Teologia

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

BEBIDAS ALCOÓLICAS: O NÍVEL MAIS SEGURO É ZERO!


Luciano U. Ganzález

A quantidade mais segura do consumo de bebidas alcoólicas é zero. Bebidas com álcool não são saudáveis! Beber enquanto está na faculdade é arriscar as suas chances de êxito tanto nos estudos, como também a sua saúde futura e a sua felicidade.

O álcool é conhecido como um fator de risco de morte prematura e invalidez. Está ligado a cerca de 60 doenças.1 Embora alguns estudos tenham indicado que certos tipos de bebidas alcoólicas, quando usadas com moderação, podem ajudar a prevenir a doença cardíaca, outras pesquisas têm contestado esses resultados. Há relatos infundados de pessoas centenárias que supostamente “provam que beber ajuda a viver mais”, mas um estudo inovador, que integra dados globais de múltiplas fontes, utilizando uma metodologia bem fundamentada, publicou recentemente conclusões revolucionárias e definitivas para a saúde mundial. Esse novo estudo, publicado em The Lancet, o mais prestigiado e autorizado jornal de medicina, analisou o uso do álcool e seus efeitos sobre a saúde em 195 países, durante um período de 25 anos. Esse estudo meta-analítico abrangeu um total de 20 milhões de pessoas.

RESULTADOS DO ESTUDO

A principal descoberta alcançada por meio desse estudo é que o consumo de álcool é, em nível global, o sétimo maior fator de risco de morte prematura e invalidez. Em todo o mundo, ele é o fator de risco número 1 em mortes prematuras para pessoas de 15 a 49 anos.

Essas não são pessoas idosas que já estão sob risco, mas o típico estudante universitário. À medida que aumenta a quantidade de álcool consumida, aumenta também o risco de mortalidade.

O álcool produz efeitos diversos em várias partes do corpo. Quando ele é consumido regularmente, ocorrem efeitos adversos em vários órgãos e tecidos. A intoxicação aguda pode levar a lesões e envenenamento pelo álcool. O consumo excessivo leva à dependência, o que frequentemente causa comprometimento social e doenças mentais.

Quando os pesquisadores analisaram a quantidade de álcool que poderia ser considerada segura, descobriram que o nível mais seguro do uso de álcool era zero. Zero! Até mesmo meio copo de bebida alcoólica por dia estava relacionado a um período de vida mais curto.

Os resultados também mostraram que 32,5% da população mundial faz uso do álcool (25% mulheres e 39% homens). Há uma ampla variação por região (1,5% no Nepal, em comparação com 87% na Suécia). O consumo de álcool foi maior entre os países com índices de renda mais altos. Nessas regiões, em média, também foi mais alto o consumo de álcool por pessoa. Os homens consumiram mais bebidas alcoólicas que a as mulheres. O estudo observou que 2,8 milhões de mortes foram atribuídas ao uso do álcool em 2016, mais para homens do que para mulheres.

O estudo encontrou um pequeno benefício no consumo de álcool de que ele pode atuar como agente protetor contra alguns tipos de doenças cardíacas. As mulheres que vivem em regiões de mais alta renda possuem alguns efeitos protetores contra as doenças cardíacas e o diabetes depois dos 60 anos. Uma ampla variedade de cânceres foi responsável por uma grande proporção de mortes causadas pelo álcool. Portanto, os benefícios que alguns podem receber numa idade mais avançada, não compensam o risco mais alto de câncer. Foi constatado também que o álcool é a causa de outros problemas cardíacos, como acidentes vasculares cerebrais e aneurismas, bem como os danos e doenças transmissíveis relacionadas ao comportamento de alto risco, enquanto a pessoa está sob a influência dessa droga. O estudo sugere também que a abstinência do álcool é a recomendação mais segura. Assim, “o nível mais seguro do consumo de álcool é nada”.

POR QUE UM ESTUDANTE DEVE SE CUIDAR?

