Ricardo
André
Quando nascemos, a
primeira coisa que fazemos é chorar; e quando nos despedimos do mundo, aqueles
que nos amam choram por sentirem nossa ausência.
O choro, infelizmente,
começou a existir com a entrada do pecado neste mundo. Ele é uma expressão de
dor, de tristeza profunda, de sofrimento. Pode ser uma dor física ou dor no
coração, dor de sentimento. Há lágrimas que deslizam pela face, e outras não
reveladas, que correm pelo coração. Porém, de uma forma ou de outra, há muito
coração doído, quebrantados e muitas espécie de choro. Há choro por
incompreensão, por rejeição, por solidão, de saudade, de perda, pela
ingratidão, pelo castigo, pelo insucesso, e até pelo inconformismo.
Sei que quando a dor
toca a vida de uma família, todas as pessoas sentem-se imersas em sombras.
Ninguém entende nada. Tudo parece escuro. Nessas horas, vem o choro. Lembro-me
do dia que recebi a notícia da morte de minha querida mãe, no dia 26 de junho
de 2004. Foi triste e doloroso receber a notícia por telefone do falecimento
dela. Chorei copiosamente naquele dia triste. Chorei durante um ano pela sua
ausência. E ainda continuo chorando quando me lembro dela 12 anos após seu
falecimento. Quantas lágrimas! Disse alguém que se juntássemos todas as lágrimas
que já foram vertidas teríamos um volume igual ao do rio Amazonas; e este é o
maior do mundo em volume de água!
Quem não é tocado, de
vez em quando ou frequentemente, por um sentimento como esse? Estudos feitos
mostram que tanto homens como mulheres choram igualmente. Essa história de que “homem
não chora” não passa de um condicionamento social, até nocivo. Hoje se sabe que
o choro é algo bom e saudável; equilibra as emoções. Encontrar um ombro amigo
no qual chorar, expressar a dor e compartilhar sentimentos é parte vital no processo
de superação do pesar. É o que aconselham muitos conselheiros cristãos.
No Antigo Testamento,
perdas trágicas eram normalmente acompanhadas por choro e lamentos dramáticos. O
profeta Jeremias é algumas vezes chamado de “profeta chorão” (Jr 9:1; 8:18-22;
9:6, 7; 13:15-17). Na visão do Céu, João chorou muito por não haver homem ou
anjo capaz de abrir o livro do destino da humanidade (Ap 5:4-9). Em Gênesis
42:24 afirma-se que José chorou. Lágrimas de José! Quantas e quantas vezes este
moço chorou! Chorou enquanto suplicava aos irmãos para que não lhe fizessem
mal. Chorou quando se transformou em escravo e contemplou pela última vez as
colinas onde vivia seu amado pai e onde passava dias felizes. Chorou ao ser
encerrado num cárcere. E agora chorou ao se encontrar com seus irmãos.
Jesus Cristo era um
homem normal; o mais normal que já viveu. Não há relato que Ele tenha dado
gargalhadas em público. Mas os evangelhos afirmam que Ele chorou em público
algumas vezes. Chorou diante do túmulo de Seu amigo Lázaro (Jo 11:33-37).
Chorou quando olhou para a cidade de Jerusalém, perto do fim da Sua jornada
terrena. Lemos de Seus sentimentos pelos judeus que recusaram a salvação: “Jerusalém,
Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados!
Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus
pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram” (Mateus 23:37, NVI; Lc
19:41, 42).
No Seu “Sermão do Monte”
Jesus Cristo afirmou: “Bem-aventurados os que choram, pois serão
consolados” (Mateus 5:4, NVI). A primeira coisa que Ele falou nesse texto
é que quem chora pode ser considerado um “bem-aventurado”, que significa
verdadeiramente feliz. Sem dúvida, esse é mais um paradoxo, dentro dessa séria
que inicia o chamado “Sermão da Montanha”, no qual Cristo deu algumas receitas
estranhas, mas profundamente verdadeiras. Essa bem-aventurança contraria a
sabedoria e método do mundo pós-moderno. As pessoas do mundo consideram tal
declaração como absolutamente ridícula.
Na sociedade moderna, demonstrações
públicas de pesar geralmente são vistas como impróprias. O lema do mundo
pós-moderno não é “bem-aventurado ou felizes os que choram”, mas “bem-aventurados
e felizes são aqueles que estão livres da necessidade de chorar”. O pranto é
algo que o mundo procura evitar com todas as suas forças através da indústria
do entretenimento, dos prazeres, da TV que é, em grande escala, um narcótico
visual ou tranquilizante.
A filosofia do mundo é:
“esqueça seus problemas”; “faça o seu melhor para fugir de problemas”. Mas tal “sabedoria”
não é a de Jesus. Bem-aventurado ou felizes os que choram. Como em todas as
bem-aventuranças, Jesus desafia as convenções do mundo. Ele apresenta o ideal
cristão como o oposto daquele do mundo não convertido. A pessoa cristã é
diferente do mundo no nível mais profundo.
A pergunta que surge de
pronto é: Como podemos ser felizes com as faces banhadas de lágrimas?
O
Significado das lágrimas mencionadas na Segunda Bem-Aventurança
O que significam o
pranto e as lágrimas mencionadas na segunda bem-aventurança? A fim de encontrar
a resposta, deve-se considerar a íntima relação entre a primeira
bem-aventurança, que fala sobre os que são espiritualmente pobres, ou seja,
profundamente necessitados e a segunda, que fala dos que choram. Esta
bem-aventurança como a primeira encontra o pleno significado quando se aplica a
vida espiritual.
A expressão “choram”,
em Mateus 5:4, é a palavra mais forte para pranto na língua grega. É a palavra
usada para prantear os mortos. Como tal, é um ardente lamento por alguém amado.
