Teologia

sábado, 5 de maio de 2018

SEU LEGADO: QUANDO MORRER, COMO VOCÊ SERÁ LEMBRADO?


Ricardo André

Neste artigo gostaria de convidar você, caro leitor, a juntos refletirmos sobre a importância do legado que cada um de nós está construindo. Antes, porém, quero explicar a sua definição. Segundo o Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa, legado é um “patrimônio, obra ou conhecimento que se deixa para a posteridade”. Porém, o legado vai além de posses e bens materiais deixados por alguém aos seus descendentes. Legado significa o que é transmitido às gerações que se seguem, ou seja, a história de nossas vidas que construímos com nossas ações hoje e refletirá nas gerações futuras. É a marca que deixamos registrada na história da humanidade.

A Bíblia fala da importância de construirmos e deixarmos um legado para a posteridade. No Salmo 78:1-8 Deus exorta Israel, seu povo, para que deixasse uma herança para as gerações futuras. Diz o salmo que “Ele decretou estatutos para Jacó, e em Israel estabeleceu a lei, e ordenou aos nossos antepassados que a ensinassem aos seus filhos, de modo que a geração seguinte a conhecesse, e também os filhos que ainda nasceriam, e eles, por sua vez, contassem aos seus próprios filhos. Então eles porão a confiança em Deus; não esquecerão os seus feitos e obedecerão aos seus mandamentos” (v. 5-7). Deus não queria que as próximas gerações seguissem o exemplo negativo das gerações passadas. Então ele convoca a geração presente a deixar um testemunho, um ensino uma herança que pudesse perpetuar o conhecimento de Deus nas gerações vindouras.

Esse apelo é para nós também. Nós temos a mesma responsabilidade diante de Deus de deixar uma herança através da nossa vida, da nossa experiência com Deus, uma herança espiritual que vai assegurar que as próximas gerações continuarão servindo e seguindo ao Senhor.

Perguntamos: Que legado estamos construindo ao longo de nossas vidas como herança para as gerações futuras?  Que história estamos escrevendo sobre nós mesmos? Será que é um legado que servirá de inspiração para o nosso semelhante hoje e amanhã? Como os nossos familiares, amigos e demais pessoas da nossa comunidade reagirão à nossa morte? Como será a notícia do dia do nosso falecimento? O que irão dizer a nosso respeito no dia em que morrermos? Como será o final da nossa história de vida?

Alfred Bernard Nobel nasceu no dia 21 de outubro de 1833 em Estocolmo, na Suécia. Era filho de um modesto agricultor, que resolveu estudar engenharia militar e já formado foi convidado pelo governo Russo a trabalhar na construção de engenhos militares. Alfred, aos 16 anos já era um químico competente. De volta à Suécia Alfred e seu pai montam um laboratório de pesquisas, na cidade de Helenborg, próximo a Estocolmo. Começaram as pesquisas com nitroglicerina e em pouco tempo Alfred descobre a forma de fazer detonar essa substância. Uma explosão destruiu todo o laboratório e várias pessoas morreram, entre elas, um irmão.

Proibido pelo governo de reconstruir a fábrica e estigmatizado como "cientista louco", Nobel instalou fábricas na Alemanha e Noruega. Os acidentes não cessaram, mas em 1866 Nobel descobre a maneira de minimizar o perigo de manusear a nitroglicerina, ao misturá-la com um material inerte e absorvente, que só explodia com um detonador especial. Nobel batizou o produto de dinamite.

O invento permitiu-lhe multiplicar suas fábricas. Em 1875 era dono de centros produtores de dinamite em vários países da Europa e nos Estados Unidos. Continuando suas pesquisas inventou a balistite, uma pólvora, que logo foi usada em vários países para fins militares.

Nesse processo todo também passou a inventar outros tipos de dinamite que serviam para abrir estradas, buracos de minas etc. Ele continuou os seus experimentos e acabou criando ainda outros explosivos que seriam futuramente utilizados na indústria bélica. Nobel fundou algumas indústrias de produção de armas. Sete anos antes de sua morte, um dos seus irmãos morreu.

