Teologia

sábado, 11 de julho de 2020

O “CAMINHO DE CAIM” E O CAMINHO DE DEUS: QUAL VOCÊ IRÁ TRILHAR?


Ricardo André

Quero neste artigo meditar num texto bíblico pouco lido e, igualmente pouco falado. É o texto de Judas 1:11, que diz: “Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim, buscando o lucro, caíram no erro de Balaão e foram destruídos na rebelião de Corá”. Neste texto queremos refletir apenas na primeira parte do verso, onde o apóstolo Judas pronuncia um “ai” para aqueles que “seguiram o caminho de Caim”. Em que tipo de estrada da vida Caim andava? Quais são as marcas desse caminho? O que esta história tão antiga nos fala hoje? Como é que nós podemos aprender da experiência destes primeiros homens e evitar o caminho de Caim? É preciso conhecermos esse caminho, a fim de não andarmos nele, escapando da condenação eterna. Caim é citado quatro vezes nas Sagradas Escrituras. No princípio da sua história, em Gênesis 4:1-25. Em Hebreus 11:4 onde se refere sobre o mesmo episódio. Em I João 3:12 e neste verso de Judas. A dramática história de Caim ainda é relevante em nossos dias, uma vez que, frequentemente milhares de pessoas, adotando o espírito de independência de Caim, procuram organizar suas vidas divorciadas de Deus.

Nessas palavras escritas há mais de dois mil anos, Judas fala exatamente sobre o perigo da rebeldia, empregando como ilustração negativa, a experiência de Caim, que escolheu viver uma vida alheia a Deus, cujo fim foi a destruição completa de seus descendentes por ocasião do dilúvio.

Após a queda, Deus prometeu ao primeiro casal, Adão e Eva, enviar um Libertador (Gn 3:15). Caim foi o primeiro filho de Eva. O nascimento do seu primeiro bebê deixou-a entusiasmada porque estava certa de que Deus havia provido o redentor do mundo. Talvez, nas suas palavras, depois do nascimento de Caim, ela estivesse expressando que esse fosse o Prometido: “Com o auxílio do Senhor tive um filho homem" (Gn 4:1, NVI). “O hebraico diz, literalmente: ‘Adquiri um varão, o Senhor’. Quando Eva segurou seu primogênito nos braços, provavelmente se lembrou da promessa divina (Gn 3:15 e acariciando a esperança de que ele fosse o Libertador prometido, deu-lhe o nome de Qayin, ‘adquirido’” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 223). Que desapontamento esmagador! Esse filho não somente se tornou o primeiro homicida, mas também o pai de uma longa linhagem de pecadores rebeldes que estavam determinados a permanecer leais a Satanás. Além da menção de seu nascimento e seu terrível assassinato de seu irmão, não há qualquer referência nas Sagradas Escrituras a respeito da infância e juventude de Caim.

O caminho de Caim

O que levou Caim a tornar-se um homicida? Certamente ele não teve para contaminar seu caráter todas as influências mundanas contemporâneas, ás quais temos que resistir. Não havia marginais, nem más companhias de uma vizinhança citadina para desviar sua atenção de Deus. Ele não ouvia a música rock pauleira que enfatiza o sexo livre e as drogas pela internet, nem ficava horas a fio de olhos fitos nos filmes e novelas de TV, que focaliza a violência, a imoralidade e a trapaça. Não havia qualquer alimento prejudicial com alto ter de conservante nem pesada concentração de açúcar para alterar a química do organismo, tornando difícil a compreensão das coisas espirituais. Não havia drogas, bebidas alcóolicas, ou fumo... absolutamente nada que possamos apontar como culpado para influenciar sua vida. Entretanto, ele escolheu inexplicavelmente servir a si mesmo em vez do Criador.

Caim sabia que deveria ter morrido por seu ato sanguinário, mas em Sua misericórdia Deus o poupou da pena de morte. Contudo, Caim não sentiu gratidão, remorso ou arrependimento. Obstinadamente persistiu em seu mau caminho, escolhendo servir a si mesmo.