No Antigo Testamento grego é a palavra escolhida para expressar a dor de Jacó
quando acreditou que seu filho José estava morto (Gn 37:34). Ela reflete dor
profunda. Por isso, o teólogo William Barclay amplia a segunda bem-aventurança
assim: “Bem-aventurado é o homem que chora como alguém que chora pelos mortos”.
Contudo, apesar do
choro pelos mortos reproduzir a intensidade da experiência de Mateus 5:4, não
reflete seu significado pleno. A profunda experiência da segunda
bem-aventurança é explicado pela escritora cristão Ellen G. White: “O
pranto aqui apresentado é a sincera tristeza de coração pelo pecado” (O Maior
Discurso de Cristo, p. 9).
Na realidade, é a
compreensão da extrema necessidade espiritual, da insuficiência e desvalia de
uma pessoa que a leva a sentir profunda tristeza e chorar por suas imperfeições
e pecados. É o choro por ter praticado algo errado, com consequências, que desejaríamos
de todo o coração poder sustar e até mesmo reparar os danos provocados.
É lamentar que eu seja
pecador e voltar-se para Deus em busca de perdão (Rm 7:24; 7:18, 19). Essa não
é uma experiência superficial. É sincera e profunda. É como a tristeza que se
sente quando alguém morre. Mas com o pranto vem a esperança: “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos
pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9, NVI).
Ellen G. White escreveu
este lindo pensamento: “Muitas vezes, teremos de nos prostrar e
chorar aos pés de Jesus, por causa de nossas faltas e erros, mas não devemos
desanimar. Mesmo quando somos vencidos pelo inimigo, não somos rejeitados, nem
abandonados por Deus. Não; Cristo está à direita do Pai, fazendo intercessão
por nós” (Caminho a Cristo, p. 64).
Podemos citar o apóstolo
Pedro, como um belo exemplo de choro. Durante o julgamento de Jesus, ele O
negou, dizendo que nem O conhecia (Mt 26:69-75). Depois, caiu em si e “chorou
amargamente”. Pedro tomou consciência de que tinha ferido uma pessoa amada, seu
Mestre, e derramou lágrimas desesperadas. Após a ressurreição, Jesus manteve
diálogo com ele e o consolou. Este é o choro mais importante.
É claro, também, que a
mensagem da segunda bem-aventurança é um consolo para aqueles que choram em
face dos desenganos, da perda de um ente querido ou das dores físicas advindas
das doenças ou acidentes. “Felizes os que choram, pois Deus os consolará”.
Caro amigo leitor, aqui
está a beleza da mensagem da segunda bem-aventurança para o nosso coração. O Consolador,
Aquele que enxuga nossas lágrimas, que fortalece nossa alma, que reanima nossa
vida é Jesus. Ele entende de dores, de angústia, de decepções, de traições,
pois já passou por todo esse caminho e foi vencedor. É Ele que agora, junto a
Deus o Pai, intercede por nós.
A fim de experimentar o
consolo de Deus em meio as tristezas, devemos ter em mente que, assim como o
carpinteiro está sempre próximo à madeira, o oleiro está sempre junto ao barro,
e o ferreiro não está distante do metal, assim Cristo está sempre próximo a
nós, para nos encorajar e nos confortar. Diz a Bíblia: “Não sobreveio a vocês tentação
que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês
sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes
providenciará um escape, para que o possam suportar” (1 Coríntios 10:13, NVI). Portanto,
não precisamos nos desesperar, desanimar ou perder a fé. Deus nunca vai
permitir que nós sejamos provados mais do que podemos suportar.
O
choro não é eterno (Salmo 30:5)
Amigo, quando estiver envolvido
em problemas físicos, morais ou espirituais que lhe afligirem a alma e lhe
fizerem escapar dos olhos algumas lágrimas sentida, lembre-se das palavras do Salmo
30:5, que são uma promessa maravilhosa para os que creem em Jesus: “(...)
o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria” (Salmos 30:5,
NVI).
O verso bíblico nos
assegura que o choro não é eterno. Ele é passageiro. Quando você não enxergar
mais nada, porque tem os olhos marejados de lágrimas, Deus está do seu lado,
planejando dias melhores para você. Ele está juntando todas as suas lágrimas no
seu reservatório e dizendo: “Não temas, ‘o choro pode durar uma noite, mas a
alegria vem pela manhã’”.
Mas o paradoxo do evangelho
é que esse choro (pela morte de um ente querido, bem como pelos pecados que
ferem o coração de Jesus) é o caminho para a alegria. Os que choram são
consolados diariamente por Jesus; mas acharemos mais conforto ainda quando nos
encontrarmos com o amado Senhor nas nuvens do Céu.
Querido (a) amigo (a),
por certo você já teve ou tem passado períodos tristes em sua vida. Nem sempre
Deus interfere para impedir que o mal nos sobrevenha, mas ele ainda está no
controle. Vivemos em um mundo onde coisas ruins acontecem a pessoas boas. Na
guerra entre o bem e o mal ocorrem muitas baixas. Embora ainda permita que o
mal siga seu curso, Ele está em meio ao sofrimento. Ele está presente para
consolar os que choram, para animar os desanimados, fortalecer os fracos e para
dar esperança ao desalentado. Creia que Deus não o esqueceu e a alegria tornará
a vir, tão certo como após cada noite há um dia claro. Essa é a promessa
divina.
Em meio à dor, pela fé,
podemos segurar a Sua mão, deixar que Sua luz penetre a escuridão que nos
envolve, e que suas promessas tragam alento ao nosso coração. Podemos, sim,
esperar por dias melhores.
Oração:
Querido
Deus e bom Pai que está no Céu, ajuda-nos a compreender o que significa chorar
como Cristo chorou.
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