Teologia

quarta-feira, 2 de maio de 2018

OS 144.000 E A GRANDE MULTIDÃO




Ekkehardt Müller*

Tradução: Hugo Martins

O artigo “Os 144.000 e A Grande Multidão” (Original em Inglês: “The 144,00 and the Great Multitude”), por Ekkehardt Mueller, fora publicado, inicialmente, pelo Adventist Biblical Research Institute.  Usado com permissão.

Introdução

O número 144.000 é um dos vários números aparentemente enigmáticos de Apocalipse, o que tem gerado muitas especulações. Gerações de cristãos, incluindo os adventistas, têm estudado este símbolo. No passado, o Instituto de Pesquisas Bíblicas já tinha publicado um artigo sobre os 144.000 e a Grande Multidão de Beatrice Neill.1 O presente artigo é uma tentativa deste autor em lidar com a informação bíblica. Quando abordarmos este tópico, as seguintes questões devem ser levantadas: Que espécie de grupo é os 144.000? Quando aparecem? Que relação ele tem com a grande multidão e o remanescente? É um número literal ou simbólico?

I. Os 144.000 como Um Grupo

Nas Escrituras, os 144.000 aparecerem sob esta designação apenas duas vezes, a saber em Apocalipse 7 e Apocalipse 14. Eles são um grupo específico de seres humanos que mantêm um relacionamento especial com Jesus. Em Apocalipse 14:1, ele estão com o Cordeiro no Monte Sião. Aqueles, que foram condenados e perseguidos em Apocalipse 13, agora triunfam com o Cordeiro.2 Em vez de a marca da besta em suas frontes ou em suas as mãos, essas pessoas levam o nome do Cordeiro e do Pai em suas frontes. Elas pertencem a Deus. Ele as guarda. Eles se assemelham a Ele. Eles cantam um novo cântico, um cântico de sua experiência pessoal, aquela a qual eles enfrentaram na batalha final entre a verdade e o erro, entre Deus e Satanás. Mesmo estando impossibilitados de comprar ou vender (Ap 13:17), Jesus lhes comprou. A salvação foi cara. Custou a vida de Jesus.

Os 144.000 não se contaminaram com mulheres. Eles são virgens. Isso significa que eles não entraram em um relacionamento com a religião falsa ou eles se separaram dela.3 Eles seguem Jesus aonde quer que Ele vá (cp. Jo 10:27–28) e são transformados pela graça de Deus. Sendo as primícias, eles são um grupo especial de filhos de Deus. De acordo com o contexto de Apocalipse 14, eles aceitaram as mensagens dos três anjos e podem também tê-las proclamado. Em Apocalipse 14:12, os santos é um outro nome para os 144.000. Esses santos são caracterizados pela resistência/paciência, por guardar os mandamentos e pela fé de Jesus. Assim, Apocalipse 14 fornece informações sobre o caráter e comportamento deles.

Apocalipse 7, no entanto, contém pouco a respeito. Nós ouvimos que os 144.000 são os servos de Deus que estão a ser selados (Ap 7:3). O selo de Deus em suas frontes aponta para o fato de que eles são propriedade de Deus e que eles estão, pelo menos, protegidos contra a apostasia.4

II. O Tempo de Sua Aparição e de Seu Ministério

Embora os 144.000 já estejam apresentados no Monte Sião, a sua aceitação e o seu envolvimento óbvio na proclamação da mensagem dos três anjos que ocorre imediatamente antes do segundo advento de Cristo, deixa claro que eles são o povo do tempo do fim de Deus.

O mesmo é verdade quando analisamos Apocalipse 7. O sexto selo contém os sinais celestiais da segunda vinda de Jesus (Ap 6:12–14) e do Dia do Senhor, que é o Segundo Advento. O capítulo termina com a pergunta: “quem poderá suportar?” (Ap 6:17). Os versos anteriores (Ap 6:15-16) retratam pessoas que não são capazes de sobreviver no dia da ira de Deus e do Cordeiro. Por outro lado, Apocalipse 7 aponta para as pessoas que são capazes de subsistir. Por conseguinte, Apocalipse 7 responde a pergunta de Apocalipse 6:17 nos dizem que os 144.000 são capazes de subsistir (Ap 7:1–8). A grande multidão (Ap 7:9–17 já está descrita como servindo a Deus nos céus, em Seu santuário celestial diante do Seu trono (Ap 7:15). Os 144.00 estão ligados ao momento próximo ao segundo advento até o momento quando os santos estarão com Deus nos céus. Uma vez mais, como em Apocalipse 14, os 144.000 de Apocalipse 7 são povo de Deus do tempo do fim, aparentemente aqueles que estarão vivos quando Jesus retorna para levar Seus filhos ao lar.