Ao estudar a história de Caim, muitos dizem ou pensam: “eu não entendo”, ou “isso não faz sentido”. Ellen G. White escreveu um comentário poderoso quanto a esse assunto: “É impossível explicar a origem do pecado de maneira a dar a razão de sua existência […] O pecado é um intruso, por cuja presença nenhuma razão se pode dar. É misterioso, inexplicável; desculpá-lo corresponde a defende-lo” (O Grande Conflito, p. 492, 493).

No caso de Caim, o pecado ou o mal foi uma repetição dos pensamentos cheios de orgulho que se originaram com Satanás. Segundo Ellen White, Caim “permitiu que a mente se deixasse levar pelo mesmo conduto que determinara a queda de Satanás, condescendendo com o desejo de exaltação própria, e pondo em dúvida a justiça e autoridade divinas” (Patriarcas e Profetas, p. 71).

Deus, que sempre indica como adorar, pedira um sacrifício que apontava para a morte do Cordeiro humano-divino. Esta seria uma prova de sua obediência e fé em Deus (Hb 11:4). Não há dúvida que Adão instruiu os seus dois filhos no único caminho aceitável para se chegarem a Deus, ou seja, pelo caminho do sacrifício dos animais. Ele deixou claro para eles que era essa a oferta que Deus queria e, eles “sabiam que nessas ofertas deveriam exprimir fé no Salvador a quem tais ofertas tipificavam, e ao mesmo tempo reconhecer sua total dependência dEle, para o perdão” (Idem).

Os dois irmãos estavam plenamente familiarizados com o que Deus queria deles. No entanto, Caim sentiu, como tantos sentem hoje, que seria demonstrar algum tipo de fraqueza seguir exatamente o plano da redenção estabelecido por Deus. Contrariando as orientações de Deus e fazendo sua própria vontade, Caim “trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor” (Gn 4:3, NVI), caindo no desagrado de Deus, enquanto seu irmão Abel, obedecendo aos ditames de Deus, sacrificou um cordeiro e, segundo as sagradas Escrituras, foi agradável ao Senhor.  Aparentemente, Caim não entendeu nada, pois isso se refletiu no sacrifício que ofereceu, e também na recusa em fazer o bem (1Jo 3:12). Não importa quão boa era sua oferta não importa o quão maravilhosa parecia ser, ainda que Caim houvesse trazido o seu melhor, Deus não estava satisfeito. Ele já havia ordenado qual era o sacrifício necessário. Ele já havia estipulado o formato para que os verdadeiros adoradores o seguissem e era apenas através da obediência que o Seu prazer e favor poderiam ser ganhos.

“Caim pretendia se justificar por suas próprias obras, ganhar a salvação por seus méritos. Ele se recusou a reconhecer que era pecador e que precisava de um Salvador. Apresentou uma oferta que não expressava nenhum arrependimento pelo pecado – uma oferta sem sangue. E “sem derramamento de sangue não há remissão”, pois ‘é o sangue que fará expiação pela alma’ (Hb 9:22; Lv 17:11)” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 224).

Pessoas, como Caim, querem fazer as coisas à sua própria maneira, seguindo a sua própria vontade. Escolher o caminho da auto-dependência é completamente “natural”. É possível que ele tenha racionalizado: “esse fruto é bom – não há nada de errado. Eu cultivei e apanhei com minhas próprias mãos. Deus simplesmente terá de aceitar o que estou oferecendo”. Assim, trouxe sua oferta de frutas, mas a parte fundamental, que demonstrava a necessidade de um Salvador, foi deixada de fora. Ele declinou o reconhecimento do pecado e a sua necessidade de reconciliação com Deus. Quando ele percebeu que sua oferta fora rejeitada pelo Senhor Deus, “se enfureceu e o seu rosto se transtornou” (Gn 4:5, NVI). “Ficou irado de que Deus não aceitasse o substituto do homem em lugar do sacrifício divinamente ordenado, e irado com seu irmão por preferir obedecer a Deus a unir-se em rebelião contra ele. [...] Caim odiou e matou o irmão, não por qualquer falta que Abel houvesse cometido, mas ‘porque as suas obras eram más, e as de seu irmão justas’ (1Jo 3:12)” (Idem, p. 73, 74).

