MARTIN NIEMÖLLER – O PASTOR QUE SE OMITIU EM FAZER O BEM COM A SUBIDA DOS NAZISTAS AO PODER
Ricardo
André
Em Provérbio 3:27, encontramos um relevante conselho prático para
todas as pessoas em todas as épocas. Lemos: “Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa”
(NVI). Estamos vivendo um tempo de extrema dificuldade, onde a maldade e a
intolerância estão prevalecendo. Parece que as pessoas perderam completamente a
noção de bom senso e respeito pelo seu semelhante. Para esse tempo de
perplexidade o conselho do sábio é que devemos fazer o bem as pessoas (jamais o
mal). Fazer o bem e ser um bom cristão é nosso dever. Fazer o bem não é uma
opção, é uma ordenança. Não fazê-lo, segundo as Sagradas Escrituras, é um
pecado (Tiago 4.17). Não há escapatória ou desculpa para o contrário. Por isso,
o apóstolo Paulo disse em duas de suas Cartas: “Não se canse de fazer o bem”
(Gálatas 6.9-10 e II Tessalonicenses 3.13).
Pastor
Martin Niemöller e a omissão da prática do bem
Ao analisar esse dever
cristão penso na história de Martin Niemöller. Ele era pastor luterano, natural
da cidade de Lippstadt, na Vestefália, na Alemanha, que se tronou conhecido no
auge do nazismo. Por Ser nacionalista e antissemita, Niemöller recebeu com
entusiasmo a criação do Terceiro Reich de Adolf Hitler, apoiando-o
inicialmente.
Todavia, após uma
reunião com Adolf Hitler e dois outros proeminentes pastores, em janeiro de
1934, para discutir a tentativa de Hitler em dominar a Igreja Evangélica
(Luterana ou Reformada), retirou seu apoio ao regime ditatorial. Naquela
reunião ficou claro que o telefone de Niemöller havia sido usado pela Gestapo
(polícia secreta do estado alemão). Também ficou claro que a Liga de Emergência
dos Pastores (PEL), que Niemöller havia ajudado a fundar, estava sob vigilância
do estado nazista. Após a reunião, Niemöller abriu os olhos e começou a enxergar
o estado nazista como uma ditadura, passando a se opor veementemente. Denunciou
abertamente a culpa dos alemães pela morte dos milhões de judeus pelos
nazistas, conhecido como Holocausto, durante a Segunda guerra Mundial
(1939-1945), por terem apoiado acriticamente o nazismo.
Em 1938, por conta de
sua forte oposição ao nazismo, Hitler enviou o pastor como seu “prisioneiro
pessoal” para um campo de concentração. Até o fim da guerra, durante mais de
sete anos, Martin Niemöller permaneceu preso — inicialmente, no campo de concentração
de Sachsenhausen, depois no de Dachau. Em janeiro de 1946, ele publicou seu
livro intitulado: Über die deutsche
Schuld, Not und Hoffnung (“Da Culpa e da Esperança”). Nele, corajosamente
reconhece sua culpa e a do povo alemão pela cumplicidade com o regime nazista,
bem como por não terem feito nada para ajudar os judeus que perderam sua
liberdade, sofreram boicote e morte. Ele escreveu: “Assim, sempre que tenho a
chance de encontrar frente a mim um judeu como tal, então, como cristão, não
posso deixar de lhe dizer: 'Caro amigo, estou na sua frente, mas não podemos
nos unir pois há culpa entre nós. Eu e o
meu povo pecamos contra o seu povo e contra você mesmo” (Enciclopédia do Holocausto).
Criticando a atitude de
se omitir diante do mal, ele escreveu o poema “E Não Sobrou Ninguém”: “Um dia,
vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me
encomendei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era
comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e
levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No
quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar”.
Essas famosas palavras do
pastor Niemöller são uma adaptação de um poema de Vladimir Maiakóvski
(1893-1930), poeta russo. De acordo com o site Enciclopédia do Holocausto,
em virtude dele ter empregado de diversas formas em diferentes momentos, há
diferentes versões desse pensamento. Talvez,
a citação mais conhecida aqui no Brasil seja a que transcrevemos abaixo:
“Quando os nazistas
vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu fiquei em silêncio; eu não era
um socialdemocrata. Quando eles vieram buscar os sindicalistas, eu não disse
nada; eu não era um sindicalista. Quando eles buscaram os judeus, eu fiquei em
silêncio; eu não era um judeu. Quando eles me vieram buscar, já não havia
ninguém que pudesse protestar”.
Essa palavras expressam
uma questão profunda da sociedade de seu tempo e, também, do nosso: há pessoas
que podem fazer o bem, mas se omitem de fazê-lo. Esse é o assunto do Provérbio
3:27.
Não
se omitir em fazer o bem
Todos os dias, em
qualquer rua, em nossa comunidade, nós temos oportunidades de fazer o bem.