Nessa época, eles já estavam milionários. Os jornais da França, quando receberam a notícia da morte do irmão do Nobel, confundiram pensando que quem havia morrido era o próprio Nobel. Os jornais diziam: O mercador da morte morreu. Essa notícia correu através do mundo todo. Logo Nobel percebeu que a notícia falava sobre ele. Então ficou tão abalado com a sua reputação e, sabendo a herança que ia deixar para o futuro de ser um homem que mercadejava a morte, ele deixou um envelope selado.

Neste envelope havia uma carta que dizia que ele iria deixar toda a sua fortuna para uma fundação. Esta deveria estabelecer um prêmio anual em seu nome na Suécia que honrasse cinco pessoas que produzissem coisas boas e bonitas para a humanidade. Até hoje, o mais famoso prêmio que se dá àqueles que se destacam na medicina, na economia, na física, na química, na literatura e na paz, é o prêmio Nobel. Desde 1902 quatro prêmios são entregues pelo Rei da Suécia e o Nobel da Paz é entregue em Oslo, na Noruega.

Quem ganha esse prêmio é honrado com um dos mais famosos e dignos prêmios que a humanidade pode dar a um ser humano. Nobel não queria ser lembrado como sendo o mercador da morte.

No dia em que morrermos, pelo que seremos lembrados? No dia da nossa morte, as pessoas falarão a nosso respeito. Quando Jônatas morreu, Davi falou dele: "Chorem por Saul, ó filhas de Israel! Chorem aquele que as vestia de rubros ornamentos, e suas roupas enfeitava com adornos de ouro. Como caíram os guerreiros no meio da batalha! Jônatas está morto sobre os montes de Israel. Como estou triste por você, Jônatas, meu irmão! Como eu lhe queria bem! Sua amizade me era mais preciosa que o amor das mulheres! Caíram os guerreiros!" (2 Sm 1:24-27).

Personagens da Bíblia que deixaram importantes Legados

Precisamos nos preocupar com aquilo que vamos deixar como legado. Somos responsáveis pelo mundo e pelas pessoas que o Criador permite passar por nossas vidas. Somos responsáveis pelos nossos atos. Como desejamos que o mundo nos veja? A Bíblia Sagrada fala de grandes homens e mulheres que através de suas vidas e atitudes deixaram boas heranças. Gostaria de destacar uma ação de Maria Madalena. Ela planejara expressar sua gratidão a Jesus que representava muito para ela. E não pensava em fazê-lo de maneira comum, banal. Faria o melhor, não importava o preço. Por isso juntou suas economias e saiu à procura de um presente caríssimo. Entrou numa loja de perfumes e comprou o melhor perfume que havia na loja. Ela comprou um vaso de alabastro feito de finíssima pedra translúcida de um suave cinza. Ela havia comprado especificamente um perfume de nardo puro, um forte perfume extraído de uma certa planta do Himalaia, na Ásia, um produto muito luxuoso e caro, altamente procurado na antiguidade, pelos ricos. Seu valor era equivalente a quase um ano de salário (300 denários).

Maria ouvira dizer que Simão, um fariseu da cidade de Betânia, também sua cidade e de seus irmãos Marta e Lázaro, oferecia a Jesus um banquete, como demonstração de seu agradecimento por ter sido, por Ele, curado de lepra. Essa era a oportunidade de ouro para a sua manifestação, certamente pensou. No momento adequado, deixou sua casa e dirigiu-se para a casa de Simão com o perfume. A ceia oferecida por Simão já estava em andamento. Com o coração cheio de gratidão aproximou-se da mesa onde Jesus se inclinava, quebrou o vaso de alabastro e derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus.

Ao espalhar o custoso perfume sobre os cabelos de Jesus, a fragrância encheu a sala. Na presença daqueles convidados, todos surpresos, ela não disse uma palavra sequer, mas falou com os olhos ao caírem lágrimas de gratidão aos pés do Salvador. Então os enxugava com seus lindos cabelos longos. As gotas de nardo e as lágrimas eram muitas ofertas de gratidão pela salvação com que Ele a havia abençoado.

