Teologia

sábado, 9 de julho de 2016

SAUDADES DE JESUS



Ricardo André

“Deus é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês, com a profunda afeição de Cristo Jesus” (Filipenses 1:8, NVI).

Esta carta apostólica de Paulo enviada para os cristãos de Filipos (cidade da Macedônia) foi escrita durante seu primeiro encarceramento em Roma (cerca de 61-63 d. C.), dez anos depois da fundação da igreja em Filipos. Curiosamente, essa igreja foi iniciada num sábado, à beira do rio, quando Paulo e seus companheiros conduziram Lídia e sua família a Cristo (At 16:13-15), e como o batismo do carcereiro juntamente com a família (At 16:16-40).

Nesta carta, Paulo expressa gratidão pela fidelidade dos cristãos filipenses, mas deseja que deem o supremo lugar a Cristo em sua vida, para crescerem constantemente em verdadeira humildade, amor unidade, pureza e irrepreensibilidade espiritual.

Mas, nesta oportunidade, gostaria de destacar um interessante sentimento que Paulo expressa em sua epístola: Saudade profunda pelos crentes de Filipos. Que é saudade? É bom sentir saudade?

Que é saudade?

Um dos privilégios do nosso idioma é possuir uma palavra exclusiva para definir o sentimento da ausência ou da falta – saudade. A palavra saudade vem do latim “solitas”, “solitates” (solidão). O seu significado é uma mistura dos sentimentos de perda, falta, distância, amor.

Li algum tempo atrás uma linda descrição sobre saudade, que transcrevo aqui:

“Objeto amado, ser querido que se separa de nós, por muito tempo, para todo o sempre, que morre ... cria a saudade ... a grande saudade. Que é solidão da alma, o desconsolo incontido, a mágoa a fugir dos olhos em lágrimas e consternações, a dor que aflora aos lábios e que mata quem fica só, que mata a quem fica na Terra.

“Dizem que a saudade é o alfanje que biparte almas, que malfere corações que se destilam em lágrimas, que constrange o peito e da qual se origina a volúpia do sofrimento. Saudade, desejos dos sentidos e da razão, imaginação fatal de sentimentos que se separam, anos em desamor doloroso, alma sem alma, coração sem coração, filhos sem mãe, cidadão sem pátria!”

Que é saudade? É ter uma lembrança suave e ficar triste, por causa de coisas distantes ou que não existem mais. É querer estar perto de quem está longe. É querer voltar no tempo. É pesar pela ausência de pessoas queridas. Jacó, personagem bíblico, sentia tanta saudade de sua terra e seu lar, que fugiu da casa do seu sogro, para que este não o impedisse de partir (Gn 31:30). Este sentimento persegue a todos de forma mais intensa ou branda. Não importa. Todos já experimentaram isso. Mas, meu questionamento hoje é: Qual a maior saudade que tenho?

Sentimos saudade de Jesus?

Existe diferença entre saudade e lembrança? A lembrança nos faz pensar, relembrar alguém, mas não nos leva à procura da pessoa lembrada. A saudade é fruto do amor e lutamos para estar juntos novamente. O Minidicionário da língua portuguesa Ruth Rocha assim define saudade: “Recordação, entre triste e suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-los ou de possuí-las”.

E de Jesus, temos saudade ou lembrança? Nossas ações demonstrarão o que realmente sentimos. Se nos esforçamos para que nosso encontro seja logo é porque O amamos e sentimos saudade. Se não nos importamos com sua Sua demora é porque temos apenas lembrança...

Cristo, o amor personificado, o Unigênito Divino, o Filho de Deus baixou a Terra e aqui viveu conosco. Partiu, depois de cumprida a Sua missão. Quem não gosta de voltar para casa, depois de um período longe, numa cidade, estado ou país estrangeiro? Encontrar os pais, conversar com irmãos e amigos, rever lugares, relembrar o passado, contar as novidades... A casa da gente é sempre um ponto de referência em nossas emoções. Boa parte das saudades e lembranças contadas em versos estar relacionada com o lar, a terra de origem. De fato, nossas raízes nos prendem e puxam de volta.

O poema “Meus Oito Anos”, do escritor brasileiro Cassimiro de Abreu, é bastante conhecido. Eu gosto muito desse poema porque fala um pouco dos meus sentimentos. Transcreveremos apenas um trecho dele, que diz:

Meus Oito Anos

“Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
(...)

