A MÚSICA QUE AGRADA A DEUS
Dr.
Hélio dos Santos Pothin
A música foi instituída
por Deus, no Céu, a fim de ser executada pelos seres criados como um ato de
adoração ao Criador. Adorar é a expressão de amor e gratidão por quem Deus é e
pelo que fez e faz por nós. Quando adoramos a Deus, estamos oferecendo todo o
nosso ser a Ele. Assim, adorar é agradar a Deus e é ação contínua entre os
seres celestiais (1o Seminário de Enriquecimento Espiritual: Comunhão e
Santidade, D.S.A. da IASD, p. 89 e 90). Ela está centralizada unicamente em
Deus e não no gosto do adorador.
A música é um meio tão
intenso e importante de contato dos seres criados com seu Criador que Deus doou
a Lúcifer capacidade inigualável para executar e dirigir a música celestial.
Assim ficou instituída, desde o Céu, a Música Sacra, separada para um propósito
santo - agradar a Deus.
Com a decisão de
Lúcifer de não mais adorar a Deus e sim de ser adorado, foi destituído de suas
funções e privilégios e expulso do Céu. Não perdeu porem, a capacidade musical
que recebeu. Aqui em nosso planeta usa sua esplêndida capacidade para fazer
também da música um ato para sua adoração e desvirtuar, assim, a adoração a
Deus. Em vista disso, através da música os seres humanos podem adorar ao
Criador ou a Satanás.
No decorrer deste
artigo veremos as características da verdadeira adoração e da música perfeita
do Céu; as mudanças que a música sofreu após a influência de Satanás e quais os
efeitos que os principais elementos da música exercem em nosso corpo; como a
música profana se misturou com a música sacra e com a adoração, e por fim, qual
o tipo de música que agrada a Deus e que será usada para Sua adoração pela
eternidade.
Adoração
A adoração é o tema do
conflito entre Cristo e Satanás porque ambos desejam nossa adoração. Muitas
pessoas hoje tendem a ver a adoração como uma atividade que visa trazer
benefícios para elas mesmas. Elas querem tocar, sentir, receber. Contudo, o
objetivo principal da adoração é render honra e tributo ao Criador, sentindo
Sua presença e conectando-se à fonte da vida. Não é suficiente ir à casa de
Deus, adorar a Deus e prestar-Lhe culto; é necessário que essa adoração e culto
sejam oferecidos a Deus e sejam aceitos por Ele assim como a oferta de Abel, e
não rejeitados como a de Caim.
Além disso, "a
adoração deve ser espiritual e verdadeira. Isso quer dizer que ela precisa ser
centralizada em Deus; ser mediada por Cristo; ser orientada pela Palavra de
Deus; envolver todo o ser; ser voltada para o passado, o presente e o futuro e
expressar exteriormente o que está no interior. Na adoração, o crente tem uma
nova visão de Deus e de si mesmo. Ele reconhece sua condição de pecado, busca a
graça, e então se sente perdoado, purificado e transformado. Aceita a missão de
Deus para sua vida e leva a adoração para o espaço secular, vivenciando o
sagrado no dia-a-dia." (Marco de Benedicto, Território Sagrado, Revista
Sinais dos Tempos, Maio-Junho, 2003, pp.07-10).
"A queda do homem
afetou todos os aspectos da sua vida e do seu ser, e decadência e degeneração
foram o resultado natural (...) O diabo usou a ferramenta do engano, com o
propósito expresso de desacreditar o Criador. No conflito entre o bem e o mal
que se seguiu, o qual já estava firmemente estabelecido e que continuou através
dos tempos, houve evolução deste engano básico. Para cada boa coisa provida por
Deus, Satanás tem uma contrafação. Sábado pelo Domingo ou outros dias;
Casamento - da monogamia para a bigamia, para a poligamia, ou casamentos em
série; Adoração a uma única divindade, o verdadeiro Deus, para a
idolatria." Em razão disso, "os nossos sentidos não devem ser a única
base de julgamento, uma vez que o pecado é, normalmente, agradável (o inverso
não é, necessariamente, verdadeiro - fazer o que é certo é desagradável.) e a
determinação do que é certo ou errado não está baseada em um voto da
maioria" (Vernon E. Andrews, Considerações para a Avaliação da Música na
Igreja: Uma Abordagem Bíblica, agosto, 1988).
Na Bíblia o apóstolo
relata que verdadeiros adoradores adorarão a Deus em espírito e em verdade,
porque são estes que o Pai procura para seus adoradores (João 4: 23). Paulo diz
para orar e cantar com o espírito e com a mente(I Coríntios 14:15).A profetiza
do Senhor também esclarece a cantar com espírito e entendimento (Ellen G.
White. Mensagens Escolhidas, C. P. B. Tatuí, SP, 2ª ed. 1986, Vol. III, p.
335). Podemos entender, assim, que a adoração deve ser um evento intelectual e
emotivo e realizada de maneira a utilizar tanto o espírito = sentimento e
emoções, quanto a mente = razão, raciocínio, vontade, discernimento, verdade.
Além disso, as emoções devem estar sob o controle da mente (I Coríntios 14:32).
A palavra de Deus explica porque a adoração deve ser desse modo (João 4: 24),
pois Deus é espírito, ou seja, não possui corpo físico ou de matéria, por isso
devemos oferecer uma adoração intelectual e com emoção.
Quando adoramos a Deus
em espírito (emoções) e em verdade (mente), entramos numa conexão tal com Ele
que experimentamos transformação pessoal. Portanto, a adoração não é algo centrado
em nós, mas em Deus.
“Deus sempre deixou
claros os princípios que regem a verdadeira adoração. A fim de remover toda
dúvida quanto ao que lhe é aceitável, Deus poderia facilmente ter revelado Sua
vontade em relação à música e à adoração num único capítulo ou livro da Bíblia,
como Ele fez com os Dez Mandamentos, mas Ele escolheu não fazê-lo. Em vez
disso, Ele deu princípios infalíveis em sua palavra que governam e transcendem
as questões de cunho cronológico, étnico, cultural e gosto individual” (Eurydice
V. Osterman, O Que Deus diz sobre a Música, Unaspress, Eng. Coelho, SP, 4ª ed.
2004, pp. 1-2).
Ele tem realizado isto
desde o Céu, depois no Éden, durante a instituição da nação de Israel, na
igreja cristã primitiva e, ultimamente, pelas palavras escritas nos livros do
Espírito de Profecia.
Enquanto a música
executada para adoração a Deus seguir estes princípios continuará sendo Sacra.
Por outro lado, devido à influência de Satanás no mundo, surgiu música
diferente a qual não é apropriada para a adoração a Deus, não agrada a Ele, ou
seja, é música profana, comum. Diz-se profano em oposição ao sacro, aquilo que
não é próprio para as funções do culto (Dicionário Contemporâneo da Língua
Portuguesa Caldas Aulete, Editora Delta, Rio de Janeiro, 5aed. 1964).
“Uma vez que a música é
a única arte que será levada desta terra para o Céu, Deus não nos deixou em
ignorância sobre isto. Ele nos deu Sua palavra, o Santo Espírito e o Espírito
de Profecia para nos guiar ao tomarmos nossa decisão que terá impacto sobre nosso
destino eterno” (Eurydice V. Osterman. O Que Deus diz sobre a Música,
Unaspress, Eng. Coelho, SP, 4ª ed., 2004, p. XV).
Música
do Céu
Como a verdadeira
música de adoração a Deus é aquela executada no Céu, precisamos analisar as
características da música celestial a fim de também O agradarmos em nossa
adoração. Eis os relatos feitos pelo Espírito de Profecia com relação à música
sacra celestial:
1) ...“Acordes musicais
perfeitos, suaves e melodiosos. O cântico dos anjos não irrita os ouvidos. É
macio, melodioso e sem esforço físico” (Ellen G. White. Mensagens Escolhidas,
C. P. B. Tatuí, SP, 1ª ed., 1987, Vol. 3, p. 333).
2) “As notas longamente
puxadas e os sons peculiares, comuns no canto de óperas, não agradam aos anjos.
Eles se deleitam em ouvir os simples cantos de louvor entoados em tom natural.
Os cânticos em que cada palavra é pronunciada claramente em tom harmonioso, são
os que os anjos se unem a nós para cantar. Eles tomam o estribilho entoado de
coração com o espírito e o entendimento.” (Ellen G. White. Evangelismo, C. P. B. Tatuí, SP, pp.
510-511).
3) “Entre os anjos não
há exibições musicais tais como: movimentação física, voz áspera e estridente,
uso de todo o poder e volume de voz que é possível. Isso não traz nenhuma
melodia para aqueles que a ouvem na terra ou no céu. Essa maneira não é
aceitável a Deus“ (Ellen G. White. Mensagens Escolhidas, C. P. B. Tatuí, SP, 1ª
ed. 1987, Vol. 3, p. 333).
4) “O coro dos anjos
não apresenta notas estridentes e gesticulações” (Ellen G. White. Manuscrito 5,
1874).
5) “Deus não se agrada
de algaravia [confusão de vozes; algo difícil de compreender] e dissonância“
(E. G. White. Conselhos Sobre a Música, IAE, SP, 1989, p. 23).
6) Quando os salvos se
reunirão no céu: “Os anjos dirigentes desferirão o tom, e então todas as vozes
se alçarão em louvor grato e feliz, e todas as mãos deslizarão habilmente sobre
as cordas da harpa, originando uma música melodiosa, com acordes ricos e
perfeitos” (Ellen G. White. Primeiros Escritos, C. P. B. Tatuí, SP, pp.
288-289). “Seus dedos não corriam pelas cordas descuidosamente, mas faziam
vibrar diferentes cordas para produzir diferentes acordes... majestosa e
perfeita música do Céu” (Ellen G. White. Visões do Céu, C. P. B. Tatuí, SP, 1ª
ed. 2004, p.182).
7) “Depois dos anjos
dirigentes, todas as mãos deslizam com maestria sobre as cordas da harpa,
tirando-lhes uma música suave em ricos e melodiosos acordes. Diante da multidão
está a cidade santa. Jesus abre as portas e a angélica multidão entra por elas,
enquanto a música prorrompe em arrebatadora melodia” (Ellen G. White. O Grande
Conflito, C. P. B. Tatuí, SP, 27ª ed. 1981, p. 651); “Todo o Céu estava
esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às cortes celestiais. Ao
ascender, abriu Ele o caminho, e a multidão de cativos libertos à Sua
ressurreição O seguiu. A hoste celestial, com brados de alegria e aclamações de
louvor e cântico celestial, tomava parte na jubilosa comitiva.” (Ellen G.
White. O Desejado de Todas as Nações, C. P. B. Tatuí, SP, p. 833).
8) “Por entre o agitar
dos ramos de palmeiras, os redimidos derramam um cântico de louvor, claro,
suave e melodioso; todas as vozes apreendem a harmonia até que reboa pelas
abóbadas do Céu...” (Ellen G. White. Visões do Céu, C. P. B. Tatuí, SP, 1ª ed.
2004, p. 180).
Examinando o que foi
relatado nos livros do Espírito de Profecia, podemos notar que a música de
adoração executada no Céu, considerada perfeita, distingue e enfatiza apenas
dois dentre os elementos que a música possui: a harmonia e a melodia. Ela é
entoada com o espírito (emoções) e entendimento (mente). Além disso, não há
exibições musicais tais como: movimentação física, dissonância, voz áspera e
estridente ou uso de todo o poder e volume de voz que é possível.
"Para a alma
crente e humilde, a casa de Deus na Terra é como que a porta do Céu. Os
cânticos de louvor, a oração, a palavra ministrada pelos embaixadores do
Senhor, são os meios que Deus proveu para preparar um povo para a assembleia lá
do alto, para aquela reunião sublime à qual coisa nenhuma que contamine poderá
ser admitida” (E. G. White. Testemunhos Seletos, C. P. B. Santo André, SP, 5 ª
ed. 1985, vol. 2, pág. 193).
Em nossos dias,
"temos acesso a informações científicas, conselhos inspirados e
experiências da vida que nos proporcionam um meio adequado para compreender a
natureza e objetivos básicos [da música]. Para os adventistas do sétimo dia que
leem e aceitam os escritos de Ellen G. White, o objetivo da música é claro:
louvar e glorificar a Deus e edificar o homem. Ela é um meio pelo qual Deus
pode comunicar-se conosco e revelar alguns aspectos de sua natureza divina.
Como tal, pode ser usada para promover a saúde física, emocional e mental do
indivíduo. Visto que a música pode ter acesso ao cérebro e ser desfrutada sem
que seja avaliado o seu conteúdo moral, é fácil de ver como Satanás pode obter
acesso à mente. Deste modo ele é capaz de embotar as percepções espirituais,
bem como suscitar ou estimular certos estados emocionais" (H. Lloyd Leno,
Música – Seus Efeitos Sobre o Homem (Parte III), Revista Adventista, abril de
1977, pp. 40 a 43).
"O poder da música
possui uma dinâmica maior do que é normalmente compreendido. Ela pode divertir,
controlar o humor, levar às lágrimas, incitar à ação ou movimento, etc. A
experiência de Saul e Davi aponta para o poder da música. A referência aqui é,
essencialmente, à música sem palavras. Quando existe a combinação da letra com
a música o impacto pode ser ainda mais revelador. E. G. White faz o comentário,
'É um dos meios mais eficazes para impressionar o coração com as verdades
espirituais.' (Educação, C.P.B. Santo André, SP. 5 ª ed. 1977, p. 167)"
(Vernon E. Andrews, Considerações para a Avaliação da Música na Igreja: Uma
Abordagem Bíblica, agosto, 1988). Precisamos nos lembrar que a música não é
apenas um veículo para as palavras, mas tem uma mensagem em si mesma. Ela tem
poder para expandir a mensagem das palavras que acompanha ou para corrompê-la.
A música pode enobrecer o impacto das palavras ou diminuí-lo.
As emoções estimuladas
pela música devem estar adequadas às palavras. As palavras acerca do amor de
Jesus apresentada com uma música que estimula ira, violência e agressão
produzem "uma comunicação confusa da verdade, a qual é moralmente
repreensível e não apenas uma questão de gosto" (W. H. M. Stefani.Música e
Moralidade: O Cristão e a Música Rock. p. 354).
"O que causa as
diferenças na resposta à música, já que toda música utiliza um meio comum - o
Som? Sinteticamente, a resposta é esta: Embora o meio seja o mesmo, a mistura
dos elementos é diferente e isto é crucial" (Vernon E. Andrews,
Considerações para a Avaliação da Música na Igreja: Uma Abordagem Bíblica,
agosto, 1988). Os principais elementos de uma composição musical são: melodia,
harmonia, ritmo, timbre e andamento. O que define o tipo de música é a
disposição e a relação entre seus elementos e os efeitos que eles produzem no
organismo dos ouvintes.
Como
a Música é Percebida e Afeta o Corpo
Música é a arte de
combinar os sons de um modo agradável ao ouvido. O som é uma forma de energia
que se propaga através de ondas de compressão e descompressão do ar. Quando
essas ondas chegam aos nossos ouvidos as células ciliadas do interior da cóclea
as transformam em impulsos elétricos. Esses impulsos são conduzidos pelos
nervos, por isso também são chamados impulsos nervosos.
As ondas produzidas por
uma fonte sonora podem ter ou não comprimento definido (frequência
determinada). A maioria dos sons é formada por um conjunto de ondas com
comprimentos variados. Quando ondas sonoras com comprimento definido são
transformadas, no ouvido, em impulsos nervosos, serão traduzidas pelo córtex
(camada cinzenta mais externa do cérebro) auditivo como um tom. Os tons agradam
nossos ouvidos de uma maneira como não conseguem fazer os sons. A música exige
tons que tenham altura e duração fixas. Estas proporcionam ao Cérebro condições
de descobrir relações e proporções entre si e, assim, ir compondo um edifício
musical (Robert Jourdain, Música, Cérebro e Êxtase, Editora Objetiva, Rio de
Janeiro, 1998, p. 94).
Quando uma fonte sonora
envia ondas sem comprimento definido (freqüência indeterminada) nosso cérebro,
indistintamente, traduz essa informação como ruído (barulho). Este tipo de som
é compreendido como uma agressão e, por isso, nosso organismo se prepara para
enfrentá-la na forma de uma reação de estresse (1). Os mecanismos utilizados
para isso são tão potentes que, fisiologicamente, são utilizados durante uns
poucos minutos apenas, caso contrário se tornam mais prejudiciais do que
benéficos ao nosso corpo.