Esse assassinato demonstrou que Caim era seguidor de Satanás, pois a Palavra de Deus afirma que Satanás “foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele” (João 8:44, NVI). O ato de assassinar Abel foi apenas a exteriorização de um ódio interior na sua recusa de aceitar o método de salvação escolhido por Deus.

Após cometer o hediondo crime, Caim foi posto fora da presença de Deus e, dirigiu-se para o leste do Éden, mais precisamente para Node, onde fundou uma cidade que recebeu o nome de seu filho mais velho, Enoque (Gn 4:16, 17). “Essa terra antediluviana, cujo nome significa “vagueação”, “fuga” ou “exílio”, tornou-se o lar dos ímpios descendentes de Caim” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 228). Ao ódio seguiu-se o homicídio e logo depois a apostasia. Gênesis 4:17-24 expõe um quadro de rápido declínio moral. Por 1.500 anos esta linhagem de pecadores endurecidos apegou-se aos enganos de Satanás na falsa representação do caráter e propósitos de Deus. A poligamia e o assassinato caracterizaram a família de Caim. Mas, o escritor das Sagradas escrituras não atribui só o mal aos descendentes de Caim; suas realizações são reconhecidas. Ele nota que descenderam de Caim artistas, artesãos, pastores e agricultores. Portanto, foram gigantes intelectuais e físicos, mas produziram pecadores gigantescos, até que Deus em sua misericórdia eliminou a raça antediluviana.

Como se vê, o caminho de Caim teve as seguintes marcas:

1) Caim foi um homicida e mentiroso. A Bíblia relata que Caim chamou a seu irmão Abel para que fossem ao campo, onde o matou (Gn 4:8), ou seja, Caim agiu de engano e foi traiçoeiro para com seu irmão. A mentira é algo próprio do maligno e quem a ama ou a comete, não tem parte alguma com Deus, que é a Verdade (Jo.1:6; Jo 8:44; Ap 21:8, 27).

2) Não reconheceu nenhuma necessidade da misericórdia divina. “Caim julgava-se justo, e foi a Deus com uma simples oferta de gratidão. Não fez confissão de pecado, nem reconheceu que carecia de misericórdia” (Parábolas de Jesus, p. 152).

3) Depois de assassinar a Abel, “Caim viveu apenas para endurecer o coração” (Patriarcas e Profetas, p. 78).

4) Sua apostasia levou à corrupção e violência. “De acordo com a tradição judaica, à qual Judas pode estar se referindo, Caim foi o pecador arquetípico e o instrutor de outros no pecado” (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1522). Ellen White escreveu: “Esse único apóstata, dirigido por Satanás, tornou-se o tentador para outros; e seu exemplo e influência exerceram uma força desmoralizadora, até que a Terra se corrompeu e se encheu de violência a ponto de reclamar a sua destruição” (Patriarcas e Profetas, p. 78).

5) Ofereceu um sacrifício sem sangue. “Abel aconselhou a seu irmão que não viesse diante do Senhor sem o sangue do sacrifício. Caim, sendo o primogênito, não quis ouvir a seu irmão” (História da Redenção, p. 52, 53).

6) Não reconheceu nenhuma dependência de Cristo. “Caim, em sua oferta, não reconheceu a sua dependência de Cristo” (Testemunhos Para Ministros, p. 77). Caim era mau (IJo 3:12) e assim prosseguiu, mesmo tendo sido alertado por Deus. Mesmo depois de ter sido sentenciado pelo Senhor, mesmo recebendo Sua proteção temporal pelo "sinal", afastou-se de Deus (Gn.4:16), passando a viver uma vida alheia a Deus, como demonstra a sua descendência.

