Luciano
U. Ganzález
A
quantidade mais segura do consumo de bebidas alcoólicas é zero. Bebidas com
álcool não são saudáveis! Beber enquanto está na faculdade é arriscar as suas
chances de êxito tanto nos estudos, como também a sua saúde futura e a sua
felicidade.
O álcool é conhecido
como um fator de risco de morte prematura e invalidez. Está ligado a cerca de
60 doenças.1 Embora alguns estudos tenham indicado que certos tipos de bebidas
alcoólicas, quando usadas com moderação, podem ajudar a prevenir a doença
cardíaca, outras pesquisas têm contestado esses resultados. Há relatos
infundados de pessoas centenárias que supostamente “provam que beber ajuda a
viver mais”, mas um estudo inovador, que integra dados globais de múltiplas
fontes, utilizando uma metodologia bem fundamentada, publicou recentemente
conclusões revolucionárias e definitivas para a saúde mundial. Esse novo
estudo, publicado em The Lancet, o mais prestigiado e autorizado jornal de
medicina, analisou o uso do álcool e seus efeitos sobre a saúde em 195 países,
durante um período de 25 anos. Esse estudo meta-analítico abrangeu um total de
20 milhões de pessoas.
RESULTADOS
DO ESTUDO
A principal descoberta
alcançada por meio desse estudo é que o consumo de álcool é, em nível global, o
sétimo maior fator de risco de morte prematura e invalidez. Em todo o mundo,
ele é o fator de risco número 1 em mortes prematuras para pessoas de 15 a 49
anos.
Essas não são pessoas
idosas que já estão sob risco, mas o típico estudante universitário. À medida
que aumenta a quantidade de álcool consumida, aumenta também o risco de mortalidade.
O álcool produz efeitos
diversos em várias partes do corpo. Quando ele é consumido regularmente,
ocorrem efeitos adversos em vários órgãos e tecidos. A intoxicação aguda pode
levar a lesões e envenenamento pelo álcool. O consumo excessivo leva à
dependência, o que frequentemente causa comprometimento social e doenças
mentais.
Quando os pesquisadores
analisaram a quantidade de álcool que poderia ser considerada segura,
descobriram que o nível mais seguro do uso de álcool era zero. Zero! Até mesmo
meio copo de bebida alcoólica por dia estava relacionado a um período de vida
mais curto.
Os resultados também
mostraram que 32,5% da população mundial faz uso do álcool (25% mulheres e 39%
homens). Há uma ampla variação por região (1,5% no Nepal, em comparação com 87%
na Suécia). O consumo de álcool foi maior entre os países com índices de renda
mais altos. Nessas regiões, em média, também foi mais alto o consumo de álcool
por pessoa. Os homens consumiram mais bebidas alcoólicas que a as mulheres. O
estudo observou que 2,8 milhões de mortes foram atribuídas ao uso do álcool em
2016, mais para homens do que para mulheres.
O estudo encontrou um
pequeno benefício no consumo de álcool de que ele pode atuar como agente
protetor contra alguns tipos de doenças cardíacas. As mulheres que vivem em
regiões de mais alta renda possuem alguns efeitos protetores contra as doenças
cardíacas e o diabetes depois dos 60 anos. Uma ampla variedade de cânceres foi
responsável por uma grande proporção de mortes causadas pelo álcool. Portanto,
os benefícios que alguns podem receber numa idade mais avançada, não compensam
o risco mais alto de câncer. Foi constatado também que o álcool é a causa de
outros problemas cardíacos, como acidentes vasculares cerebrais e aneurismas,
bem como os danos e doenças transmissíveis relacionadas ao comportamento de
alto risco, enquanto a pessoa está sob a influência dessa droga. O estudo
sugere também que a abstinência do álcool é a recomendação mais segura. Assim,
“o nível mais seguro do consumo de álcool é nada”.
POR
QUE UM ESTUDANTE DEVE SE CUIDAR?