Semelhantemente a
qualquer situação de estresse, ocorre um aumento marcante na liberação dos
hormônios Cortisol e Adrenalina a fim de preparar nosso corpo para a fuga ou
para enfrentar à agressão (luta). Esses hormônios liberam glicose dos locais de
armazenamento, diminuem a utilização de glicose nos tecidos fazendo com seu
nível sanguíneo aumente; proporcionam maior fluxo de sangue para os músculos;
aumentam a pressão arterial, e deprimem o sistema imunológico (diminuem a
capacidade de combater doenças) (Música Research Notes, vol. IV, edição 2,
Outono de 1997: Norman M. Weinberger. The Musical Hormone,
(http://www.musica.uci.edu/mrn/V4I2F97.html); R. A. Rhoades e G. A. Tanner,
Fisiologia Médica, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2aed. 2005). O estresse é produto
do hemisfério esquerdo do cérebro. Se esse lado for predominante e se não
soubermos vivenciar as situações de tensão, poderemos ficar mais vulneráveis a
problemas graves, como infarto ou derrame (Adriana Toledo. Saúde é Vital, ed.
Abril, SP, julho 2008, p. 80).
Portanto, para nosso
sistema nervoso interpretar a melodia e a harmonia da música as ondas sonoras
que chegam ao sistema auditivo devem ser tons, ou seja, ter comprimento
definido (frequência determinada). Existem vários instrumentos que produzem
tons: piano, flauta, violino, trompete, clarinete, etc., mas outros
instrumentos, porém, não produzem tons e sim ruído: sinos, castanholas,
chocalhos, pratos, vários tipos de tambores (caixa, bumbo, pandeiros, bateria,
etc.) (2). Por isso, o que a maioria dos tambores fazem é exatamente uma
explosão de barulho (Robert Jourdain, Música, Cérebro e Êxtase, Editora
Objetiva, Rio de Janeiro, 1998, p. 65).
Assim, instrumentos
musicais que não produzem tons, mas ruídos, aumentam os níveis dos hormônios do
estresse nos ouvintes e, na relação entre os três elementos musicais
analisados, somente podem ser usados para acentuar o ritmo, pois não produzem
harmonia nem melodia (3).
O volume ou intensidade
do som igual ou acima de 90 decibéis gera ondas sonoras fortes, produzindo
vibrações que são sentidas através de todo nosso corpo, na forma de impactos
vibratórios e não apenas pelos ouvidos, na forma de sons.As freqüências mais
graves têm uma influência poderosa no corpo e nas emoções (entrevista na
Revista VeckoRevyn, No. 41, 1979, p.12). Quanto mais grave o som, maior o
comprimento e menor a freqüência da onda sonora e mais intensa é essa
influência. Portanto, sons nesta intensidade além de serem ouvidos são
literalmente "sentidos" pelo organismo. Estas vibrações afetam o
funcionamento dos órgãos internos e também estimulam a liberação dos hormônios
do estresse (MuSICA Research Notes, vol. IV, edição 2, Outono de 1997: Norman
M. Weinberger. The Musical
Hormone, (http://www.musica.uci.edu/mrn/V4I2F97.html).
Pesquisas revelam que
dentre os elementos da música, a Harmonia é percebida (torna-se consciente),
predominantemente, no Córtex Auditivo do hemisfério direito do cérebro. A
Harmonia é a ciência de combinar sons tocados simultaneamente de uma forma que
soem bem, pois assim nosso sistema nervoso os traduz como algo agradável. Aos
sons que se combinam chamamos de consonantes, os restantes são dissonantes,
pois falta ordem e relação entre eles; assim, se forem percebidos pelo sistema
nervoso como dissonantes (barulho ou ruído), provocam desconforto e ansiedade
(agonia) nos ouvintes (R. Jourdain, Música, Cérebro e Êxtase, editora Objetiva,
Rio de Janeiro, 1998, p. 139 e 153) (4).
Estudos revelam que há
um caráter inato na consonância clássica, onde a estruturação harmônica é
conseguida quando os sobretons têm freqüências múltiplas do tom fundamental.
Tanto é assim que bebês com poucos meses de vida, assim como, cobaias de
laboratório, demonstram preferir os intervalos consonantes (harmoniosos) em
relação aos muito dissonantes (intervalos de semitom paralelos) (Norman M.
Weinberger. Revista Mente e Cérebro, Edição Especial: Segredos dos Sentidos,
Ediouro, SP, pp. 47-53).
Na membrana basilar da
cóclea a freqüência do som é determinada pela posição da vibração e os impulsos
nervosos são enviados com um padrão de periodicidade e simetria. A
interpretação fisiológica psicoacústica é de que o sistema nervoso elabora o
conjunto dos sinais mais facilmente quanto menor a sua complexidade. Para isso
usa uma rede neural mais simples e esta circunstância gratificante é que dá
origem à consonância. Os sinais de consonância clássica são preferidos
(intervalo que vai da quinta perfeita à terça maior, incluindo quarta perfeita
e sexta maior), pois são mais fáceis de iniciar e decifrar e, além disso, são
mais próximos dos sons complexos naturais, mais familiares ao cérebro.
Gradualmente, porem, ao longo dos anos, a dissonância se tornou parte
integrante do discurso musical e assumiu o papel de ressaltar as consonâncias.
Ao ouvido educado desta maneira, a diferença entre dissonância e consonância
tende a perder-se: as duas se integram num tecido mais heterogêneo e espesso.
O gosto musical evolui
da preferência nítida pela consonância clássica no momento do nascimento, já
que esta consonância comporta reminiscências dos sons da natureza, para a
exigência de estruturas mais complexas e desviantes na idade madura, quando o
gosto se refina e se desenvolve (Andréa Frova. Revista Viver, Mente e Cérebro -
Edição Especial No 3: Percepção – Como o cérebro organiza e traduz a realidade
captada pelos sentidos. Artigo Bases da Harmonia na Música, págs. 71-77).
A Harmonia reside em
todo tipo de música, menos na puramente percussiva e ela é inerentemente
intelectual (R. Jourdain. Música, Cérebro e Êxtase, editora Objetiva, Rio de
Janeiro, 1998, pp. 139 e 153). Ao mesmo tempo em que o Tálamo (núcleo do
sistema nervoso central que recebe, processa e encaminha as informações vindas
do ambiente) direciona estes impulsos nervosos, gerados pela harmonia, para o
local de percepção auditiva, também os envia para serem processados no Córtex
Pré-Frontal – camada cerebral mais externa no Lobo Frontal. O Lobo Frontal é a
região do sistema nervoso central responsável pela razão, pelo raciocínio, pelo
entendimento, por elaborar os pensamentos (mente), as decisões, ou seja, é a
região intelectual do cérebro onde podemos analisar os conceitos adquiridos e
decidir entre o certo e o errado. Essencial para a consciência – onde age o
Espírito Santo.
Outro elemento da
música, a Melodia, também é percebida, predominantemente, no Córtex Auditivo do
hemisfério direito do cérebro. O hemisfério direito é particularmente
importante na vida emocional (R. Jourdain. Música, Cérebro e Êxtase, editora
Objetiva, Rio de Janeiro, 1998, p. 200). Os impulsos elétricos gerados no
ouvido interno pela melodia da música são enviados pelos nervos e, através do
tálamo, simultaneamente para o córtex cerebral e para o Sistema Límbico. As
estruturas nervosas dessa última região são responsáveis por elaborar e
desencadear os sentimentos e reações emocionais (emoções) como: alegria,
tristeza, ira, reverência, saudade, romantismo, sensualidade, excitação, paz,
ansiedade, medo, etc. Em virtude de sua natureza cíclica, essas emoções não são
intercambiáveis nem podem ser expressas simultaneamente. Por exemplo:Quando os
padrões cíclicos de impulsos nervosos chegam ao cérebro em intervalos de 9,8
segundos provocam emoção de reverência; 8,2 segundos, amargura; 7,4 segundos,
amor; 5,2 segundos, alegria; 4,9 segundos, impulso sexual e 4,2 segundos,
raiva. Por isso, as emoções de alegria e raiva ou reverência e alegria não
podem ser expressas simultaneamente, pois seus ciclos não coincidem (Eurydice
V. Osterman. O Que Deus diz sobre a Música, Unaspress, Eng. Coelho, SP, 4ª ed.
2004, p. 89) (5). Pesquisa publicada na revista Current Biology revela que a
capacidade de reconhecer emoções básicas na música, como alegria, tristeza e
medo, é universal e independe de influências culturais (I. Mocaiber, E.
