Clinton
Wahlen*
O fascínio pelo mundo
do espírito é cada vez maior. Pessoas alegam experimentar coisas bizarras como
o sentimento de que um animal de estimação pula em sua cama quando ali não há
nenhum bicho; ou uma pessoa sente o cheiro de flores quando um ente querido morre
a muitos quilômetros de distância, e não existe nenhuma flor ao redor. Outros
alegam ter poderes especiais: um “dom de percepção extra-sensorial” para ler a
história da vida dos outros, incluindo o passado, presente e futuro; ou
capacidade para “canalizar” vibrações de energia do mundo do espírito para a
cura de doenças físicas e de problemas emocionais; ou habilidade para ajudar
outros a entrar em contato com vidas passadas.
No mundo inteiro,
pessoas de quase todas as religiões, incluindo cristãos, muçulmanos, hindus e
budistas, acreditam que a vida continua após a morte. Essa crença abre a porta
para a instalação de uma série de fenômenos sobrenaturais estranhos.
Alimentando esse engano, há narrativas de pessoas que dizem ter passado por
experiências de “quase morte” Livros, filmes e outros veículos de comunicação
fazem sugestões sutis (às vezes nem tanto) a respeito da vida após a morte. Em
geral, essa mensagem vem revestida de linguajar humorístico e aparentemente
inocente. Alguns vêem isso como um entretenimento não prejudicial, sem perceber
que ele tende a minar e obscurecer o ensino da Bíblia de que “os mortos não
sabem coisa nenhuma” (Ec 9:5), e que a morte é como um sono (Jo 11:13; lTs
4:13). O pior é a contribuição para a idéia de que existe vida fora do corpo e
a insinuação de que os vivos podem fazer contato com os mortos.
O
mundo do espírito e espiritualismo
A popularidade de
programas de TV, apresentando supostos contatos sobrenaturais com os assim
chamados espíritos de pessoas mortas, mostra claramente que o espiritismo está
amplamente disseminado na cultura ocidental.
A Bíblia, porém, de
forma clara e direta, se posiciona contra essa atividade: “Quando vos disserem:
Consultai os necromantes e os advinhos, que chilreiam e murmuram, acaso, não
consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À
lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva”
(Is 8:19,20).
Quando Isaías escreveu
essas palavras, as Escrituras consistiam na Lei (o Pentateuco) e no testemunho
dos profetas. Tais fontes são dignas de nossa confiança porque representam a
voz de Deus para Seu povo. Neste mundo, não faltam “vozes” que pretendem
cativar nossa atenção por meio da literatura e de outros veículos. No entanto,
muitas delas não merecem nosso crédito porque são “inspiradas” em fontes
esquematizadas pelo diabo, para nos levar ao erro.
A voz de Deus, que se
expressa por meio de Seus mensageiros inspirados, é a única fonte em que
podemos confiar plenamente. Infelizmente, “cada dia acrescenta suas lastimáveis
evidências de que a fé na segura Palavra da Profecia está em declínio, e que em
seu lugar superstições e satânicos enganos estão cativando a mente de muitos”
(Ellen G. White, Profetas, e Reis, p. 210). Satanás maquina diferentes enganos
para diferentes classes de pessoas. Aqueles que nunca imaginaram visitar uma
seção mediúnica, agora são seduzidos a observá-las pela televisão. E podem
ficar fascinados com os prodígios, mesmo os que sabem que estão diante de uma
manobra que contraria a Bíblia.
O engano básico do
pensamento da Nova Era é que todas as pessoas têm poderes espirituais dentro de
si, os quais apenas aguardam para ser acionados. Essa suposta sabedoria, que
apela para nossos desejos egoístas, é realmente terrena, animal e demoníaca (Tg
3:15). A repetição feita pelos meios de comunicação pode fazer com que
mensagens como essa passem a ter lugar comum em nossa mente, deixando-a
insensível ao perigo e incapaz de reconhecer as operações de Satanás. Estamos
sujeitos a ser influenciados por algumas dessas mensagens e a considerar menos
interessante o estudo da Bíblia. Além disso, Satanás não se incomoda tanto com
o tipo de engano que utiliza para nos atrair. O que importa a ele é que sejamos
atraídos. Felizmente, a Palavra de Deus nos esclarece a verdade e, por meio
dela, podemos reconhecer as mensagens ao nosso redor que conduzem para o mal e
ainda saber qual é seu propósito.
Esses são os espíritos
que nos combatem: não espíritos de pessoas mortas, mas de anjos maus. “Porque a
nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6:12). Nossos reais inimigos são
seres que não podemos ver e que estão tentando nos afastar de Deus. Existem,
igualmente, exércitos espirituais prontos a nos defender contra as forças do
mal. A guerra que começou no Céu chegou até nós (Ap 12:13), tornando toda a
Terra o campo de batalha do Universo.