Um estudante em forma e com boa saúde pode não se preocupar com um futuro risco de câncer, mas pode experimentar os graves efeitos negativos do consumo de álcool. Os estudantes universitários são mais propensos a consumir álcool do que outros jovens não universitários.2 Isso devido a um tempo menos planejado, por estarem longe dos pais pela primeira vez, pelo estresse da escola, maior disponibilidade de bebidas alcoólicas e a pressão dos amigos. A bebedeira é considerada um ritual de entrada na faculdade. De acordo com uma pesquisa nacional feita em 2016 nos Estados Unidos, quase 60% dos estudantes universitários, entre 18 e 22 anos de idade, consumiram álcool no último mês e cerca de dois em cada três deles se embebedaram nesse período. Os efeitos negativos causados nos estudantes universitários de 18 a 24 anos, nos Estados Unidos, incluem morte (1.519 em um ano), agressões (692.00 a cada ano), e agressão sexual (97.000 a cada ano).3

Cerca de um em cada quatro estudantes universitários relatam problemas acadêmicos devido ao uso de bebidas alcoólicas. Esses problemas envolvem a falta às aulas, atrasar-se na entrega das tarefas, sair-se mal nas provas e na entrega dos trabalhos de classe. Tudo isso leva a um desempenho acadêmico e à média de notas mais baixos. Outras consequências graves envolvem o risco e tentativas de suicídio, problemas de saúde, ferimentos, sexo inseguro, vandalismo, danos à propriedade e maior envolvimento com a polícia. O consumo abusivo pode levar a um transtorno causado pelo uso de álcool, experimentado por 20% dos estudantes universitários nos EUA. O uso abusivo tem a tendência de diminuir depois da faculdade, mas aqueles que têm problemas com a bebida começaram a beber durante os anos da adolescência e da juventude

ÁLCOOL, COMPORTAMENTO E BEM-ESTAR

A ideia da abstenção de álcool é radical do ponto de vista da sociedade. No estudo conduzido por The Lancet, a recomendação não vem de uma organização religiosa conservadora. Cinquenta e três pesquisadores conduziram esse estudo como parte de uma colaboração internacional. Os resultados desse estudo chegam a ser difíceis de acreditar ou aceitar. O álcool faz parte da urdidura social e das comemorações e celebrações humanas, mas o dano causado pelo seu uso também é conhecido há milênios.

Embora a Bíblia não condene o uso do álcool, ela, repetidamente, condena a embriaguez (Provérbios 20:1; 1 Timóteo 3:8; e 1 Coríntios 5:11). Embebedar-se era visto como algo tolo e que levava ao pecado. O vinho nos tempos bíblicos tinha menor teor alcoólico e era sempre diluído com água. A fabricação do álcool destilado só começou depois dos tempos bíblicos e resultou em maior teor alcoólico nas bebidas, dando ainda maior motivo para preocupação. As bebidas intoxicantes também são constantemente desencorajadas no Qur’an [Alcorão]4 e os seguidores do islã são desestimulados a consumir álcool.

Algumas denominações cristãs ensinam a abstinência do álcool. A Igreja Adventista do Sétimo Dia ensina, como parte de suas Crenças Fundamentais, que “nosso corpo é o templo do Espírito Santo [e, portanto,] deve- mos cuidar dele de maneira inteligente [e nos abster de] bebidas alcoólicas”, bem como de outras substâncias nocivas à saúde.5 Espera-se que os adventistas honrem a Deus por meio de seu corpo e não o prejudiquem. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias também proíbe o consumo de bebidas alcoólicas.6 Como resultado da posição tomada por essas duas denominações, de se absterem das bebidas alcoólicas, juntamente com outras escolhas positivas de estilo de vida por elas estimuladas, seus membros vivem de oito a dez anos mais que a população em geral, de acordo com uma pesquisa conduzida recentemente.7

Um estudo de pesquisa conduzido entre estudantes universitários adventistas constatou que acreditar que o corpo é o templo de Deus atuou como um fator protetivo contra o consumo de bebidas alcoólicas. A pesquisa conduzida em campus adventista do sétimo dia demonstrou que quando os estudantes concordam que Deus deseja que cuidem de seu corpo evitando o álcool e as drogas, eles tinham 60% menor probabilidade de consumir esses itens proibidos. Um estudo qualitativo de acompanhamento utilizando grupos-alvo que acreditavam que o corpo é o templo de Deus identificou esse como um dos fatores a respeito do papel que a religião desempenha na redução do uso de bebidas alcoólicas entre os estudantes universitários adventistas.8

