Teologia

sábado, 18 de julho de 2020

OS PASTORES ADVENTISTAS DIGITAL INFLUENCERS E A POLÍTICA


Ricardo André

A palavra política é oriunda da palavra grega pólis, que significa literalmente cidade. Portanto, política é o governo da cidade. Segundo o Dicionário Aurélio Ilustrado, política significa “a tarefa de governar um país, um estado, um reino, etc; a direção dos negócios públicos” (p. 386). Do ponto de vista ético ou dos valores, a política é o conjunto de ações pelas quais os homens e as mulheres buscam uma forma de convivência entre os indivíduos, grupos, nações que oferecem condições para a realização do bem comum. Já o grande estudioso francês, Pe. Lebret, definiu adequadamente política como sendo: “a ciência, a arte e a virtude do bem comum”. Do ponto de vista dos meios ou da organização, a política é o exercício do poder e a luta para conquistá-lo. Essa ação política ocorre quando pessoas e grupos sociais se organizam em partidos políticos e, constroem e defendem projetos para a gestão e organização da sociedade, propondo-se também a representar o interesse de diversos grupos e classes, candidatando-se a serem eleitos pelo voto para funções legislativas (vereador, deputado e senador) e executivas (prefeito, governador e presidente da República). Como a Igreja Adventista tem se relacionado com a política-partidária? Como líderes cristãos, os pastores podem defender plenamente algum posicionamento político? O propósito deste artigo é promover exatamente essa reflexão.

A Igreja Adventista e a política

Por acreditar e defender o princípio da laicidade do estado (separação de Igreja e Estado), a Igreja Adventista do Sétimo Dia é oficialmente apartidária. Não possui partido nem bancada nos Parlamentos, não apoia e nem faz acordo político com nenhum partido nem com seus candidatos. “A igreja acredita que adotar uma postura que não envolva filiação partidária ou qualquer tipo de compromisso com partidos políticos é uma das maneiras de manter esse princípio. Tal prática deve nortear não apenas a organização adventista em todos os seus níveis administrativos, mas também as instituições por ela mantidas, seus pastores e servidores”.1 Não obstante ser apartidária, a Igreja Adventista reconhece os direitos políticos de seus membros de votar e ser votado e, mantém relacionamento adequado, de respeito as autoridades constituídas em todas as esferas do poder político. De acordo com o documento da igreja “Os Adventistas e a Política”, os membros leigos que exercem funções na igreja local e, que desejam pleitear algum cargo eletivo através de eleições, são solicitados a deixarem “suas funções na igreja local durante o período de campanha”2. Já os pastores e funcionários das instituições mantidas pela Organização devem desvincularem-se “obrigatoriamente do trabalho na organização adventista”3.

Essa posição da igreja é corretíssima, até porque não é a missão da igreja atuar no mundo como um partido político, mas como uma agência proclamadora do “evangelho eterno”, conforme descrito em Apocalipse 14:6-12. Essa posição da igreja a diferencia de muitas outras igrejas evangélicas que, de forma equivocada, fundam partidos, promovem e elegem seus candidatos, bem como fazem a cooptação de fiéis para fins político-eleitorais, eliminando o senso crítico do fiel. Mas, não somente isso. Há o abuso do poder econômico ou político, religioso e o autoritarismo que vicia a vontade do crente filiado. É a velha dicotomia entre o discurso e a prática.