No ano 31, depois de 33 anos em nosso planeta, onde nasceu, viveu, sofreu e morreu e tornou a viver, Jesus também estava com saudade da Sua casa, que era o Céu. Era lá que moravam Deus o Pai e os anjos. Por ter cidadania terrestre e amigos aqui, este planeta nunca sairá do Seu coração. Ele ama a

Terra. Aliás, fez questão de levar para sempre, em Suas mãos e no peito, as marcas com que foi ferido na casa de seus amigos. Porém, a hora de voltar para casa tinha mesmo chegado.

Sentimos saudade de Cristo? Sua ausência nos faz sofrer de saudade? Quando eu saí da casa dos meus pais, na Cidade do Cabo de Santo Agostinho/PE, em fevereiro de 1993, e vim para Lagarto/Se, tinha 19 anos. Nunca tinha saído para fora do meu Estado e passar tanto tempo longe do lar. Como foi difícil a separação daquela a quem eu amava! (minha mãe, hoje falecida). Marcava na folhinha os dias. Como desejava que os dias fossem encurtados, diminuídos, que a distância que nos separava fosse estreitada! Quantas cartas! Quantos telefonemas!

Quando os discípulos miravam os céus, tristes e pesarosos com a ascensão de Jesus aos Céus, os anjos lhes confortaram dizendo que aquele mesmo Jesus voltaria, da mesma maneira como O haviam visto subir (AT 1:11). Em outras palavras, seria o mesmo Jesus, Aquele que convivera com eles aqui na Terra, que sofrera amarguras e decepções. Voltaria agora vitorioso para buscar os Seus. Essa promessa atravessou os séculos e ainda hoje está viva. O Credo Niceno, de 325, ensinava que Cristo “virá de novo com glória para julgar os vivos e os mortos”. Martinho Lutero, pai do protestantismo, afirmou: “Vivo como se Cristo tivesse sido morto ontem, tivesse ressuscitado hoje e voltasse amanhã”. O tema figurou em cinco mil dos sete mil hinos de Carlos Wesley, irmão de John Wesley, fundador do metodismo. E nós, adventistas do sétimo dia devemos nosso nome à nosso forte crença no advento de Cristo.

Oxalá como adventistas do sétimo dia estejamos realmente saudosos pela vinda de Jesus. Oremos ao Senhor para que encurte a distância que nos separa!

Aguardando Jesus com saudade

O apóstolo Pedro nos exorta: “esperando o dia de Deus e apressando a sua vinda. Naquele dia os céus serão desfeitos pelo fogo, e os elementos se derreterão pelo calor” (2 Pedro 3:12, NVI). Os cristãos fiéis devem estar preparados, alerta, aguardando e apressando Sua vinda. A escritora cristã, Ellen G. White descreve em seus escritos que esteve presente na Europa durante o Jubileu de Ouro da Rainha Vitória, em 1887. Ela menciona os gastos que se fizeram, os desfiles, tudo para comemorar aquele grande evento. Notemos suas palavras:

“Encontrava-me precisamente em Londres quando ocorreu essa comoção. Isso me entristeceu (...) Eles tinham o direito de fazer isso, mas pensei: Eis-nos aqui esperando que o Senhor venha nas nuvens do céu. Lembramo-nos dEle? Se realmente cremos em Jesus, se realmente cremos em Sua vinda, se permanecemos em Cristo, não nos queixaremos de toda pequena cruz” (Este Dia com Deus, [MM, 1980], p. 336).

Como, então devemos aguardar a volta de Jesus? O apóstolo Pedro exorta-nos a aguardar e apressar a vinda de Jesus. Se sentimos o desejo de apressar a volta de Jesus é porque temos saudade dEle. Portanto, devemos aguardar a Jesus com saudade, o que implica:

1) Estudar diariamente Sua Palavra e o Espírito de Profecia. Aqueles que descuidam a leitura da Bíblia, perdem a familiaridade com Deus e se tornam presas fáceis nas mãos do arqui-inimigo. Satanás sabe ser a Bíblia poderosa trincheira nas lutas contra o pecado, pois nos põe em íntima comunhão (relação) com Aquele que nos salva e nos comunica poder para resistir o mal e viver vitoriosamente. O inimigo de nossa alma sabe que sem uma contínua comunhão com Deus, através do estudo da Palavra, sucumbiremos sob o peso de esmagadora tentações. Por isso faz parte de sua estratégia, levar-nos a não abrir este Livro, negligenciando sua leitura.
2) Orar por uma reforma e um reavivamento em nossa vida.

