Por
Kevin M. Burton*
Como o racismo
sistêmico foi encarado por pioneiros do movimento milerita e Igreja Adventista
em um resgaste histórico do século XIX.
O movimento do segundo
advento era inseparável do apelo abolicionista para a destruição imediata e
total da escravidão, e a reivindicação por direitos iguais aos oprimidos. Desde
a ascensão do movimento milerita, no começo de 1830 durante o fim da Guerra Civil,
os adventistas de todos os tipos usaram a tática de persuasão moral para
alertar os americanos pró-escravidão que Deus logo voltaria. E que os julgaria
se eles não se arrependessem e se reformassem imediatamente. Dessa maneira,
eles fizeram protestos contra a injustiça racial inseparável de sua fé
adventista.
Embora muitos
adventistas mileritas evitassem a associação com partidos políticos porque
esses partidos apoiavam a escravidão, a partir de 1840 um número significativo
de pessoas se juntou ao Partido da Liberdade, que tinha uma única plataforma: a
abolição imediata e total da escravatura e “a restauração da igualdade de
direitos entre os homens”1
Abolicionismo
Em 1848, o Partido da
Liberdade nomeou Gerrit Smith — um proeminente abolicionista, adventista
milerita e observador do sétimo dia do sábado — como candidato a presidente dos
Estados Unidos. Durante o período pré-guerra, os mileritas e os adventistas do
sétimo dia também arriscaram suas vidas para libertar escravos da escravidão.
Enquanto alguns fizeram
isso legalmente, comprando a liberdade de escravos, muitos violaram a lei
federal ao ajudar fugitivos na Ferrovia Subterrânea. Eles mantiveram a lei de
Deus sobre o escravo fugitivo, em Deuteronômio 23:15,16: “Não entregarás a seu
senhor o servo que, tendo fugido dele, se acolher a ti; Contigo ficará, no meio
de ti, no lugar que escolher em alguma das tuas portas, onde lhe agradar; não o
oprimirás” (ACF). De fato, de todas essas maneiras, os adventistas foram
inspirados por sua fé cristã a lutar contra o racismo sistêmico na América.
A causa antiescravista
estava enraizada no protesto negro, e adventistas do sétimo dia negros também
eram abolicionistas ativos. “O Pastor” John West, um ministro adventista do
sétimo dia, ex-escravo e amigo próximo de Gerrit Smith, pregou contra os males
da escravidão e do racismo. Ele publicou e promoveu várias obras abolicionistas
de Smith, e gerenciou em uma loja em Peterboro, Nova Iorque, que não vendia
produtos cultivados por mão-de-obra escrava. Em Bath, Nova Iorque, Elias e
Henrietta Platt eram líderes adventistas locais e os abolicionistas mais ativos
em sua cidade. Elias atuou como agente local da The North Star, de Frederick
Douglass, e gerenciou uma loja de produtos gratuitos como a West’s. Os Platts regularmente
hospedavam abolicionistas em viagem.
Em janeiro de 1852, os
Platts receberam Tiago e Ellen White em sua casa durante um tempo em que
praticamente todos os nortistas brancos se recusavam publicamente a se associar
com negros. Quando Elias Platt morreu inesperadamente em 1854, Frederick
Douglass escreveu seu obituário, afirmando que Platt era “um dos amigos mais
dedicados, honestos e perseverantes de seu povo no estado de Nova Iorque.”2
Petições
Os adventistas do
sétimo dia também fizeram uma petição contra a escravidão do sul e o racismo do
norte. Joseph e Prudence Bates lideravam os abolicionistas em Fairhaven,
Massachusetts, durante as décadas de 1830 e 1840. Eles assinaram e circularam
as petições para abolir a escravidão e impedir a anexação de novos estados
escravagistas, apelaram aos Estados Unidos para reconhecer a independência do
Haiti após sua vitoriosa guerra de independência da França e ajudaram a abolir
a segregação racial em trens e leis contra o casamento inter-racial em
Massachusetts.3
Nas décadas de 1850 e
1860, os adventistas guardadores do sábado fizeram uma petição novamente contra
mais questões, como a pena de morte (acreditando que tanto a escravidão quanto
a pena de morte “representavam sistemas de brutalidade que coagiam os
indivíduos”4), a Lei dos Escravos Fugitivos de 1850 e a Lei Kansas-Nebraska
(1854). Na década de 1860, os adventistas do sétimo dia, por vezes, colocaram o
nome da denominação em petições que eles escreviam e distribuíam.
Em abril de 1862, por
exemplo, um grupo de 44 “adventistas do sétimo dia e outros” de Linn County,
Iowa, testemunhou, “que nossas profissões de cristianismo e nos vangloriarmos
de liberdade são apenas um escárnio à vista das nações da Terra e do Deus do
Universo, enquanto nos demoramos, na prática, a reconhecer os ‘direitos
inalienáveis de todos os homens à vida, à liberdade e à busca da felicidade’”.
Os adventistas de Linn County, então, “pressionaram” Abraham Lincoln e o
Congresso a imediatamente abolir “o grande e anormal crime da escravidão, a
fonte incorrigível e inesgotável de nossa ruína nacional”.5
Os adventistas do
sétimo dia também incorporaram argumentos abolicionistas às três mensagens
angélicas (Apocalipse 14:6-12). O primeiro anjo alertou que a hora do juízo de
Deus estava chegando, e os adventistas enfatizaram que, se os americanos
pró-escravidão continuassem impenitentes, eles seriam duplamente punidos por
seus pecados.
O segundo anjo avisou
que a Babilônia caiu, e os mileritas saíram das igrejas protestantes
(Babilônia) porque aquelas igrejas apoiavam a escravidão. Ellen White
determinou que qualquer adventista do sétimo dia que tivesse simpatia pela
escravidão deveria se imediatamente desassociado.
Finalmente, os
adventistas do sétimo dia relacionaram as três mensagens angélicas contra a
adoração da besta com a causa antiescravista. Apocalipse 13:1-18 revela que a
besta de dois chifres impõe a idolatria, e os adventistas identificaram a
América como essa besta porque ela professava apoiar a liberdade civil e
religiosa (os dois chifres), mas, na realidade, negava esses privilégios às
minorias religiosas e raciais.6
Os pioneiros
adventistas do sétimo dia lutaram contra a opressão por meio de sua fé e ações
durante uma época em que apenas uma pequena minoria de americanos protestou
contra o racismo. Ao incorporar argumentos antiescravistas em sua apresentação
das três mensagens angélicas, os adventistas do sétimo dia fizeram de um
protesto contra o racismo sistêmico uma parte importante de suas crenças
fundamentais. Eles desafiaram seus descendentes espirituais a continuarem com
essa fé.
*Kevin
M. Burton é teólogo e faz doutorado em história da religião
americana.
2. Kevin M. Burton,
“Born a Slave, Died a Freeman: John ‘the Dominie’ West, Seventh-day Adventist
Minister and Abolitionist,” Adventist Review, April 2019, 52-55; “List of
Agents,” The North Star, April 17, 1851, 1; “Free Labor Sugar & Molasses,”
Steuben Courier, December 31, 1845, 3; Carter G. Woodson, ed., The Mind of the
Negro as Reflected in Letters Written during the Crisis, 1800-1860 (Washington,
DC: Association for the Study of Negro Life and History, 1926), 353; James
White, “Our Tour West,” Advent Review and Sabbath Herald, February 17, 1852,
93; Richard Archer, Jim Crow North: The Struggle for Equal Rights in Antebellum
New England (New York: Oxford University Press, 2017); Beth A. Salerno, Sister
Societies: Women’s Antislavery Organizations in Antebellum America (Dekalb, IL:
Northern Illinois University Press, 2005), 32, 33; [Frederick Douglass],
“Died,” Frederick Douglass’ Paper, July 7, 1854, 3.
3. Kevin M. Burton,
“Joseph Bates and Adventism’s Radical Roots,” Adventist Review, March 3, 2020.
4. Louis P. Masur,
Rites of Execution: Capital Punishment and the Transformation of American
Culture, 1776–1865 (New York: Oxford University Press, 1989), 157.
5. “Petition of
Seventh-day Adventists and Others of Linn County, Iowa, for the Abolition of
Slavery in the United States,” April 1862, SEN 37A-J4, National Archives,
Washington, D.C.
6. Ellen G. White,
Testemunhos para a Igreja, 1:259, 358; Charles Fitch, “Come Out of Her, My
People”: A Sermon (Rochester, NY: J. V. Himes, 1843), 16; White, Testimonies,
1:360; Douglas Morgan, Adventism and the American Republic: The Public
Involvement of a Major Apocalyptic Movement (Knoxville, TN: University of
Tennessee Press, 2001), 15-29.
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