A escritora cristã Ellen G. White, afirmou que “Maria tinha razão de sobra para ser agradecida a Deus. Jamais se esquecera do que Cristo fizera por seu irmão, Lázaro, ressuscitando e trazendo-o novamente ao seio da família. Tivera perdoados seus pecados e fora liberta da possessão demoníaca” (O Desejado de Todas as Nações, p. 568).

Não obstante as críticas de Judas e de Simão a essa atitude de Maria, Jesus proferiu estas palavras: “Ela praticou uma boa ação para comigo. (...) Ela fez o que pôde. Derramou o perfume em meu corpo antecipadamente, preparando-o para o sepultamento. Eu lhes asseguro que onde quer que o evangelho for anunciado, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória" (Marcos 14:6-9).

Jesus falou que a ação de Maria foi memorável, que o evangelho se propagaria por todo o mundo em memória do dom dela e corações seriam tocados por sua ação imprevista. Ele predisse que Maria caminharia com Ele através dos séculos. Onde quer que Sua história fosse contada, a história dela também o seria. Enquanto o tempo durar, a história do seu vaso de alabastro partido contará do abundante amor de Deus por uma raça caída e da máxima expressão de agradecimento por uma pessoa que é por Ele alcançada, purificada e transformada.

Alguns outros homens deixaram suas marcas registradas nos anais da história bíblica. Vidas que hoje nos inspiram a sermos pessoas melhores, a termos mais esperança, mais fé, mais amor... Entre essas personalidades que o tempo jamais apagou, quero trazer à memória de Enoque, José, Daniel, Davi, João e Paulo. Quando precisamos olhar para um homem que tinha intimidade com Deus, nos lembramos de Enoque. Quando precisamos olhar para um homem de integridade, nos lembramos de José e Daniel. Quando precisamos olhar para um homem humilde e quebrantado, nos lembramos de Davi, o homem segundo o coração de Deus. Quando precisamos olhar para alguém que nos inspire pela sua singeleza de alma, nos lembramos de João, o discípulo amado. Quando precisamos olhar para alguém que tenha conteúdo, disciplina e coragem, nos lembramos do apóstolo Paulo. Outro que fez grande diferença foi Moisés, que com seu legado nos ensina que é possível viver as várias circunstâncias da vida com mansidão, humildade, integridade, fidelidade, santidade e o amor ao próximo.

Que legado deixaremos para as gerações futuras?

E nós? Que tipo de referencial seremos? Quando morrermos, qual será o legado que ficará de nós? Qual será a lembrança que nossos filhos, amigos, vizinhos terão a nosso respeito? Será que estamos construindo um legado praticando o desamor, a hipocrisia, a mentira, a falsidade, a infidelidade, o orgulho, a soberba, o egoísmo, fazendo acepção de pessoas ou estamos praticando e não somente falando: o amor, a fidelidade, a verdade, a humildade, o verdadeiro amor incondicional que respeita a todos?

A maior riqueza que deixaremos não é a material, e sim os valores que semeamos na vida de outras pessoas, que terão memória daquilo que fizemos. Eu diria ainda que o maior legado que podemos deixar para nossos filhos e demais pessoas é um legado de fé. Esse é o melhor presente, é o caráter de Cristo impresso em atitudes coerentes com sua forma de vida. É o legado espiritual, a verdade de Deus. Esse legado é muito mais importante e duradouro que posses e bens materiais.

É a nossa identidade em Cristo Jesus. Quais são os processos que estamos gerando na nossa vida? Se alguém for escrever um relato da nossa vida, o que irão dizer? Que tipo de herança deixaremos? Para deixar um legado é necessário viver uma vida de santidade, viver em comunhão com Cristo Jesus, permitindo a influência e guia do Espírito Santo sobre nossas vidas, para deixar um modelo para a próxima geração.

Precisamos deixar um testemunho para que a próxima geração creia em Deus e seja fiel a Ele: Se não testemunharmos a nossa fé de maneira intencional, corremos o risco de ter uma geração cada vez mais cética, mais ateia, mais secularizada, mais divorciada de Deus.

O convite desse artigo é: Deixemos uma marca positiva para nossa geração. Que possamos semear coisas boas na vida das pessoas, sejamos um legado de esperança, reflitamos o caráter de Cristo em nossa vida, desse modo serviremos de inspiração para muitos.


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