Ricardo
André
No dia 06 de outubro de
2008, o Pastor Adventista Yuri Ravem, publicou o texto “A Bateria como Instrumento Musical” no Blog Nisto Cremos, do qual
é um dos editores. Pode-se obter o texto no link: http://www.nistocremos.net/2008/10/bateria-como-instrumento-musical.html.
Nele, o referido Pastor procura mostrar que a Bíblia e o Espírito de Profecia
chancela o uso dos instrumentos de percussão na adoração a Deus. De uma feita,
dois amigos meus fizeram referência ao texto do pastor para tentar me convencer
que a Bíblia não proíbe o uso da bateria na adoração na igreja. Por conta
disso, passamos a fazer uma breve análise do mesmo. Preliminarmente, afirmamos
que os argumentos utilizados pelo Pr. Yuri Ravem são assaz frágeis, que não
convence ao estudante mais simples das Escrituras. Há diversos equívocos na “argumentação”
do Pastor. Aliás, seja dito de passagem, ele não apresenta nenhuma prova
contundente escriturística, tampouco do Espírito de Profecia. É mais
interpretação pessoal dos parcos textos citados por ele. Vejamos:
1) Ele afirma “que
havia instrumentos de percussão que eram usados na música do templo [no Velho
Testamento], escolhido por orientação divina para o louvor e adoração”. Afigura-se-nos
isto uma afirmação equivocada. Se o Pastor tivesse feito a leitura das
Escrituras Sagradas e do Espírito de Profecia desprovido de ideias
preconcebidas, teria descoberto que instrumentos de percussão como tambores,
tamboris e pandeiros nunca foram usados na adoração a Deus no Templo, na
sinagoga e na igreja apostólica. Estudos feitos por diversos teólogos e músicos
revelam, que a Bíblia relata que tambores foram usados apenas em ocasiões
festivas populares e não em cultos ou adoração. Eles foram sistematicamente
excluídos do Templo e não fazem parte da música celestial descrita no
Apocalipse (Ap 5:8-14; 7:9-12; 14:1-3; 15:2-4).
Para um estudo
pormenorizado desse tema veja os artigos de Levi de Paula Tavares, intitulado O Uso da Percussão na Adoração à Luz da
Bíblia (http://musicaeadoracao.com.br/20267/o-uso-da-percussao-na-adoracao-a-luz-da-biblia/), e
o do Dr. Samuele Bacchiocchi “A Crise de Identidade Adventista: Uma
Visão da Música de Adoração” (http://musicaeadoracao.com.br/20149/a-crise-de-identidade-adventista-uma-visao-da-musica-de-adoracao/).
Desafiamos aqui alguém
que nos mostre um único texto bíblico em que os tambores eram usados nos cultos
de adoração no Templo. A fim de provar pela Bíblia que Deus permitiu o uso da
percussão na adoração no Templo, cita o texto de II Crônicas 29:25, onde os
címbalos aparece na lista de instrumentos que deveriam ser usados na adoração
no Templo. Todavia, o Pr. Yuri ignora fundamentalmente dois fatos importantes:
a)
O címbalo foi o único instrumento de percussão usado no Templo (I Cr 16:5).
Instrumentos como tambores e tamboril (espécie de pandeiro) foram banidos do
Templo. Eles não aparecem na lista de instrumentação a serem usados no Templo,
mandado pelo Senhor.
b)
Outro
aspecto importante, que o Pastor demonstra desconhecer: Os címbalos não eram utilizados para dar ritmo a música. “Os címbalos eram constituídos por
dois pratos de metal com suas beiras dobradas, medindo, aproximadamente, 27 a
42 centímetros de largura. Quando golpeados verticalmente em conjunto, eles
produziam um toque, como um tinido” (Samuele Bacchiocchi, O Cristão e a Música
Rock, 206). Entretanto, esse instrumento era utilizado apenas pelo líder
do coro, não para acompanhar a música e dar ritmo a ela, mas como instrumento
de sinalização, para indicar o fim de uma linha e não o ritmo dentro de um
verso. (BACCHIOCCHI, p. 207).