Anjos
e espiritualismo
Alguns pensam que os
anjos estão apenas aguardando nossa palavra de comando, e tudo o que precisamos
fazer é ordenar-lhes para que entrem em ação. Pode ser verdade; mas, nesse
caso, podemos estar tratando com outro tipo de anjos! Anjos maus nos enganarão
e nos usarão, se permitirmos.
Os anjos de Deus não
operam desse modo. Eles não podem ser manipulados por nossos caprichos e não
estão interessados em prestar serviço a nossos propósitos egoístas. No Jardim
do Getsêmani, Jesus disse a Pedro que Ele poderia dispor de, no mínimo, doze
legiões de anjos (72 mil!). Mas não disse que convocaria os anjos. Em vez
disso, Jesus disse: ‘Acaso, pensas que não posso rogar a Meu Pai, e Ele Me
mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26:53). Jesus não
realizou nada sem primeiro saber qual era a vontade de Seu Pai. Se Ele não
chamou anjos para ajudá-Lo, temos nós algum direito de fazê-lo?
Jesus também nos
ensinou que o último engano teria o propósito de iludir os escolhidos, “se
possível” (Mt 24:24). Em Apocalipse, vemos Satanás e seus aliados enviando
espíritos imundos para enganar os habitantes da Terra. Esses espíritos operam
milagres para iludir o máximo de pessoas e agrupá-las num exército para
enfrentar Deus na batalha do Armagedom. Assim, antes da volta de Jesus,
espíritos demoníacos operarão milagres para enganar aqueles que preferem
confiar e acreditar no que vêem em vez de aceitar o testemunho dos profetas.
Como Satanás pode se transformar em anjo de luz (2 Co 11:14), seres espirituais
podem assumir várias aparências, inclusive fazer de conta que têm piedade
religiosa (ver O Desejado de Todas as Nações, p. 256). Através de agentes
humanos, os demônios de Apocalipse 16 atuarão na cura de enfermos e trarão
“revelações” que contradizem as Escrituras (Ellen G. White, O Grande Conflito,
p. 624).
A Bíblia é clara: os
mortos não sabem coisa nenhuma. Nossos reais inimigos são os espíritos das
trevas, anjos maus, que rodeiam a Terra com enganos que incluem os milagres
orquestrados por Satanás. Está diante de nós a montagem do cenário para a
terrível e última mentira que atrairá o mundo. Para que estejamos protegidos
contra ela, necessitamos prestar atenção à clara orientação da Palavra de Deus
com respeito ao que acontecerá e dar os passos necessários para RESISTIR aos
esquemas satânicos.
Talvez o acróstico
seguinte (baseado na palavra inglesa “RESIST”) possa nos ajudar:
Reconhecer o inimigo,
incluindo suas muitas vozes. Mesmo Jesus só foi capaz de fazer isso por meio
das Escrituras (Mt 4) .
Excluir todo mal que
Satanás pode introduzir. Conhecendo Jesus pessoalmente, não de segunda ou
terceira mão (At 19:13-18), teremos coragem para eliminar de nosso lar qualquer
influência que possa permitir aos anjos maus um ponto de apoio para que eles
permaneçam conosco (At 19:19).
Submeter a Deus nossa
vida e cada coisa que temos (Tg 4:7). Agindo assim e convidando a presença de
Deus para o nosso lar, Satanás será obrigado a sair.
Interceder (em oração)
por nós mesmos, por pessoas queridas e pelos outros, incluindo nossos inimigos.
Algumas influências más são tão fortes que serão eliminadas somente com
persistente oração e desprendimento (Mc 9:29; Ef 6:18).
Sondar a Palavra de
Deus (por meio de seu estudo). Muitas peças da armadura disponível para nossa
proteção espiritual são relacionadas por Paulo e estão à nossa disposição (Ef
6:14-17), mas a Bíblia é a única arma – no seu sentido exato – que é
mencionada. Para ser eficaz, ela não deve ser controlada independentemente por
mãos humanas, mas pelo Espírito Santo em nós (v. 17).
Transmitir a verdade a
outros, que também serão capazes de ensinar a outros (2 Tm 2:2). Desse modo, a
obra do reino de Deus derrubará as fortalezas de Satanás e preparará o caminho
para o retorno de Cristo (2 Co 10:3-5).
*Clinton
Wahlen é diretor associado do Instituto de Pesquisas
Bíblicas da Associação Geral. Ele também serviu como editor associado do
Journal e é o autor de Jesus and the Impurity of Spirits in the Synoptic
Gospels, publicado por Moh Siebeck.
FONTE:
Artigo publicado na Revista Adventista de Outubro/2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário