Teologia

domingo, 28 de janeiro de 2018

CUIDADO COM AS CISTERNAS ROTAS

Ricardo André

“Alguma nação já trocou os seus deuses? E eles nem sequer são deuses! Mas o meu povo trocou a sua Glória por deuses inúteis. Espantem-se diante disso, ó céus! Fiquem horrorizados e abismados, diz o Senhor. "O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água” (Jeremias 2:11-13, NVI).

I. Introdução

O profeta Jeremias fora chamado por Deus para exercer o ministério profético em Israel num tempo de grave crise. Israel, o então povo de Deus, havia mergulhado na idolatria. A apostasia crescente era generalizada: sacerdotes, pastores e profetas rebelaram-se contra o Senhor (Jr 2:1-8). Essa situação terrível levou-o ao exílio babilônico. Jeremias fora incumbido de anunciar esse juízo. De acordo com a mensagem do profeta Jeremias, o povo de Israel tinha cometido dois males ou crimes graves em sua procura da idolatria, e o profeta usou uma figura interessante para ilustrar o duplo pecado de Israel:

a)    Abandonaram a Deus, o manancial de águas vivas e

b)   Tentaram cavar cisternas rotas que não retinham água, desprezando a verdadeira Fonte de vida.


A figura demonstra o contraste entre a religião verdadeira e a religião alternativa, entre a vida proporcionada por Deus (como diz o verso 13, “águas vivas”) e as imitações feitas pelo homem. Quando tentamos cavar nossas próprias cisternas para preservar um tipo de água diferente da que Deus proporciona, esse é um esforço fadado ao fracasso desde o princípio. Teologicamente, poderíamos falar do contraste entre a justiça pela fé em Deus e a justiça pelas nossas próprias obras.

O povo de Israel teve muitos problemas de repetidas desobediência e rebelião. E no verso 13 Deus expressa sua tristeza pela insensatez do Seu povo.

Corremos perigo de cometer o duplo pecado de Israel e de brincar com uma religião alternativa, em vez de acolhermos a religião viva e verdadeira?

II. O que é uma Cisterna Rota?

Naquelas regiões desérticas do Oriente Médio não havia água encanada, e o povo dependia dos mananciais para sua sobrevivência. Entretanto, nem sempre se encontrava esses mananciais. Por conta da falta deles, o povo costumava construir cisternas para armazenar água da chuva para a época da seca. Eram poços enormes, os quais recebiam um revestimento de argamassa que impedia que a água escorresse para a terra por alguma fissura. Às vezes, por negligência na construção do revestimento, o povo precisava de água, descobria que o poço estava vazio. Aonde estava toda a água depositada nesse poço? Tinham escorrido pelas roturas (rachaduras, brechas) do revestimentos.

A fonte de águas vivas representa a Cristo (Is 12:3; Jr 17:13), bem como uma poderosa metáfora da salvação (Jo 4:10-14). Assim sendo, então as cisternas ineficazes, feitas pelos israelitas, se aplicam a um falso sistema de salvação – a salvação pelas obras.  Cisterna rota significa o esforço e a religiosidade do homem, procurando resolver a sua sede espiritual com suas próprias forças, confiando na sua própria capacidade e provisão. Significa substituir o verdadeiro Manancial de Águas Vivas por cisternas rotas da idolatria humana.

Desde sua queda e tragédia no Éden, o homem luta contra a aflição de sua alma. Tem procurado se afastar do seu Criador, tirando os olhos da suficiência Divina, entregando-se aos seus próprios recursos para preencher seu grande vazio existencial. No Éden, logo após o pecado, vemos o empenho humano na tentativa de resolver o problema de relacionamento para com Deus através da religião. Adão foi o primeiro estilista na terra. Ali o primeiro casal confeccionou uma vestimenta de folhas, num propósito inadequado, buscando uma maneira de encobrir a sua nudez com folhas de figueira, buscando a justificação de Deus através da sua própria justiça.

A tragédia do homem desde o jardim do Éden sempre foi a mesma: tirar os olhos de Deus e confiar nos seus recursos. Desde que o homem pecou ele se alienara e se divorciara de Deus. “Sem Mim nada podeis fazer”, disse Jesus (Jo 15:5). Mas ao longo da história o homem tem insistido em viver afastado da fonte da vida, substituindo o verdadeiro Deus por deuses ocos e sem vida.

Mais tarde podemos constatar esta mesma atitude religiosa em Caim. Ele pouco se importava com a revelação e a Vontade do Criador em Sua Palavra. Ele esperava que Deus aceitasse o seu sacrifício de adoração do produto da terra, adquirido com o próprio esforço, estando ainda no pecado. Caim se achava importante e ambicionava fazer prevalecer os seus méritos, sua dedicação, seu trabalho e suas pretensões. Sua atitude de animosidade, ódio, amor-próprio e arrogância, entrou em choque com o amor, a obediência, a submissão, a humildade, a comunhão e santidade que Deus requer do verdadeiro adorador.

O jovem rico, apesar de confessar que guardava os mandamentos, também se servia de cisternas rotas e não tinha segurança na sua religião e nem certeza de herdar o reino de Deus. Desesperado correu ao encontro de Jesus e perguntou o que deveria fazer para herdar a vida eterna. Esta é a atitude de todo o religioso que se alimenta de cisternas rotas. Querer fazer alguma coisa para merecer a salvação e entrar no reino de Deus. Ele não sabia que a salvação em Cristo é inteiramente de graça, sem nenhum esforço, sem depender da religião. O Evangelho da graça é um convite de Deus para o descanso em Cristo.

A humanidade tem substituído o único Deus verdadeiro pela idolatria e materialismo. Por mais seguro que os nossos recursos humanos possam nos parecer, são frágeis e inúteis diante da soberania divina.

As desgraças e os sofrimentos da humanidade são o resultado de seu afastamento de Deus. O profeta Jeremias fala exatamente desse terrível erro.

No evangelho de Lucas Jesus fez uma intrigante indagação: “Mas, quando vier o Filho do homem, encontrará fé na Terra?” (Lc 18:8). Ele previu que antes de Sua segunda vinda a crença num Deus transcendente decairia. É, deveras, uma nítida predição do alastramento do secularismo moderno.

Estamos vendo com perplexidade o cumprimento dessa profecia nos nossos dias. Estamos vivendo uma crise de fé. Padres e teólogos negam, põem em dúvida a historicidade e veracidade dos acontecimentos registrados nas Sagradas escrituras. Duvidam da ressurreição de Cristo, entre outros.

A idolatria é, indubitavelmente, o que mais fere a Santidade de Deus; é o pecado mais inaceitável e incompatível com a fé cristã. É a maior expressão de infidelidade a Deus! A idolatria, portanto é o esquecimento de que ele é suficiente e de que não precisamos de mais nada além dele! Todas as vezes que nossos corações se voltam para a adoração de falsos deuses estamos dizendo a Deus que ele não é realmente bom, justo, amoroso, santo enfim, suficiente para me preencher!

A grande maioria das pessoas, hoje, não adoram deuses de ouro, prata, barro ou madeira, como representação de seres divinos. Estamos mais do que convencidos de que esses ídolos não falam, não ouvem, não andam, não apalpam, não são capazes de satisfazer nossos anseios. Em Ezequiel 14.1-3 Deus revela ao profeta que o povo estava “erguendo ídolos no coração”!

A idolatria antes de ser um produto das mãos é inerentemente originada nos corações. A materialização em imagens é um detalhe e não essencial. A idolatria ocorre independentemente de haver imagens. Não é apenas algo externo a nós!

João Calvino certa vez afirmou: “O coração humano é uma fábrica de ídolos”. Deus criou o homem com o que o próprio Calvino chamou de “sensus divinatis”, ou seja, com uma inclinação para adorar a Deus. Somos seres adoradores, feitos para adorar. Adoramos a Deus ou qualquer outra coisa. Adorar é atribuir honra e glória a uma divindade, pessoa ou a um objeto que o adorador considera de valor supremo!

Quando alguma coisa deste mundo nos atrai mais do que o reino do Céu, então temos um ídolo diante de nós. Tornamo-nos idólatras. Ídolo É tudo aquilo que o ser humano ama mais do que a Deus, e que ocupa o lugar de Deus em sua vida, mesmo que apenas momentaneamente. Então, passamos a adorar nosso conhecimento, nossa posição, nossas opiniões, nossos prazeres prediletos, nossos bens e o conforto que nos cerca. O sexo pervertido (pedofilia, homossexualismo, lesbianismo, fornicação e toda sorte de coisas impuras relacionadas ao sexo) é o deus que governa a indústria do cinema, da pornografia, da prostituição, das "artes", novelas e música. 

