Teologia

sábado, 30 de julho de 2016

TIETAGEM NO MEIO ADVENTISTA E O PECADO DA IDOLATRIA MUSICAL



Ricardo André

Particularmente gosto muito de ouvir música sacra, aquela que se aproxima do "canto correto, harmonioso" e glorifica a Deus. Mas, nestes últimos anos, um fenômeno que tem se tornado cada vez mais comum no meio adventista, tem causado em mim uma preocupação ingente: à semelhança dos cantores seculares, muitos de nossos cantores têm promovidos shows nas nossas igrejas, que em tudo o que fazem querem promover sua imagem pessoal, sua foto, seu visual, seu fã-clube, sua capacidade vocal exuberante, seu CD. Tudo o que eles fazem precisa ser um show. Nessas apresentações a tietagem é explícita entre os admiradores das “estrelas adventistas”. Ao falarmos nisso nos vem à memória um pequeno trecho do Espírito de Profecia, onde a irmã Ellen G. White adverte sobre isso: “Exibição não é religião nem santificação. Coisa alguma há, mais ofensiva aos olhos de Deus, do que uma exibição de música instrumental, quando os que nela tomam parte não são consagrados, não estão fazendo em seu coração melodia para o Senhor. A mais aprazível oferta aos olhos de Deus, é um coração humilhado pela abnegação, pelo tomar a cruz e seguir a Jesus.
“Não temos tempo agora para gastar em buscar as coisas que agradam unicamente aos sentidos. É preciso íntimo esquadrinhar do coração. Necessitamos, com lágrimas e confissão partida de um coração quebrantado, aproximar-nos mais de Deus; e Ele Se aproximará de nós” (Review and Herald vol. 76, nº 46, 14 de novembro de 1899).

Filosofia Adventista de Música de 2006, votada pela Conferência Geral dos ASD diz que o músico ou o canto “Evita tudo o que possa tirar a atenção da mensagem da música, como gesticulação excessiva e extravagante e orgulho na apresentação. (Ver Evangelismo, pág. 501.)”

Muitos desses astros da Música Popular Adventista (MPA) costumam ser vaidosos, exigentes, imodestos... Infelizmente, vemos hoje cantores agindo como os tais. Para se apresentar numa igreja fazem inúmeras exigências. Alguns exigem ficar no hotel ou em uma sala com ar condicionado até que chegue a hora de se apresentarem; exigem cachês excessivamente elevados ou a venda de uma quantidade de CD’s; não participam do culto. São poucos os que estão preocupados em cantar aquilo que vai tocar e transformar, que defendem os valores de Deus e da igreja acima dos seus.

O atual cenário adventista é deveras angustiante. Cada vez mais nossos jovens estão se portando como fãs de cantores!  Isso mesmo. Organizam shows de cantores em suas igrejas para fazerem imitações populares, onde ocorrem desagradáveis manifestações explícitas de tietagem antes, durante e depois das apresentações desses cantores (que incluem aplausos, assobios, selfs, autógrafos, entre outros). Literalmente, os aplausos tomam o lugar da reverência. Essas apresentações focam tanto no espetáculo, na pessoa que enfraquecem ou anulam a força da mensagem.  Na maioria das vezes estas apresentações estão destinadas a promover alguém ou alguma coisa. E isso é muito perigoso.

Em reuniões de “louvor” nas quais existem aplausos abre-se brechas para o inimigo atuar, pois, o pioneiro da exaltação própria foi Lúcifer. Esses aplausos agradam os incautos e orgulhosos, são um laço para os inexperientes, escândalo para os sinceros, tristeza para os anjos e abominação para Deus. Nossas reuniões nunca deveriam ser contaminados com tais atos de irreverência, ainda que alguns afirmem que são demonstrações de louvor.

Ellen G. White escreveu: "Peço-vos que estudeis de novo a cruz de Cristo. Se todos os orgulhosos e vangloriosos cujo coração anseia aplauso dos homens e distinção acima de seus companheiros pudessem estimar devidamente o valor da mais exaltada glória terrena em comparação com o valor do Filho de Deus - rejeitado, desprezado, cuspido por aqueles mesmos a quem viera salvar - quão insignificantes pareceriam todas as honras que o homem mortal pudesse conferir! (...) Vigiar e controlar o próprio eu, dar preeminência a Jesus e manter o próprio eu fora de vista requer constante, diligente e atento esforço." (Testimonies, vol. 4, págs. 374-376. Citado em Exaltai-O, pág. 241).