Portanto, de acordo com
os estudiosos do assunto, os címbalos não eram utilizados para a marcação
rítmica, mas sim para a sinalização de finais de frases ou partes da música
(ver http://musicaeadoracao.com.br/28276/o-cristao-e-a-musica-rock-capitulo-7/).
A carência de espaço
não nos permite citar muitos exemplos e comentários de abalizados autores, em
torno desta questão, o Pr. Luterano e professor australiano John W. Kleining, por
exemplo, confirma o que disse o Dr. Samuele Bacchiocchi, acerca dos címbalos: “os
címbalos não eram usados pelo cantor-mor na condução do cântico, batendo o
ritmo da música, mas sim para anunciar o começo de uma estrofe ou de um
cântico. Uma vez que eles eram usados para introduzir o cântico, eram brandidos
pelo líder do coro em ocasiões ordinárias (I Crônicas 16:5) ou pelos três
líderes dos grupos em ocasiões extraordinárias (I Crônicas 15:19)”. E estes
três líderes estavam “sob a supervisão do rei” Davi (I Crônicas 25:6). De modo
semelhante, Curt Sachs em Rhythm and Tempo (Nova York, 1953), p. 79) explica
que “A música no templo incluía címbalos, e o leitor moderno poderia concluir
que a presença de instrumentos de percussão indicaria ritmos precisos. Mas há
pouca dúvida de que os címbalos, como em qualquer outro lugar, marcavam o fim
de uma linha e não o ritmo dentro de um verso.” (John W. Kleining, The Lord’s Song: The Basis,
Function and Significance of Choral Music in Chronicles (Sheffield, England,
1993) p. 82-83. Citado no artigo “Música na Bíblia
e a Dança”, de Levi de Paula Tavares).
Ainda sobre a maneira
como os levitas utilizavam os címbalos Kleinig explica: "Os címbalos não eram usados
pelo cantor para conduzir os cânticos mediante a marcação do ritmo da canção,
mas para anunciar seu início ou estrofe." (John Kleinig, A Canção do
Senhor, pág. 82).
Observe também esse
testemunho: "Os instrumentos de percussão eram reduzidos a um címbalo, que não
era empregado na música propriamente, mas simplesmente para marcar pausas e
intervalos." (A. Z. Idelssohn, A Música Judaica em Seu Desenvolvimento
Histórico, pág. 17. Citado no artigo “Música na Bíblia e a Dança”, de Levi de
Paula Tavares).
As Escrituras Sagradas
deixam claro que a bateria é um instrumento inadequado para o culto de adoração
a Deus. Por que Deus excluiu do Templo
os instrumentos de percussão? No livro “Cristãos em busca de Êxtase” o Pr.
Vanderlei Dorneles, Mestre em Teologia e Comunicação pelo Seminário Adventista
Latino Americano de Teologia, Campus 2, responde com nitidez essa questão:
“Davi quis fazer uma
casa para Deus, mas não lhe foi permitido. O rei era músico e Deus lhe deu
orientações para que tomasse todas as providências para o templo, que Salomão
edificaria. Entre essas orientações, Deus determinou os instrumentos (címbalos,
alaúdes e harpas) que deveriam fazer parte da música do templo. Em 2 Cr 29:25 é
dito que os levitas foram estabelecidos “NA CASA DO SENHOR COM CÍMBALOS,
ALAÚDES E HARPAS ... PORQUE ESTE MANDADO VEIO DO SENHOR, POR INTERMÉDIO DOS
SEUS PROFETAS”. Davi fez os instrumentos para serem usados pelos levitas. É
significativo, como esses instrumentos são designados em 2 Cr 7:6: “os
instrumentos músicos do Senhor, que o rei Davi tinha feito para deles se
utilizar nas ações de graças ao Senhor”. O artigo plural definido “os” indica
um grupo específico de instrumentos, que são qualificados como “do Senhor”. A
lista desses instrumentos aparece em diversas ocasiões, sempre sem inclusão do
tambor ou adufe (ver também I Cr 16:5; 25: 1, 6; Cr 5:12-13). Na purificação do
templo, empreendida por Ezequias, os levitas músicos são colocados em sua
função com os mesmos instrumentos feitos por Davi. Na cerimônia, a música
destes instrumentos é outra vez chamada de “CÂNTICOS DO SENHOR” (2 Cr 29:27).
Os únicos instrumentos que aparecem nas listas dos usados no templo, além dos
que foram confeccionados por Davi, são as trombetas (2 Cr 5:12-13; 29:27).
“A exclusão do tambor
no templo pode indicar que Deus não quis que o instrumento na música de
adoração por causa de sua relação direta com o misticismo pagão e por sua
influência no sentido de excitar as danças e embotar a consciência e o juízo. O
ritmo do tambor que inclinava as pessoas à dança deveria estar fora do culto
que requer a lucidez da mente para a compreensão da vontade de Deus. Além
disso, uma vez que o templo era uma representação do santuário celestial e do
trono de Deus, a música a ser usada ali deveria distinguir-se daquela usada nas
celebrações profanas” (págs. 192 e 193). (Grifo nosso).
O falecido Samuele
Bacchiocchi, Professor e Doutor em teologia na Andrews University (EUA), em seu livro “O Cristão e a Música Rock”, pp.
207-208, sustenta que “Uma restrição foi colocada aos instrumentos
musicais e às expressões artísticas usadas na Casa de Deus. Deus proibiu vários
instrumentos, os quais eram permitidos fora do templo nas festividades
nacionais e no prazer social. A razão não é que certos instrumentos de
percussão fossem maus per se. Os sons produzidos por quaisquer instrumentos
musicais são neutros, como uma letra do alfabeto. Em vez disso, a razão é que
estes instrumentos eram comumente usados para produzir música de
entretenimento, a qual era imprópria para a adoração na Casa de Deus. Através
da proibição desses instrumentos e de estilos de música, como a dança,
associados ao entretenimento secular, o Senhor ensinou ao Seu povo uma
distinção clara entre a música sacra, tocada no templo, e a música secular, de
entretenimento, usada na vida social.”
“Dr. Wolfgang Stefani
considera que o ritmo, produzido mais propriamente pelo tambor, é a
característica mais eminente e essencial da música africana, já amplamente
relacionada com as experiências de transe e possessão” (Cristãos em Busca do
Êxtase, p. 193). Nada mais claro.
“Uma vez que o templo
de Israel era uma representação do santuário celestial e do trono de Deus, a
música na igreja hoje deve ter sua referência maior na música usada nesse
templo. Não só a música do templo, mas tudo a que se fazia ali reproduzia a
ordem, a beleza e a perfeição do templo de Deus no Céu. O santuário terrestre
representava o templo celestial feito pelo próprio Deus. Portanto, a música a
ser executada ali perante o Senhor deveria ser diferente daquela usada nas
festas comuns.
“E na igreja hoje?
Ellen White nos lembra que a assembleia dos filhos de Deus aqui na Terra (na
igreja) tem o propósito de prepará-los para aquela assembleia mais solene ainda
(no santuário celestial). Diz ela: "Para a alma crente e humilde, a casa
de Deus na Terra é como que a porta do Céu. Os cânticos de louvor, a oração, a
palavra ministrada pelos embaixadores do Senhor, são os meios que Deus proveu
para preparar um povo para a assembleia lá do alto, para aquela reunião sublime
à qual coisa nenhuma que contamine poderá ser admitida. Da santidade atribuída
ao santuário terrestre, os cristãos devem aprender como considerar o lugar onde
o Senhor Se propõe encontrar-Se com Seu povo" (Testemunhos Seletos, vol. 2,
pág. 193). (Vanderlei Dorneles, A Bateria à Luz da Antropologia e da Bíblia).
2) Na inglória
tentativa de dar uma fundamentação bíblica à sua opinião, o Pastor Yuri Ravem
apela para o uso dos címbalos e adufes (tamborins) no Salmo 150:1-5, para
argumentar que a Bíblia não proíbe instrumentos de percussão na igreja hoje,
desconsiderando o contexto do Salmo 150. Mas tudo inteiramente destituído de
fundamento. Tal argumento ignora dois fatos importante para a compreensão do
mesmo:
a)
A época em que o Salmo fora escrito. Segundo estudiosos no
assunto, Davi teria escrito o Salmo no período anterior ao Templo de Salomão.
Como sabemos disso? Uma vez que no templo a partir de Salomão os tambores não
entraram (II Cr 29:25 e 26), é óbvio que o Salmo 150 tenha sido escrito antes
do templo ser construído. Período em um momento histórico da vida de Israel
onde não havia ainda uma nítida orientação acerca da forma apropriada para a
adoração litúrgica. Este amadurecimento e transformação do culto de adoração
ocorreria primeiramente no transporte da arca para Jerusalém (Vanderlei
Dorneles, Cristãos em Busca de Êxtase, p. 192,) e depois, de forma plena,
quando foram feitos os preparativos para o serviço levítico do templo a ser
construído por Salomão. (Idem, p. 193-194). Estudos revelam que ao longo da
história de Israel, o povo progressivamente foi abandonando os velhos costumes
egípcios e babilônicos. Entre esses costumes que foram abandonados, destacamos
as danças e o uso de tambores. Se lermos as histórias em suas sequências
lógicas, tendo como base a liturgia, perceberemos claramente tal fato. Ainda
citamos subsidiariamente o Pr. Gilberto Theiss que discorreu pormenorizadamente
sobre a cronologia do Salmo 150, no artigo intitulado “Danças e Tambores no Salmo 150”, que reafirma a ideia de que o
Salmo 150 tenha sido escrito numa época anterior a da construção do Templo,
quando Deus ainda não tinha dado claras orientações sobre como deveria ser efetuado o louvor. (http://musicaeadoracao.com.br/20153/dancas-e-tambores-no-salmo-150/).
b)
Outro fato ignorado pelo Pr. Yuri é a linguagem figurativa presente nos salmos.
É preciso esclarecer que, esse livro da Bíblia foi escrito em linguagem
poética, usando muitas expressões figurativas.
Desse modo, os salmos não podem em sua totalidade ser interpretado
literalmente. O bom estudante da Bíblia observará que esses salmos usam
linguagem poética, ou figurada, para enfatizar a importância de louvar ao
SENHOR.
No verso 5 do salmo 149
encontramos uma expressão difícil de ser colocada em prática: "Exultem de
glória os santos, cantem de alegria nos seus leitos." Como isso deveria
ser posto em prática? Deveríamos nos deitar em nossas camas só para cantar ou
deveríamos começar a cantar no intervalo do nosso sono, às 2 ou 3 horas da madrugada?
Será que esse verso estaria recomendando aos que forem hospitalizados para que
cantem em seus leitos enquanto o vizinho da cama ao lado estiver tendo um
enfarte? Nada disso, é claro.
Observemos ainda como
seria complicado interpretar tal salmo fora da linguagem poética, especialmente
os versos 6-9: "Estejam na sua garganta os altos louvores de DEUS, e na
sua mão espada de dois gumes, para exercerem vingança sobre as nações, e
castigos sobre os povos; para prenderem os seus reis com cadeias, e os seus
nobres com grilhões de ferro; para executarem neles o juízo escrito; esta honra
será para todos os santos. Louvai ao SENHOR!" Alguém seria louco o
bastante para afirmar que o salmo 149 estaria mandando os filhos de DEUS o
louvarem enquanto se transformam em um grupo de extermínio ou em um novo
esquadrão da morte?