O dinheiro é o deus buscado pelas multidões. A sociedade moderna nos quer convencer que dinheiro é felicidade ao mesmo tempo em que dinheiro é o que movimenta toda a maldade humana… quanta incoerência! Com dinheiro se compra vidas, se vende vidas, se troca vidas. É pelo dinheiro que o tráfico de todos os tipos se movimenta, é por dinheiro que muitos casamentos vão por água abaixo, é por dinheiro que os políticos se corrompem, é por dinheiro ou pela falta dele que milhões de pessoas passam fome, é por dinheiro que se fazem guerras, enfim, desde que o homem (ou o diabo mesmo) inventou essa praga chamada dinheiro o mundo tem se tornado cada dia pior.

Até nas igrejas Mamom está. A Teologia da Prosperidade alimenta o ego dos pastores e sua ambição por dinheiro fácil, enquanto alimenta o mesmo desejo das ovelhas. Mamom tem se disfarçado de Jesus e enganado milhões de pessoas que estão em busca de receber algo de Deus, mas não estão dispostas a obedecê-lo.
Nunca uma civilização se ajoelhou tanto diante de Mamom como se ajoelha nossa sociedade moderna. Não importa o que coloquemos no lugar de Deus, sempre estaremos prejudicando a nós mesmos.

Nosso coração diviniza todas essas coisas, algumas das quais são boas, como se fossem o centro de nossa vida porque achamos que podemos ter significado e proteção, segurança e satisfação se as alcançarmos. Desta forma, tudo pode ser um ídolo, e tudo tem sido um ídolo para uma pessoa ou outra.

A única solução para os graves problemas da humanidade, a única forma de nos libertarmos da influência destrutiva dos falsos deuses é nos voltarmos para o verdadeiro Deus, o Deus vivo, que se revelou, tanto no Monte Sinai quanto na Cruz, é o único Senhor que, se for encontrado, pode realmente satisfazê-lo. E o maravilhoso é que quando damos apenas um passo em Direção a Deus, O encontramos a nos esperar com amor e misericórdia.

a) Cristianismo de fachada. Deus olhava com tristeza para Seu povo e via que era um povo preocupado apenas em cuidar da aparência. Não tinha vida interior. Não vivi ligado à única fonte de poder que é Deus, mas eram homens e mulheres desesperadamente preocupados em mostrar boas obras, uma conduta correta e um aspecto exterior que despertasse elogiosos comentários.

Hoje, à semelhança do povo de Deus do passado, muitos vivem um cristianismo sem Cristo, um cristianismo que usa o nome de Cristo, mas vive apenas preocupado com exterioridades. Você vai a ela pensando achar água fresca, mas só encontra sequidão, desespero e morte. As cisternas rotas fornecem falsa religião, falsa satisfação, falsa alegria e falsa paz. A água de cisternas humanas não tem vida em si mesma e não nos satisfaz. Todos os recursos humanos fora de Jesus Cristo são falsos preenchimentos. Todas as nossas tentativas de resolver o problema do relacionamento com Deus através da religião, cisternas do esforço próprio, nos leva a um estado de ansiedade, aniquilamento espiritual e alucinação. “Será também como o faminto que sonha que está a comer, mas, acordando, sente-se vazio; ou como o sequioso que sonha que está a beber; mas, acordando, sente-se desfalecido e sedento” (Isaías 29:8).

Tenho observado muitos falsos ministros pregando uma falsa paz, garantindo salvação e prosperidade para quem vive na injustiça e no pecado, desde que contribua com dízimos e ofertas. Isso é mentira do diabo. A salvação e a paz só se obtêm pela "justiça divina" vivendo em nós. “E o efeito da justiça será paz, e a operação da justiça repouso e segurança para sempre” (Isaías 32:17).

Aumenta espantosamente o número de pastores vazios, mais conhecidos como cisternas rotas, que apenas usam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, preocupando-se apenas com exterioridades. Suas pregações são falsas, entretendo ovelhas desnutridas e desidratadas com águas poluídas, palhas e muitas fábulas. Este é o motivo de um rebanho irrequieto, desesperado, á beira da morte. “E curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo; paz, paz; quando não há paz” (Jeremias 6:14).

Não existe cristianismo sem a vida de Cristo. Estes profetas de paz sem experiência de justificação em Jesus Cristo, são falsos: “Então disse eu: Ah, Senhor, Senhor, eis que os profetas lhes dizem: Não vereis espada, e não tereis fome; antes vos darei paz verdadeira neste lugar. E disse-me o Senhor: Os profetas profetizam falsamente em meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei: Visão falsa, ... o engano do seu coração é o que eles profetizam” (Jeremias 14:13-14).

O profeta Ezequiel também nos advertiu do perigo de tais ministros profissionais do evangelho, como pintores sem qualificação, com suas falsas pregações: “Os seus profetas lhes passam caiação, tendo visões falsas, profetizando mentiras, e dizendo: Assim diz o Senhor Deus; sem que o Senhor tivesse falado” (Ezequiel 22:28). Caiação é uma pintura barata, mal acabada, a base de cal e água, de pouca duração.

b) Forma de Religião legalista. Há os que se escondem atrás dos preceitos, normas e leis. Levam a vida a criticar os outros, porque os outros não estão vivendo da maneira que ele acha correto. Eles querem impor a sua religião sobre os outros.

Hoje, em nossos dias, há cidadãos, dentro e fora da igreja que dizem: “Eu faço tudo correto, tenho uma vida exemplar, não preciso ser crente. Essas pessoas estão completamente equivocadas, pois se não aceitarem a Jesus Cristo, como Senhor e Salvador não receberão a salvação (At 4:12). Essas pessoas construíram para si cisternas rotas.

III. Não confiar nos nossos esforços

Jesus Cristo é o único manancial de águas vivas e aqueles que desejam ser cada dia mais semelhante a Ele não cometem a imprudência de confiar nas cisternas construídas por suas próprias mãos, não cofiam no bom comportamento conseguido por seu próprio esforço, nem na sua reputação como bons membros da igreja. Não, eles vão ao manancial de águas vivas, são banhados diariamente nessas águas, acalmam a sede da alma na pureza dessas águas. Não permitem que nada os afaste desse manancial e o resultado dessa experiência é uma vida de obediência autêntica, um caráter que cada dia reflete mais e mais o caráter de Jesus.

O verso que lemos no início, expressa também a profunda tristeza que Deus sentiu no jardim do Éden quando Adão e Eva se esconderam de Sua Presença. Naquela tarde fatídica e trágica o coração de Deus se afligiu não por causa de um fruto comido, mas porque os filhos amados não estavam mais perto dEle. O que Lhe causa tristeza ao coração não são apenas os atos errados do homem, são em primeiro lugar o relacionamento quebrado, o construir cisternas rotas separados do manancial de águas vivas.

IV - Quatro princípios para receber a fonte de água viva

Lemos em Colossenses 3:16: “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seus corações”. Neste texto encontramos quatro princípios para recebermos a Fonte da água viva, quais sejam:

1 - Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo;
2 - ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria
3 - e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais
4 - com gratidão a Deus em seu coração.

V. Conclusão:

Talvez você venha de uma grande perda. A angústia e o desespero invadiram seu coração. Sua dor é insuportável, consumindo-o aos poucos e já perdeu todas as expectativas de melhora. Agora para você a vida não tem mais sentido. Quem sabe esteja no fundo do poço, vivendo um ciclo de perdas infindáveis, e não tem mais nada para perder. Não dê o caso por encerrado, porque quando estamos no fundo do poço, só existe uma possibilidade de contemplar a luz. "O povo que andava em trevas viu uma grande luz; e sobre os que habitavam na terra de profunda escuridão resplandeceu a luz." (Isaías 9:2).

Olhar para cima, para o único Deus que ainda não colocou um ponto final nesta situação; o único que pode contemplar a dor de um coração despedaçado; o único que pode nos resgatar das mais profundas e densas trevas, transformando maldição em bênção, choro em alegria, escassez em abundância. Olhe para Ele. "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os confins da terra; porque eu sou Deus, e não há outro." (Isaías 45:22).

Por que não decidir hoje, manter comunhão com o Cristo, que é o manancial de águas vivas? Ele está pronto para receber você. Ele diz: “O Espírito e a noiva dizem: "Vem! " E todo aquele que ouvir diga: "Vem! " Quem tiver sede, venha; e quem quiser, beba de graça da água da vida. (Apocalipse 22:17, NVI). Diante de você está o cheio de desafios e expectativas, mas cuidado, não tente construir cisternas rotas, deposite sua confiança em Jesus e viva uma vida cristã vitoriosa.







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