III. Os 144.000 e A Grande Multidão

As opiniões variam sobre a relação entre a grande multidão e os 144.000. Os dois grupos podem ser distintos uns dos outros; os 144.000 podem ser parte da grande multidão; ou os 144.000 e a grande multidão pode ser um grupo aparecendo sob nomes diferentes.5 Os argumentos para esta última opção parecem ser os mais convincentes. Obviamente, os 144.000 e a grande multidão, que encontrar-se-á diante do trono de Deus em Seu santuário, referem-se a um mesmo grupo.6

Em apocalipse 5, Deus tem um livro em Sua mão que, inicialmente, ninguém é digno de abrir. Enquanto João chora, um ancião diz a ele (Ap 5:5) que o Leão da tribo de Judá, Jesus, venceu e é capaz de abrir o livro. João ouve sobre o leão, mas quando em Apocalipse 5:6 ele observa, ele não vê um leão, mas um cordeiro. Jesus o Leão é Jesus o Cordeiro.7 Este fenômeno é encontrado na cena introdutória da visão do selo. É repetido na mesma visão, no capítulo 7. Em Apocalipse 7:4, João ouve o número dos selados, mas em Apocalipse 7:9 ele vê que os 144.000 foram selados e formaram uma grande multidão. Os 144.000 e a grande multidão são o mesmo grupo retratado a partir de diferentes perspectivas. A primeira designação é um termo simbólico, o último descreve realidade.8

A resposta à questão de quem será capaz de suportar (Ap 6:17) é fornecida por todo o sétimo capítulo. Ambas as representações de um grupo, os 144.000 e a grande multidão são aqueles que são capazes de suportar e apontam para o mesmo grupo.

Os 144.000 são introduzidos como uma resposta imediata à questão de Apocalipse 6:17. Eles não são mais descritos, e a consequência de ser capaz suportar no grande dia da ira não é mostrada em Apocalipse 7a, mas apenas em Apocalipse 7b. No entanto, a grande multidão recebe uma descrição mais detalhada e é retratada como estando diante de Deus. O mesmo termo ἵστημι [hístemi] é usado em Apocalipse 6:17 [suportar] e em Apocalipse 7:9 [em pé].

Os 144.000, bem como a grande multidão, tem de passar por tempos difíceis. Os 144.000 são selados antes dos ventos soprarem e terem de suportar as dificuldades que se sucedem. A grande multidão veio da grande tribulação.

Os 144.000 são a igreja do tempo do fim de Deus na terra. A grande multidão é a igreja do tempo do fim no céu. Os 144.00 são a igreja do tempo do fim militante de Deus. A grande multidão é a igreja do tempo do fim triunfante de Deus.

Os 144.000 são a plenitude da igreja do tempo do fim de Deus, 12 vezes 12 vezes mil. Esse número nos lembra das doze tribos de Israel e dos doze apóstolos do Cordeiro (Ap 21:12,14). O número mil pode apontar para uma unidade militar no antigo Israel (Nm 31:4-6). Por conseguinte, os 144.000 representam a igreja militante do fim do tempo.9 A grande multidão é a igreja do tempo do fim consumada. A informação sobre a grande multidão complementa o que faltava quanto aos 144.000. O selamento dos 144.000 mil seria incompleto se não levasse à consumação final, como ilustrado pela experiência da grande multidão.

Os 144.000 são “servos do nosso Deus” (Ap7:3). A grande multidão “serve” a Deus (Ap 7:15). Ambos os termos gregos são usados para o mesmo grupo em Apocalipse 22:3.

Parece ser melhor entender os 144.000 e a grande multidão como o mesmo grupo, visto de perspectivas diferentes. A grande multidão não compreende os redimidos de todas as gerações. Este não é o foco em Apocalipse 7, nem é negado que haverá salvos de todas as gerações. Na verdade, isto está implicado em Apocalipse 14:4, chamando os 144.000 de primícias. Há de ser uma colheita universal dos redimidos de todas as gerações passadas.