Os alunos podem racionalizar: “Mas todos bebem!” Isso simplesmente não é verdade em faculdades/universidades públicas ou faculdades/universidades adventistas. Sim, a maioria dos estudantes em instituições públicas pode consumir álcool, mas não “todos”. Em uma instituição adventista do sétimo dia de ensino superior nos EUA, a maioria nunca consumiu álcool em sua vida e apenas 10% relataram fazê-lo regularmente.9

VIVENDO SEM O ÁLCOOL

Conforme mencionado anteriormente, o álcool faz parte da sociedade há milênios. É utilizado não somente em comemorações e cerimônias, mas também como uma maneira de lidar com as tensões da vida. Vivemos em um mundo pecaminoso, que tem uma multidão de problemas com que lidar. O álcool é visto como uma maneira de fugir dos problemas, de relaxar no final do dia e de festejar nos finais de semana para liberar o estresse. Mas esses problemas ainda continuam lá depois que a pessoa volta a ficar sóbria, e frequentemente esses problemas são agravados pelo consumo do álcool.

Bebidas alcoólicas, na verdade, não relaxam o corpo como acham aqueles que as consomem. Embora o seu consumo possa fazer a pessoa se sentir mais sonolenta e relaxada, na verdade, elas interferem na qualidade do sono. Aqueles que pararam de beber álcool depois de consumi-lo regularmente para ajudá-los a dormir, descobriram que conseguiam dormir melhor depois que pararam de beber.10 Ele pode ajudar a pessoa a se sentir menos nervosa no meio social, mas também diminui a inibição, o que pode levar a praticar coisas das quais pode se arrepender mais tarde. Essas festas regadas a álcool podem, na verdade, levar a consequências não intencionais, como agressões sexuais, intoxicação por álcool, dirigir embriagado, brigas e prática de crimes.

Em vez de recorrer ao álcool, há muitas outras manei- ras de lidar com o estresse social e os problemas. Os estudantes universitários adventistas mencionam várias dessas alternativas, como encontros sociais com os amigos, fazer exercícios, orar, praticar esportes, ler, meditar, ir à praia, checar as mídias sociais e ouvir música, entre outras.11

O QUE VOCÊ PODE FAZER

Ellen White, uma das fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia, escreveu há mais de um século que o uso do álcool é prejudicial ao corpo. “Os jovens e as crianças devem compreender o efeito do álcool, do fumo, e outros venenos semelhantes, em alquebrar o corpo, obscurecer a mente e tornar sensual a alma. Deve-se explicar que qualquer que use estas coisas não pode por muito tempo possuir toda a força de suas faculdades físicas, mentais e morais.”12 A Bíblia nos ensina a cuidar do nosso corpo. A Igreja Adventista do Sétimo Dia espera que os seus membros não consumam álcool.

Uma gama de razões, por motivo religioso e de saúde, nos aconselha a ficar longe do álcool. Como estudantes adventistas, vocês podem fazer muito.

EIS AQUI TRÊS COISAS SIMPLES QUE VOCÊS PODEM FAZER:

1. Considerar anormal o consumo do álcool. Não aceitar o fato de que: “Todos bebem!” – mesmo no campus público e especialmente nos campi adventistas. O álcool não tem que fazer parte da experiência universitária. Há demasiados riscos envolvidos.

2. Seja um amigo cuidadoso. Quando participar de encontros sociais, evite as bebidas alcoólicas. Faça suas festas de maneira saudável. Seja criativo e divirta-se! Faça o que fizer, faça para a glória de Deus. Você estará ajudando seus amigos e também a si mesmo.

3. Desenvolva métodos saudáveis para lidar com o estresse emocional ou social. Pesquisas e profissionais clínicos apresentam algumas sugestões específicas:

·        Faça um passeio, pratique exercícios ou esportes.

·        Durma o suficiente; você vai se sentir muito melhor.

·        Aprenda a administrar melhor o tempo – você não pode fazer tudo!

·        Tente diferentes técnicas de relaxamento – procure alguns aplicativos para isso.

·        Converse com os amigos, eles entendem o que você está passando.