É bom observar no
entanto que, embora cite o adufe, o salmo não diz que o mesmo devesse ser
tocado no templo. Será que o Pastor Yuri e as demais pessoas que desculpam o
uso da bateria com esse texto gostariam de levar armas de guerra para a igreja?
E os grilhões de ferro citados no salmo, seriam para ser usados na igreja
também?
O mesmo se dá com o
salmo 150. Já no primeiro verso encontramos a frase: "louvai-o no
firmamento, obra do seu poder!" A Bíblia nunca usa a expressão firmamento
para o lugar em que DEUS está, no céu; tampouco o salmo foi escrito para
ensinamento dos anjos. Se o firmamento é esse céu que nós vemos, onde estão as
nuvens, e o avião não havia sido inventado quando o salmo foi escrito, o que o
salmista pretendia dizer? Será que as pessoas daquela época tinham a capacidade
de usar os braços como asas e voar até as nuvens para cantar?
Como explica o Pastor
Bacchiocchi: “Por exemplo, não há nenhuma maneira no qual o povo de Deus, na terra,
possa louvar o Senhor “no firmamento, obra do seu poder”. O propósito do salmo
não é especificar o local e os instrumentos a serem usados para o louvor
durante o culto divino, mas sim convidar a tudo o que respira ou emite som a
louvar o Senhor em qualquer lugar. O salmista está descrevendo com linguagem
altamente figurativa a atitude de louvor que deveria caracterizar o crente a
toda hora e em todos os lugares. Interpretar este salmo como uma licença para
dançar, ou tocar tambores na igreja, é interpretar de forma errada sua
intenção.” (O Cristão e a Música Rock, p. 33).
Quando o Pastor cita o
Salmo 150:4 para justificar a presença da bateria na igreja ("Louvai-o com
adufes e danças ... com címbalos retumbantes"), não percebeu está
automaticamente sancionando a prática da dança, visto que também existe essa
orientação no referido texto. Com base nessa afirmação, certamente não seria
errado alguns irmãos planejar formas "equilibradas" de dançar na
igreja.
É por demais importante
que pensemos seriamente nestas questões:
a) Qual o efeito do uso
da bateria e outros instrumentos de percussão sobre o caráter do culto? Ela
contribui para a solenidade e reverência? Ou é o oposto? As igrejas que
adotaram seu uso nos cultos tiveram um incremento em sua experiência espiritual
ou apenas no número de membros? Qual é, realmente, a razão de buscarmos adotar
instrumentos de percussão, além de desejarmos fazer um estilo de música mais
semelhante às práticas musicais do mundo? A experiência tem mostrado que em vários
lugares onde se introduziram a bateria o resultado foi divisão e confusão.
b) A bateria não produz
melodia tampouco harmonia. Ela só serve para dar ritmo, produzir só agressivo,
que causa forte resposta física e emocional, provado cientificamente. É importante
ler o que a ciência diz a respeito dos efeitos no corpo quando ficamos expostos
à música com ritmo acentuado e ao ruído produzido por instrumentos que não
emitem sons. É isso que Deus quer do seu povo, que o adorem com músicas
barulhentas e ritmadas pela bateria? De acordo com as Sagradas Escrituras, o
culto que Deus quer é um culto “racional” (Rm 12:1, 2).
Ademais, o Espírito de
Profecia nos orienta acerca do tipo de músicas que devemos utilizar em nossa
adoração a Deus:
"Que haja cântico
no lar, de hinos que sejam suaves e puros, e haverá menos palavras de censura e
mais de animação, esperança e alegria." (Ellen G. White, Educação, pág.
167).
"Pensam alguns
que, quanto mais alto cantarem, tanto mais música fazem; barulho, porém, não é
música. O bom canto é como a melodia dos pássaros - dominado e melodioso."
(Evangelismo, pág. 510).
"E quanto mais
perto o povo de Deus puder aproximar-se do canto correto, harmonioso, tanto
mais é Ele glorificado, a igreja beneficiada, e os incrédulos favoravelmente
impressionados."(Testemunhos Seletos, Vol. 1, pág. 45).
