Teologia

terça-feira, 22 de março de 2016

A GLÓRIA DA CRUZ



Ricardo André

Estando em Corinto, Paulo foi informado de que nas igrejas da Galácia alguns judeus legalistas procuravam deliberadamente “transformar o Evangelho de Cristo” (Gl 1:7), confundindo os fiéis a aceitar um novo evangelho. Esses agitadores judaizantes persuadiam os crentes a observarem as leis cerimoniais, como a circuncisão, como meio de salvação. A falta deste sinal excluía a alguém da semente de Israel. Desse modo, a salvação passou a ser considerada como algo obtido apenas por merecimento, e não recebida como uma dádiva da graça. (Gl 5:3,4).

Os agitadores judaizantes se gloriavam da circuncisão, e se orgulhavam do grande número de gentios que foram capazes de conquistar. Se os judaizantes tinham sucesso em conseguir prosélitos, receberiam louvor e glória dos judeus ortodoxos. Seu propósito era evidentemente conseguir convencer piedosos compatriotas judeus de que, como cristãos, ainda eram bons judeus, e dessa forma conseguiriam o favor das autoridades judias! Demonstrando zelo pela lei, esperavam evitar a perseguição.

Mas, no final de sua carta ele registrou sua confiança inquebrantável naquilo que ele considerava o centro do evangelho: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” (Gálatas 6:14). É impressionante! O apóstolo Paulo disse que orgulhava-se na CRUZ de Cristo. Que queria Paulo dizer quando ele se gloriava na cruz de Cristo?

 A Cruz – instrumento de Vergonha e Tortura Infernal

Nos dias contemporâneos de Cristo e mesmo depois, a cruz era evidentemente a pena mais ignominiosa e que inspirava maior angústia, como entre nós era a forca em outros tempos (Hb 12:2). Ser condenado à cruz era incorrer no escárnio e na maior desonra pública. Os sofrimentos da crucificação eram extremos, horrorosos e crudelíssimos. Tão terríveis eram que não é possível termos hoje uma ideia real. A cruz, enfim, era considerada um instrumento de vergonha e tortura infernal.

Era olhada com um sentimento de repulsa e horror. A crucificação constituía uma maldição (Gl 3:13; Dt 21:22 e 23). Passada que foi a morte de Cristo, os mais zelosos de Seus seguidores consideraram a cruz de modo inteiramente diferente. Paulo gloriava-se na cruz de Cristo, significando, por este modo, a expiação resultante da Sua morte no Calvário (Ef 2:16; Cl 1:20). Para o cristianismo a cruz não mais é um símbolo de ignomínia, vergonha e castigo. Antes, é um símbolo de vitória e perdão. De sacrifício e redenção. De sofrimento e alegria da salvação. Para a alma crente, a remoção da Cruz seria como o apagar do Sol, deixando o mundo mergulhado em trevas. Não que adoremos duas pranchas de madeira, mas ali nosso Senhor morreu e isto nos convida para sempre a considerar a ação salvífica de Deus.

Gloriar-se na cruz de Cristo significa confiar totalmente no que Deus está fazendo por meio do que Jesus fez por nós na cruz. É orgulhar-se no que Deus e Cristo conseguiram para nós no Calvário, que é a salvação. Centrando a salvação em Jesus Cristo e no que Ele fez por nós, o Senhor mudou o centro da atenção para fora de nós mesmos, que somos o problema, e o coloca em JESUS, a única solução. Percebendo nossa total incapacidade de fazer qualquer coisa para nos salvar, somos forçados a confiar em algo que está fora de nós, algo maior, mais santo e mais poderoso do que nós, que é, evidentemente, o “Senhor, Justiça Nossa”  (Jr 23:6).

A Cruz exclui totalmente qualquer coisa que você possa fazer para encontrar salvação. Somente Deus podia tornar a cruz de Cristo a rota para a vida. Se a salvação dependesse de qualquer coisa que pudéssemos fazer, o Filho de Deus, ao assumir a humanidade, vivendo como homem uma vida de perfeita obediência ao Pai, e então indo para a cruz, onde enfrentaria a ira divina contra o pecado, onde todos os pecados do mundo cairiam sobre Ele, onde Ele se tornaria pecado por nós, onde seria julgado e condenado em nosso lugar, onde morreria como substituto de todo o mundo – tudo isso ainda não seria suficiente? A simples ideia de comprar a nossa salvação por nossas obras, esforço debilita automaticamente em nossa mente tudo o que Deus realizou por nós. O que mais qualquer um de nós – isto é, qualquer pecador – pode fazer para completar o que foi feito por nós na cruz?

É loucura e confusão tentar acrescentar algo ao plano completo e perfeito de Deus com nossas ações meritórias, como se pudéssemos abater qualquer parte da nossa dívida moral como transgressores. Não temos qualquer justiça pela qual possamos gerar obras aceitáveis, muito menos compensar ou expiar nossa natureza decaída e nossas más ações. (Is 64:6). A tentativa de acumular justiça, mesmo que seja indiretamente, através dos méritos da criatura, é uma profanação e depreciação do sacrifício expiatório de Cristo. É demonstração de menosprezo pelo custo elevado da nossa salvação e pela natureza humanamente incurável do pecado.