3) Trabalhar com alegria e entusiasmo pelas alma que perecem no pecado.

4) Fazer uma entrega completa de nossa vida ao Senhor e permitir que o Senhor transforme a nossa vida.

5) Preparar nossa família para aquele grande dia.

6) Participar nas atividades da igreja e sendo uma luz.

Quando sentimos saudade, deixamos bem nítido em nosso modo de viver que O estamos esperando, pois nossas vestes, alimentos, conversações são voltadas para Ele.

No fim da Primeira Guerra Mundial aconteceu um fato interessante na África Ocidental Alemã. Certo dia um mensageiro chegou numa pequena vila, dizendo que todos os soldados dali haviam sido mortos pelos ingleses. Houve muito choro e a tristeza foi imensa. Passado algum tempo, a saudade foi-se transformando apenas em lembrança e novos interesses foram surgindo. As esposas dos que haviam ido ao campo de batalha se casaram novamente. Todas, exceto uma costureira, constituíram novo lar. Todas caçoavam dela, mas ela sempre dizia que sentia saudade do seu grande amor e o esperava com perseverança.

Um dia chegou ali outro mensageiro, enviado pelos ingleses, comunicando que os homens daquela vila estavam vivos e que estavam voltando para os seus lares.

Houve desespero e vergonha. Todas as esposas estavam aflitas! Apenas uma estava feliz naquele dia, pois aguardara pacientemente o retorno de seu amado.

Caro amigo leitor, como ficaremos nós quando Jesus voltar? Almejamos vê-Lo? Nossa maneira de viver é uma resposta a estas perguntas.

Que dia maravilhoso não será quando Jesus voltar à Terra! Ele vem encontrar-Se conosco. Não somente voltaremos para o Lar Eterno, mas o próprio Jesus virá para um grande  “acoplamento espacial” quando nos encontraremos com Ele “NOS ARES”! (1 Ts 4:16, 17). Será um encontro especial com nosso melhor Amigo, com Aquele que nos ama tanto que morreu na cruz por nós. Será a coisa mais gostosa do mundo encontrar-nos com Jesus, tocarmos Suas marcas da cruz, sentirmos o calor de Seu amor!

Talvez hoje você carregue no coração a lembrança de pessoas queridas que já se foram e deixaram muitas, mas muitas saudades. E ela pode ser tão grande que muitas vezes chorar é a única forma de aliviar esse sentimento. Tenho uma dica para você que com certeza também é como eu um saudosista. Que tal permanecer do lado de Jesus, seguir seus ensinamentos e mostrar a outros o Deus maravilhoso em quem acredita? Assim, a saudade de Jesus e Seu anseio de voltar logo somada com a nossa vontade de encontrar os que já se foram e abraçá-Lo pessoalmente, vão fazer com que mostremos aos outros esse Deus tão amoroso, que está vindo sem demora para buscar eu e você.

Qual é nossa atitude? Temos saudade de Jesus? Será que estamos fazendo todos os preparativos para a Sua vinda? Será que muitas vezes desanimamos, preocupados com as coisas deste mundo? O problema da grande maioria dos cristãos é que estão tão familiarizados com este mundo que não sentem saudade de Jesus e não sentem anseio de ir para a Pátria Celestial. O inimigo procura conservar nossos olhos voltados para as coisas terrenas para que nos esqueçamos da nossa herança celestial.

O conselho da Pena Inspirada é: “Enquanto vos deleitais nas atraentes belezas da Terra, pensai no mundo porvir, o qual não conhecerá jamais a mancha do pecado e morte, onde a face da natureza não mais apresentará as sombras da maldição. Representai-vos na imaginação o lar dos remidos, e lembrai-vos de que ele será mais glorioso do que o pode pintar vossa mais brilhante imaginação” (Ellen G, White, Caminho a Cristo, p. 86).

Será que abandonamos nosso posto de espera, vacilamos em nossa experiência cristã, deixando de lado as promessas maravilhosas da Palavra de Deus e nos confinamos às rotinas desta vida? É bem possível que o Rei do Universo volte e que Seus filhos não estejam preparados, não estejam de prontidão. Pedro alerta a Igreja para que aguarde e apresse Sua vinda.

Oração: Senhor é tão difícil esperar! Já estamos cansados deste mundo e com grande saudade de Ti. Senhor, vem depressa à Terra! Aviva a chama do amor em nossa vida e salva Teu povo. Em nome de Jesus. Amém!







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