Teologia

domingo, 3 de fevereiro de 2019

SÁBADO – O INDESTRUTÍVEL MONUMENTO COMEMORATIVO DA CRIAÇÃO E DA REDENÇÃO



Ricardo André

Os adventistas do sétimo dia são mundialmente conhecidos por, entre outras coisas, sustentar alguns ensinamentos bíblicos distintivos (que só eles creem e pregam), entre eles a guarda do sétimo dia da semana, o sábado, como dia de descanso e adoração ao Deus Criador. O nome “Igreja Adventista do Sétimo Dia” traduz essa convicção. O nome aponta para dois ensinamentos fundamentais da denominação: o segundo advento de Cristo e o sétimo dia (sábado). Uma parte do nome aponta para a redenção, e a outra parte do nome aponta para a criação. Esses dois ensinos fundamentais promovem a unidade e a comunhão entre eles. Com poucas exceções na cristandade, somente eles seguem a doutrina do sábado.

Embora nosso primeiro objetivo seja exaltar a Jesus e revelar ao mundo a Sua graça salvadora, o sábado é uma intrincada parte dessa mensagem cristocêntrica. Há base bíblica para a guarda do sábado? Qual é o seu o significado?  Por que o sábado é um dia especial?

Sábado, Memorial do poder criador de Deus

Há base bíblica para essa crença essencial adventista. Senão, vejamos: As Sagradas Escrituras revelam que ao final da criação em seis dias, Deus separou o sétimo dia, como o sábado do Senhor e colocou nele uma tríplice distinção para que fosse um indestrutível monumento comemorativo: “E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a Sua obra, que Deus criara e fizera” (Gn 2:1-3). Gênesis deixa nítido que o próprio Deus colocou no sábado, o sétimo dia, três grandes distinções: 1) Ele descansou; 2) Ele santificou; 3) Ele descansou.

Descansou, não porque estivera cansado, pois a Bíblia afirma que Deus não se cansa (Is 28:10). Descansou para comemorar a criação e dar exemplo ao homem de que, todo aquele dia deveria ser de descanso e adoração ao Criador. Santificou ou tornou santo, separado entre os demais dias da semana, para der dedicado exclusivamente a Deus. Abençoou-o, tornando-o bendito e feliz. “A bênção sobre o sétimo dia subentendia que, dessa forma, ele era declarado objeto especial do favor divino e um dia que traria bênçãos a Suas criaturas” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 1, p. 203). Esses três atos distintivos que estabeleceram o sábado como dom especial de Deus para a humanidade mostram claramente que ele é diferente dos outros dias da semana.  Assim o sábado deve ser para nós um dia alegre, de feliz comunhão com Deus, agradável e cheio de amor. Ele permite que experimentemos a realidade do paraíso na Terra e confirmemos a criação de Deus em seis dias.

Uma das verdades mais profundamente arraigadas da Bíblia é que no jardim do Éden, em um mundo perfeito, criado por um Deus perfeito, o sétimo dia foi separado do restante da semana e santificado. É maravilhoso saber que o próprio Deus “descansou” no sétimo dia. Isso mostra a seriedade com que esse dia deve ser considerado, porque o próprio Deus descansou nele!

Ao descansar, abençoar e santificar esse dia, Deus também ordenou que todos O imitassem na observância do mesmo. Quando assim fizermos, estaremos reconhecendo que Deus é o Criador e O homenageando como tal. Deus nos ordena: “Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra: Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus: nele não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro tuas portas: Porque em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou” (Êx 20:8-11, KJV). Portanto, cada sétimo dia é uma dia especial que Ele “abençoou e santificou”.

O Novo Testamento revela que Jesus e os apóstolos guardaram o sábado. A participação de Jesus nas reuniões de sábado na Sinagoga revela que Ele o apoiava como o dia de descanso e adoração (Lc 4:16, 31). Alguns de seus milagres foram feitos no sábado para ensinar a dimensão da cura (física e espiritual) que resulta da celebração do sábado (Lc 13:10-17). Os apóstolos e os primeiros cristãos entendiam que Jesus não havia abolido o sábado; eles também o guardavam e participavam da adoração nesse dia (At 13:14, 42, 44; 17:2; 18:1-4). Em seu desejo de seguir o exemplo de Jesus, os adventistas do sétimo dia, observam o sétimo dia, o sábado.