Um estudante em forma e
com boa saúde pode não se preocupar com um futuro risco de câncer, mas pode
experimentar os graves efeitos negativos do consumo de álcool. Os estudantes
universitários são mais propensos a consumir álcool do que outros jovens não
universitários.2 Isso devido a um tempo menos planejado, por estarem longe dos
pais pela primeira vez, pelo estresse da escola, maior disponibilidade de
bebidas alcoólicas e a pressão dos amigos. A bebedeira é considerada um ritual
de entrada na faculdade. De acordo com uma pesquisa nacional feita em 2016 nos
Estados Unidos, quase 60% dos estudantes universitários, entre 18 e 22 anos de
idade, consumiram álcool no último mês e cerca de dois em cada três deles se
embebedaram nesse período. Os efeitos negativos causados nos estudantes
universitários de 18 a 24 anos, nos Estados Unidos, incluem morte (1.519 em um
ano), agressões (692.00 a cada ano), e agressão sexual (97.000 a cada ano).3
Cerca de um em cada
quatro estudantes universitários relatam problemas acadêmicos devido ao uso de
bebidas alcoólicas. Esses problemas envolvem a falta às aulas, atrasar-se na
entrega das tarefas, sair-se mal nas provas e na entrega dos trabalhos de
classe. Tudo isso leva a um desempenho acadêmico e à média de notas mais
baixos. Outras consequências graves envolvem o risco e tentativas de suicídio,
problemas de saúde, ferimentos, sexo inseguro, vandalismo, danos à propriedade
e maior envolvimento com a polícia. O consumo abusivo pode levar a um
transtorno causado pelo uso de álcool, experimentado por 20% dos estudantes
universitários nos EUA. O uso abusivo tem a tendência de diminuir depois da
faculdade, mas aqueles que têm problemas com a bebida começaram a beber durante
os anos da adolescência e da juventude
ÁLCOOL,
COMPORTAMENTO E BEM-ESTAR
A ideia da abstenção de
álcool é radical do ponto de vista da sociedade. No estudo conduzido por The
Lancet, a recomendação não vem de uma organização religiosa conservadora.
Cinquenta e três pesquisadores conduziram esse estudo como parte de uma colaboração
internacional. Os resultados desse estudo chegam a ser difíceis de acreditar ou
aceitar. O álcool faz parte da urdidura social e das comemorações e celebrações
humanas, mas o dano causado pelo seu uso também é conhecido há milênios.
Embora a Bíblia não
condene o uso do álcool, ela, repetidamente, condena a embriaguez (Provérbios
20:1; 1 Timóteo 3:8; e 1 Coríntios 5:11). Embebedar-se era visto como algo tolo
e que levava ao pecado. O vinho nos tempos bíblicos tinha menor teor alcoólico
e era sempre diluído com água. A fabricação do álcool destilado só começou
depois dos tempos bíblicos e resultou em maior teor alcoólico nas bebidas,
dando ainda maior motivo para preocupação. As bebidas intoxicantes também são
constantemente desencorajadas no Qur’an [Alcorão]4 e os seguidores do islã são
desestimulados a consumir álcool.
Algumas denominações
cristãs ensinam a abstinência do álcool. A Igreja Adventista do Sétimo Dia
ensina, como parte de suas Crenças Fundamentais, que “nosso corpo é o templo do
Espírito Santo [e, portanto,] deve- mos cuidar dele de maneira inteligente [e
nos abster de] bebidas alcoólicas”, bem como de outras substâncias nocivas à
saúde.5 Espera-se que os adventistas honrem a Deus por meio de seu corpo e não
o prejudiquem. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias também
proíbe o consumo de bebidas alcoólicas.6 Como resultado da posição tomada por
essas duas denominações, de se absterem das bebidas alcoólicas, juntamente com
outras escolhas positivas de estilo de vida por elas estimuladas, seus membros
vivem de oito a dez anos mais que a população em geral, de acordo com uma
pesquisa conduzida recentemente.7
Um estudo de pesquisa
conduzido entre estudantes universitários adventistas constatou que acreditar
que o corpo é o templo de Deus atuou como um fator protetivo contra o consumo
de bebidas alcoólicas. A pesquisa conduzida em campus adventista do sétimo dia
demonstrou que quando os estudantes concordam que Deus deseja que cuidem de seu
corpo evitando o álcool e as drogas, eles tinham 60% menor probabilidade de
consumir esses itens proibidos. Um estudo qualitativo de acompanhamento
utilizando grupos-alvo que acreditavam que o corpo é o templo de Deus
identificou esse como um dos fatores a respeito do papel que a religião
desempenha na redução do uso de bebidas alcoólicas entre os estudantes
universitários adventistas.8
Os alunos podem
racionalizar: “Mas todos bebem!” Isso simplesmente não é verdade em
faculdades/universidades públicas ou faculdades/universidades adventistas. Sim,
a maioria dos estudantes em instituições públicas pode consumir álcool, mas não
“todos”. Em uma instituição adventista do sétimo dia de ensino superior nos
EUA, a maioria nunca consumiu álcool em sua vida e apenas 10% relataram fazê-lo
regularmente.9
VIVENDO
SEM O ÁLCOOL
Conforme mencionado
anteriormente, o álcool faz parte da sociedade há milênios. É utilizado não
somente em comemorações e cerimônias, mas também como uma maneira de lidar com
as tensões da vida. Vivemos em um mundo pecaminoso, que tem uma multidão de
problemas com que lidar. O álcool é visto como uma maneira de fugir dos
problemas, de relaxar no final do dia e de festejar nos finais de semana para
liberar o estresse. Mas esses problemas ainda continuam lá depois que a pessoa
volta a ficar sóbria, e frequentemente esses problemas são agravados pelo
consumo do álcool.