"Um grande defeito no caráter de Saul era seu amor à aprovação. Esta característica tivera uma influência preponderante em suas ações e pensamentos; tudo se assinalava pelo seu desejo de louvor e exaltação própria. Sua norma para o que era reto e aquilo que o não era, consistia no baixo padrão do aplauso popular. A pessoa que vive para agradar aos homens, e não procura primeiramente a aprovação de Deus, não está livre de perigo." (Patriarcas e Profetas, pág. 650).

Uma coisa está se tornando cada vez mais comum entre os jovens adventistas, hoje em dia: O fã-clube. Eles escolhem alguns cantores para “seguirem-nos”, tornando-se fã-clube deles. No final dos shows fazem selfs, tietagem enfim. Tudo o que querem é ficar perto do seu ídolo... Isso é idolatria! E muitos jovens estão embarcando nessa “canoa furada”. É tudo uma vitrine de como anda a cabeça de muitos de nossos jovens que ainda amam o mundanismo e fazem de tudo para tentar alimentarem, coisas que gostam de fazer exatamente igual o que os jovens do mundo fazem com seus ídolos seculares. Muitos deles ficam deslumbrados por terem tocado em um cantor... Diga-me: Isso não é idolatria? O que é mais triste é ver que muitos cantores apoiam tais manifestações mundanas, ignorando que Deus não dá a sua glória para ninguém (Is 42.8). A prática da tietagem é secular, mundana, e a Palavra de Deus nos orienta a não nos conformarmos com o mundo (Rm 12.1,2; 1 Jo 2.15-17).

O maior perigo é que esses shows centralizam-se na pessoa do artista, ou em algum traço de sua pessoa, como carisma, técnica vocal, etc. Isto significa que o louvor está sendo dado a homens e Deus vem a ser roubado de Sua glória. O Senhor não divide o palco com ninguém - ou Lhe damos todo o louvor ou Ele fica sem louvor nenhum!

Muitos jovens não são capazes de defender as doutrinas adventistas, mas, se alguém falar alguma coisa de seu cantor preferido ou do estilo de música adotado por ele, que se assemelha aos estilos seculares, mundano, prepare-se para a guerra. Que engano! É óbvio que podemos admirar, defender, se for o caso, alguém que admiramos, mas blindá-lo de tal modo, a ponto de não admitir que ninguém fale nada de suas composições é uma postura extremada e perigosa.

Lamentavelmente, muitos dos nossos jovens estão, consciente ou inconscientemente, cometendo pecado da idolatria. E fazem isso dando uma série de boas desculpas esfarrapadas. Por exemplo, quando querem idolatrar seu cantor gospel preferidos, exaltando-o sobre as alturas, falam às pessoas que ele é um grande homem de Deus, um referencial para eles. Então, fazem desta pessoa seu ídolo, tendo em casa um altar para ele, com todos os seus CDS, com uma foto ou capa de CD’s, agenda autografadas, uma camisa do fã-clube e outros apetrechos que farão parte do seu devocional a este ídolo. Assim, o jovem acaba se tornando um idólatra, tornado seu próprio irmão na fé num deus. Vale dizer que adorar também significa “devotar a vida”.

Tal estado de coisa chegou a um ponto que ninguém pode denunciar a tietagem e estilo de música contaminado pelo mundanismo desses “pop star adventistas”. Se alguém se levantar contra esses absurdos dos cachês e exigências, da idolatria escrachada  é rapidamente apedrejado pelos idólatras daquele determinado “deus gospel”. E como uma forma de autodefesa afirmam de forma incisiva: Respeite minha opinião que eu respeito a sua.

Cito aqui um texto base que refuta de vez qualquer tentativa de introduzir o mundanismo e essa tietagem na Igreja que está em I Tessalonicenses 5:22 onde diz “fugi da aparência do mal” e também em II Coríntios 6:14 que fala que “não há comunhão entre luz e trevas”.