Os pastores adventistas digital influencer e a direita política

Não obstante a Igreja Adventista corretamente ser apartidária, uma enorme parcela dos pastores adventistas no Brasil possuem posições políticas alinhadas com a direita. Muitos deles influenciados pela teoria conspiratória de dominação do Brasil pelos comunistas pela dominação cultural, denominada de “marxismo cultural”, desenvolvida pelo astrólogo falido Olavo de Carvalho, tornaram-se anti-esquerdistas. Segundo o astrólogo Olavo, o “marxismo cultural” representa uma ação conjunta de governos e instituições para demolir os valores do Cristianismo e impor um relativismo cultural e leis a favor do aborto, do casamento homoafetivo, entre outras coisas, além de um controle estatal da economia e da cultura que implantaria o comunismo paulatinamente sem necessidade de uma revolução armada da classe trabalhadora, como previa o velho Karl Marx. Logo, o “marxismo cultural” é inimigo do Cristianismo. Ainda segundo eles, a televisão, os livros escolares, as universidades, as músicas, a arte em geral, e toda a educação, assim como a justiça e a estrutura do Estado, estariam sendo alterados microscopicamente para, depois de um tempo de modificações acumuladas, promover um momento ideal para a revolução comunista, que dessa vez seria silenciosa e sem derramamento de sangue. É a partir dessas ideias mirabolantes que a direita mobiliza os cristãos em torno dos seus objetivos, conseguem trazer a maioria dos cristãos para seu campo político.

Por conta disso, os partidos de esquerda passaram a ser demonizados pelos pastores de todas as agremiações cristãs, inclusive pelos adventistas, bem como por muitos cristãos leigos que se tornaram presas fáceis desse engodo. Neste contexto, muitas vezes, ao defendermos políticas sociais, temos que escutar de muitos cristãos que “isso é influência da praga do marxismo cultural”, “ser de esquerda virou crime”, “a ditadura comunista estava sendo implantada no Brasil” e coisas do tipo. Isso tornou-se uma paranoia. A verdade é que isso não passa de pura invenção e simplismo ideológico do discurso reacionário. Mas, os líderes religiosos no Brasil tomaram-na como verdade absoluta. Fato é que, a retórica dos que plantam o terror do “marxismo cultural” gravita em torno de um projeto de desconstrução: das políticas sociais, das conquistas das minorias, dos direitos trabalhistas e do papel do Estado na economia. Qualquer um que se levante contra a “ameaça comunista” no Brasil, não importa o que mais possa dizer, é aclamado como líder. Eles não se preocupam com racismo, concentração de renda, desigualdades regionais, ausência de políticas públicas eficientes para melhorar as condições de vida dos pobres, negros, mulheres e outros grupos vulneráveis. Ao contrário, eles endossam tudo isso.

Vale ressaltar que não são todos os pastores adventistas que possuem posições políticas de direita. Há muitos que, inclusive, evitam manifestarem-se politicamente, e agem de forma coerente com o que preconiza a Instituição. Porém, alguns outros tornaram-se figuras atuantes nas redes sociais, com uma forte militância contra a esquerda e os adventistas progressistas, a exemplo dos pastores Leandro Quadros e Michelson Borges. Ambos já produziram textos e vídeos com um amontoado de falsidades sobre a esquerda ou o marxismo, cuja ideia central é demonizar o pensamento de esquerda, como se ele fosse oposto a Deus e às diversas manifestações de fé. No seu combate a esquerda, comumente dizem: “Não sou esquerda nem direita”. Mas, não criticam na mesma quantidade e intensidade a direita como fazem à esquerda. Eles sabem (e nós sabemos) de que lado estão. O Michelson Borges postou recentemente em seu Blog "Outra Leitura" o texto “A infiltração dos “cristãos progressistas” na igreja cristã”4, do teólogo e escritor Franklin Ferreira, e primeiramente publicado no jornal Gazeta do Povo. Nele, o articulista, de início, comete o erro da generalização carregada de sentimento de desprezo ao acusar que todos os cristãos progressistas “repudiam a Bíblia como Palavra de Deus inspirada e infalível. Falam da irrelevância da Trindade ou defendem o teísmo aberto. São indiferentes aos ensinos sobre o pecado original e pessoal, e a salvação pela graça. Repudiam o nascimento virginal de Cristo Jesus, Seu sacrifício expiatório e substitutivo na cruz e Sua ressurreição corporal. Rejeitam todo e qualquer milagre ou sinal divino. São críticos das igrejas ou estão desigrejados. São indiferentes ou abandonaram qualquer crença na segunda vinda de Cristo”. Embora reconheçamos que existam cristãos progressistas (adeptos da teologia liberal), que negam a inspiração e a historicidade da Bíblia Sagrada e seus principais ensinos, isso não significa que a totalidade dos cristãos de esquerda pensem assim. Nem todo cristão progressista é teologicamente progressista. A maioria deles são politicamente progressistas e teologicamente conservador. Todavia, o articulista do texto tenta colocar todos os cristãos progressistas “na vala comum”. Ocorre que a generalização comum pode se transformar em um grande perigo, exatamente por estabelecer preconceitos devastadores e balizar comportamentos de exclusão e indiferença, além de em nada ajudar a vivermos melhor. Percebendo a malfazeja generalização, Michelson Borges abre colchetes no texto para dizer “que nem todos os cristãos progressistas pensam dessa forma”. Bem que o Pr. MB poderia ir além e ter colocado como exemplo os adventistas progressistas. Estes são progressistas no âmbito político, pois lutam pelos direitos sociais dos pobres, dos negros, mulheres, indígenas e outros grupos excluídos ou vulneráveis da nossa sociedade; mas não  são progressistas no campo teológico, uma vez que para eles a Bíblia Sagrada e seus ensinos lhes são muito caros. Exatamente como todo bom adventista, eles amam e adotam as Sagradas Escrituras como única regra de fé e prática, se identificam integralmente com todas as 28 Crenças Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia, amam sua Igreja e, acreditam ser ela a Igreja Remanescente da profecia bíblica (Ap 12:17).

