Ricardo André
“Deus
é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês, com a profunda afeição
de Cristo Jesus” (Filipenses 1:8, NVI).
Esta
carta apostólica de Paulo enviada para os cristãos de Filipos (cidade da
Macedônia) foi escrita durante seu primeiro encarceramento em Roma (cerca de
61-63 d. C.), dez anos depois da fundação da igreja em Filipos. Curiosamente,
essa igreja foi iniciada num sábado, à beira do rio, quando Paulo e seus
companheiros conduziram Lídia e sua família a Cristo (At 16:13-15), e como o
batismo do carcereiro juntamente com a família (At 16:16-40).
Nesta
carta, Paulo expressa gratidão pela fidelidade dos cristãos filipenses, mas
deseja que deem o supremo lugar a Cristo em sua vida, para crescerem
constantemente em verdadeira humildade, amor unidade, pureza e
irrepreensibilidade espiritual.
Mas,
nesta oportunidade, gostaria de destacar um interessante sentimento que Paulo
expressa em sua epístola: Saudade profunda
pelos crentes de Filipos. Que é saudade? É bom sentir saudade?
Que é saudade?
Um
dos privilégios do nosso idioma é possuir uma palavra exclusiva para definir o
sentimento da ausência ou da falta – saudade. A palavra saudade vem do latim
“solitas”, “solitates” (solidão). O seu significado é uma mistura dos
sentimentos de perda, falta, distância, amor.
Li
algum tempo atrás uma linda descrição sobre saudade, que transcrevo aqui:
“Objeto
amado, ser querido que se separa de nós, por muito tempo, para todo o sempre,
que morre ... cria a saudade ... a grande saudade. Que é solidão da alma, o
desconsolo incontido, a mágoa a fugir dos olhos em lágrimas e consternações, a
dor que aflora aos lábios e que mata quem fica só, que mata a quem fica na
Terra.
“Dizem
que a saudade é o alfanje que biparte almas, que malfere corações que se
destilam em lágrimas, que constrange o peito e da qual se origina a volúpia do
sofrimento. Saudade, desejos dos sentidos e da razão, imaginação fatal de
sentimentos que se separam, anos em desamor doloroso, alma sem alma, coração
sem coração, filhos sem mãe, cidadão sem pátria!”
Que
é saudade? É ter uma lembrança suave e ficar triste, por causa de coisas
distantes ou que não existem mais. É querer estar perto de quem está longe. É
querer voltar no tempo. É pesar pela ausência de pessoas queridas. Jacó,
personagem bíblico, sentia tanta saudade de sua terra e seu lar, que fugiu da
casa do seu sogro, para que este não o impedisse de partir (Gn 31:30). Este
sentimento persegue a todos de forma mais intensa ou branda. Não importa. Todos
já experimentaram isso. Mas, meu questionamento hoje é: Qual a maior saudade
que tenho?
Sentimos saudade de Jesus?
Existe
diferença entre saudade e lembrança? A lembrança
nos faz pensar, relembrar alguém, mas não nos leva à procura da pessoa
lembrada. A saudade é fruto do amor e lutamos para estar juntos novamente. O Minidicionário da língua portuguesa Ruth Rocha assim define saudade:
“Recordação, entre triste e suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas,
acompanhada do desejo de tornar a vê-los ou de possuí-las”.
E
de Jesus, temos saudade ou lembrança? Nossas ações demonstrarão o que realmente
sentimos. Se nos esforçamos para que nosso encontro seja logo é porque O amamos
e sentimos saudade. Se não nos importamos com sua Sua demora é porque temos
apenas lembrança...
Cristo,
o amor personificado, o Unigênito Divino, o Filho de Deus baixou a Terra e aqui
viveu conosco. Partiu, depois de cumprida a Sua missão. Quem não gosta de
voltar para casa, depois de um período longe, numa cidade, estado ou país
estrangeiro? Encontrar os pais, conversar com irmãos e amigos, rever lugares,
relembrar o passado, contar as novidades... A casa da gente é sempre um ponto
de referência em nossas emoções. Boa parte das saudades e lembranças contadas
em versos estar relacionada com o lar, a terra de origem. De fato, nossas
raízes nos prendem e puxam de volta.
O
poema “Meus Oito Anos”, do escritor
brasileiro Cassimiro de Abreu, é bastante conhecido. Eu gosto muito desse poema
porque fala um pouco dos meus sentimentos. Transcreveremos apenas um trecho
dele, que diz:
Meus Oito Anos
“Oh
que saudades que tenho
Da
aurora da minha vida,
Da
minha infância querida
Que
os anos não trazem mais!