Se você sofreu algum trauma em sua vida que o está afetando, ou se está lutando contra o estresse mental ou uma doença, existem profissionais de saúde mental licenciados que podem ajudá-lo a solucionar suas dificuldades e restabelecer a saúde. Muitos campi possuem serviços de aconselhamento; aproveite esses recursos.

CONCLUSÃO

O álcool é tóxico! É um agente cancerígeno conheci- do e está ligado a muitos problemas sociais na sociedade. O álcool é o principal fator de risco de morte prematura e de incapacidade entre pessoas de 15 a 49 anos.13

Os pesquisadores afirmam que o nível mais seguro de consumo de álcool é zero. O álcool não é uma bebida saudável. Beber enquanto está na faculdade é arriscar suas chances de êxito nos estudos, como também sua saúde futura e sua felicidade. O álcool aumenta o risco de morte prematura. Você pode ser uma força positiva fazendo melhores escolhas de estilo de vida para si mesmo, incentivando seus amigos a fazer mudanças positivas e fazer a diferença na sociedade alcançando outros através das mídias sociais. Não há melhor momento do que agora para espalhar a mensagem!

Alina Baltazar PhD pela Michigan State University, East Lansing, Michigan, EUA; MSW, LMSW e CFLE, é Assistente Social Clínica Licenciada, possui Certificação como Educadora em Vida Familiar; é professora associada e diretora do Programa de Assistência Social do Departamento de Serviço Social da Andrews University, Berrien Springs, Michigan. A Dra. Baltazar é também diretora do Centro de Educação Preventiva do Instituto para a Prevenção de Vícios da Universidade Andrews. E-mail: Baltazar @andrews.edu.

Citação Recomendada
Alina Baltazar, "Bebidas alcoólicas: O nível mais seguro é Zero!," Diálogo 31:2 (2019): 5-8

NOTAS E REFERÊNCIAS

1. GBD 2016 Alcohol Collaborators, “Alcohol Use and Burden para 195 países e territórios, 1990-2016: A Systematic Analysis for the Global Burden of Disease Study 2016” The Lancet 392:10152 (September 22, 2018):http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31310-2.

2. J. E. Schulenberg, et al., “Monitoring the Future National Survey Results on Drug Use, 1975–2017: Volume II, College Students and Adults Ages 19–55” (2018), Ann Arbor, Mich.: Institute for Social Research, The University of Michigan. Available at http:// monitoringthefuture.org/pubs.html#monographs.

3. National Institutes of Health (NIH), “College Drinking” (n. d.): https://pubs.niaaa.nih.gov/publications/CollegeFactSheet/ Collegefactsheet.pdf.

4. True Islam, “Alcohol Prohibition” (n.d.): http://www.quran-islam. org/articles/alcohol_prohibition_(P1163).html.

5. Seventh-day Adventists Believe (Boise, Idaho: Pacific Press, 2005), p. 311.

6. The Church of Jesus Christ of Latter Day Saints, “Why Mormons Don’t Drink Alcohol, Tea, or Coffee?” (n. d.): https://www.lds.org. uk/why-mormons-dont-drink-alcohol-tea-and-coffee.

7. J. E. Enstrom and L. Breslow, “Lifestyle and Reduced Mortality Among Active California Mormons, 1980-2004,” Preventive Medicine 46 (2008): p.133-136; Dan Buettner, The Blue Zones: Lessons for Living Longer From the People Who’ve Lived the Longest (Washington, D.C.: National Geographic, 2008), vii.

8. A. M. Baltazar, “Role of Parents in College Student Regular Alcohol Use in the Context of Abstinent Religiosity” (2015): file:///C:/Users/baltazar/Downloads/Baltazar_grad. msu_0128D_14260%20(4).pdf.

9. Ibid.

10. https://www.sleepfoundation.org/articles/how-alcohol-affects- quality-and-quantity-sleep.

11. Baltazar, A.M. (2019, April) Living Up to Adventist Standards: The role religiosity plays in wellness behaviors of Adventist college students. Apresentado no Nurture and Retention Summit, em 2019.

12. Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), p. 202.

13. GBD 2016 Alcohol Collaborators, “Alcohol Use and Burden for 195 Countries and Territories, 1990-2016: A Systematic Analysis for the Global Burden of Disease Study, 2016.



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