Ricardo
André
Nestes dias, quando os cristãos ao redor
do mundo olham mais uma vez para os eventos da cruz, quero fazer uma reflexão
sobre os momentos decisivos vividos por Jesus na quinta-feira que precedeu sua
crucificação. As Sagradas Escrituras registram em detalhes tudo o que aconteceu
com Jesus na noite daquele dia. Elas afirmam que, após ter celebrado a última
Páscoa e instituído a Ceia do Senhor, Jesus entrou no Getsêmani com os Seus
três discípulos mais íntimos (Pedro, Tiago e João) e pediu-lhes que orassem e
vigiassem, para que não entrassem em tentação (Mt 26:36-44; Mc 14:32-42; Lc 22:
39-44). Eles são testemunhas da agonia que o Mestre passou no jardim do
Getsêmani.
O texto bíblico indica que o
Getsêmani era um pequeno jardim que ficava em algum lugar relacionado ao Monte
das Oliveiras do outro lado do ribeiro de Cedrom (Lucas 22:40; João 18:1).
Muito provavelmente tratava-se de um bosque de oliveiras. Jesus inúmeras vezes
se retraia para fugir da agitação das multidões. Ali, buscava intimidade com o
Pai em momentos de meditação e oração. Naquele lugar, recebia coragem e
energias espirituais para enfrentar as lutas tremendas que lhe sobrevieram em
seu ministério. De acordo com o Dicionário
Bíblico Adventista, Getsêmani significa “prensa de óleo”, em aramaico. “É
provável que o local tenha recebido esse nome devido a uma prensa de azeitona
que havia na área” (p. 561). Nesse local as azeitonas eram prensadas, amassadas
e quanto mais esmagas melhor e mais valiosa se tornava a produção do puro
azeite de oliva. Jesus escolheu esse jardim para se preparar para o Calvário e
nesse local Cristo foi prensado, amassado, espremido e derramou pela primeira
vez seu sangue precioso por meio de lagrimas e suor. E foi neste lugar de
oração, onde os soldados encontraram Jesus e o prenderam.
A oração de angústia de Jesus no Getsêmani
Em seguida Jesus foi para um lugar um
pouco mais reservado. “Foi a uma pequena distância deles - não tão afastado que
O não pudessem ver e ouvir - e caiu prostrado por terra. Sentia que, pelo
pecado, estava sendo separado do Pai. O abismo era tão largo, tão negro, tão
profundo, que Seu espírito tremeu diante dele. Para escapar a essa agonia, não
deve exercer Seu poder divino. Como homem, cumpre-Lhe sofrer as consequências
do pecado do homem. Como homem, deve suportar a ira divina contra a
transgressão” (Ellen G. White, O
Desejado de Todas as Nações, p. 686). E, prostrado sobre o seu rosto, orou
ao Pai. Orou por mim, por você, por nós pecadores.
Com fortes brados e tristeza, Jesus
orou por três vezes: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia
não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42). Assim como nós, Jesus, em sua humanidade,
precisava de amigos, naquele momento tão difícil. “O coração humano
anseia simpatia no sofrimento. Esse anseio, experimentou-o Cristo até ao mais profundo
de Seu ser. Na suprema angústia de Sua alma, foi ter com os discípulos, com o
aflitivo desejo de ouvir algumas palavras reconfortantes daqueles a quem tantas
vezes concedera bênçãos e conforto, e protegera na dor e na aflição. Aquele que
para eles tivera sempre expressões de simpatia, sofria agora sobre-humana dor,
e almejava saber que estavam orando por Ele e por si mesmos. Quão negra se Lhe
afigurava a malignidade do pecado! Terrível foi a tentação de deixar que a raça
humana sofresse as consequências de sua própria culpa, e ficasse Ele inocente
diante de Deus. Se tão-somente soubesse que os discípulos compreendiam e
avaliavam isso, seria fortalecido. Erguendo-Se num doloroso esforço, dirigiu-Se
cambaleante ao lugar onde deixara os companheiros. Mas "achou-os
adormecidos". Mat. 26:40. Houvesse-os encontrado em oração, e ter-Se-ia
sentido aliviado. Estivessem buscando refúgio em Deus, para que as forças
satânicas não prevalecessem sobre eles, e Jesus Se teria sentido confortado por
sua firme fé” (Ibdem, p. 688).
Mesmo enquanto estava implorando por
forças para salvar a humanidade culpada e perdida, um turbilhão de traição e
deslealdade contra Ele estava ganhando ímpeto. Satanás se esforçava para
desencorajá-Lo. Ele e suas hostes do mal, as legiões da apostasia seguiam muito
atentamente essa grande crise na obra da redenção. Os poderes do bem e do mal
aguardavam para ver qual a resposta que seria dada à oração de Jesus Cristo.
Como substituto e refém do pecador, estava Cristo sofrendo sob a justiça divina.
Judas conduzia um bando de marginais religiosos para prender o Salvador, mas os
discípulos dormiam.
O coração de Cristo estava tão
profundamente ferido de pesar que Ele já estava derramando Seu sangue pelos
pecados da humanidade, mesmo antes de os cravos do Gólgota atravessarem Suas
mãos. O evangelista Lucas traz duas informações importantes sobre o que
aconteceu com Jesus no Getsêmani enquanto Ele orava. O escritor bíblico diz que
tamanha foi a angústia de Cristo que seu suor se tornou como gotas de sangue
caindo sobre a terra. Ele também informa que um anjo do céu apareceu para
confortar Jesus (Lucas 22:43,44).
Sobre isso, Ellen G. White declarou: “Anjos pairavam no local,
testemunhando aquela cena, mas apenas um foi comissionado para ir fortalecer ao
Filho de Deus em Sua agonia. Não havia alegria no Céu. Os anjos lançaram de
si suas coroas e harpas, e com o mais profundo interesse observavam
silenciosamente a Jesus. Desejavam cercar o Filho de Deus, mas o anjo
comandante não lhes permitiu, para que não acontecesse, ao contemplarem eles
Sua traição, que O livrassem; pois o plano tinha sido formulado e deveria cumprir-se”
(História da Redenção, p. 210). Bebeu o fel da nossa culpa e vergonha
a fim de nos dar a vida eterna. Por nós, esvaziou o cálice da ira a fim de
oferecer em seu lugar o cálice da reconciliação.
Segundo Ellen G. White, “três vezes
recuou Sua humanidade do derradeiro, supremo sacrifício. Surge, porém, então, a
história da raça humana diante do Redentor do mundo. Vê que os transgressores
da lei, se deixados a si mesmos, têm de perecer. Vê o desamparo do homem. Vê o
poder do pecado. As misérias e os ais do mundo condenado erguem-se ante Ele. Contempla-lhe
a sorte iminente, e decide-Se. Salvará o homem custe o que custar de Sua parte.
Aceita Seu batismo de sangue, para que, por meio dEle, milhões de almas a
perecer obtenham a vida eterna. Deixou as cortes celestiais, onde tudo é
pureza, felicidade e glória para salvar a única ovelha perdida, o único mundo
caído pela transgressão. E não Se desviará de Sua missão. Tornar-Se-á a
propiciação de uma raça que quis pecar. Sua prece agora respira apenas
submissão: "Se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-se
a Tua vontade." Mat. 26:42. Havendo tomado a decisão, cai moribundo no
solo do qual Se erguera parcialmente. Onde se achavam então os discípulos, para
pôr ternamente as mãos sob a cabeça do desfalecido Mestre, e banhar aquela
fronte, na verdade mais desfigurada que a dos outros filhos dos homens? O
Salvador pisou sozinho o lagar, e do povo nenhum com Ele havia” (O Desejado de Todas as Nações, p. 690).
O que fez o sofrimento de Cristo no
Getsêmani quase insuportável?
A dor de Cristo no Getsêmani foi
insondável porque o “cálice” que Ele bebeu ali representava a culpa, a aflição
e o pecado da humanidade ao longo de toda a História, tudo ajuntado, comprimido
e imposto sobre Sua natureza inocente, como se Ele fosse o originador e
perpetrador de todos os pecados e suas consequências. Ele suportou a ira do Pai
contra o pecado a fim de nos poupar da justa sentença de destruição; pois o
salário do pecado é a morte, e o aguilhão da morte é o pecado. Um homem comum
teria sucumbido sob carga tão pesada.
"Mas ele foi ferido por
causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados. " (Isaías 53:5).
A Bíblia diz mais: Àquele
que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus. (2 Coríntios 5:21. Cf. Is 53:10). Ele veio para
tomar o nosso lugar (Is 53).
Sobre isso, Ellen G. White escreveu: “Enquanto
o Filho de Deus Se achava curvado no Getsêmani, em atitude de oração, a
angústia de espírito que experimentava Lhe forçou dos poros um suor como
grandes gotas de sangue. Foi ali que O circundou o horror de grandes trevas.
Achavam-se sobre Ele os pecados do mundo. Ele estava sofrendo em lugar do
homem, como transgressor da lei do Pai. Ali teve lugar a cena da tentação. A
divina luz de Deus ia-Lhe fugindo ao olhar, e Ele passando às mãos dos poderes
das trevas. Em angústia mental, jazia prostrado na terra fria. Experimentava o
desagrado do Pai. Tomara dos lábios do homem culpado o cálice do sofrimento, e
propusera-Se a bebê-lo Ele próprio, dando em troca ao homem a taça da bênção. A
ira que devia ter caído sobre o homem, caía agora sobre Cristo. Foi ali que o
misterioso cálice Lhe tremeu na mão” (Testemuhos Para a Igreja, vol. 2, p.
203).
O sofrimento de Jesus foi gigantesco
e seu amor incomensurável! Muito obrigado JESUS por enfrentar a agonia e
aflição do Getsêmani por nós!
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