Lamentavelmente o inimigo de Deus, Satanás, induz os homens a desprezarem o mandamento do sábado, e o resultado é que existem homens e mulheres que negam a existência de Deus e buscam no evolucionismo a origem da vida. Chegando ao absurdo de admitir que os símios deram origem aos seres humanos. A escritora cristã, Ellen G. White, escreveu: “Tivesse sido o sábado universalmente guardado, os pensamentos e afeições dos homens teriam sido dirigidos ao Criador como objeto de reverência e culto, jamais tendo havido idólatra, ateu, ou incrédulo” (O Grande Conflito, p. 438).

Nesse mandamento, Deus declara que em seis dias criou os céus, ao mar e a Terra e tudo que nele há. Nada é obra do acaso, tudo foi criado por Ele.

O sábado é o dia reservado por Deus para que O encontremos e O adoremos. Para que observemos o desabrochar da flor e a frondosa árvore da mata. Para que paremos e ouçamos o canto dos passarinhos e contemplemos o cintilar das estrelas. Ao fazê-lo, espontaneamente brotará de nossos lábios um cântico de louvor ao Criador.

Sábado, memorial da Redenção

Outra bela dimensão do sábado é que ele é um sinal da nossa libertação do pecado. O sábado é o memorial de que Deus salvou Israel da escravidão egípcia para o descanso que prometeu na terra de Canaã (Dt 5:12-15). Apesar do fracasso de Israel em entrar plenamente nesse descanso devido à sua repetida desobediência e idolatria. Deus ainda promete que “resta um repouso para o povo de Deus” (Hb 4:9). Todo os que desejam entrar nesse repouso podem fazê-lo pela fé na salvação oferecida por Jesus. A observância do sábado simboliza esse repouso espiritual em Cristo e a confiança apenas em Seus méritos, e não em obras, para nos salvar do pecado e nos dar a vida eterna (Hb 4:10; Mt 11:28-30). Assim, ao contrário de qualquer outro mandamento, o sábado aponta para Jesus, não somente como Criador (Gên. 2:2; Col. 1:16), mas também como Redentor (Deut. 5:14 e 15).

A mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14 é um chamado para que "toda a nação, e tribo, e língua, e povo" (verso 6) adore "Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (verso 7). Essa linguagem faz uma alusão inconfundível ao mandamento do sábado, com sua referência à criação (Êx 20:8-11). O Deus da criação, que instituiu o sábado como memorial de Seu poder criador, deve ser adorado e reverenciado. Esta adoração envolve a observância do sábado, um memorial semanal dAquele que fez "o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas". Portanto, não podemos estar certos de nosso alto chamado a menos que espalhemos a bênção do sábado em todos os lugares.

Nas palavras de Ellen G. White, “Enquanto o fato de que Ele é o nosso Criador continuar a razão por que O devemos adorar, permanecerá o sábado como sinal e memória disto. (...) A guarda do sábado é um sinal de lealdade para com o verdadeiro Deus, ‘Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas’. Segue-se que a mensagem que ordena aos homens adorar a Deus e guardar Seus mandamentos, apelará especialmente para que observemos o quarto mandamento” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 437, 438).

Alguns afirmam que a observância do quarto mandamento é servidão legalista. Todos os que o observam, porém, conhecem a beleza, a alegria e a bênção que acompanham o sábado. Aqueles cuja primeira pergunta acerca do sábado é: "O que é proibido fazer?" jamais conheceram a experiência do sábado. Por quê? Porque aqueles que verdadeiramente guardam o sábado sabem que a questão fundamental não é sobre o que não podemos fazer mas sobre o que o Senhor permite que façamos nesse dia especial.

Na verdade, estamos livres no sábado para gastar 24 horas concentrando-nos somente nas coisas do Senhor, livres para deixarmos de lado todas as coisas terrenas, livres para nos regozijarmos no Senhor e em Sua bondade, sem que nenhuma coisa secular nos interrompa.

Nenhum outro mandamento nos prove uma interrupção semanal das coisas temporais de nossa existência. Nenhum outro mandamento abre a oportunidade para nos deleitarmos em Deus durante 24 horas, sem interrupções. Nenhum outro mandamento nos dá a liberdade de dizer: "Pertenço a Deus, primeiro pela criação e depois pela redenção, e por um dia inteiro vou me regozijar na minha criação e redenção."