Volchan, L. Oliveira e M. G. Pereira. Música emoção universal? Revista Ciência
Hoje, No259, maio de 2009 (http://cienciahoje.uol.com.br/145138).
Um terceiro elemento da
música, o Ritmo, diferentemente dos outros elementos musicais, é percebido,
predominantemente, no córtex auditivo do hemisfério cerebral esquerdo. O ritmo
da música tem a capacidade de influenciar os ritmos do corpo, por isso, é o
elemento da música que exerce influência nos mais variados locais do nosso
organismo. Entre tantos podemos citar os efeitos sobre: a liberação dos
hormônios nas glândulas, a liberação de neurotransmissores nos núcleos do
sistema nervoso central, a pressão arterial, as ondas cerebrais e os movimentos
corporais {Laurence O’Donnell. Music and the Brain
(http://www.cerebromente.org.br/n15/mente/musica.html)}.Toda música executada
com ritmo repetitivo, independente do instrumento que o produz, estoca energia
nos músculos, fazendo com que eles se contraiam e relaxem ritmicamente a fim de
liberar a energia armazenada, ou seja, produz movimentos físicos. Assim, pode
ser útil para regular o passo, o tempo e a cadência dos movimentos (Revista
Isto É. No2046 p. 68, 28/01/2009).
Toda música possui
ritmo, o qual pode ser classificado em dois diferentes tipos. O primeiro a ser
considerado é aquele conhecido como padrões de batidas acentuadas que podem ser
modificados pela sincopação e outros dispositivos a fim de torná-los mais
interessantes. Apresenta uma sucessão regular e altamente previsível de notas
enfatizadas. Este é o ritmo predominante na maior parte da música popular no
mundo inteiro. Sua marca registrada é o incessante bater de tambores.
Musicólogos classificam esse tipo de ritmo como metro ou instrumental. A
segunda concepção de ritmo é completamente diferente, pois varia constantemente
e não tem as acentuações repetitivas e compassadas do metro. Denominado
fraseado ou vocal ele é construído por uma sucessão de formas sônicas irregulares,
que se combinam de várias maneiras. Este é o ritmo compatível ou concordante
com o ritmo do movimento biológico natural (respiração, batimentos cardíacos,
liberação pulsátil dos hormônios, ondas cerebrais, gestos) e que surge
naturalmente da fala e da canção. Na música o metro dá ordem ao tempo e o
fraseado confere uma espécie de narrativa. Quando um tipo de ritmo é
enfatizado, ele tende a obscurecer o outro (Robert Jourdain, Música, Cérebro e
Êxtase. Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1998, pp. 167, 170-175).
Quando o som da música
com ritmo repetitivo e acentuado (marcado), metro enfatizado, alcança nosso
sistema auditivo é transformado em impulsos nervosos os quais são enviados a
várias partes do organismo. Assim como o som musical, os movimentos do corpo
desdobram-se através do tempo e então as sensações musculares são um meio
apropriado para representar padrões rítmicos. Além de estimular os músculos a
produzir movimentos físicos, as descargas de impulsos nervosos produzidas por
ritmos que marcam ou acentuam os tempos fracos e os contratempos (sincopado)
estimulam, também, vários centros nervosos no Tronco Cerebral como o Lócus
Cerúleus, responsável pela liberação do neurotransmissor Noradrenalina e os
Núcleos da Rafe, que liberam Serotonina. O Lócus Cerúleus também é fortemente
ativado por estímulos sensoriais novos e inesperados (Robert Lent. Cem Bilhões
de Neurônios, ed. Atheneu, São Paulo, SP, 2004). Os neurotransmissores, e/ou
metabólitos gerados a partir deles, quando liberados em altos níveis ou durante
um tempo maior que o normal, pelos núcleos do tronco cerebral, possuem ações as
quais são imitadas pelas drogas psicoativas (cocaína, nicotina, anfetaminas,
etc.) no sistema nervoso central (Córtex Pré-frontal, Sistema Límbico, Cerebelo
e Medula Espinhal) e podem produzir euforia, convulsões, transe, hipnose,
tolerância e vício (Roger Liebi, Rock Music! The Expression of Youth in a Dying Era, Zurich, 1989;
Vanderlei Dorneles. Cristãos em Busca do Êxtase, Unaspress,
Eng. Coelho, SP, 3ª ed. 2006, p. 25).
A liberação aumentada
de neurotransmissores como a Noradrenalina e a Dopamina produz efeitos em todas
as partes do sistema límbico e do córtex cerebral. Um dos efeitos, no sistema
límbico, é a estimulação do centro de recompensa (área tegmentar ventral,
núcleos septais e núcleo accumbens) o que produz prazer. Tudo que produz prazer
tende a ser repetido. Outro efeito ocorre na modulação da excitabilidade do
Córtex Cerebral, pois, níveis aumentados de Noradrenalina e Adrenalina inibem
as funções do córtex pré-frontal (razão, discernimento) (Robert Lent. Cem
Bilhões de Neurônios, ed. Atheneu, São Paulo, 2004). Além disso, a Adrenalina
estimula os corpos amigdalóides cerebrais, supostamente o centro do comando
emocional (MuSICA Research Notes, vol. IV, edição 2, Outono de 1997: Norman M.
Weinberger. The Musical Hormone,(http://www.musica.uci.edu/mrn/V4I2F97.html)).
Isso pode levar à predominância das emoções sobre a razão. Quando isso ocorre,
a mente não consegue mais utilizar os conceitos do que é certo ou errado, ou
mesmo utilizar o comando voluntário para controlar suas ações (Vanderlei
Dorneles. Cristãos em Busca do Êxtase, Unaspress, Eng. Coelho, SP, 3ª ed. 2006,
p. 161).
O ritmo repetitivo
sincopado e marcado, semelhantemente às drogas psicoativas, aumenta os níveis
de Neurotransmissores (Noradrenalina, Serotonina e Dopamina) e de Adrenalina no
Sistema Nervoso Central e, por isso, acentua o prazer produzido pelo estímulo
cerebral sobre o Centro de Recompensa. Esta sensação de prazer tende a ser repetida
e, se não for repetida, o sistema nervoso central sente necessidade dela
gerando, assim, a dependência. Além disso, à medida que esta sensação de prazer
é repetida, um nível cada vez maior de estímulo é requerido para produzir o
mesmo efeito anterior levando à tolerância (H. P. Range e col., Farmacologia,
5aed. Elsevier, RJ, 2004). A tolerância reforça a dependência e, superando o
controle voluntário do córtex pré-frontal, geram o vício. Portanto, a música
ativa alguns dos mesmos sistemas de recompensa estimulados por comida, sexo e
drogas (Norman M. Weinberger. Revista Mente e Cérebro, Edição Especial:
Segredos dos Sentidos, Ediouro, SP, pág. 53).
Verle Bell relata: Uma
das mais poderosas liberações de adrenalina, na reação de fuga ou luta,
acontece na música com volume forte, ritmo e acordes discordantes. Os músicos
descobriram que a música que não segue as regras matemáticas exatas da harmonia
e do ritmo corporal (fraseado), faz com que o ouvinte experimente um clímax
viciante. Assim como as anfetaminas causam dependência, os músicos utilizam o
ritmo discordante ou sincopado para causar dependência e tolerância e assim
vender bem. A mesma música que no passado criava uma sensação agradável de
excitação, agora não satisfaz mais. Ela precisa se tornar mais estridente, mais
intensa e mais discordante (Verle Bell. “How the Rock Beat creates an addiction” em How to
conquer the Addiction to Rock Music, Oakbrook, IL, 1993).
Mistura
do Sagrado com o Profano na Música
Vimos que a música de
adoração a Deus no Céu é executada através da melodia e harmonia com ritmo
natural utilizando a melodia e harmonia, pois esses são os elementos da música
que influenciam as emoções e a mente, respectivamente. Após a queda de Lúcifer
e o pecado entrarem no mundo, a música antes usada unicamente para adorar a
Deus, mudou. Ele instituiu a música com ênfase no ritmo repetitivo e marcado
por instrumentos (metro) que produzem ruído a fim de afastar os homens da
influência do Espírito Santo e de Deus. Essa música ao longo do tempo foi usada
pelos povos pagãos para adoração aos seus deuses, estimular orgias e para
induzir transe e possessão demoníaca (Vanderlei Dorneles. Cristãos em Busca do
Êxtase, Unaspress, Eng. Coelho, SP, 3ª ed. 2006; W. H. M. Stefani. Música
Sacra, Cultura e Adoração, Unaspress, Eng. Coelho, SP, 2aed. 2002). Devido a
seus usos e efeitos, esta música foi designada profana. Música profana é aquela
oposta à música sacra. Aquela que não é própria para as funções do culto (Dicionário
Contemporâneo da Língua Portuguesa Caldas Aulete, editora Delta, Rio de
Janeiro, 5aed. 1964).
Hoje nos deparamos com
música profana com palavras sagradas. Essa música é tocada e escutada nos
lares, nas rádios, nos automóveis, nos lugares de shows populares e religiosos
e, desinformadamente, na igreja como adoração.
A história revela que o
uso de ritmos sincopados, com sua capacidade de alterar o estado de
consciência, descende do antigo Egito. Nos templos os sacerdotes utilizavam
intencionalmente síncopes complexas para induzir transes, êxtases, alucinações,
convulsões e estados de inconsciência. Foi levada, depois, para a África
central, Congo, onde se transformou no centro da religião Vodu (adoração ao
demônio).
Através do comércio de
escravos essa música e religião foram estabelecidas, no Haiti e República
Dominicana (Caribe) onde ainda são praticadas, e também chegou aos USA onde se
estabeleceu em New Orleans. Nesta mesma época europeus chegaram à América
trazendo sua música religiosa composta de harmonia e melodia. Com o passar do
tempo, escravos e não escravos começaram a misturar a pulsação rítmica
tradicional da música africana com a melodia e harmonia da música cristã
européia (Louis R. Torres, Adventists Affirm. Vol 13, No1, Primavera de 1999,
pp. 17-20; Dario P. Araújo. Música, Adventismo e Eternidade, ed. Líder,
Londrina, PR, 4ª ed. 2007, pp. 13-21).
Esta música com
palavras sagradas misturada com o ritmo repetitivo, sincopado e acentuado,
principalmente por bateria, tomou sua forma própria e passou a ser conhecida
como música religiosa, evangélica (gospel), pop-religiosa ou comercial. No
Dicionário Caldas Aulete, a Música Religiosa é definida como composição de
caráter religioso, mas não enquadrada na música sacra formal (Dicionário Contemporâneo
da Língua Portuguesa Caldas Aulete, editora Delta, Rio de Janeiro, 5aed. 1964).
Ora, podemos concluir que se não é considerada música sacra, então é profana
(comum). Importante salientar, ainda, que as palavras cristãs não atenuam os
efeitos físicos que os elementos da música gospel produzem e, por isso, não a
tornam apropriada para adoração a Deus. Podemos presumir, assim, que esse ritmo
repetitivo e acentuado por instrumentos de percussão que produzem ruído,
característico da música popular secular, é o elemento profano na música e, por
isso, Deus não aceita que seja misturado com o que é sacro ou sagrado (Levítico
10:10-11 e 18:30; II Coríntios 6:14-17; I João 2:15-17; I Coríntios 10:20-22 e
Tiago 4:4; Ellen G. White. Mensagens Escolhidas, C. P. B. Tatuí, SP, 2ª ed.
1986, vol. 2 pp. 36 e 37).
No passado o povo de
Deus sofreu influência de música profana na adoração no templo de Israel: –
Jezabel, rainha de Israel, trouxe música e dança da Fenícia. Não tardou para
que o gosto por este tipo de música se desenvolvesse a ponto de misturarem a
música do templo com esta música profana. Quando Deus ouviu no seu próprio
culto os sagrados e solenes salmos misturados com a música sensual Fenícia,
como moldura para sacrifícios, mandou o profeta Amós sacudir Israel com a
mensagem: “Acabem com esse barulho (alarido, ruído) das suas canções, eles são
um barulho que incomoda meus ouvidos. Não ouvirei suas músicas, por mais belas
que sejam” (Amós 5:23, Bíblia Viva). Em adição, o Espírito de Profecia diz que
as forças das instrumentalidades satânicas misturam-se como alarido e barulho
(Ellen G. White. Mensagens Escolhidas, C. P. B. Tatuí, SP, 2ª ed. 1986, Vol. 2,
p. 36).
"Deus pronunciou
uma maldição sobre aqueles que se afastam de Seus mandamentos e não fazem
diferença entre as coisas comuns (profanas) e as coisas santas. Ele não aceita
obediência parcial. É seu propósito ensinar ao povo que devem aproximar-se com
reverência e temor e da maneira indicada por Ele. Deus requer hoje de Seu povo
uma distinção tão grande do mundo, nos costumes, hábitos e princípios, como
exigia de Israel antigamente." (Ellen G. White. Patriarcas e Profetas, C.
P. B. Tatuí, SP, 7ª ed. 1985, p. 373, 484).
Função
da Bateria na Música
Assim como para
descrever a música do Céu utilizei o relato da profetiza de Deus que escutou e
viu a adoração celestial, usarei a experiência vivenciada e relatada por Karl
Tsatalbasidis, um ex-baterista de banda Jazz que estudou com os maiores músicos
do Canadá e hoje é cristão adventista, para descrever o uso da bateria na
música. Eis as conclusões do autor:
- Pessoas sinceras
confundem tambores e instrumentos de percussão com bateria e este erro leva a
conclusão falsa de que, como a Bíblia menciona alguns instrumentos de percussão
e tambores, então a bateria seria aceitável na adoração.
- A Bíblia relata que
tambores foram usados apenas em ocasiões festivas populares e não em cultos ou
adoração. Eles foram sistematicamente excluídos do Templo e não fazem parte da
música celestial descrita no Apocalipse. É errado pensar que os instrumentos de
percussão citados na adoração bíblica poderiam ser tocados da mesma maneira que
a bateria é tocada hoje.
- Existe uma grande
diferença no modo em que os tambores (bumbo, tarol, tímpano) são tocados numa
orquestra e como a bateria (coleção de tambores e acessórios de percussão
incluindo pratos) é tocada numa banda rock.
- A bateria foi
inventada para o único propósito de fortalecer a música jazz, blues, rhythm and
blues e todas as variedades de rock-in-roll. Por isso, não pode ser separada da
origem da música rock e jazz.
- Nenhuma música pode
incorporar a bateria sem, automaticamente, transformar-se em rock, jazz ou seus
híbridos (6).
- A música designada
para a bateria acompanhar não fora inventada até muito recentemente. Isto significa
que a bateria era desconhecida pelos escritores bíblicos. Além disso, nunca
deveria ser confundida com outros tambores normalmente tocados numa orquestra.
- O rock e o jazz estão
associados a sexo, drogas, ocultismo e rebelião, por isso são formas de música
inadequadas para a adoração, então a bateria está automaticamente incluída como
inadequada também, pois foi inventada e usada exclusivamente para ser a força
motriz destes tipos de música.
- Não podemos
“Cristianizar” a bateria, assim como não podemos tornar o Domingo o novo dia de
Sábado.
- A música rock e a
bateria comunicam o pensamento do Relativismo e do Pós-modernismo: não existe
verdade absoluta - não há padrão para julgar se algo é certo ou errado, depende
da cultura de cada povo.
- As palavras poderiam
comunicar as mais sublimes verdades, mas a música tocada com bateria prega
outro evangelho. Essa música diz que a verdade de Deus é uma mentira.
- A música rock foi
projetada para ser “sentida” antes que ouvida. Os ritmos gerados pela bateria
são parte importante nesta experiência. Simplesmente colocar palavras
religiosas nesta música não anula seus efeitos nem a torna cristã. Como podem
os cristãos reivindicar uma benção com uma música que prega espiritualismo e o
falso evangelho pós-moderno?
- Acredito fortemente
que Satanás tem usado a bateria como conduto para seus demônios e eles irão
onde estes instrumentos são tocados, provocando destruição na igreja e na vida
dos crentes.
- Muitos acreditam que
a única maneira efetiva de alcançar a nova geração é incorporar a música rock e
a bateria no serviço de adoração. Sei por experiência que tal pensamento é
errado.
- Na filosofia bíblica
de música a melodia e a harmonia têm prevalência sobre o ritmo, portanto todos
os instrumentos de percussão foram excluídos da adoração. A bateria não produz
melodia nem harmonia, apenas ritmo e, além disso, não tem habilidade para
acompanhar a voz humana sem sufocá-la. Uma completa contradição aos princípios
bíblicos de adoração repetidamente vistos no Velho e Novo Testamentos.
