Teologia

domingo, 9 de julho de 2017

O EVANGELHO – A DINAMITE DE DEUS



Ricardo André

I - A melhor definição do Evangelho

Após enfatizar a centralidade do evangelho em sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo apresenta, ao meu ver a melhor definição teológica do Evangelho: “Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego” (Romanos 1:16, NVI). Quando ele escreveu essas palavras, o evangelho de Jesus Cristo não era popular. Na realidade, os cristãos do 1° século eram considerados a “a escória da terra, o lixo do mundo” (1 Coríntios 4:13, NVI). O próprio apóstolo Paulo era considerado um apóstata pelos judeus. “Ele havia sido desprezado e perseguido entre os gentios. Havia sido expulso de cidade em cidade. [...] Ele estava bem consciente de que a palavra da cruz é “loucura” para os gregos e “escândalo” (1 Co 1:23). Mas, por estar tão convencido da veracidade do evangelho e por ter vivido  tão plenamente sua bênção e poder, não só se orgulhava do evangelho, mas também exaltava a cruz, que era o que mais ofendia a muitos (Gl 6:14)” (Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 518, 519).

Podemos imaginar o que significava, naquele tempo, afirmar que um Homem crucificado como criminoso era o fundador da sua religião? A crucificação era a forma de execução mais vergonhosa, e os romanos a reservavam apenas para os piores criminosos. Hoje falamos abertamente da cruz, e até a usamos como símbolo honroso em nossas igrejas. Mas, na época de Paulo, ela era considerada uma desonra. E, mesmo assim, Paulo não se envergonhava dela.

II - Por que a Cruz é tão atraente?

Por que a cruz é tão atraente? Sobretudo, a Cruz afirma o valor incrível da pessoa humana. “Um ser humano é de valor infinito; seu preço é revelado pelo Calvário” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, 184). A escritora cristã Ellen G. White ainda registra: “Paulo viu que o caráter de Cristo precisava ser compreendido antes que os homens pudessem amá-Lo, ou contemplarem a cruz com os olhos da fé. Aqui deve começar o estudo que será a ciência e o cântico dos remidos através de toda a eternidade. Somente à luz do Calvário pode o verdadeiro valor do ser humano ser avaliado” (Atos dos Apóstolos, p. 273). Deus ama de tal forma cada ser humano que Jesus teria morrido até por um só (João 3:16). Quando obtemos um senso de nosso valor na cruz, podemos evitar os altos e baixos que atravessamos quando nossa autoimagem se baseia na apresentação ou nas opiniões inconstantes de outros. Quando nos virmos sob a luz da Cruz, desenvolveremos a força para superar o pecado, a confiança para derrotar Satanás e a alegria que vem de saber quem somos. Não admira que Paulo tenha dito: ‘Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo’ (Gál. 6:14).

Para tal, não podemos esquecer que nossa vida somente atinge o seu valor, quando Jesus habita em nós, como Paulo declarou: "Cristo vive em mim" (Gál. 2:20). Ele afirmou isto no contexto do Calvário, pois disse antes: "já estou crucificado com Cristo". Esta é a efetivação da verdadeira vida, a qual não consiste, como Jesus deixou claro, "na abundância de bens" (Luc. 12:15) ou de qualquer outra coisa que de melhor o mundo possa oferecer. É por esta razão que Ellen G. White afirma que "ao ajoelhar-se em fé junto à cruz, alcançou ele [o pecador] o mais alto lugar que o homem pode atingir." (Atos dos Apóstolos, p. 210).

A morte de Cristo foi um sacrifício vicário e expiatório. Ele morreu por nossos pecados (I Cor 15:3), tornando-Se assim o Salvador. Foram os nossos pecados que O pregaram sobre o madeiro (Isa. 53:4-8). Todos nós estávamos lá, no terrível dia da crucifixão. "Pesa sobre todos a culpa de crucificar o Filho de Deus" (O Desejado de Todas as Nações, pág. 745). “Cristo foi tratado como nós merecíamos, para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. "Pelas Suas pisaduras fomos sarados." Isa. 53:5” (Ellen G. White, Idem, p. 25). Foi por você e por mim que Ele sofreu o que sofreu. Aquela cruz não era para Ele; era para mim, para você. Ele nunca pecou; nós é que pecamos. Cabia a nós o quinhão da morte; não a Ele. Morreu porque tomou o nosso lugar; tomou o nosso lugar porque nos amou supremamente. Portanto, a Cruz de Cristo é a maior manifestação do amor de Deus por nós.

II - O Poder do Evangelho mudou radicalmente a vida de Paulo e pode mudar a nossa também

Paulo era um erudito, instruído aos pés de Gamaliel. Era capaz de discutir filosofia, história e literatura com as maiores mentalidades de seu tempo. Contudo, não se envergonhava de identificar-se com a cruz e com os ensinos do humilde carpinteiro de Nazaré. Por quê? Por que Paulo via no evangelho de Cristo o poder de Deus para a salvação. Ele próprio havia experimentado seu poder salvador. De inimigo de Cristo, o evangelho o transformara em alguém tão dedicado a Ele, que se achava disposto a depor a vida por seu Mestre. Na estrada de Damasco o poder de Deus veio sobre ele, fazendo-o mudar de direção (At 9:1-19). “Quando Jesus Se manifestou a ele na estrada de Damasco, tudo mudou. Nas questões sobre as quais Saulo pensava que tinha toda a razão, ele estava completamente equivocado. Em vez de trabalhar para Deus, havia trabalhado contra Ele. Quando entrou em Damasco, Saulo era um homem diferente do orgulhoso e zeloso fariseu que havia saído de Jerusalém” (Lição da Escola Sabatina, 27 de junho de 2017).

Realmente, há poder no evangelho de Jesus. A vida de Saulo de Tarso é um testemunho verdadeiramente poderoso da verdade do que ele próprio escreveu em Romanos 1:16. As escrituras Sagradas afirmam que “Quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo. Tudo isso é feito por Deus, o qual, por meio de Cristo, nos transforma de inimigos em amigos dele” (2 Coríntios 5:17, 18, NTLH). Ellen G. White fez o seguinte comentário sobre esse texto: “Mediante o poder de Cristo homens e mulheres têm quebrado a cadeia do hábito pecaminoso. Têm renunciado ao egoísmo. O profano tem-se tornado reverente; o bêbado, sóbrio; o pervertido, puro. Almas que tinham estampada em si a semelhança de Satanás têm-se transformado à imagem de Deus. Essa transformação é em si o milagre dos milagres” (Atos dos Apóstolos, p. 476). E é interessante notar que a palavra poder em grego δυναμις [dunamis], é a mesma raiz da palavra dinamite. Assim, o que Paulo está realmente dizendo é que o evangelho funciona como dinamite em nossa vida, quando permitimos a entrada de Deus, quando Lhe damos autorização para reformar nossa vida, tornando-a semelhante a Jesus.

Deus não interfere em nós simplesmente podando esse ou aquele problema. Ele está interessado em chegar à raiz do problema, destruí-lo com uma explosão e então recriar nossa vida, tornando-a muito mais bela, mais feliz. E, se nos permitirmos, a dinamite de Deus operará em nós uma completa transformação.

Caro amigo leitor, o evangelho não é simplesmente um bom conselho; é “o poder de Deus” para salvar uma pessoa que crê, até mesmo o maior criminoso. Você não quer permitir que a dinamite de Deus opere em sua vida?





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