Bebidas alcoólicas, na
verdade, não relaxam o corpo como acham aqueles que as consomem. Embora o seu
consumo possa fazer a pessoa se sentir mais sonolenta e relaxada, na verdade, elas
interferem na qualidade do sono. Aqueles que pararam de beber álcool depois de
consumi-lo regularmente para ajudá-los a dormir, descobriram que conseguiam
dormir melhor depois que pararam de beber.10 Ele pode ajudar a pessoa a se
sentir menos nervosa no meio social, mas também diminui a inibição, o que pode
levar a praticar coisas das quais pode se arrepender mais tarde. Essas festas
regadas a álcool podem, na verdade, levar a consequências não intencionais,
como agressões sexuais, intoxicação por álcool, dirigir embriagado, brigas e
prática de crimes.
Em vez de recorrer ao
álcool, há muitas outras manei- ras de lidar com o estresse social e os
problemas. Os estudantes universitários adventistas mencionam várias dessas
alternativas, como encontros sociais com os amigos, fazer exercícios, orar,
praticar esportes, ler, meditar, ir à praia, checar as mídias sociais e ouvir
música, entre outras.11
O
QUE VOCÊ PODE FAZER
Ellen White, uma das
fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia, escreveu há mais de um século
que o uso do álcool é prejudicial ao corpo. “Os jovens e as crianças devem
compreender o efeito do álcool, do fumo, e outros venenos semelhantes, em
alquebrar o corpo, obscurecer a mente e tornar sensual a alma. Deve-se explicar
que qualquer que use estas coisas não pode por muito tempo possuir toda a força
de suas faculdades físicas, mentais e morais.”12 A Bíblia nos ensina a cuidar
do nosso corpo. A Igreja Adventista do Sétimo Dia espera que os seus membros
não consumam álcool.
Uma gama de razões, por
motivo religioso e de saúde, nos aconselha a ficar longe do álcool. Como
estudantes adventistas, vocês podem fazer muito.
EIS
AQUI TRÊS COISAS SIMPLES QUE VOCÊS PODEM FAZER:
1.
Considerar anormal o consumo do álcool. Não aceitar o fato de
que: “Todos bebem!” – mesmo no campus público e especialmente nos campi
adventistas. O álcool não tem que fazer parte da experiência universitária. Há
demasiados riscos envolvidos.
2.
Seja um amigo cuidadoso. Quando participar de encontros
sociais, evite as bebidas alcoólicas. Faça suas festas de maneira saudável.
Seja criativo e divirta-se! Faça o que fizer, faça para a glória de Deus. Você
estará ajudando seus amigos e também a si mesmo.
3.
Desenvolva métodos saudáveis para lidar com o estresse emocional ou social.
Pesquisas e profissionais clínicos apresentam algumas sugestões específicas:
·
Faça um passeio, pratique exercícios ou
esportes.
·
Durma o suficiente; você vai se sentir
muito melhor.
·
Aprenda a administrar melhor o tempo –
você não pode fazer tudo!
·
Tente diferentes técnicas de relaxamento
– procure alguns aplicativos para isso.
·
Converse com os amigos, eles entendem o
que você está passando.
