Marvin
Moore
Em 08 de julho de 1741,
Jonathan Edwards pregou o que se tornou o mais famoso sermão da época. O
título: “Pecadores nas mãos de um Deus irado”. Em uma das frases mais
frequentemente citadas a partir deste sermão, Edwards disse: “O Deus que te
segura acima do abismo do inferno, muito como alguém que segura uma aranha, ou
algum inseto repugnante sobre o fogo, tem repulsa de ti, e está sendo
terrivelmente provocado”. O pregador puritano Richard Baxter escreveu um livro
intitulado “O Descanso Eterno dos Santos”. Em um capítulo sobre o inferno, ele
disse que “as chamas eternas do inferno não serão consideradas demasiadamente
quentes para os rebeldes, e quando eles lá estiverem queimando através de
milhões de eras, [Deus] não se arrependerá do mal que se abateu sobre eles.”
Mais tarde no livro ele
escreveu, “Não é uma coisa terrível para uma alma miserável, quando estiver
estrepitando perpetuamente nas chamas do inferno, o Deus de misericórdia dar
risada deles; quando… Deus zombar deles em vez de aliviá-los, quando ninguém no
céu ou na terra puder ajudá-los, exceto Deus, Ele se regozijar sobre eles na
sua calamidade?
Em 1993, a Whitaker
House publicou um livro de Mary K. Baxter (provavelmente sem relação com
Richard Baxter), intitulado A Divina Revelação do Inferno, no qual ela afirma
que Jesus lhe concedeu um passeio ao inferno. Em um lugar, ela viu “pequenos
vultos vestidos de preto marchando em volta de um objeto parecido com uma
caixa. Após uma análise mais aprofundada, vi que a caixa era um caixão e os
vultos marchando ao redor eram demônios”. Jesus disse-lhe que o homem no caixão
foi um ministro que tinha pregado um falso evangelho. “Eu assisti os demônios
enquanto eles continuavam a marchar ao redor do caixão,” disse Baxter. O
coração do homem batia e sangue de verdade corria dele. Nunca esquecerei os
seus gritos de dor e tristeza.
Mais tarde no livro,
Mary Baxter disse que ouviu gritos de partir o coração e grandes choros de dor
[ecoando] a partir das celas [onde os perdidos estavam confinados]. As almas no
interior eram queimadas vivas, e ainda assim não podiam morrer. Os demônios,
também, juntavam os risos, enquanto Satanás passava de cela em cela, torturando
os perdidos.”
Eu tenho vários
problemas com essas visões do inferno.
Quem
está no comando?
A minha primeira
pergunta tem a ver com quem está no comando do lugar. De acordo com Jonathan
Edwards e Richard Baxter, Deus está no comando do inferno. Mary Baxter descreve
Satanás e seus demônios como estando no comando do inferno.
Irei para a resposta de
Deus.
A passagem mais
descritiva da Bíblia sobre o inferno diz que “desceu fogo do céu e os consumiu
[os ímpios]” (Apocalipse 20:9, grifo do autor). Se o fogo desce do céu, tem
que vir de Deus, porque Ele está no comando do céu, e não Satanás. Dois outros relatos
bíblicos da destruição dos ímpios, o dilúvio de Noé e Sodoma e Gomorra, mostram
claramente Deus iniciando a destruição, não Satanás (Gênesis 6:5-7; 19:24).
A ideia de que demônios
torturam seres humanos ímpios no inferno não tem um pingo de evidência bíblica
para apoiá-la. É pura fantasia. Se a Bíblia é para ser o fundamento de toda a
doutrina cristã, o que eu acredito que é, então qualquer coisa que contradiz a
Bíblia simplesmente não é verdade, incluindo a ideia de que Satanás e seus
demônios são responsáveis pelo inferno.
Quando
é o inferno?
Também discordo da ideia
de que o inferno está acontecendo agora.
De acordo com a visão
aceita por muitos cristãos, o inferno vem acontecendo desde que Adão e Eva
desobedeceram a Deus e foram expulsos do Jardim do Éden. A partir desse momento
até o presente, os maus têm sido lançados no inferno no momento em que morrem,
e vêm sofrendo lá desde então.
Os defensores desse
entendimento do inferno citam textos como o Salmo 55:15, no qual o salmista ora
para que os ímpios “Desçam rápido [isto é, “vivos”] ao inferno”. É assim que a
versão King James diz. No entanto, a palavra hebraica para “inferno” neste caso
é sheol, que significa simplesmente “túmulo”. A maioria das traduções modernas
dizem: “Deixe que eles [os ímpios] desçam vivos para o túmulo” (grifo nosso,
traduzindo o verso desta forma, Davi não quis dizer que Deus envia os ímpios
vivos ao inferno, um lugar de chamas. Em vez disso, Davi está expressando sua
frustração sobre os ímpios e desejando que Deus os deixe serem enterrados vivos
em seus túmulos.
Em vez do inferno ser
um processo contínuo, as Escrituras realmente o descrevem como um evento
futuro. Malaquias 4:1, que é uma das passagens mais descritivas do Antigo
Testamento sobre o destino final dos ímpios, diz: “Porque eis que aquele dia
vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade,
serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o SENHOR dos
Exércitos”. Malaquias foi escrito por volta de 400 aC, e no seu tempo, a
destruição dos ímpios pelo fogo ainda estava no futuro.