Conclui-se facilmente, que não existe lugar para a bateria no serviço de
adoração atual.
- Como cristãos que
querem adorar a Deus no céu e trazer glória a Jesus poderiam tentar harmonizar
as origens pagãs da bateria, do rock e do jazz em nossos cultos de adoração?
Depois de ler o que
Ellen White escreveu no livro Mensagens Escolhidas vol. 2, pp. 36-38 o autor
ficou convencido de que deveria deixar de usar a bateria para acompanhar o
grupo vocal que participava nos cultos de adoração. Não iria mais ser usado
pelo demônio para trazer confusão e decepção para a igreja de Deus. Decidiu,
então, nunca mais usar a bateria na igreja novamente (Karl Tsatalbasidis. Drums, Rock and Worship – Modern Music in Today’s
Church, Amazing Facts, Roseville, CA, USA, 2003).
Conclusão
A partir da descrição
tanto da música executada pelos anjos na adoração no Céu, quanto daquela
executada no Templo de Israel (I Crônicas 15:16; II Crônicas 5:12-14 e 7:6),
podemos concluir que a música de adoração, música sacra, que agrada a Deus é
para ser executada com a mente e as emoções, ou seja, através da harmonia,
melodia, ritmo natural (ênfase no fraseado) e sem dissonância e movimentação
física. Em contrapartida, o ritmo marcado, repetitivo e/ou sincopado tocado por
instrumentos que produzem ruído, onde a bateria é o principal, é característico
da música pagã ou profana, hoje representada pela música popular em suas várias
divisões, incluindo a música gospel.
A música de adoração no
Templo de Israel foi executada com instrumentos escolhidos por Deus e relatados
a Davi. No livro de Crônicas estes instrumentos escolhidos foram designados
como sendo instrumentos do Senhor (II Crônicas 29:25). Embora os tambores
fossem instrumentos muito utilizados pelos povos da época, inclusive os
Israelitas, Deus não os escolheu para executar música para Sua adoração. Os
tambores não foram permitidos nem para algum efeito sonoro, tampouco se fossem
bem tocados ou de forma discreta. Entendo que a música para adoração deve se
aproximar ao máximo da música do céu, perfeita, onde não existe música com
ruído (ondas sonoras com comprimento indefinido) ou com quaisquer instrumentos
que acentuam o elemento físico, enfraquecendo a influência da mente.
Pode-se concluir,
também, que instrumentos que não produzem harmonia nem melodia, mas apenas
ruídos (bateria, chocalhos, pratos, triângulos, etc.), servem unicamente para
acentuar o ritmo (ênfase no metro), causando um desequilíbrio nos elementos que
compõe a música. Este desequilíbrio em favor do ritmo ocorre em detrimento da
melodia e da harmonia, introduzido assim um elemento profano na música, visto
que acentua os efeitos físicos e atenua os elementos que apelam à mente.
Portanto, são próprios para a música profana e não para a música sacra, seja o
som produzido pelos instrumentos tradicionais acústicos, instrumentos
elétricos, eletrônicos ou por gravações (play-backs).
Se fomos criados com
preferência pela consonância clássica e, quando E. White teve as visões onde
escreveu que “Deus não se agrada de dissonância”, este mesmo tipo de
consonância preponderava nas músicas da época (E. G. White. Conselhos sobre a
Música, IAE, 1989, pp. 23 e 37), e, além disso, como a maioria dos ouvintes na
igreja tem ouvido menos refinado para as variações harmônicas, então a
consonância clássica seria a referência para a ordem e relação de combinação de
sons que seriam considerados mais agradáveis pelas pessoas do meio cristão.
Os efeitos produzidos
no corpo pela música com ritmo repetitivo, marcado e sincopado, como: estresse,
ansiedade, movimentação física (dança, marcha, exercícios, etc.), euforia,
êxtase, transe, hipnose e vício não são compatíveis com a mensagem do evangelho
de Cristo nem com os frutos do Espírito Santo e, muito menos, com a verdadeira
adoração a Deus.
O vício provocado pelo
ritmo da música profana, da qual a música gospel faz parte, aumenta a
necessidade de prazer e a busca por outros vícios.
Quanto melhor tocada ou
mais bem tocada for a bateria, mais a música gospel se transforma em rock, uma
vez que a bateria foi formada para fortalecer o tempo fraco e o contratempo nos
ritmos sincopados do Jazz e do Rock. Quando a usamos bem tocada, é para
utilizá-la o mais próximo do ritmo para o qual ela foi criada, por isso,
influenciamos qualquer música a ter ritmo sincopado e marcado semelhante ao
Jazz e Rock. Mesmo que o som desse instrumento seja pouco audível, o que é
difícil de ocorrer, ainda provoca os efeitos físicos que não são compatíveis
com a verdadeira adoração a Deus. Além disso, está bem elucidado que o ritmo
repetitivo e marcado por tambores, como a bateria, tem origem na religião do
demônio (vodu) e tem como objetivo a perda da influência da razão com intuito
de levar as pessoas ao estado de transe ou à possessão demoníaca.
A bateria não deve ser
comparada aos poucos instrumentos de percussão mencionados na Bíblia, que foram
usados na música para louvar a Deus nos momentos quando o povo de Israel ainda
não tinha pleno conhecimento da verdadeira adoração. Além disso, ela existe
preponderantemente para executar música rock e seus ritmos derivados e
híbridos. Como não existe rock sacro, ou rock cristão, pois são conceitos
opostos (oxímoro) (Eurydice V. Osterman. O Que Deus diz sobre a Música,
Unaspress, Eng. Coelho, SP, 4ª ed. 2004, p. 99), ela não deve ser usada com
palavras sagradas e nem na adoração a Deus.
O nome de Deus é
profanado quando usado na música com ritmo profano, como na música gospel ou
comercial, seja esta música cantada através do rádio, em casa, na igreja ou
qualquer outro ambiente.
As palavras sagradas
não anulam nem sequer amenizam os efeitos indesejáveis para adoração provocados
no organismo pelo ritmo da música híbrida gospel. Quando esta música é tocada
e/ou cantada, a igreja se divide em dois grupos: um grupo de ouvintes sente
desconforto, irritação, ansiedade e estresse enquanto outro grupo sentirá
prazer. O que ocorre é que o primeiro grupo tem seu paladar auditivo aguçado e
livre de influências populares, mas o segundo grupo já está dependente
(viciado) e desejará ouvir e executar música com ritmos mais sincopados, mais
discordantes e num volume mais alto.
Volume do som igual ou
superior a 90 dB produz vibrações no corpo, aumentando os hormônios do estresse
e de adrenalina, contribuindo para diminuir a influência da mente sobre as emoções.
O uso de tons graves e fortes, como no contrabaixo elétrico e teclados
eletrônicos, intensifica estes efeitos.
A música para adoração,
música sacra, não é aquela que eu quero, ou aquela que os jovens querem, ou
ainda aquela para vender discos, ou mesmo aquela que agrada ao fulano ou ao
beltrano, mas é aquela que agrada a Deus.
Deus não aceita a
adoração com música onde a letra sagrada está misturada com o ritmo profano,
mesmo que a melodia e a harmonia sejam consideradas belas. Essa música é uma
ofensa a Deus e podemos afirmar, com base no princípio de separação entre o
santo e o profano, encontrados nos textos abaixo, que Ele se recusa aceitá-la.
"não somente para
fazer separação entre o santo e o profano, e entre o imundo e o limpo, mas
também para ensinar aos filhos de Israel todos os estatutos que o Senhor lhes
tem dado por intermédio de Moisés." (Levítico 10:10-11)
"E sereis para mim
santos; porque eu, o Senhor, sou santo, e vos separei dos povos, para serdes
meus." (Levítico 20:26)
"Não profanareis o
meu santo nome, e serei santificado no meio dos filhos de Israel. Eu sou o
Senhor que vos santifico" (Levítico 22:32)
"Porque és povo
santo ao Senhor teu Deus, e o Senhor te escolheu para lhe seres o seu próprio
povo, acima de todos os povos que há sobre a face da terra." (Deuteronômio
14:2)
"Agora, pois,
temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade; (...) e servi ao
Senhor. Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem
haveis de servir; (...) Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor."