De acordo com o
Espírito de Profecia, os cânticos de louvor a Deus devem ser “suaves e pura”,
“não barulhenta”, “melodiosa e dominada”, coisas que a bateria não produz.
c) Segundo Karl
Tsatalbasidis, um ex-baterista de banda Jazz que estudou com os maiores músicos
do Canadá e hoje é cristão adventista, “A bateria foi inventada para o único
propósito de fortalecer a música jazz, blues, rhythm and blues e todas as
variedades de rock-n-roll. Por isso, não pode ser separada da origem da música
rock e jazz. Nenhuma música pode incorporar a bateria sem, automaticamente,
transformar-se em rock, jazz ou seus híbridos” (Drums, Rock and Worship –
Modern Music in Today’s Church, Amazing Facts, Roseville, CA, USA, 2003).
3) Em seguida, no texto
que estamos considerando, o Pastor Yuri levanta a seguinte questão: “A Bíblia ou Espírito de Profecia Proíbem a
Bateria?” Como resposta cita o seguinte trecho do Espírito de Profecia: “Nas
reuniões realizadas, escolha-se um grupo de pessoas para tomar parte no serviço
de canto. E seja este acompanhado por instrumentos de música habilmente
tocados. Não devemos opor ao uso de instrumentos musicais em nossa obra. Esta
parte do serviço deve ser cuidadosamente dirigida; pois é o louvor de Deus em
cântico” (Testimonies, vol. 9, págs. 143 e 144; citado no Manual da Igreja,
edição revisada em 2000, pág. 72)”. Então, conclui: “Uma
vez que não há nenhum texto no Espírito de Profecia que condene o uso de
bateria ou percussão como instrumento a ser usado no louvor (ou qualquer outro
instrumento) pode-se afirmar o seguinte: a ênfase não é qual o instrumento a
ser usado, mas como ele é usado. A recomendação é ser habilmente tocado, e é
claro, nos princípios bíblicos”.
Venhamos e convenhamos
a citação de Ellen G. White mencionada pelo pastor não autoriza o uso da
bateria na igreja. Dizer isso é forçar o texto a dizer algo que não quer dizer.
É um grosseiro torcimento de sentido. Ellen White apenas orienta o uso de
instrumentos no louvor. Não diz quais. Ademais, vale ressaltar que na época em que Ellen White escreveu essa
mensagem, na Igreja Adventista do Sétimo Dia não se usava tambores em hipótese alguma. Logo é
um erro usar esse texto de Ellen White para chancelar o uso de instrumentos de
percussão que no momento de escrever não permeava sua mente. Isso contraria
todas as regras contextuais de interpretação. Nós não nos opomos ao uso dos
instrumentos musicais na adoração. O que nos opomos é o uso da bateria,
instrumento este que foi criado com propósitos contrários aos princípios
cristãos. E porque, como foi demonstrado anteriormente, ao orientar o uso da
instrumentação no Templo, Deus os excluiu, provavelmente por sua ligação com o
paganismo e o misticismo.
Por ignorância ou
deliberadamente, o Pastor Yuri não citou em seu texto uma importante profecia
do tempo do fim, de Ellen G. White, em que nitidamente condena os tambores. No
livro Mensagens Escolhidas, vol. 2, págs. 31-39, ela condenou o
movimento da “Carne Santa”, uma heresia que surgiu no meio do adventismo no
início do século XX. Aquela experiência serve não apenas como um exemplo
histórico da maneira pela qual tendências pentecostais se insurgiram na
denominação adventista, mas fornece um vislumbre do futuro paradigma na
adoração adventista. Ela condena alguns elementos dessa falsa adoração, entre
eles estão os tambores. Note-se cuidadosamente o que Ellen White comenta:
"As coisas que
descrevestes como tendo lugar em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ter
lugar imediatamente antes da terminação da graça. DEMONSTRAR-SE-Á TUDO QUANTO É
ESTRANHO. HAVERÁ GRITOS COM TAMBORES, MÚSICA E DANÇA. OS SENTIDOS DOS SERES
RACIONAIS FICARÃO TÃO CONFUNDIDOS QUE NÃO SE PODERÁ CONFIAR NELES QUANTO A
DECISÕES RETAS. E ISTO SERÁ CHAMADO OPERAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO.
“O ESPÍRITO SANTO NUNCA
SE REVELA POR TAIS MÉTODOS, EM TAL BALBÚRDIA DE RUÍDOS. Isto é uma invenção de
Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura,
sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo. É
MELHOR NUNCA TER CULTO AO SENHOR MISTURADO COM MÚSICA DO QUE USAR INSTRUMENTOS
MUSICAIS PARA FAZER A OBRA QUE, FOI-ME APRESENTADA EM JANEIRO ÚLTIMO, SERIA
INTRODUZIDA EM NOSSAS REUNIÕES CAMPAIS. A verdade para este tempo não necessita
nada dessa espécie em sua obra de converter almas. Uma balbúrdia de barulho
choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma
bênção. AS FORÇAS DAS INSTRUMENTALIDADES SATÂNICAS MISTURAM-SE COM O ALARIDO E
BARULHO, PARA SE TER UM CARNAVAL, E ISTO SERÁ CHAMADO DE OPERAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO.
(...) NENHUMA ANIMAÇÃO
DEVE SER DADA A TAL ESPÉCIE DE CULTO. (...)” Não entrarei em toda a triste
história; é demasiado. Mas em janeiro último o Senhor mostrou-me que seriam
introduzidos em nossas reuniões campais teorias e métodos errôneos, e que a
história do passado se repetiria. Senti-me grandemente aflita. Fui instruída a
dizer que, nessas demonstrações, acham-se presentes demônios em forma de
homens, trabalhando com todo o engenho que Satanás pode empregar para tornar a
verdade desagradável às pessoas sensatas; que o inimigo estava procurando
arranjar as coisas de maneira que as reuniões campais, que têm sido o meio de
levar a verdade da terceira mensagem angélica perante as multidões, venha a
perder sua força e influência."
“(...)"O ESPÍRITO
SANTO nada tem que ver com tal confusão de ruído e multidão de sons como me
foram apresentadas em janeiro último. Satanás opera entre a algazarra e a
confusão de tal música, a qual, devidamente dirigida, seria um louvor e glória
para DEUS. Ele torna seu efeito qual venenoso aguilhão da serpente. (...)” "Satanás fará da música um laço (...)”.
No contexto dos últimos
dias, Ellen White afirma que manifestações como a ocorrida em Indiana serão a
regra, não a exceção. De alguma forma, “gritos”, “tambores”, música” e “dança”
acompanharão o repertório de nossa música. Obviamente, a autora relaciona essa
mudança de valores musicais como um estratagema de Satanás, para confundir “os
sentidos dos seres racionais”. Essa aproximação satânica com a maneira pagã de
adorar seria considerada “operação do Espírito Santo”.
É digno de nota que no
momento do louvor e adoração em Indiana, havia muitos instrumentos sendo usados
como “um órgão, um contrabaixo, três violinos, duas flautas, três tamborins,
três trompas e um grande tambor”, testemunhado por alguns. (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 31). Também
descrito no livro “Música, sua
influência na vida do cristão, págs. 36 a 38. A pergunta que fazemos
é: se na reunião em Indiana muitos
instrumentos faziam parte do louvor naquele momento, porque, então, Ellen White mencionou somente os tambores em
suas observações de coisas estranhas que ocorreram naquele louvor? Veja:
“O que você descreveu
como tendo acontecido em Indiana, o Senhor revelou-me que haveria de ocorrer
imediatamente antes da terminação da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é
estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança” (Mensagens Escolhidas, 36 e Música, sua
influência na vida do cristão, pág. 38 e 39).
Note que ela associou
os tambores a coisas estranhas em Indiana e que tal estranheza teria lugar
novamente antes da terminação do tempo da graça em nosso meio. Pois assim
afirmou a mensageira do Senhor, que: “Seria introduzida em nossas reuniões”. (Mensgens
Escolhidas, vol 2, p. 36).
Portando a revelação
recebida a respeito do ocorrido em Indiana deixa evidente que, se os tambores
foram os únicos que na visão da serva do Senhor foram postos num contexto
negativo, é porque tais instrumentos não deveria fazer parte da adoração a
Deus.
Ellen White ainda
comentando a respeito diz que “Os que participam do suposto reavivamento
recebem impressões que os levam ao sabor do vento (...). Nenhuma animação deve
ser dada a tal espécie de culto.” (Idem, p. 37).
Recebeu também claras
orientações de Deus para compreender que “O Espírito Santo nunca se revela por tais
métodos, em tal balbúrdia de ruído. Isso é uma invenção de satanás para
encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera,
elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo” (Idem, p. 36).
4) Quanto a questão da
posição oficial da igreja levantada pelo pastor, de fato, nos documentos da
Igreja não há nenhuma proibição direta do uso de percussão. Não há nenhum voto
da Associação Geral nem chancelando nem proibindo o uso dos tambores na
adoração a Deus. Todavia, não é correto usar o “silêncio” da igreja a
respeito do uso ou não da bateria para afirmar que pode ser usado. Se
esse raciocínio fosse correto podemos, então advogar o usa do berimbal no
contexto da igreja para adorar a Deus, uma vez que não há nenhum voto contra da
Associação Geral. Podemos, inclusive, tomar coca-cola e ficar com a consciência
completamente tranquila diante de Deus, porque a Associação Geral não criou
nenhum voto contra para apresentar os seus malefícios. Se o argumento do
silêncio for princípio de interpretação, então podemos dar razão aos
evangélicos por afirmarem que não existe nenhum texto bíblico após a
ressurreição de Jesus que seja explícito sobre a guarda do sábado. O amigo
percebe como esse argumento é perigoso?
O voto sobre Filosofia de Música Adventista aprovado em 2005,
apenas oferece princípios que devem nortear a composição e apresentação da
música. E se formos analisar tais princípios e aplicá-los aos estilos de
músicas adotadas atualmente pelas igrejas, a maioria dessas músicas não
resistiriam às provas, em grande parte por conta do uso da bateria que torna as
músicas mais ritmadas, dançantes e barulhentas. O bom senso requer a exclusão
de tais instrumentos na adoração.
É preciso que Pastores,
Anciãos, Líderes e membros entendam que a verdade acerca dessa questão ou de
qualquer outra, não se estabelece pelo que afirmam homens falíveis, por mais
cultos e considerados que sejam, ou pelo que EU ACHO, mas pelo infalível: “Assim
diz o Senhor”. Esta é a norma. Portanto, devemos abandonar completamente nossa
opinião para nos apegar com força num assim diz o Senhor. As muitas
divergências existem em nosso meio por conta exatamente, do fato de que
queremos aferir a verdade pelo nossa opinião pessoal em detrimento das Sagradas
Escrituras.
É muito oportuna a
importante declaração do Pastor Jorge Mário, e é com ela que concluo esse
artigo: “Ninguém deve ser regra para ninguém. Cada pessoa deve estudar,
observar, conhecer os fatos e as verdades por si mesma. Há muita preguiça nesta
direção e por isto muita confusão. Também existe muito: EU ACHO e pouquíssimo O
QUE DEUS ACHA. Meu povo pereceu por falta de conhecimento diz o profeta.
Faremos parte deste grupo? A revelação está aí. Existe água pura, maná e
bálsamo em Gileade. É só buscar. "Buscar-me-eis e me achareis quando me
buscardes de todo o coração.”
O leitor sincero que
julgue.
Nenhum comentário:
Postar um comentário