IV. A Grande Multidão e O Remanescente

A visão central de Apocalipse se foca de forma especial na igreja. Considerando que o Apocalipse 12 se inicia com a igreja primitiva, destaca a igreja durante o período medieval e introduz o remanescente do tempo do fim. Os dois capítulos seguintes se focam especificamente no povo de Deus do tempo do fim e no destino dele.

Apocalipse 12:17 fala sobre o remanescente. Apocalipse 13:1–10 segue e menciona que os santos não estão envolvidos em uma adoração universal falsa. Apocalipse 13:11-18 fala de um grupo que não é mencionado por um nome específico, que não aceita a marca da besta, e não adora a besta ou a sua imagem. Apesar do universal boicote e o decreto de morte que visam remanescente fiel de Deus, há um grupo de sobreviventes, que vivem com Jesus, os 144.000 de Apocalipse 14. Obviamente, o remanescente, os santos, aqueles que não recebem a marca da besta e não adoram a besta e a sua imagem, e os 144.000, são o mesmo grupo. As passagens estão ligadas linguística e estruturalmente.10

A frase “guerrear contra” é encontrada tanto em Apocalipse 12:17 quanto Apocalipse 13:7. Em Apocalipse 12:17, a guerra é travada contra o remanescente. Em 13:7 a guerra é travada contra o santos. Aparentemente, o remanescente de Apocalipse 12:17 e os santos de Apocalipse 13:7 descrevem o mesmo grupo.11 Assim como a besta do mar reflete as bestas de Daniel 7, os santos de Apocalipse 13 nos relembra dos santos encontrados em Daniel 7.12 Embora os santos em Apocalipse 13 pareçam descrever o remanescente do tempo do fim, não obstante, eles são a continuação do santos por toda a história cristã, bem como o remanescente é a descendência e a continuação da mulher de Apocalipse 12.

Apocalipse 12:17, Apocalipse 13:10 e Apocalipse 14:12 estão interligados e descrevem as características principais do remanescente aparecendo sob nomes diferentes.

Apocalipse 12:17                      Apocalipse 13:10                   Apocalipse 14:12

Guardam os mandamentos                                                         Guardam os mandamentos

                                                   Paciência                                 Paciência
           
Testemunho de Jesus                                                              Fé de Jesus
        
V. Resumo das Características dos 144.000

Se é verdade que os 144.000 e os remanescentes são o mesmo grupo, então as características dos 144.000 mencionadas em Apocalipse 14:1–5 são características adicionais do remanescente, e as características do remanescente se aplicam também aos 144.000.

1. Guardando Os Mandamentos (Ap 12:17; 14:12)

O remanescente guarda os mandamentos de Deus e demonstra, assim, o amor e a lealdade dele para com o seu Senhor. Os mais proeminentes dos mandamentos, juntamente ao mandamento do amor a Deus e do amor ao próximo, são os Dez Mandamentos. Na cena introdutória para a visão central de Apocalipse (11:19), a Arca da Aliança já apontava indiretamente para eles. A observância dos mandamentos de Deus inclui a guarda do sábado bíblico ancorada no quarto mandamento.

2. Testemunho de Jesus (12:17)

O remanescente tem o testemunho de Jesus. De acordo com a 19:10, isto é o “espírito de profecia”, o Espírito Santo que fala por meio do dom de profecia. No texto paralelo, Apocalipse 22:9, o termo “profetas” substitui a frase “testemunho de Jesus”. O remanescente exalta a Palavra de Deus e as manifestações genuínas do dom de profecia (1 Co 12:7–11; Ef 4:11), incluindo o livro de Apocalipse que vem de Jesus e no qual Jesus testifica de Si mesmo.13

3. Paciência (Ap 13:10; 14:12)

O remanescente é caracterizado pela paciência ou pela perseverança. Em momentos difíceis, eles não desistem, não abandonam seu relacionamento com Deus, e não perdem sua esperança no retorno de Jesus que ocorrerá em breve.