Causou-nos estranheza, o Pr. Michelson Borges, no final do texto, a fim de endossá-lo fazer o seguinte comentário: “Embora seja teólogo batista, Franklin Ferreira faz um diagnóstico interessante do que está acontecendo com todas as igrejas cristãs. Perfeccionistas, extremistas e fanáticos têm feito grande estrago nas igrejas. Mas progressistas inconsequentes não ficam atrás. Esses estão até mais capilarizados e vão minando aos poucos os fundamentos doutrinários e os valores do cristianismo, reduzindo o vigor da sua mensagem. Temos que prestar atenção nessa tendência e opor resistência a essa subversão do verdadeiro cristianismo”. Pasme o leitor em face de tão grosseira assertiva! 

São comentários obtusos como esses que influenciam seus “seguidores” nas redes sociais a olharem “atravessados”, a insultarem e a tratarem com desdém e discriminação seus coirmãos esquerdistas na igreja. Ao afirmar que “temos que opor resistência a essa subversão do verdadeiro cristianismo”, o Michelson Borges revela claramente sua intenção de combater seus coirmãos progressistas, que fizeram opções políticas distintas daquelas que interessam aos detentores do poder político e dele. Tal atitude beira a intolerância disfarçada de cristianismo.

No meio do texto, o Michelson Borges abre novamente colchetes para tecer o seguinte comentário: “Obviamente que todos os cristãos devem se preocupar com os pobres e com os direitos humanos. Devem trabalhar pelos que sofrem e ajudar a amenizar a dor do semelhante. Mas não fazem isso por causa de bandeiras ideológicas nem entendem que isso é a essência do que constitui pregar o evangelho. Fazem isso simplesmente porque amam ao próximo; porque seguem o exemplo do Mestre; porque é o correto a ser feito. Mas entendem que pregar o evangelho é falar de Cristo e das verdades bíblicas, anunciando a salvação e a volta de Jesus”. Louvamos as ações assistencialistas da imensa maioria dos cristãos em favor dos pobres motivados unicamente pelo amor a Jesus e ao próximo. Contudo, perguntaríamos: Qual seria o problema de lutar através de movimentos sociais, de ONG's e mesmo de partidos políticos para que o Estado implemente políticas públicas para melhorar as condições de vida dos pobres, motivados pelo amor ao próximo e a Deus, bem como por “bandeiras ideológicas”? Os cristãos progressistas fazem a junção de todas as motivações elencadas por Michelson Borges. A ideologia é um elemento motivador a mais. Onde está teologicamente o erro em os cristãos de esquerda fazerem a defesa dos direitos humanos por motivações religiosas e, ao mesmo tempo, atuar num movimento social, numa ONG ou mesmo num partido político para que esses direitos sejam realmente efetivados? Na verdade, o erro está em querer demonizar algo pelo simples fato de não gostar ou concordar com um modelo de sociedade preconizado pela esquerda, em que o Estado possa ser agente para atenuar desigualdades, olhar pelos que mais sofrem e promover justiça social. Este maniqueísmo de Michelsom Borges e de todos os pastores ligados a direita política jamais produziu bons frutos para o mundo e, muito menos, para os cristãos. Tal postura não passa de "implicância ideológica" com a esquerda! Michelson Borges, Leandro Quadros e outros pastores direitistas adventistas provam que não conseguem resistir à tentação de uma implicância ideológica, mesmo que isso possa causar prejuízos a imagem da igreja. Ao oporem-se as “ideologias” significa definirem-se como arautos das forças do bem, reforçam a ideologia do “Nós contra eles”, que tantos estragos tem causado ao país, a exemplo de discussões entre familiares, brigas com amigos e irmãos de fé, ofensas e até ameaças de desconhecidos.