(Josué 24:14-15)
"(...) Até quando
coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal,
segui-o. (...)" (I Reis 18:21)
"Ninguém pode
servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se
a um e desprezar o outro. (...)" (Mateus 6:24)
"Pelos seus frutos
os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros, ou figos dos
abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos; porém a árvore má produz
frutos maus. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má dar
frutos bons. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada no
fogo." (Mateus 7:16-19)
"Não vos prendais
a um jugo desigual com os incrédulos; pois que sociedade tem a justiça com a
injustiça? ou que comunhão tem a luz com as trevas? Que harmonia há entre
Cristo e Belial? ou que parte tem o crente com o incrédulo? E que consenso tem
o santuário de Deus com ídolos? Pois nós somos santuário de Deus vivo, como
Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles
serão o meu povo. Pelo que, saí vós do meio deles e separai-vos, diz o Senhor;
e não toqueis coisa imunda, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós
sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso. Ou não sabeis que
o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, o qual possuís
da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por
preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo." (II Coríntios 6:14-20)
"ensinando-nos,
para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente
mundo sóbria, e justa, e piamente" (Tito 2:12)
"Porque se
voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados,"
(Hebreus 10:26)
"A religião pura e
imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: (...) guardar-se isento da
corrupção do mundo." (Tiago 1:27)
"Porventura a
fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode
acaso uma figueira produzir azeitonas, ou uma videira figos? Nem tampouco pode
uma fonte de água salgada dar água doce." (Tiago 3:11-12)
"Infiéis, não
sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." (Tiago 4:4)
"Como filhos
obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes tínheis na vossa
ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em
todo o vosso procedimento; porquanto está escrito: Sereis santos, porque eu sou
santo." (I Pedro 1:14-16)
"Filhinhos, vós
sois de Deus, e já os tendes vencido; porque maior é aquele que está em vós do
que aquele que está no mundo. Eles são do mundo, por isso falam como quem é do
mundo, e o mundo os ouve. Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem
não é de Deus não nos ouve. assim é que conhecemos o espírito da verdade e o
espírito do erro." (I João 4:4-6)
"Não ameis o
mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está
nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo.
Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de
Deus, permanece para sempre." (I João 2:15-17)
Se Deus procura
adoradores verdadeiros (João 4:23) é porque ainda existem falsos adoradores. Se
os verdadeiros O adoram com a mente e as emoções, então aqueles que o fazem
através da música misturada com elemento profano - ritmo repetitivo, marcado
e/ou sincopado – que estimula principalmente o elemento físico, ainda não fazem
parte dos verdadeiros adoradores.
Como a música de
adoração no Céu, a música sacra, com as características já bem definidas é
considerada música perfeita, então não precisa nem deve ser modificada, muito
menos necessita ser melhorada. Esta é a música mais moderna e a música do
futuro, pois será cantada por toda a eternidade pelos santos no Céu e na Nova
Terra.
Relata a profetiza do
Senhor que após a trasladação dos salvos, quando entrarem no Céu, "os
remidos lançam suas coroas aos pés de Jesus. Em seguida, o coro angélico emite
uma nota de vitória e os anjos nas duas colunas tomam o cântico, e a multidão
dos remidos participam como se houvessem entoado o cântico na Terra, e o haviam
feito na realidade". Isto significa que "precisamos aprender a entoar
aqui o cântico do Céu, de modo que quando terminar a nossa luta possamos
participar do cântico dos anjos celestiais na cidade de Deus. Qual é esse cântico?
É louvor e honra e glória Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, para
todo o sempre" (Ellen G. White. Visões do Céu, C. P. B. Tatuí, SP, 1ª ed.
2004, p. 183).
"Caso estejamos
realmente jornadeando para lá, o espírito do Céu habitará em nosso coração aqui.
Mas, se não encontrarmos prazer agora na contemplação das coisas celestiais; se
não temos qualquer interesse em buscar o conhecimento de Deus, deleite algum em
deter os olhos no caráter de Cristo; se a santidade não exerce a menor atração
sobre nós – podemos estar certos de que é vã nossa esperança do Céu"
(Ellen G. White. Visões do Céu, C. P. B. Tatuí, SP, 1ª ed. 2004, p. 64).
“Ao guiar-nos nosso
Redentor ao limiar do Infinito, resplandecente com a glória de Deus, podemos
apreender o assunto dos louvores e ações de graças do coro celestial em redor
do trono; e despertando-se o eco do cântico dos anjos em nossos lares
terrestres, os corações serão levados para mais perto dos cantores celestiais.
A comunhão do Céu começa na Terra. Aqui aprendemos a nota tônica de seu louvor”
(Ellen G. White, Educação, C. P. B. Tatuí, SP, págs. 161-168).
Observação: As palavras
destacadas nas citações foram enfatizadas pelo autor.
O
Dr. Hélio dos Santos Pothin ( heliopothin@gmail.com ) é
cristão Adventista do 7° Dia, trompetista e regente de Coro, Doutorado em
Fisiologia Humana pela UFRGS e Professor de Fisiologia Humana na Universidade
Federal de Santa Maria, RS.
Notas
Explicativas:
As presentes notas
visam explicar e ampliar alguns dos conceitos apresentados no texto acima:
(1) - A reação de
estresse, organizada pelo organismo, é desencadeada sempre que um (qualquer)
estímulo externo ou interno seja compreendido como agressivo, ou seja, capaz de
modificar o estado de constância do meio interno do organismo (Homeostase) ou
de lesar as células. Um som, mesmo com freqüência determinada, mas com
intensidade suficiente para lesar as células ciliadas da cóclea, também será
compreendido como agressivo e desencadeará uma resposta de estresse. Um ruído
faz com que a membrana basilar da cóclea seja estimulada de forma desigual e
desproporcional. Isto não é considerado normal nem benéfico para o meio interno
do organismo, por isso desencadeará uma reação de estresse. A auto-preservação
envolve vários sistemas (nervoso, endócrino). O mecanismo mais rápido acionado
é a reação ou resposta de estresse. A resposta de alerta (faz parte da reação
de estresse) visa à auto-preservação e pode ser desencadeada por sons, pela
visão, olfato e mesmo tato, desde que o estímulo aplicado esteja gravado na
memória como algo perigoso ou que pode lesar células ou, ainda, provoque
agressão a qualquer célula do corpo. Um estímulo diferente do habitual que pode
ser associado com algo nocivo também desencadeia uma reação de alerta.
(2) - Embora existam
sinos e tambores fabricados de maneira que seu som tenha ondas com comprimento
que pode ser considerado definido, a maioria dos sinos comuns e tambores não
produzem ondas sonoras com comprimentos definidos. A Física considera que estes
instrumentos produzem ondas sonoras não tão definidas quantos outros
instrumentos. Seria um som ainda “sujo” e, portanto, não considerado junto com
instrumentos capazes de, na maioria das vezes, produzir sons bem definidos.
(3) Embora os
instrumentos de percussão também possam ser usados para criar efeitos sonoros,
ao invés de ritmos, estamos analisando e comparando, no contexto, os três
elementos da música: harmonia, melodia e ritmo. Assim, ruído estaria
relacionado somente ao ritmo e não à melodia ou harmonia. Além disso, mesmo
efeitos sonoros, quando produzidos com ruídos, aumentam os níveis de estresse.
(4) - Depois de
analisar estes relatos e associar com a frase relatada anteriormente: “Deus não
se agrada de dissonância” (E. G. White. Conselhos Sobre Música, IAE, 1989, p.
23), presumo que: se fomos criados com preferência pela consonância clássica e
que quando E. White teve as visões e escreveu a respeito da dissonância este
mesmo tipo de consonância preponderava nas músicas da época e, além disso, a
maioria dos ouvintes na igreja tem ouvido menos educado ou menos refinado para
as variações harmônicas, então a consonância clássica seria a referência para a
ordem e relação de combinação de sons que seriam considerados mais agradáveis
pelas pessoas do meio cristão.
Em sua obra
"Música, Cérebro e Êxtase", o autor R. Jourdain sugere que a música
dá prazer quando toda a previsão que ela insinua é satisfeita e desejos
satisfeitos se tornam intensamente agradáveis. Este é o prazer proporcionado
quando o organismo volta ao equilíbrio biológico percebido e influenciado pelo
córtex frontal (harmonia, consonância e concordância com nossos ritmos
naturais). Por outro lado, o prazer da música proporcionado por dissonâncias,
sincopações, torceduras no contorno melódico, repentinos estrondos e silêncio
(Música, Cérebro e Êxtase, capitulo 10, Êxtase, pág. 401), é devido ao estimulo
direto no centro de recompensa (ou de prazer) do sistema límbico, sem a
influência da mente (Córtex frontal), efeito este mediado pelos
neurotransmissores e hormônios que favorecem o predomínio das emoções sobre a
razão, ou seja, êxtase. Como expliquei no texto acima, este efeito não é
condizente com a música de adoração que agrada a Deus.
(5) - Os padrões
cíclicos na melodia e sua implicações para a expressão de emoções, foram
identificados pelo Neurofisiologista, pesquisador e músico Manfred Clynes, que
os denominou de “formas sênticas”. Maiores detalhes podem ser obtidos no livro
online “O Cristão e a Música Rock”, organizado pelo Dr. Samuelle Bacchiocchi. O
capítulo 13, Música e Moralidade, p. 353, escrito por Wolfgang H. M. Stefani,
explica que “a manipulação do tom e da intensidade do som na linha melódica de
forma a estimular de forma previsível a expressão de uma emoção”, seria a forma
sêntica. Quando uma forma sêntica é bem expressa, uma melodia tem acesso direto
para estimular a qualidade emocional no ouvinte sem a necessidade de simbolismo
auxiliar. Assim ela pode tocar o coração de forma tão direta quanto um toque
físico.
Entendo, assim, que a
maneira com que são dispostos os elementos da melodia pode estimular diferentes
tipos de comportamento emocional.
Agora uma explicação
sobre como os sons são traduzidos em impulsos nervosos:
Para nosso sistema
nervoso perceber os estímulos externos, estes tem de ser transformados em
impulsos elétricos (nervosos). Assim, toda e qualquer informação que chega ao
ouvido deve ser transformada em impulsos elétricos, ou nas células nervosas, ou
antes de chegar aos nervos. Na cóclea as células ciliadas são os receptores
auditivos responsáveis por transformar os movimentos do líquido do ouvido
interno, gerado pelas ondas sonoras vindas do exterior, em variação elétrica
chamada Potencial receptor. A amplitude do potencial receptor vai determinar
maior ou menor liberação de neurotransmissor o qual vai alterar a eletricidade
da membrana dos neurônios que compõem o nervo auditivo. Esta variação elétrica
nos neurônios é denominada potencial de ação ou impulso elétrico ou impulso
nervoso. (veja "Constituição do Sistema Auditivo Humano")
Estímulos sonoros mais
fortes produzem potencial receptor maior. Estímulos mais duradouros provocam
potencial receptor mais duradouro no tempo. Existem vários neurônios fazendo sinapse
em cada célula ciliada e várias células em cada região da membrana basilar da
cóclea. As células ciliadas onde houver maior estimulação produzirão maior
número de estímulos elétricos e as células vizinhas produzirão número variado
de estímulos elétricos. Portanto, quanto maior o potencial receptor maior o
número de estímulos enviados num espaço de tempo (maior a frequência de
estímulos) e o sistema nervoso recebe, assim, um mapa codificado em potenciais
de ação.
No receptor (célula
ciliada) ocorrem ondas ascendentes de despolarização e descendentes de
hiperpolarização, conforme a onda sonora aumenta e diminui, provocando salvas
(várias seqüências) de potenciais de ação (impulsos elétricos) e períodos sem
potenciais de ação. O volume do som determina a amplitude maior ou menor do
potencial receptor. Quanto maior o volume maior a amplitude do potencial
receptor e maior o número de impulsos elétricos formados nos neurônios e mais
neurônios serão estimulados. Os tons são determinados pela frequência das ondas
sonoras. As salvas de potencias de ação iniciam na fase ascendente da
despolariazação do potencial receptor e cessarão na fase repolarizante. Haverá,
então, uma salva de potenciais de ação em cada ciclo da onda sonora, ou a cada
dois, três ou mais ciclos, dependendo do tempo que a membrana do neurônio
precisa para repolarizar completamente e gerar novas salvas de potenciais de
ação. A relação entre a periodicidade dos ciclos de salvas de potenciais de
ação e a frequência da onda sonora representa um código para os diferentes
tons. (veja "O Ouvido Humano")
Cada parte da membrana
basilar na cóclea vibra com maior amplitude em resposta a uma determinada
frequência. Essa distribuição (relacionada a cada parte da membrana) é mantida
até o córtex auditivo. À medida que a via auditiva (neurônios) ascende no
tronco cerebral, as propriedades de respostas das células nervosas tornam-se
mais diversificadas e complexas, ou seja, os impulsos nervosos sofrem
influência de outros núcleos do sistema nervoso e podem aumentar ou diminuir o
número, espaçar ou acelerar e agrupar os impulsos nervosos. Assim, um, Lá de
440 Hz produzirá potenciais receptores apenas nas células ciliadas nessa
frequência. Após isso, poderá sofrer modificações conforme descrito acima.
Portanto, a cóclea
transmite a informação ao longo de fibras separadas no nervo auditivo, como
sequências de descargas nervosas formando um padrão ou ciclo padronizado. Esse
ciclo padronizado alcança o Córtex cerebral, Sistema Límbico e outros centros
nervosos.
Entendo, assim, que as
formas sênticas, ou, a forma de manipular o tom e a intensidade do som, são
enviadas da forma descrita acima ao sistema nervoso central, através de padrões
cíclicos de impulsos nervosos.
(6) - Sei que é
possível que alguns contra argumentem que um baterista experiente saberia
perfeitamente executar um samba, por exemplo, o qual não tem qualquer relação
com os ritmos citados, ou que também seria possível utilizar a bateria de forma
a criar apenas efeitos, ou ênfases, sem acentuar o ritmo.
Esta frase foi
elaborada por Karl Tsatalbasidis, um baterista de Jazz experiente que estudou
com músicos preeminentes no Canadá, e foi publicada conforme a citação
bibliográfica indicada. Conforme seu relato,a bateria foi inventada com único
objetivo de enfatizar os ritmos sincopados da música Jazz, Rock e seus
híbridos, e que se esse instrumento for utilizado na música, naturalmente o
objetivo é ressaltar os ritmos para qual esse instrumento foi inventado.
Resta-nos acreditar na sua experiência como músico e honestidade como cristão e
usar a frase, ou então, desacreditá-lo totalmente. Não posso deixar de citar
esta referência, pois, depois de tudo que li e relatei, considero ser confiável
e pertinente.
Na minha óptica, quando
vimos alguém com uma ferramenta como a chave de fenda na mão, concluímos que
usará para afrouxar ou apertar parafusos. Poderá ser utilizada,
improvisadamente, para furar ou para outra coisa, porem foi criada para usar em
parafusos. Uma faca não foi elaborada para afrouxar parafusos, porem podemos
improvisar para isso, mas quando alguém for visto com uma faca supõe-se que vai
cortar algo com ela.
Assim como para tocar
samba os instrumentos apropriados são cavaquinho, cuíca, tambor e pandeiro,
para a capoeira é o berimbau, para tocar rock e jazz é a bateria. Estes
instrumentos podem executar outros ritmos, porém, foram elaborados para
acentuar um estilo rítmico específico e por isso são associados a ele. Quando
os músicos querem executar um samba irão utilizar, preponderantemente, esses
instrumentos. Eles não necessitam de outros instrumentos para executar samba.
Isso não quer dizer que outros instrumentos não podem também serem utilizados
para isso, porem quando estes instrumentos são utilizados juntos é com objetivo
principal de executar samba. A bateria ou outro instrumento qualquer, como
teclado, podem ser utilizados para ajudar a executar outros ritmos, como samba,
porem não foram inventados com esse objetivo, ou seja, seria uma improvisação,
pois não são apropriados ou característicos deste tipo de ritmo. Quando o
instrumento berimbau for utilizado é para executar o ritmo da capoeira. Para
isso foi criado. Pode ser utilizado para executar outros ritmos, porém está
intimamente associado à capoeira. Quando vemos esse instrumento sendo tocado
concluímos que está sendo usado para capoeira e, dificilmente, para outro tipo
de atividade.
Muitos poderiam ainda
observar que a bateria poderia ser utilizada para acentuação discreta em música
sacra (música de adoração), mas esta linha de pensamento destoa totalmente do
que tenho relatado, explicado e concluído neste artigo por causa da origem,
associação, influência, ruído e efeitos físicos desse instrumento.
FONTE: Site Música Sacra e Adoração
Comentários
Postar um comentário