4. Fé (Ap 13:10; 14:12)

Apocalipse 13:10 fala sobre a fé dos santos. Em Apocalipse 14:12, os remanescentes são identificados pela fé em/de Jesus. Naturalmente, os santos têm a fé em Jesus, e alguns intérpretes entendem esta expressão desta maneira. Outros sugerem traduzir a frase como “a fé de Jesus”, e entendem que ela reflete a doutrina cristã conforme contida no Novo Testamento. Em todo caso, o remanescente firma-se em Jesus e em Suas doutrinas fielmente.14

5. Propriedade de Deus e de Jesus (Ap 14:1, 3–4)

a.     Nomes de Jesus e do Pai na testa (Ap 14:1)

b.    Comprados (Ap 14:3–4)

c.     Primícias (Ap 14:4)

6. Sem falsa adoração (Ap 14:4)

a.     Não se contaminaram com mulheres (Ap 14:4)

b.    Virgens (Ap 14:4)

7. Seguidores do Cordeiro (Ap 14:4)

8. Fidedignos e imaculados como animais para sacrifício (Ap 14:5)

a.    Sem mentira (Ap 14:5)

b.    Sem defeito (Ap 14:5)15

9. A proclamação mundial das mensagens dos três anjos (Ap 16:6–12). Isso inclui:

a.     Proclamação do evangelho eterno (Ap 14:6)

b.    Chamado para adorar a Deus, temendo e honrando-O (Ap 14:7)

c.     Anúncio do juízo (Ap 14:7)

d.    Adoração ao Criador (Ap 14:7, 9–11)

e.     Apelo para separar-se da Babilônia (Ap 14:8)16

VI. Um Número Simbólico?

Fica, agora, bastante claro que os 144.00 devem ser compreendidos de forma simbólica em vez de forma literal.

O contexto imediato é claramente simbólico (Ap 7:1-3), a mencionar os quatro cantos do mundo, os quatro ventos da terra, o mar, a terra, as árvores e o selo de Deus. Mas, também, o contexto estendido, a saber, Apocalipse 6, é amplamente simbólico, por exemplo, os cavaleiros apocalípticos e os mártires debaixo do altar. A passagem paralela em Apocalipse 14:1–5 deve ser compreendida simbolicamente. Diz-nos que os 144.000 “não se contaminaram com mulheres.” Eles são “castos” e seguem o “Cordeiro.” O grupo não consiste em homens não casados apenas. O termo “mulher” é um símbolo em Apocalipse, bem como o termo “Cordeiro.“ Portanto, a linguagem simbólica é também esperada para Apocalipse 7:4–8. O número é simbólico—12 vezes 12 vezes 1.000—e aponta para a plenitude do povo de Deus. A enumeração das tribos é muito incomum. A tribo de Dan está ausente, enquanto Manassés já deveria estar contida em José. Efraim não é mencionada, no entanto, Levi é contada.17 Judá é encontrada em primeiro lugar e de Benjamim em último, formando um parêntese que engloba as tribos do Reino do Norte.18 Tal lista não é encontrada em nenhum outro lugar nas Escrituras. A maioria das doze tribos não existem mais hoje. Portanto, dificilmente seja possível encontrar os 144.000 israelitas literais, conforme as suas tribos listadas em Apocalipse 7 formando o povo de Deus no tempo do fim. No entanto, o NT conhece os descendentes de Abraão que não são descendentes literais (Rm 4:11-12), bem como um Israel espiritual (Rm 2:28-29; Gl 6:16).

Conclusão

As Escrituras retratam os 144.000 como o igreja especial de Deus no tempo do fim. De acordo com Apocalipse 7, eles são capazes de “sobreviver” quando Jesus retorna. Eles são chamados de “primícias”, indicando que uma colheita maior será realizada e que eles não são os únicos a serem salvos. Por terem seguido o Cordeiro por onde que Ele foi, e já que eles não se juntaram à falsa adoração, eles estarão com Jesus no Monte Sião, e diante do trono de Deus em Seu santuário celestial. Podemos não ser capazes de resolver todas as questões relacionadas aos 144.000, e, provavelmente, isso não é tão importante assim. O mais importante é viver de tal forma para poder ser contado dentre eles.

Apêndice: E. G. White e Os 144.000

Este apêndice contém diferentes citações Ellen G. White sobre os 144.000 encontradas em seus escritos. A maioria dele ocorre em mais de um livro e/ou artigos, no entanto, apenas uma fonte será indicada na seguinte compilação. Listaremos, primeiro, essas citações, e, então, brevemente, comentaremos-nas.