Que
amor, que sonhos, que flores,
Naquelas
tardes fagueiras
À
sombra das bananeiras,
Debaixo
dos laranjais!
Como
são belos os dias
Do
despontar da existência!
(...)
No
ano 31, depois de 33 anos em nosso planeta, onde nasceu, viveu, sofreu e morreu
e tornou a viver, Jesus também estava com saudade da Sua casa, que era o Céu.
Era lá que moravam Deus o Pai e os anjos. Por ter cidadania terrestre e amigos
aqui, este planeta nunca sairá do Seu coração. Ele ama a
Terra.
Aliás, fez questão de levar para sempre, em Suas mãos e no peito, as marcas com
que foi ferido na casa de seus amigos. Porém, a hora de voltar para casa tinha
mesmo chegado.
Sentimos
saudade de Cristo? Sua ausência nos faz sofrer de saudade? Quando eu saí da
casa dos meus pais, na Cidade do Cabo de Santo Agostinho/PE, em fevereiro de
1993, e vim para Lagarto/Se, tinha 19 anos. Nunca tinha saído para fora do meu
Estado e passar tanto tempo longe do lar. Como foi difícil a separação daquela
a quem eu amava! (minha mãe, hoje falecida). Marcava na folhinha os dias. Como
desejava que os dias fossem encurtados, diminuídos, que a distância que nos
separava fosse estreitada! Quantas cartas! Quantos telefonemas!
Quando
os discípulos miravam os céus, tristes e pesarosos com a ascensão de Jesus aos
Céus, os anjos lhes confortaram dizendo que aquele mesmo Jesus voltaria, da
mesma maneira como O haviam visto subir (AT 1:11). Em outras palavras, seria o
mesmo Jesus, Aquele que convivera com eles aqui na Terra, que sofrera amarguras
e decepções. Voltaria agora vitorioso para buscar os Seus. Essa promessa
atravessou os séculos e ainda hoje está viva. O Credo Niceno, de 325, ensinava
que Cristo “virá de novo com glória para julgar os vivos e os mortos”. Martinho
Lutero, pai do protestantismo, afirmou: “Vivo como se Cristo tivesse sido morto
ontem, tivesse ressuscitado hoje e voltasse amanhã”. O tema figurou em cinco
mil dos sete mil hinos de Carlos Wesley, irmão de John Wesley, fundador do
metodismo. E nós, adventistas do sétimo dia devemos nosso nome à nosso forte
crença no advento de Cristo.
Oxalá
como adventistas do sétimo dia estejamos realmente saudosos pela vinda de
Jesus. Oremos ao Senhor para que encurte a distância que nos separa!
Aguardando Jesus com saudade
O
apóstolo Pedro nos exorta: “esperando o dia de Deus e apressando a sua
vinda. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se
derreterão pelo calor” (2 Pedro 3:12, NVI). Os cristãos fiéis devem
estar preparados, alerta, aguardando e apressando Sua vinda. A escritora cristã,
Ellen G. White descreve em seus escritos que esteve presente na Europa durante
o Jubileu de Ouro da Rainha Vitória, em 1887. Ela menciona os gastos que se
fizeram, os desfiles, tudo para comemorar aquele grande evento. Notemos suas
palavras:
“Encontrava-me
precisamente em Londres quando ocorreu essa comoção. Isso me entristeceu (...)
Eles tinham o direito de fazer isso, mas pensei: Eis-nos aqui esperando que o
Senhor venha nas nuvens do céu. Lembramo-nos dEle? Se realmente cremos em
Jesus, se realmente cremos em Sua vinda, se permanecemos em Cristo, não nos
queixaremos de toda pequena cruz” (Este Dia com Deus, [MM, 1980], p. 336).
Como,
então devemos aguardar a volta de Jesus? O apóstolo Pedro exorta-nos a aguardar
e apressar a vinda de Jesus. Se sentimos o desejo de apressar a volta de Jesus
é porque temos saudade dEle. Portanto, devemos aguardar a Jesus com saudade, o
que implica:
1) Estudar diariamente Sua Palavra
e o Espírito de Profecia. Aqueles que descuidam a leitura da
Bíblia, perdem a familiaridade com Deus e se tornam presas fáceis nas mãos do
arqui-inimigo. Satanás sabe ser a Bíblia poderosa trincheira nas lutas contra o
pecado, pois nos põe em íntima comunhão (relação) com Aquele que nos salva e
nos comunica poder para resistir o mal e viver vitoriosamente. O inimigo de
nossa alma sabe que sem uma contínua comunhão com Deus, através do estudo da
Palavra, sucumbiremos sob o peso de esmagadora tentações. Por isso faz parte de
sua estratégia, levar-nos a não abrir este Livro, negligenciando sua leitura.