Existem pessoas com fome nas ruas, crianças e adolescentes sofrendo abusos
sexuais e outras formas de violência. O Brasil tem seis meninas entre 10 e 14
anos estupradas diariamente. Recentemente, a imprensa nacional repercutiu o
caso de uma criança, do Espírito Santo, de 10 anos, que fora abusada desde os 6
pelo tio. Aos 10, descobriu que estava grávida dele. Por conta do risco que a
gravidez representava para a vida da criança, e porque a gravidez foi fruto de
estupro continuado, a vó conseguiu na justiça o direito dos médicos interromper
a gravidez, num hospital do Recife, Pernambuco. No dia em que a equipe médica
faria o procedimento, diversos religiosos fanáticos católicos e evangélicos armaram
uma confusão e tentaram invadir o hospital para impedir o aborto legal, chamando
a menina vítima de estupro e o médico de assassinos. Nas redes sociais milhares
de internautas se mobilizaram em repúdio não só pela ação em si como aos que a
convocaram, especialmente contra a bolsonarista extremista que foi presa
recentemente, Sara Winter, a que não só incentivou os protestos de grupos
fundamentalistas como ainda revelou o nome da menina de 10 anos.
Quem defende que
abortar o fruto de um estupro, algo permitido pela legislação brasileira desde
a primeira metade do século passado, seria um crime, pensa na situação da mãe e
nas condições de vida da criança que nascerá? Ou só defende que mais um ser
seja gerado, porque seria uma obra divina na Terra, mas pouco se importa com as
consequências dessa gravidez violenta e indesejada? Aqueles
religiosos fanáticos que foram para a porta do hospital no dia 15, não estavam
preocupado com a dor, o sofrimento e os traumas da criança. Não estavam
preocupado com o estrago irreparável feito na vida dela, violentada desde os 6
anos. Nem com todo acompanhamento especializado essa menina terá uma vida dita
natural ou tranquila.
Muitas mulheres são
violentadas e assassinadas por seus maridos ou ex-maridos. Os negros e negras
sofrem cotidianamente com o preconceito e discriminação racial. Muitos deles
sofrem com a violência policial nas periferias. A indiferença social para com
os desvalidos, sejam eles pessoas desempregadas, refugiadas, crianças
abandonadas, negros, indígenas, pessoas idosas ou com deficiência, mulheres,
enfermos mentais, entre outros, ainda é uma prática generalizada no mundo. Há
uma boa parcela da humanidade que é solidária, porém, é preciso que a grande
maioria se sensibilize com a pobreza social. É desumano viver no ambiente de
caos social, existente nas periferias das grandes cidades. Frente a
vulnerabilidade de muitos, é preciso desenvolver o altruísmo e criticar o
egoísmo.
Como cristãos, não
podemos nos furtar de fazer o bem a esses grupos vulneráveis, denunciando tais
crimes e apoiando em suas necessidades. Quando deixamos de ajudar essas pessoas
que necessitam agravam o problema. São corações feridos, vidas destruídas,
pessoas desesperadas, esperando nosso apoio. A Bíblia diz:
"Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de
todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos
pobres e dos necessitados" (Pv 31:8,9, NVI). Portanto, à luz das Sagradas
Escrituras, a busca da justiça social não é uma opção para os cristãos, mas um
mandado do Senhor.
Ellen G. White escreveu
estas fortes palavras: A norma da regra áurea é a verdadeira norma do cristianismo;
tudo que a deixa de cumprir, é um engano. Uma religião que induz os homens a
estimarem em pouco os seres humanos, avaliados por Cristo em tão alto valor que
por eles Se deu; uma religião que nos leve a negligenciar as necessidades
humanas, seus sofrimentos ou direitos, é religião falsa. Menosprezando os
direitos do pobre, do sofredor e do pecador, estamo-nos demonstrando traidores
a Cristo. É porque os homens usam o nome de Cristo ao passo que Lhe negam o
caráter na vida que vivem, que o cristianismo tem no mundo tão pouco poder” (O Maior Discurso de Cristo, p. 136, 137).
Caro(a) amigo(a) leitor(a),
qual bem você pode fazer a alguém hoje, mesmo que você não o conheça? Ao deparar-se
com uma situação de injustiça, manifeste-se imediatamente. Não fique calado. Dê
um alarme. Levante a voz. Indigne-se e clame por justiça. Não fique indiferente
nunca. Estejamos atentos ao que está à nossa volta. Sempre encontraremos
oportunidades para fazer o bem, seja este uma “pequena” e “simples” ação ou
requeira este um enorme e complexo sacrifício. Encoraje, acolha, anime, dê um
pedaço do seu coração. Custa pouco e faz muito bem. Que não sejamos omissos! Portanto:
“Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa”.
Oração:
Querido Deus e bom Pai que estás no Céu, perdoa-nos pelas vezes que deixamos de
ajudar nosso próximo mesmo tendo condições de ajudá-lo. Não permita que venhamos
omitir ajuda a ninguém. Eu creio que o Senhor é a fonte, e eu sou apenas um
canal para fazer com que as Suas bênçãos cheguem àqueles que necessitam.
Oramos-Te em nome de Jesus, amém.
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