1. Declarações Refletindo Passagens Bíblicas

“Os santos vivos, em número de 144.000, reconheceram e entenderam a voz, ao passo que os ímpios julgaram fosse um trovão ou terremoto.” “Os 144.000 estavam todos selados e perfeitamente unidos“ (PE 15).

“Houve um forte terremoto. As sepulturas se abriram, e os mortos saíram revestidos de imortalidade. Os 144.000 clamaram ‘Aleluia!’, quando reconheceram os amigos que deles tinham sido separados pela morte, e no mesmo instante fomos transformados e arrebatados juntamente com eles para encontrar o Senhor nos ares” (PE 16).

“Ali, sobre o mar de vidro, os 144.000 ficaram em quadrado perfeito” (EW 16).

“E quando estávamos para entrar no santo templo, Jesus levantou Sua bela voz e disse: ‘Somente os 144.000 entram neste lugar’, e nós exclamamos: ‘Aleluia’!” (1T 69).

“Saiu um decreto para se matarem os santos, o que fez com que estes clamassem dia e noite por livramento. Este foi o tempo da angústia de Jacó. Então todos os santos clamaram com angústia de espírito, e alcançaram livramento pela voz de Deus. Os cento e quarenta e quatro mil triunfaram. Sua face se iluminou com a glória de Deus” (PE 36–37).

“Os cento e quarenta e quatro mil. E cantavam um ‘cântico novo’ diante do trono – cântico que ninguém podia aprender senão os cento e quarenta e quatro mil. É o hino de Moisés e do Cordeiro —hino de livramento. Ninguém, a não ser os cento e quarenta e quatro mil, pode aprender aquele canto, pois é o de sua experiência – e nunca ninguém teve experiência semelhante. ‘Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai.’ ‘Estes, tendo sido trasladados da Terra, dentre os vivos, são tidos como as primícias para Deus e para o Cordeiro’ (Ap 14:1-5; 15:3). ‘Estes são os que vieram de grande tribulação’ (Ap 7:14); passaram pelo tempo de angústia tal como nunca houve desde que houve nação;passaram pelo tempo de angústia tal como nunca houve desde que houve nação; suportaram a aflição do tempo da angústia de Jacó; suportaram a aflição do tempo da angústia de Jacó; permaneceram sem intercessor durante o derramamento final dos juízos de Deus” (GC 648–649).

“Os 144.000 Sem Engano—Um dos aspectos relevantes na representação dos 144 mil é que em sua boca não se achou engano. O Senhor disse: ‘Bem-aventurado o homem em cujo espírito não há dolo.’ Eles professam ser filhos de Deus e são apresentados como seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. Eles nos são prefigurados como estando sobre o monte Sião, cingidos para o serviço sagrado, vestidos de linho puro, que são as justiças dos santos. Mas todos os que seguirem o Cordeiro no Céu primeiro terão seguido a Ele na Terra, em obediência confiante, amorosa e voluntária; seguido a Ele, não de maneira relutante e inconstante, mas confiante e sinceramente, como o rebanho segue o pastor. . . .” (3ME 424).

“Esforça-se para Estar Entre os 144.000. —[Ap 7:9-17 citado]. Aqueles a quem o Cordeiro guiará para as fontes de águas vivas e de cujos olhos enxugará toda lágrima, serão os que agora recebem o conhecimento e a compreensão revelados na Bíblia, a Palavra de Deus. . . . Procuremos, com todo o poder que Deus nos tem dado, estar entre os cento e quarenta e quatro mil” (RH 9 de março de 1905).

“O Sinete do Céu.—João viu o Cordeiro sobre o Monte Sião, e com Ele 144.000 mil tendo o nome de Seu Pai escrito em suas testas. Eles suportaram o sinete do céu. Eles refletiram a imagem de Deus. Eles estiveram cheios da luz e da glória do Santo. Se quisermos ter a imagem e inscrição de Deus sobre nós, devemos nos afastar de toda iniquidade. Devemos abandonar todo mau caminho, e, então, devemos confiar nossos casos nas mãos de Cristo. Enquanto estivermos buscando nossa própria salvação com temor e tremor, Deus operará em nós o querer e o efetuar de Sua própria boa vontade (RH 19 de Março de 1889)” (SDA Biblical Commentary, vol. 7, p. 978)

Ellen White afirma que os 144.000 são aqueles que estão vivos na Segunda Vinda de Jesus. Eles foram selados e passaram pela grande tribulação. Assim, Ellen White parece confirmar que os 144.000 e a grande multidão são o mesmo grupo. Ela também lhes chama de “santos”, fazendo-nos relembrar Apocalipse 13 e 14. De acordo com ela, o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro mencionados em Ap 15:3 e 4 são os cânticos dos 144.000. Este é o novo cântico de Apocalipse 14:3, que, no entanto, não está registrado nesse capítulo. As características dos 144.000 encontradas em Apocalipse também são atribuídas a eles por Ellen White.