Há certos tipos de músicas que estão invadindo os arraiais da igreja, a exemplo do pop gospel e rock gospel, ou seja, música altamente comercial, do mesmo tipo que se ouve nas FMs seculares.   E sobre isso Ellen G. White nos advertiu: "As coisas que descrevestes como tendo lugar em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ter lugar imediatamente antes da terminação da graça. DEMONSTRAR-SE-Á TUDO QUANTO É ESTRANHO. HAVERÁ GRITOS COM TAMBORES, MÚSICA E DANÇA. OS SENTIDOS DOS SERES RACIONAIS FICARÃO TÃO CONFUNDIDOS QUE NÃO SE PODERÁ CONFIAR NELES QUANTO A DECISÕES RETAS. E ISTO SERÁ CHAMADO OPERAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO. O ESPÍRITO SANTO NUNCA SE REVELA POR TAIS MÉTODOS, EM TAL BALBÚRDIA DE RUÍDOS. Isto é uma invenção de Satanás para encobrir seus engenhosos métodos para anular o efeito da pura, sincera, elevadora, enobrecedora e santificante verdade para este tempo. É MELHOR NUNCA TER CULTO AO SENHOR MISTURADO COM MÚSICA DO QUE USAR INSTRUMENTOS MUSICAIS PARA FAZER A OBRA QUE, FOI-ME APRESENTADA EM JANEIRO ÚLTIMO, SERIA INTRODUZIDA EM NOSSAS REUNIÕES CAMPAIS. A verdade para este tempo não necessita nada dessa espécie em sua obra de converter almas. Uma balbúrdia de barulho choca os sentidos e perverte aquilo que, se devidamente dirigido, seria uma bênção. AS FORÇAS DAS INSTRUMENTALIDADES SATÂNICAS MISTURAM-SE COM O ALARIDO E BARULHO, PARA SE TER UM CARNAVAL, E ISTO SERÁ CHAMADO DE OPERAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO. NENHUMA ANIMAÇÃO DEVE SER DADA A TAL ESPÉCIE DE CULTO” (Grifo nosso) (Carta 132, 1900 a S. N. Haskell , publicado  nos livros Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 36 e 37 e Conselhos Sobre Música, pág. 27).

“(...) Essas coisas que aconteceram no passado hão de ocorrer no futuro. Satanás fará da música um laço pela maneira por que é dirigida. Deus convida o Seu povo, que tem a luz diante de si na Palavra e nos testemunhos, a ler e considerar, e dar ouvidos. (...) (Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 37 e 38).

Percebeu? Veja se não é a descrição da maioria dos shows dos vários cantores adventistas e dos serviços de louvor realizados pelas  bandas de várias igrejas de hoje. Essas coisas terão lugar “antes do fim do tempo de graça”. E elas já estão ocorrendo. Eu já vi essas coisas acontecerem, para minha decepção. Vamos sintonizar o coração, o ouvido e todos os nossos sentidos com as melodias do Céu. Não podemos comparecer perante o Senhor com fogo estranho, mesmo que tenha aparência de fogo santo.

Como devem ser as apresentações musicais?

Em face do exposto, de pronto surge a seguinte questão: Como devem ser as nossas apresentações musicais? Ellen G. White responde em poucas palavras: "A melodia do canto, derramando-se dos corações num tom de voz claro e distinto, representa um dos instrumentos divinos na conversão de almas. Todo o serviço deve ser efetuado com solenidade e reverência, como se fora feito na presença pessoal de DEUS mesmo."  (Testemunhos Seletos, vol.2, p. 195).

"Com solenidade e reverência, como se fora feito na presença pessoal de DEUS mesmo." A trombeta do testemunho cristão não pode estar fora de tom: Não há lugar para a irreverência, para a falta de preparo, para músicas impróprias, para volume de som inadequado, vestuário inadequado, exibicionismo e exaltação dos cantores, expressões vocais e físicas impróprias ou qualquer outra coisa que estaria fora de lugar na presença pessoal de DEUS” (Manuscrito 21, 1891. - Evangelismo, pág. 502).

Também não há lugar para o emocionalismo: "Outros ainda vão ao extremo oposto, pondo mais força nas emoções religiosas, e manifestando intenso zelo nas ocasiões especiais. Sua religião parece ser mais da natureza de um estimulante do que uma permanente fé em CRISTO.

"Os verdadeiros pastores conhecem o valor da obra interior do ESPÍRITO SANTO sobre o coração humano. Satisfazem-se com a simplicidade nos cultos. Em vez de dar valor ao canto popular, volvem sua atenção principalmente para o estudo da Palavra, e dão de coração louvor a DEUS. Acima do adorno exterior, consideram o interior, o ornamento de um espírito manso e quieto. Na sua boca não se acha engano." (Idem)

Concluo oferecendo um conselho a todos os jovens que deixem de lado as efemeridades e amadureçam, a fim de que agradem a Deus (Ec 12.1). O Senhor Jesus não os salvou para que sejam fãs de cantores. Isso a nada leva. Nem o Senhor Jesus deseja ter fãs! Ele chama os que, renunciando a si mesmos e tomando a sua cruz, desejam ser seguidores (Lc 9.23).

Lembremo-nos do que está escrito em Isaías 42.8: “Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei(..).”

Deus ajude a Sua igreja a voltar às “Veredas Antigas” (Jr 6:16)!

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