“Deus apresentou diante de todo o Universo uma lição que dizia respeito ao grande conflito. A tenebrosa história de Caim e seus descendentes foi uma ilustração do que teria sido o resultado de permitir ao pecador viver para sempre, para prosseguir com sua rebelião contra Deus” (Idem, p. 78). Quanto mais os homens vivessem, mais malignos se tornariam seus caminhos. Os habitantes dos mundos não caídos puderam então ver claramente o resultado do tipo de governo de Satanás. A escolha desses descendentes de Caim, feita em sua rebelião, ilustra vividamente quão entrincheirados se tornaram em sua hostilidade para com Deus. E em seu próprio estilo compreensivo, Deus estava mostrando por meio disso tudo que Ele não somente tencionava derrubar a rebelião, mas eventualmente esclarecer para todos as íntimas operações e natureza do maligno esquema que Satanás arquitetara para sua forma de governo.

Ai deles!

Esses dois irmãos tornaram-se representantes de dois tipos de pessoas, dois tipos de escolhas e dois tipos de adoração. Abel, protótipo dos justos e leais a Deus, daqueles que entregam suas vidas a Deus pela fé, enquanto Caim é o protótipo dos ímpios que rebelam-se contra Deus, que são autossuficientes, independentes e desleais a Deus. À medida que o fim se aproxima, essas duas longas fileiras, de leiais e desleais, se tornarão mais distintas. Caro amigo leitor, hoje, você está decidindo que fileira irá seguir. Para aqueles que escolherem o caminho de Caim, o caminho sem sangue, da rebelião, está decretado um juízo: “Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim” (Jd 1:11).

Caim se apresenta diante de Deus com a ideia ilusória de que um pecador pode por si mesmo agradar a Deus, ou ser justificado pelas próprias obras. Por isso apresenta seu melhor trigo, fruto do seu trabalho e de seus esforços, como um sacrifício a Deus. Esta religião natural, princípio da apostasia, em nada difere da dos homens de hoje em dia, pois destes fala o apóstolo quando diz que “seguiram o caminho de Caim”. A religião destes consiste em tentar agradar a Deus através de suas obras. As pessoas desejam encontrar a religião que lhes satisfaça os anelos da alma em filosofias, e não encontram. Sem considerar a Palavra de Deus, afastam da consciência a ideia de um juízo inevitável.

Em Jesus, por conta de Seu sacrifício na Cruz, derramando sangue, nós somos livres da condenação sobre o qual o apóstolo Judas fala. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6, NVI). O caminho de Jesus é o caminho em que Seu sangue faz com que sejamos aceitos pelo Pai. Ele é o único caminho de retorno ao lar eterno. Não precisamos perder tempo pesquisando filosofias. Jesus é o caminho, a verdade e a vida! Depois que Adão e Eva saíram do jardim, ao tomarem um rumo diferente na vida, homens e mulheres lutam para voltar ao trilho, ao caminho de volta ao lar. O homem moderno errou o caminho e perdeu a direção, seguem no caminho de Caim, o caminho da rebelião, da independência de Deus, mas Jesus pode indicar a estrada rumo ao lar. Todas as pessoas que não valorizam o relacionamento com Deus, tratando-o como algo comum e sem importância estão no “caminho de Caim”. Esta autossuficiência do homem, esta recusa em viver na dependência de Deus é o caminho para a destruição. É a demonstração da soberba, prenúncio do fracasso e da destruição (Gn 3:6; Is14:14; 1Jo 2:16,17).

Há apenas duas escolhas, dois caminhos. Qual caminho você irá seguir, o “caminho de Caim”, o caminho do pecado, da rebelião contra Deus, como fez o diabo e, que conduz a morte eterna, ou o caminho de Jesus, o caminho dos filhos de Deus, que vencem o pecado pela fé em Jesus e, que conduz-nos ao lar eterno? A decisão é sua. Seu convite para você e para mim hoje é: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23, NVI). Esse é o caminho certo a seguir. Dê-Lhe sua mão agora mesmo. E aproprie-se da vida... no caminho certo!

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário