Ricardo
André
I
- A melhor definição do Evangelho
Após enfatizar a
centralidade do evangelho em sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo apresenta,
ao meu ver a melhor definição teológica do Evangelho: “Não me envergonho do evangelho,
porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do
judeu, depois do grego” (Romanos 1:16, NVI). Quando ele escreveu essas
palavras, o evangelho de Jesus Cristo não era popular. Na realidade, os
cristãos do 1° século eram considerados a “a escória da terra, o lixo do mundo” (1
Coríntios 4:13, NVI). O próprio apóstolo Paulo era considerado um
apóstata pelos judeus. “Ele havia sido desprezado e perseguido entre os
gentios. Havia sido expulso de cidade em cidade. [...] Ele estava bem consciente
de que a palavra da cruz é “loucura” para os gregos e “escândalo” (1 Co 1:23). Mas,
por estar tão convencido da veracidade do evangelho e por ter vivido tão plenamente sua bênção e poder, não só se
orgulhava do evangelho, mas também exaltava a cruz, que era o que mais ofendia
a muitos (Gl 6:14)” (Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 518, 519).
Podemos imaginar o que
significava, naquele tempo, afirmar que um Homem crucificado como criminoso era
o fundador da sua religião? A crucificação era a forma de execução mais
vergonhosa, e os romanos a reservavam apenas para os piores criminosos. Hoje
falamos abertamente da cruz, e até a usamos como símbolo honroso em nossas
igrejas. Mas, na época de Paulo, ela era considerada uma desonra. E, mesmo
assim, Paulo não se envergonhava dela.
II
- Por que a Cruz é tão atraente?
Por que a cruz é tão
atraente? Sobretudo, a Cruz afirma o valor incrível da pessoa humana. “Um ser humano é de valor infinito; seu preço
é revelado pelo Calvário” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, 184). A
escritora cristã Ellen G. White ainda registra: “Paulo viu que o caráter de
Cristo precisava ser compreendido antes que os homens pudessem amá-Lo, ou
contemplarem a cruz com os olhos da fé. Aqui deve começar o estudo que será a
ciência e o cântico dos remidos através de toda a eternidade. Somente à luz do
Calvário pode o verdadeiro valor do ser humano ser avaliado” (Atos dos
Apóstolos, p. 273). Deus ama de tal forma cada ser humano que Jesus
teria morrido até por um só (João 3:16). Quando obtemos um senso de nosso valor
na cruz, podemos evitar os altos e baixos que atravessamos quando nossa autoimagem
se baseia na apresentação ou nas opiniões inconstantes de outros. Quando nos
virmos sob a luz da Cruz, desenvolveremos a força para superar o pecado, a
confiança para derrotar Satanás e a alegria que vem de saber quem somos. Não
admira que Paulo tenha dito: ‘Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão
na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para
mim, e eu, para o mundo’ (Gál. 6:14).
Para tal, não podemos
esquecer que nossa vida somente atinge o seu valor, quando Jesus habita em nós,
como Paulo declarou: "Cristo vive em mim" (Gál. 2:20).
Ele afirmou isto no contexto do Calvário, pois disse antes: "já
estou crucificado com Cristo". Esta é a efetivação da verdadeira
vida, a qual não consiste, como Jesus deixou claro, "na abundância de bens"
(Luc. 12:15) ou de qualquer outra coisa que de melhor o mundo possa
oferecer. É por esta razão que Ellen G. White afirma que "ao ajoelhar-se em fé junto
à cruz, alcançou ele [o pecador] o mais alto lugar que o homem pode
atingir." (Atos dos Apóstolos, p. 210).
A morte de Cristo foi
um sacrifício vicário e expiatório. Ele morreu por nossos pecados (I Cor 15:3),
tornando-Se assim o Salvador. Foram os nossos pecados que O pregaram sobre o
madeiro (Isa. 53:4-8). Todos nós estávamos lá, no terrível dia da crucifixão. "Pesa
sobre todos a culpa de crucificar o Filho de Deus" (O Desejado de Todas as
Nações, pág. 745). “Cristo foi tratado como nós merecíamos,
para que pudéssemos receber o tratamento a que Ele tinha direito. Foi condenado
pelos nossos pecados, nos quais não tinha participação, para que fôssemos
justificados por Sua justiça, na qual não tínhamos parte. Sofreu a morte que
nos cabia, para que recebêssemos a vida que a Ele pertencia. "Pelas Suas
pisaduras fomos sarados." Isa. 53:5” (Ellen G. White, Idem, p. 25).
Foi por você e por mim que Ele sofreu o que sofreu. Aquela cruz não era para
Ele; era para mim, para você. Ele nunca pecou; nós é que pecamos. Cabia a nós o
quinhão da morte; não a Ele. Morreu porque tomou o nosso lugar; tomou o nosso
lugar porque nos amou supremamente. Portanto, a Cruz de Cristo é a maior manifestação
do amor de Deus por nós.
II
- O Poder do Evangelho mudou radicalmente a vida de Paulo e pode mudar a nossa
também
Paulo era um erudito,
instruído aos pés de Gamaliel. Era capaz de discutir filosofia, história e
literatura com as maiores mentalidades de seu tempo. Contudo, não se
envergonhava de identificar-se com a cruz e com os ensinos do humilde
carpinteiro de Nazaré. Por quê? Por que Paulo via no evangelho de Cristo o
poder de Deus para a salvação. Ele próprio havia experimentado seu poder
salvador. De inimigo de Cristo, o evangelho o transformara em alguém tão
dedicado a Ele, que se achava disposto a depor a vida por seu Mestre. Na
estrada de Damasco o poder de Deus veio sobre ele, fazendo-o mudar de direção
(At 9:1-19). “Quando Jesus Se manifestou a ele na estrada de Damasco, tudo
mudou. Nas questões sobre as quais Saulo pensava que tinha toda a razão, ele
estava completamente equivocado. Em vez de trabalhar para Deus, havia
trabalhado contra Ele. Quando entrou em Damasco, Saulo era um homem diferente
do orgulhoso e zeloso fariseu que havia saído de Jerusalém” (Lição da Escola
Sabatina, 27 de junho de 2017).
Realmente, há poder no
evangelho de Jesus. A vida de Saulo de Tarso é um testemunho verdadeiramente
poderoso da verdade do que ele próprio escreveu em Romanos 1:16. As escrituras
Sagradas afirmam que “Quem está unido com Cristo é uma nova
pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo. Tudo isso é feito
por Deus, o qual, por meio de Cristo, nos transforma de inimigos em amigos dele”
(2 Coríntios 5:17, 18, NTLH). Ellen G. White fez o seguinte comentário
sobre esse texto: “Mediante o poder de
Cristo homens e mulheres têm quebrado a cadeia do hábito pecaminoso. Têm renunciado
ao egoísmo. O profano tem-se tornado reverente; o bêbado, sóbrio; o pervertido,
puro. Almas que tinham estampada em si a semelhança de Satanás têm-se
transformado à imagem de Deus. Essa transformação é em si o milagre dos
milagres” (Atos dos Apóstolos, p. 476). E é interessante notar que a
palavra poder em grego δυναμις [dunamis], é a mesma raiz da palavra dinamite.
Assim, o que Paulo está realmente dizendo é que o evangelho funciona como
dinamite em nossa vida, quando permitimos a entrada de Deus, quando Lhe damos
autorização para reformar nossa vida, tornando-a semelhante a Jesus.
Deus não interfere em
nós simplesmente podando esse ou aquele problema. Ele está interessado em
chegar à raiz do problema, destruí-lo com uma explosão e então recriar nossa
vida, tornando-a muito mais bela, mais feliz. E, se nos permitirmos, a dinamite de Deus
operará em nós uma completa transformação.
Caro amigo leitor, o
evangelho não é simplesmente um bom conselho; é “o poder de Deus” para salvar
uma pessoa que crê, até mesmo o maior criminoso. Você não quer permitir que a dinamite
de Deus opere em sua vida?
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