Reparadores de brechas

As Escrituras nos admoestam a chamar "ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor" (Isa. 58:13). A palavra para "deleite" vem de uma raiz hebraica que significa "agradável", "delicado", ou "suave". Assim, o Senhor deseja que consideremos o sábado como um deleite. Ele não somente deseja que o consideremos como um prazer, mas que ensinemos outros a amá-lo também. No verso 12, o Senhor convida a Seu povo para serem reparadores de brechas: "Os que de ti procederem edificarão os lugares antigamente assolados, e levantarás os fundamentos de geração em geração; chamar-te-ão reparador de brechas, e restaurador de veredas com moradias. A brecha foi feita na lei, onde o quarto mandamento foi quebrado. E somos chamados para reparar a brecha. Em outras palavras, o remanescente fiel (Ap 12:17), o povo de Deus deve realizar a obra de engrandecer a lei de Deus, restaurando a verdadeira adoração ao Deus Criador nos termos do mandamento que ordena a observância do sábado como dia de repouso (Ap 14:6, 7), edificar os lugares antigamente assolados e levantar os fundamentos de geração a geração. Tanto a profecia de Isaías 58:12-14 como a de Apocalipse 14:6, 7 apontam para a restauração da observância do santo sábado. O verdadeiro sábado precisa ser restituído à sua legítima condição de santo dia de repouso.

O movimento adventista foi suscitado por Deus para, entre outras coisas, restaurar o verdadeiro dia de guarda, e dá ao mundo um testemunho semanal do poder criador de Deus. Isto implica não somente a proclamação da vigência do quarto mandamento, mas inclui também a responsabilidade de uma demonstração de como observá-lo na letra e no espírito. É o Remanescente o “restaurador de brechas”, no sentido de reavivar as verdades da Palavra de Deus enterradas por séculos de negligência.

“O sábado está sendo restaurado ao lugar de direito na lei de Deus e na vida das pessoas. Mas uma vez ensinam-se a homens e mulheres os caminhos do Senhor. Eles são convidados a entrar na cidade de Deus e a assumir seu lugar no templo vivo que está sendo construído (I Co 3:9-11, 16; Ef 2:20-22; 2 Tm 2:19; I Pe 2:4-9)” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 4, p. 326). A reforma do Sábado teve início nos primeiros dias do movimento adventista, e os pioneiros compreenderam a importância dessa mensagem. 

Diz Ellen White: "A brecha feita na lei quando o sábado foi mudado pelo homem, deve ser reparada. O remanescente de Deus, em pé diante do mundo como reformadores, deve mostrar que a lei de Deus é o fundamento de toda reforma perdurável, e que o sábado do quarto mandamento deve permanecer como memorial da criação, uma lembrança constante do poder de Deus." (Profetas e Reis, p. 646 e 647).

E nós podemos ser esses reparadores, não somente proclamando a verdade do sábado, mas - o que é mais importante - vivendo-a. Não somente devemos ser capazes de defender biblicamente o sábado, mas - através de nossa experiência - devemos ser capazes de testemunhar sobre o que o sábado significa para a nossa vida, um testemunho que os opositores não podem refutar. Sem dúvida, a observância do sábado nos faz diferentes. Há mais de 3.000 anos, o Senhor disse à nação de Israel: "... serás por povo Seu próprio, como te tem dito, e que guardarás todos os Seus mandamentos" (Dt. 26:18). Ele, certamente, quer que o Israel espiritual seja "Seu povo peculiar" também. Se guardarmos "todos os Seus mandamentos" (especialmente o quarto) em um mundo em que os pós-modernistas os ignoram e em que os cristãos os alteraram para sua própria conveniência, seremos o povo peculiar que o Senhor deseja que sejamos.

O sábado é, fundamentalmente, um teste de lealdade para com Deus. Ellen White escreveu: "Todo aquele que se apega a uma aliança divina e eterna, feita e apresentada a nós como um sinal e marca do governo de Deus, liga-se à áurea corrente da obediência, da qual cada elo é uma promessa. Demonstra que considera a Palavra de Deus como estando acima da palavra de homens, e o amor de Deus como sendo preferível ao amor humano. Aqueles que se arrependem da transgressão e se voltam à lealdade, aceitando o sinal de Deus, mostram ser súditos fiéis, prontos a fazer a Sua vontade e a obedecerem os mandamentos. A verdadeira observância do sábado é o sinal de lealdade a Deus" (Comentário Bíblico Adventista, Comentários de Ellen G. White, vol. 7, p. 1097).

O sábado é, realmente um dia especial, proclamemo-lo eloquentemente como o monumento que Deus designou para memorial tanto da criação como da redenção! Estando entesourado no tempo, está disponível a todos, em todos os lugares, não importando riqueza, influência ou origem étnica.  


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