2. Declarações se Opondo às Interpretações Errôneas sobre os 144.000

“Irmão Arnold afirmou que os 1000 anos de Apocalipse 20 se cumpriram no passado; e que os 144.000 eram aqueles despertados na ressurreição de Cristo” (2 Spiritual Gifts 98).

Ellen G. White escreveu uma carta para um determinado irmão [Chapman] que afirmava: “. . . os 144.000 serão os judeus que reconhecerão a Jesus como o Messias.” Ela respondeu, dentre outras coisas, dizendo: “Precisamos acautelar-nos, não seja que, sob a capa de procurar verdade nova, Satanás nos desvie a mente de Cristo e das verdades especiais para este tempo. Foi-me mostrado que é a tática do inimigo levar as mentes a se deterem em algum ponto obscuro ou sem importância, alguma coisa que não foi plenamente revelada ou não é essencial a nossa salvação. Isso se torna o tema de todos os momentos, a “verdade resente”, quando todas as suas pesquisas e suposições só servem para tornar as coisas mais obscuras que dantes, e confundir o espírito de alguns que deviam estar buscando unidade mediante a santificação da verdade” (1ME 159). “Suas ideias das duas personagens que você menciona não se harmonizam com a luz que Deus me deu” (14 Manuscript Releases 179).

Não somente Ellen White sustentava o ensino bíblico dos 144.000. Ela também se opunha a pontos de vista errôneos. Como vimos, os 144.000 são aqueles que estão vivos quando Jesus retorna. Desafiando uma espécie de compreensão literal dos 144.000, ela sustentou a interpretação simbólica apontando que não devemos transformar questões secundárias em doutrinas essenciais.

3. Declarações a respeito dos Que Pertencem ou Não Pertencem aos 144.000

“Disse então o anjo: ‘Deves voltar e, se fores fiel, juntamente com os 144.000 terás o privilégio de visitar todos os mundos e ver a obra das mãos de Deus’” (PE 40).

“Vi que ela [se referindo a Sra. Hastings, um esposa e mãe, que tivera falecido] estava selada, e à voz de Deus ressurgiria e se ergueria sobre a terra, e estaria com os 144.000” (2ME 263).

“Não é Sua vontade que eles se metam em discussões acerca de questões que os não ajudam espiritualmente, tais como: Que pessoas vão constituir os cento e quarenta e quatro mil? Isto, aqueles que forem os eleitos de Deus hão de sem dúvida, saber em breve” (1SM 174).

“Quando Não Havia Luz: Não tenho luz sobre o assunto [quem constituem precisamente os 144.000] . . . (3SM 51).

As duas primeiras citações não afirmam que Ellen White ou Sra. Hastings pertencem aos 144.000. Ambas são vistas com os 144.000. Isso, contudo, não implica que elas são parte deles. Novamente, somos exortados a ficarmos satisfeitos com o que podemos saber sobre os 144.000, e não problematizar.

4. Outras Declarações sobre Os 144.000

“Vi lá mesas de pedra, em que estavam gravados com letras de ouro os nomes dos 144.000” (1T 69).

“Por que foram eles [os 144.000], então, especialmente apontados? Porque ele tinham de portar uma verdade maravilhosa diante do mundo inteiro, e receber oposição por parte dele, e, enquanto recebendo esta oposição, eles tinham de lembrar que eles eram filhos e filhas de Deus e que devem ter a esperança da glória de Cristo dentro dele. Eles sempre tiveram em vista a grande e bendita esperança que está diante deles” (1 Sermons and Talks 72–73)

Parece que, com o segundo declaração, Ellen White associa os 144.000 às três mensagens angélicas. Eles têm aceitado e pregado a verdade maravilhosa.

Sumário

Obviamente, E. G. White não fez muitas declarações definitivas sobre os 144.000. Por conta disso, devemos ser cuidadosos em não ler em suas declarações o que ela disse. Aparentemente, ela optou por uma compreensão simbólica dos 144.000, que estarão vivos na Segunda Vinda de Cristo, e parece ter descrito a grande tribulação como a experiência dos 144.000. Mais importante pode ser os seus conselhos para não nos preocuparmos com detalhes que não são importantes e não tentar interpretar o que não pode ser determinado, mas, em vez disso, viver uma vida de tal forma que possamos ser contado dentre eles.

Notas

1 Beatrice S. Neall, “Sealed Saints and the Tribulation,” em Symposium on Revelation–Book I: Introductory and Exegetical Studies, e. F. B. Holbrook, Daniel and Revelation Committee Series, vol. 6 (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 1992), pp. 245–278.

2 Cp., Eduard Lohse, Die Offenbarung des Johannes, NTD 11 (Göttingen: Vandenhoeck & uprecht, 1988), p. 84, que diz Sião ser o lugar de socorro no tempo do fim.

3 Cp. a mulher no capitulo 12, a meretriz no capítulo 17 e Jezabel em 2:20, além de 2:14 e 18:2, 4.  Ez 9:4.

4 Ver Ez 9:4.

5 Ver, por exemplo, o grande número dos nomes, títulos e descrições simbólicas utilizados para Deus Pai, Jesus e a igreja em Apocalipse.

6 Ver, por exemplo, Richard Bauckham, “The List of the Tribes in Revelation 7 Again,” Journal for the Study of the New Testament 42 (1991): 102–103; R. H. Charles, The Revelation of St. John, 2 vols, International Critical Commentary (New York: Charles Scribner’s, 1920), 1:201; J. Comblin, “L’Épître (Ap 7, 2-12): Le rassemblement de l’Israel de Dieu,” Assemblées du Seigneur: Catechèse des dimanches et des fètes 66 (1966): 22-23, 25; Gerhard A. Krodel, Revelation, Augsburg Commentary on the New Testament (Minneapolis: Augsburg Publishing House, 1989), p. 184; George E. Ladd, A Commentary on the Revelation of John (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Company, 1972), p. 116; Alfred Loisy, L`Apocalypse de Jean (Frankfurt: Minerva, 1972), p. 164; Beatrice S. Neall, pp. 245, 269–270; William S. Sailer, “Francis Bacon Among the Theologians: Aspects of Dispensational Hermeneutics,” Evangelical Journal 6 (1988): 80-81; Kenneth A. Strand, “The ‘Spotlight-On-Last-Events’ Sections in the Book of Revelation,” Andrews University Seminary Studies 27 (1989): 206; e Henry Barclay Swete, The Apocalypse of St. John: The Greek Text with Introduction Notes and Indices (London: Macmillan and Co., 1917), p. 97. Esta interpretação é rejeitada, por exemplo, por Wilhelm Bousset, Die Offenbarung Johannis (Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1906), p. 287; Balmer H. Kelly, “Revelation 7:9-17,” Interpretation 40 (1986): 289-290; e John F. Walvoord, The Revelation of Jesus Christ: A Commentary (Chicago: Moody Press, 1966), pp. 139–149. As diferentes opções são discutidas por Neall, pp. 267–272.

7 Isso é chamado audição.

8 A audição e a visão de descrevem a mesma pessoa a partir de diferentes perspectivas.

9 Sua contraparte é encontrada sob a sexta trombeta (Ap 9:16), o exército demoníaco de 200 milhões. A frase “ouvi o seu número” aparece apenas duas vezes em Apocalipse (7:4 e 9:16), e contrasta o exército de Deus na terra com o exército de Satanás na terra.

10 Para uma discussão mais detalhada sobre o remanescente, ver Ekkehardt Mueller, “The End Time Remnant in Revelation,” Journal of the Adventist Theological Society 11(2000):188-204.

11 Entretanto, mesmo se o santos de Apocalipse 13:7 forem compreendidos como povo de Deus durante a Idade Medieval, o versículo subsequente salienta que aqueles cujos nomes são encontrados no livro da vida não participam na adoração escatológica universal da besta no verso 10; eles são chamados de “santos”, e, claramente, são os remanescentes.