É preciso entender que o assistencialismo praticado pela maioria dos cristãos, como doações de roupas, calçados e alimentos aos necessitados, não resolvem em definitivo os problemas deles, pois não elimina as causas dos problemas enfrentados pelos mesmos. Mas, as políticas públicas sim. Elas são essenciais para o desenvolvimento humano, formação da cidadania e promoção de igualdades. E essas políticas são criações de projetos sociais ou ações promovidas pelo Estado em parceria com a sociedade, que buscam trazer melhorias e qualidade de vida para as pessoas, gerando uma transformação social. Essas políticas prezam a coletividade, o interesse de todos os públicos, e ocorrem nas mais diferentes áreas, como saúde, educação, lazer, cultura, moradia, transporte, segurança e assistência social. Os cristãos socialmente ou politicamente engajados fazem exatamente as reivindicações ao poder público no sentido de que se implementem essas políticas. Seu agir político, portanto, é motivado primeiro pelo seu amor a Deus e ao próximo e, segundo, por uma ideologia que eles acreditam. Não há nisso nenhuma contradição com a fé cristã. Ao contrário, harmoniza-se perfeitamente com os princípios bíblicos. A Bíblia diz: "Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados" (Pv 31:8,9, NVI). Portanto, à luz das Sagradas Escrituras, a busca da justiça social não é uma opção para os cristãos, mas um mandado do Senhor.

Respeitamos a crença do Michelson Borges e compartilhada por milhares de outros cristãos, de que eles devem trabalhar no sentido de mitigar o sofrimento dos pobres à parte do engajamento político-ideológico. Mas, os mesmos igualmente devem respeitar a concepção dos outros cristãos que creem que podem e devem se envolver desde as grandes políticas e causas, até as pequenas lutas diárias por direitos e melhorias nas condições de vida de sua comunidade, sua cidade, seu estado e seu país. Os cristãos que optaram por trabalhar com o assistencialismo não devem criticar aqueles cristãos que lutam pela creche de seu bairro, pelo posto de saúde, por educação pública de qualidade social, por melhores condições de trabalho e salário, entre outros direitos. Respeitar é preciso para que haja na igreja um ambiente de harmonia e paz.

Os pastores e a polarização política

Desde meados de 2014, o Brasil vive um período de polarização política. Essa divisão política é expressada nos discursos mais radicais dos partidos, nas redes sociais quando as pessoas ligadas a direita e a esquerda optaram pelas ofensas e ataques agressivos, bem como nas ruas com eleições acirradas, manifestações de grupos de direita e esquerda a favor e contra o impeachment da ex-Presidente Dilma Roussef em 2016, tendo as redes sociais como o principal instrumento de mobilização desses grupos. De modo que temos a percepção de que o país está mais dividido entre esquerda e direita, conservadores e progressistas. Tal polarização se intensificou na última eleição presidencial, que resultou na eleição de um presidente de extrema direita.

A intensa polarização política prevalecente atualmente na sociedade brasileira foi extrapolada para as igrejas cristãs. Muitos crentes estão digladiando-se, brigando a respeito de pautas defendidas pela esquerda ou pela direita. Penso que os cristãos não deveriam enveredarem-se por esse caminho tortuoso. Isso só gera ódio, ressentimento e divisão entre o povo de Deus. Isso não é bom para a vida espiritual dos que se envolvem em brigas políticas. Acho até que um debate político respeitoso entre os cristãos é salutar.

É preciso que se entenda que vivemos num país democrático, e que cada pessoa é livre para escolher ser de “esquerda”, de “direita” ou ser “nenhum nem outro”. Esses três grupos presentes nas igrejas precisam respeitarem-se mutuamente e serem tolerantes com os que divergem deles. Como reflexo de nossa realidade, as discussões sobre ideologias políticas também alcançaram os líderes religiosos. Penso ser um erro crasso pastores se utilizarem das redes sociais para expressarem abertamente sua posição política e travarem “guerra” contra a esquerda, a fim de “proteger” as ovelhas do demônio do marxismo ou "abrir os olhos" daqueles que defendem as pautas da esquerda, a exemplo da justiça social. Entretanto, parece que esse assunto não deveria ocupar o tempo dos ministros do evangelho. Ellen White escreveu: “O Senhor quer que Seu povo enterre as questões políticas. Sobre esses assuntos, o silêncio é eloquência. Cristo convida Seus seguidores a chegar à unidade nos puros princípios evangélicos que são positivamente revelados na Palavra de Deus.”5

Não há nada de errado em pastores terem posições políticas, desde que resguardado o respeito ao legítimo pluralismo das opções politico-partidárias das suas ovelhas. Como cidadãos, os ministros têm todo o direito de possuírem suas convicções políticas, inclusive de direita, mas precisam ser mais reservados para não estimular a polarização entre os crentes e introduzir a divisão nas igrejas que eles cuidam.

As manifestações políticas anti-esquerdistas de pastores como Leandro Quadros e Michelson Borges só têm contribuído para intensificar a polarização política na igreja. Penso ser isso uma estratégia equivocada deles e outros espalhados pelo Brasil. É preciso que eles entendam que essa desnecessária combatividade contra os partidos de esquerda, bem como aqueles que se identificam com suas pautas, acabam levando-os a perderem o rumo e o foco da missão que Jesus Cristo lhes designou, que é ir ao mundo e proclamar as boas novas de salvação (Mt 28:18-20), que é ensinar as pessoas que Jesus as aceita e oferece o Seu perdão; é anunciar que Jesus irá voltar em breve para  estabelecerá seu Reino de justiça e paz, que jamais terá fim, e conceder a vida eterna aos que creram nEle (Jo 14:1-3; Dn 2:44; I Ts 4:16-18).

Penso que se um pastor digital influencer acha que poderia prestar um serviço melhor para a sociedade por meio de suas opiniões políticas nas redes sociais, para ser coerente deveria deixar o ministério pastoral, dedicando-se à carreira política integralmente. Ellen White, a mensageira do Senhor, foi muito contundente quanto a esse assunto, ao escrever que “os mestres, na igreja ou na escola, que se distinguem por seu zelo na política, devem ser destituídos sem demora de seu trabalho e suas responsabilidades; pois o senhor não cooperará com eles. O dízimo não deve ser empregado para pagar ninguém para discursar sobre questões políticas. Todo mestre, ministro ou dirigente em nossas fileiras, que é agitado pelo desejo de ventilar suas opiniões sobre questões políticas, deve-se converter pela crença na verdade, ou renunciar à sua obra”.6

É preciso que os pastores que estão manifestando suas opiniões políticas nas redes sociais entendam que, ao eles se preocuparem em combater e demonizar a esquerda e suas bandeiras como um inimigo a ser vencido, estão fazendo o jogo sujo das elites do atraso, como denominou-as o sociólogo Jessé Souza, que não admitem a ascensão social dos pobres, que são contra toda e qualquer política pública que promova a ascensão social das camadas populares.

Nesses últimos anos temos vistos alguns pastores pentecostais e neo-pentecostais, a exemplo de Silas Malafaia e Marcos Feliciano, que por se ocuparem em fazer militância política contra partidos de esquerda nas redes sociais, nos programas de televisão e nos púlpitos de suas igrejas, têm perdido a credibilidade e o respeito entre uma parcela significativa dos cristãos evangélicos no Brasil. Esse é também o risco que correm os pastores digital influencers como Leandro Quadros e Michelson Borges. Como disse o apóstolo Paulo, “importa que os homens nos considerem como ministros de Deus” (1Co 4:1). Penso que o melhor que os pastores e membros leigos adventistas têm que fazer é pregar o “evangelho eterno” (Ap 14:6-12), sem fazer referência ou mesmo comprar briga com partido A ou B ou com os movimentos sociais. Fazendo isso todos estarão honrando a Deus e abrindo portas para alcançar outros com a luz do evangelho.

Que os nossos queridos pastores sinceros ponderem honestamente sobre tudo isso, e revisem seu julgamento sobre aqueles crentes que  aguardam o segundo advento de Cristo e, consequentemente, o fim da era do pecado e o início de um mundo melhor, conforme prometido por Deus em sua Palavra, mas que acreditam que, como luz e sal da Terra (Mt 5:13-16), podem e devem dá sua contribuição na construção de um mundo com mais justiça social e mais fraterno, através das várias expressões do agir político – seja no sentido amplo, seja na militância partidária ou num movimento social. Isso não compete com a autoridade da Palavra de Deus, como querem alguns. Ao contrário, está em harmonia com a Bíblia. No passado, movido pelo chamado de Deus e pela compreensão de que Ele deseja a justiça, os profetas ousaram ser a voz dos oprimidos (Is 1:17, 23 e 24; Mq 6:8; Ez 16:49). Deus ainda hoje pede que busquemos a justiça social e lutemos contra a opressão e pelos direitos dos pobres e excluídos. Como cristãos, antes que Cristo Jesus volte em glória e majestade, devemos promover as mudanças sociais que refletem os valores e ensinamentos de Jesus.

Entendem ser importante ressaltar que uma sociedade livre completamente das mazelas sociais não será resultado da ação dos homens, mas resultado da intervenção divina, que se dará por ocasião da volta de Jesus, que trará um Novo Céu e uma Nova Terra, “nos quais habita a justiça” (2Pe 3:13). No entanto, enquanto Ele não vem podemos atuar no sentido de construir uma sociedade melhor para nossos irmãos, mas sempre com os olhos para o Céu. Atuar na sociedade sem, obviamente, deixar de buscar prioritariamente “as coisas lá do alto” (Cl 3:1). Esse é o princípio.

 

Referências:

1. Os Adventistas e a Política. Disponível em: <https://www.adventistas.org/pt/institucional/organizacao/declaracoes-e-documentos-oficiais/os-adventistas-e-politica/>. Acesso em: 17 jul. 2020.

2. Idem

3. Idem

4. A Infiltração dos "Cristãos Progressistas” na Igreja Cristã. Disponível em: <https://michelsonborges.wordpress.com/2020/07/15/a-infiltracao-dos-cristaos-progressistas-na-igreja-crista/?fbclid=IwAR1E2HACM0B4147nCkExoSnHThByXKdI_mYkkblMrf6H9xOjGt1Bceoe3ag>. Acesso em: 15 jul. 2020.

5. WHITE, Ellen G. Fundamentos da Educação Cristã. Tatuí, SP: CPB, 2007. p. 475.

6. Idem, 477.

 

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