O apóstolo Paulo afirma: “Pois é pela graça que sóis salvos, por meio da fé – e isto não vem de vós é dom de Deus – não das obras, para que ninguém se glorie”. Ef 2:8 e 9. Por isso ele disse aos gálatas: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. A glória do cristão não está nas obras, porque elas nunca serão suficientes para nos salvar, a nossa glória está na cruz.

A Cruz Põe Fim a Velha Vida

Paulo também disse que se orgulhava no fato de que sua vida fora transformada pelo que acontecera na cruz: “(...) Pelo qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo”. Quando Paulo aceitou a Cristo, a sua velha vida pecaminosa findou, foi crucificada. Ele diz: “Estou crucificado com Cristo”. Gl 2:20. Os prazeres pecaminosos do mundo não tinham mais espaço. Cristo e Sua pureza ocupavam agora a posição central na existência de Paulo. O poderoso significado da cruz transformou subitamente a vida dele. E nós também temos o privilégio de contemplar o fim judicial de toda a nossa vida pecaminosa na cruz de Cristo.

Transcrevo estas lindas e famosas palavras de Ellen G. White: “Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nas quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia” ( O Desejado de Todas as Nações, p. 25).

É extremamente importante entender o que significa a cruz. Deus tomou sobre Si mesmo o castigo do pecado, que merecemos. “Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados” (Isaías 53:5). Podemos usar diversas imagens, simbolismos ou metáforas para falar sobre a cruz, mas nunca devemos esquecer esta verdade fundamental: a substituição. Qualquer teologia que desmereça ou marginalize o aspecto substituinte do Calvário desmerece e marginaliza o centro do plano da salvação (ver também Rm 5:8; Gl 3:13). Sem a cruz e tudo o que ela envolve (inclusive a ressurreição), toda a humanidade, de uma forma ou de outra, enfrentaria só a condenação. Quando nós vamos a Jesus, Ele nos aceita como somos, perdoa-nos, por Sua graça, nossos pecados, implantando dentro de nós Sua natureza. Essa é a maravilhosa provisão do plano de salvação: nossos pecados não são apenas perdoados, a justiça de Jesus é creditada a nós como se fosse nossa! (Rm 3:25 e 26).

A partir desse momento começa a nossa experiência de vida com Jesus. Paulo escreveu esta experiência de maneira extraordinária: “Vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim, e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus” (Gl 2:20).

George Bennard era natural da cidade de Youngs Town, no Estado de Ohio, Estados Unidos. Perdeu o seu pai antes dos 16 anos de idade e logo depois entregou sua vida a Jesus. Trabalhou como um dos oficiais no Exército da Salvação e mais tarde entrou no ministério da Igreja Episcopal Metodista. Por muitos anos dedicou a sua vida ao evangelismo e a reavivamentos espirituais. E foi ao voltar de uma dessas reuniões em 1913, que ele escreveu um dos mais famosos e populares hinos do cristianismo: “Rude Lenho se Ergueu”.

Ele contou como escreveu o hino: “Recebi a inspiração um dia em 1913, quando me encontrava na cidade de Albion, Michigan. Comecei a escrever “A Velha e Rude Cruz”. Compus a melodia primeiro. A primeira letra que escrevi foi imperfeita. As palavras finais do hino foram colocadas no meu coração como uma respostas às minhas próprias necessidades”.

No dia 9 de outubro de 1958, com 85 anos de idade, Bennard trocou “sua cruz por uma coroa”. Perto de sua casa, na cidade de Reed City, em Michigan, está erguida uma enorme cruz de 3,5 metros de altura com as seguintes palavras: “ ‘Rude Lenho se Ergueu’, casa de George Bennard, compositor deste hino maravilhoso”. “Sim, eu amo esta mui rude cruz, té morrer eu a vou proclamar; té na glória, das mãos de Jesus, a coroa da vida ganhar”.

Disse alguém: “O que prendeu Jesus à cruz? Não foram os cravos, mas Seu maravilhoso amor por mim que conservaram Jesus na cruz do Calvário; que poderia tê-lo prendido lá para todos os meus pecados e vergonha suportar? Não foram os cravos, mas Seu maravilhoso amor por mim” (W. B. Knight, 3.000 Ilustrações, p. 213).

“Contemplem-nO pendurado na cruz durante aquelas horríveis horas de agoni, a ponto de os anjos velarem o rosto para ocultá-lo da horrorosa cena, e o Sol esconder sua luz, recusando-se a contemplá-la. Pensem nessas coisas e então perguntem: É o caminho demasiado estreito? Não, não” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos. Vol. 1, p. 82).

Caro amigo leitor, quando contemplamos Jesus morrendo na cruz por nós, passamos a amá-Lo e nossa vida nunca mais é a mesma. Ele nos dá uma alegria que nada poderá arrebatar. Portanto orgulhe-se sobre, exalte sobre, glorie-se na cruz de Cristo. Não quer você depor a sua velha vida de pecado aos pés da cruz, nossa única esperança, permitindo que o poder desta cruz transforme o seu viver? Para mim e para você a cruz de Cristo, deve ser símbolo de vitória e de alegria.

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