12 Daniel 7:18, 21, 22, 25, 27.

13 Uma discussão exaustiva sobre a questão de traduzir este texto com um genitivo subjetivo ou com um genitivo objetivo pode ser encontrada em um artigo de Gerhard Pfandl, “The Remnant Church and the Spirit of Prophecy,” em Symposium on Revelation, Book II, Daniel & Revelation Committee Series, Volume 7, e. Frank B. Holbrook (Silver Spring: Biblical Research Institute General Conference of Seventh-day Adventists, 1992), pp. 295–333. Nas páginas 321–322 ele resume os resultados importantes:

(1) No Novo Testamento o termo μαρτυρία ([martyría] testemunho) é usado principalmente por João.

(2) Fora do Livro de Apocalipse martyría é usado em uma construção genitiva e é sempre um genitivo subjetivo.

(3) Em Apocalipse, todas as referências a martyría podem ser interpretadas como um genitivo subjetivo.

(4) O paralelismo em 1:2, 9 e 20:4, entre a “palavra de Deus” e o “testemunho de Jesus,” torna evidente que o “testemunho de Jesus” é o testemunho que o próprio Jesus dá, assim como a “palavra de Deus” é a palavra que Deus fala. Isto aplica-se também ao paralelismo em 12:17 entre os “mandamentos de Deus” e o “testemunho de Jesus.”

(5) Em 12:17, o remanescente “tem” o “testemunho de Jesus.” Isto não encaixa a ideia de dar testemunho acerca de Jesus

(6) O contexto do Novo Testamento torna necessário interpretar o conteúdo do “testemunho de Jesus” como o próprio Jesus. O testemunho de Jesus é a própria revelação de Cristo por meio dos profetas. É o Seu testemunho, e não o testemunho do crente sobre Ele.

(7) O paralelismo entre 19:10 e 22:8-9 indica que aquele que tem o “testemunho de Jesus” tem o dom da profecia. O “testemunho de Jesus” é o Espírito Santo que inspira os profetas.

Portanto, o remanescente, como um grupo, tem, de acordo com Apocalipse 12:17, o dom de profecia. Cp. Richard Bauckham, The Theology of the Book of Revelation, New Testament Theology (Cambridge: Cambridge University Press, 1993), p. 72, e Robert H. Mounce, The Book of Revelation, revisado e editado, New International Commentary on the New Testament (Grand Rapids: William B. Eeerdmanns, 1998), p. 242. Os adventistas do sétimo dia, por esta razão, aplicam a frase “espírito de profecia” como um sinônimo de “testemunho de Jesus” também, mas não exclusivamente ao ministério de E. G. White.

14 Neste caso, é um genitivo objetivo. Cp. R. H. Charles, 1:369; Mounce, p. 277; Pfandl, p. 322.

15 Cp. Hubert Ritt, Offenbarung des Johannes, Die Neue Echter Bibel (Würzburg: Echter Verlag, 1988), p. 74. Ele resume as características dos 144.000 em quatro pontos.

16 Cp. Johnson, pp. 36–39. Ele não fala especificamente sobre o remanescente, chamando-no de, em vez disso, de povo de Deus, mas ele descreve o povo de Deus em Apocalipse 14:1–12 em 10 pontos.

17 Levi foi deixado à parte, e não foi contado com as outras tribos. José foi dividido em Efraim e Manassés, permitindo, assim, doze tribos, sem Levi.

18 Realmente, uma inclusão é encontrada em Apocalipse 7:5–8. As doze tribos são enumeradas, mas o particípio “selados” só aparece com as 12.000 pessoas da primeira tribo, Judá, e as 12.000 pessoas da última, Benjamin. Ver, também, François Rousseau, L’Apocalypse et le milieu prophétique du Nouveau Testament: Structure et préhistoire du texte (Tournai: Desclée & Cie., 1971), pp. 188-189.

*Ekkehardt Müller é diretor associado do Instituto de Pesquisas Bíblicas da Associação Geral. Antes de se juntar ao instituto, o Pastor Mueller atuou como Pastor e Ministerial por mais de duas décadas. Atualmente, ele está muitíssimo envolvido em escrever artigos e lecionar classes ao redor do mundo. Ekkehardt adora jardinagem e pintura. Boa música é também um elemento importante no lar de  Ekkehardt, sendo sua esposa Geri uma professora de música. Quando seus filhos, Eike e Eno, estão em casa, o “quarteto” está completo.



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