O Apocalipse também
descreve o inferno como um evento futuro. Alguns parágrafos atrás, me referi a
passagem mais descritiva da Bíblia sobre o inferno, que diz que “desceu fogo do
céu e os consumiu [os ímpios]” (Apocalipse 20:9). Apocalipse 20 descreve o
milênio, o que irá ocorrer após a segunda vinda de Cristo, e o fogo que desce
do céu acontece no final do milênio. Assim o inferno não pode estar acontecendo
agora.
O
Deus do Inferno
No entanto, minha maior
objeção ao conceito popular de inferno é a sua visão de Deus. Meu entendimento
da Bíblia é que Deus ama os seres humanos e os trata com bondade extrema.
“Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos
e injustos” (Mateus 5:45), e Ele diz que não tem “prazer na morte do ímpio”
(Ezequiel 33:11). Ao contrário, Ele pede que eles se voltem para Ele e se
arrependam (veja Isaías 45:22). A Bíblia consistentemente descreve Deus como
amoroso, misericordioso e justo (Salmos 69:13; 103:8, Jeremias 9:24; Joel
2:13).
A visão popular de que
os ímpios queimam e sofrem no inferno para sempre e sempre, ad infinitum,
escarnece destas qualidades divinas.
A ideia de que os
ímpios serão queimados para sempre no inferno se baseia na premissa de que eles
são imortais. É claro, o único Ser no universo que tem imortalidade natural
dentro de si mesmo é Deus. Seres humanos e outros seres criados não têm a
imortalidade dentro de si. Qualquer imortalidade que possuímos é derivada de
Deus, e o Novo Testamento afirma muito claramente que o povo de Deus receberá a
imortalidade na segunda vinda de Cristo (veja 1 Coríntios 15:50-54). Os ímpios
não são imortais agora, e nunca o serão.
O fogo do inferno vai
queimar os ímpios e destruí-los. A única maneira que os ímpios poderiam queimar
no inferno por toda a eternidade, seria Deus mantê-los artificialmente vivos
apenas para que eles pudessem continuar queimando. E esta não é minha ideia de
um Deus amoroso, justo e misericordioso.
Imagine que você ouve
uma notícia sobre um crime terrível que tenha sido cometido. A polícia está
tentando descobrir quem fez isso, mas não têm pistas. Infelizmente, você tem
informação positiva que seu filho cometeu o crime, e você sabe que se ele for
descoberto será levado a julgamento e passar muitos anos na prisão. No entanto,
você sente o dever de relatar o que você sabe. Você se alegraria ao ter que ir
à polícia, ou você iria com um coração muito pesado?
Ir à polícia seria a
coisa certa a fazer, mesmo que isso fizesse você se sentir muito triste. Da
mesma forma, punir os ímpios por sua maldade impenitente é a coisa certa para
Deus fazer. Mas eu creio que Ele vai fazer isso com grande tristeza. A imagem
que ilustra esta matéria mostra Jesus em pé na frente do mundo em chamas e Ele
tem o rosto enterrado em suas mãos. Ele está chorando sobre o destino dos
pecadores.
Acredito que esta seja
uma descrição correta da reação de Deus para com o castigo dos ímpios.
Compare isso com a
“visão” de Mary Baxter, com Jesus concedendo-lhe uma visita ao inferno. Ela
disse que ouviu gritos de partir o coração e grandes choros de dor [chegando] a
partir das celas [onde os perdidos estavam confinados]. Ela chorou e implorou a
Jesus para fazer alguma coisa para aliviar as suas dores. É assim que qualquer
pessoa sã reage ao sofrimento humano intenso. Mas Mary Baxter descreve Jesus
agindo com naturalidade, não mostrando nenhuma emoção. Isso é uma distorção
horrível do caráter de Deus!
Richard Baxter disse
que quando os ímpios estiverem estrepitando perpetuamente nas chamas do
inferno, o Deus de misericórdia dará risada deles; zombará deles em vez de
aliviá-los. Será? Como podem as palavras misericórdia e alegria andarem juntas
em qualquer descrição da reação de Deus para com a destruição dos ímpios? No
entanto, a teologia popular ou, pelo menos, a teologia de Richard Baxter nos
querem fazer crer que Deus é misericordioso mas que ele também se alegra com a
tortura eterna dos ímpios nas chamas do inferno.
Eu não questiono a
idéia de inferno, que a Bíblia descreve como um “lago de fogo” (Apocalipse
19:20; 20:14). A Bíblia é muito clara sobre o fato de que Deus punirá os ímpios
com fogo. No entanto, eu simplesmente não posso imaginar um Deus misericordioso
dando contínua imortalidade aos ímpios para que assim eles possam gritar de dor
por toda a eternidade.
O popular Deus do
inferno nunca cessa. Ele mantém os seres humanos artificialmente vivos, para
que possam continuar sofrendo ao longo dos séculos sem fim da eternidade. Essa
visão de Deus é simplesmente além da minha compreensão. É uma total contradição
do Deus misericordioso e justo que eu leio a respeito na Bíblia.
Sim, Deus está no
comando do inferno. Mas ele vai durar por um tempo muito curto, e então tudo
estará terminado. Deus criará “um novo céu e uma nova terra” (Apocalipse 21:1),
em que aqueles que confiaram nEle e O obedeceram irão viver ao longo dos
séculos sem fim da eternidade. E eles não terão que se perguntar se o seu Deus
misericordioso está rindo da dor indescritível que os maus estariam sofrendo em
alguma parte remota do universo por recusar aliviá-los do seu sofrimento.
FONTE: Revista Signs
of The Times, edição de julho/2011. Tradução do Blog Sétimo Dia https://setimodia.wordpress.com/
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