2) Orar por uma reforma e um
reavivamento em nossa vida.
3) Trabalhar com alegria e
entusiasmo pelas alma que perecem no pecado.
4) Fazer uma entrega completa de
nossa vida ao Senhor e permitir que o Senhor transforme a nossa vida.
5) Preparar nossa família para
aquele grande dia.
6) Participar nas atividades da
igreja e sendo uma luz.
Quando
sentimos saudade, deixamos bem nítido em nosso modo de viver que O estamos
esperando, pois nossas vestes, alimentos, conversações são voltadas para Ele.
No
fim da Primeira Guerra Mundial aconteceu um fato interessante na África
Ocidental Alemã. Certo dia um mensageiro chegou numa pequena vila, dizendo que
todos os soldados dali haviam sido mortos pelos ingleses. Houve muito choro e a
tristeza foi imensa. Passado algum tempo, a saudade foi-se transformando apenas
em lembrança e novos interesses foram surgindo. As esposas dos que haviam ido
ao campo de batalha se casaram novamente. Todas, exceto uma costureira,
constituíram novo lar. Todas caçoavam dela, mas ela sempre dizia que sentia
saudade do seu grande amor e o esperava com perseverança.
Um
dia chegou ali outro mensageiro, enviado pelos ingleses, comunicando que os
homens daquela vila estavam vivos e que estavam voltando para os seus lares.
Houve
desespero e vergonha. Todas as esposas estavam aflitas! Apenas uma estava feliz
naquele dia, pois aguardara pacientemente o retorno de seu amado.
Caro
amigo leitor, como ficaremos nós quando Jesus voltar? Almejamos vê-Lo? Nossa
maneira de viver é uma resposta a estas perguntas.
Que
dia maravilhoso não será quando Jesus voltar à Terra! Ele vem encontrar-Se
conosco. Não somente voltaremos para o Lar Eterno, mas o próprio Jesus virá
para um grande “acoplamento espacial”
quando nos encontraremos com Ele “NOS ARES”! (1 Ts 4:16, 17). Será um encontro
especial com nosso melhor Amigo, com Aquele que nos ama tanto que morreu na
cruz por nós. Será a coisa mais gostosa do mundo encontrar-nos com Jesus,
tocarmos Suas marcas da cruz, sentirmos o calor de Seu amor!
Talvez
hoje você carregue no coração a lembrança de pessoas queridas que já se foram e
deixaram muitas, mas muitas saudades. E ela pode ser tão grande que muitas
vezes chorar é a única forma de aliviar esse sentimento. Tenho uma dica para
você que com certeza também é como eu um saudosista. Que tal permanecer do lado
de Jesus, seguir seus ensinamentos e mostrar a outros o Deus maravilhoso em
quem acredita? Assim, a saudade de Jesus e Seu anseio de voltar logo somada com
a nossa vontade de encontrar os que já se foram e abraçá-Lo pessoalmente, vão
fazer com que mostremos aos outros esse Deus tão amoroso, que está vindo sem
demora para buscar eu e você.
Qual
é nossa atitude? Temos saudade de Jesus? Será que estamos fazendo todos os
preparativos para a Sua vinda? Será que muitas vezes desanimamos, preocupados
com as coisas deste mundo? O problema da grande maioria dos cristãos é que
estão tão familiarizados com este mundo que não sentem saudade de Jesus e não
sentem anseio de ir para a Pátria Celestial. O inimigo procura conservar nossos
olhos voltados para as coisas terrenas para que nos esqueçamos da nossa herança
celestial.
O
conselho da Pena Inspirada é: “Enquanto vos deleitais nas atraentes
belezas da Terra, pensai no mundo porvir, o qual não conhecerá jamais a mancha
do pecado e morte, onde a face da natureza não mais apresentará as sombras da
maldição. Representai-vos na imaginação o lar dos remidos, e lembrai-vos de que
ele será mais glorioso do que o pode pintar vossa mais brilhante imaginação”
(Ellen G, White, Caminho a Cristo, p. 86).
Será
que abandonamos nosso posto de espera, vacilamos em nossa experiência cristã,
deixando de lado as promessas maravilhosas da Palavra de Deus e nos confinamos
às rotinas desta vida? É bem possível que o Rei do Universo volte e que Seus
filhos não estejam preparados, não estejam de prontidão. Pedro alerta a Igreja
para que aguarde e apresse Sua vinda.
Oração: Senhor
é tão difícil esperar! Já estamos cansados deste mundo e com grande saudade de
Ti. Senhor, vem depressa à Terra! Aviva a chama do amor em nossa vida e salva
Teu povo. Em nome de Jesus. Amém!
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