Se você sofreu algum
trauma em sua vida que o está afetando, ou se está lutando contra o estresse
mental ou uma doença, existem profissionais de saúde mental licenciados que
podem ajudá-lo a solucionar suas dificuldades e restabelecer a saúde. Muitos
campi possuem serviços de aconselhamento; aproveite esses recursos.
CONCLUSÃO
O álcool é tóxico! É um
agente cancerígeno conheci- do e está ligado a muitos problemas sociais na
sociedade. O álcool é o principal fator de risco de morte prematura e de
incapacidade entre pessoas de 15 a 49 anos.13
Os pesquisadores
afirmam que o nível mais seguro de consumo de álcool é zero. O álcool não é uma
bebida saudável. Beber enquanto está na faculdade é arriscar suas chances de
êxito nos estudos, como também sua saúde futura e sua felicidade. O álcool
aumenta o risco de morte prematura. Você pode ser uma força positiva fazendo melhores
escolhas de estilo de vida para si mesmo, incentivando seus amigos a fazer
mudanças positivas e fazer a diferença na sociedade alcançando outros através
das mídias sociais. Não há melhor momento do que agora para espalhar a
mensagem!
Alina Baltazar PhD pela
Michigan State University, East Lansing, Michigan, EUA; MSW, LMSW e CFLE, é
Assistente Social Clínica Licenciada, possui Certificação como Educadora em
Vida Familiar; é professora associada e diretora do Programa de Assistência
Social do Departamento de Serviço Social da Andrews University, Berrien
Springs, Michigan. A Dra. Baltazar é também diretora do Centro de Educação
Preventiva do Instituto para a Prevenção de Vícios da Universidade Andrews.
E-mail: Baltazar @andrews.edu.
Citação
Recomendada
Alina Baltazar,
"Bebidas alcoólicas: O nível mais seguro é Zero!," Diálogo 31:2
(2019): 5-8
NOTAS
E REFERÊNCIAS
1. GBD 2016 Alcohol
Collaborators, “Alcohol Use and Burden para 195 países e territórios,
1990-2016: A Systematic Analysis for the Global Burden of Disease Study 2016”
The Lancet 392:10152 (September 22,
2018):http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(18)31310-2.
2. J. E. Schulenberg,
et al., “Monitoring the Future National Survey Results on Drug Use, 1975–2017:
Volume II, College Students and Adults Ages 19–55” (2018), Ann Arbor, Mich.:
Institute for Social Research, The University of Michigan. Available at http://
monitoringthefuture.org/pubs.html#monographs.
3. National Institutes
of Health (NIH), “College Drinking” (n. d.): https://pubs.niaaa.nih.gov/publications/CollegeFactSheet/
Collegefactsheet.pdf.
4. True Islam, “Alcohol
Prohibition” (n.d.): http://www.quran-islam.
org/articles/alcohol_prohibition_(P1163).html.
5. Seventh-day
Adventists Believe (Boise, Idaho: Pacific Press, 2005), p. 311.
6. The Church of Jesus
Christ of Latter Day Saints, “Why Mormons Don’t Drink Alcohol, Tea, or Coffee?”
(n. d.): https://www.lds.org. uk/why-mormons-dont-drink-alcohol-tea-and-coffee.
7. J. E. Enstrom and L.
Breslow, “Lifestyle and Reduced Mortality Among Active California Mormons, 1980-2004,”
Preventive Medicine 46 (2008): p.133-136; Dan Buettner, The Blue Zones: Lessons
for Living Longer From the People Who’ve Lived the Longest (Washington, D.C.:
National Geographic, 2008), vii.
8. A. M. Baltazar,
“Role of Parents in College Student Regular Alcohol Use in the Context of
Abstinent Religiosity” (2015):
file:///C:/Users/baltazar/Downloads/Baltazar_grad. msu_0128D_14260%20(4).pdf.
9. Ibid.
10. https://www.sleepfoundation.org/articles/how-alcohol-affects-
quality-and-quantity-sleep.
11. Baltazar, A.M. (2019,
April) Living Up to Adventist Standards: The role religiosity plays in wellness
behaviors of Adventist college students. Apresentado no Nurture and Retention
Summit, em 2019.
12. Ellen G. White,
Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), p. 202.
13. GBD 2016 Alcohol
Collaborators, “Alcohol Use and Burden for 195 Countries and Territories,
1990-2016: A Systematic Analysis for the Global Burden of Disease Study, 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário