a comemoração do mesmo. Utilizar as belezas de uma árvore (criada por Deus), decorá-la e utiliza-la no Natal em si mesmo nada têm de idólatra ou pecaminoso. Votando à questão que levantamos no início: o Natal é uma festa pagã? Tudo depende de COMO o celebramos: Se nos ajoelhamos perante os deuses consumistas desse século, ele será pagão e secular. Se nos ajoelhamos ao pé da manjedoura e contemplamos o mistério da encarnação, faremos de Cristo o centro!

Caro amigo leitor, desejo que seu Natal seja um período de luz, paz e ESPERANÇA!

Nenhum comentário:

Postar um comentário