OS GIGANTES DA NOSSA VIDA: ONDE E COMO ENFRENTÁ-LOS?
Ricardo
André
O gigante Golias, “o
guerreiro filisteu de Gate” - símbolo do poderio filisteu contra Israel – duas
vezes por dia, por 40 dias, se postava numa colina sobranceira ao acampamento
dos israelitas e vociferava seu desafio a Israel para apresentar alguém para
lutar contra ele. Israel se achava impotente. A mesma coisa sentia o rei Saul.
O nome de Jeová estava sendo blasfemado e desafiado (I Samuel 17:8-11).
Davi ouviu a blasfêmia.
Viu o gigante. “Seu espírito se agitou
dentro dele. Inflamou-se de zelo para preservar a honra do Deus vivo, e o
crédito de Seu povo” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 690). Propôs
a Saul: “Quem é esse filisteu incircunciso para desafiar os exércitos do Deus
vivo? Ninguém deve ficar com o coração abatido por causa desse filisteu; teu
servo irá e lutará com ele" (1 Samuel 17:26, 32). Saul só podia
ter dó do menino. Mas Davi tinha um currículo de coragem. Um leão. Um urso. E
acima de tudo, o Espírito do Senhor. “Posso abater este filisteu incircunciso.”
Davi era apenas um
pastorzinho, o mais jovem de uma família de oito filhos. Ele conhecia suas
ovelhas. Conhecia sua harpa. Sabia cantar. Mas estava longe de ser um
adversário digno de Golias — aquele gigante de 2,90m de altura (v. 4, NVI),
pesando possivelmente 400 quilos, um lutador desde a meninice, cujas ameaças
belicosas deixava arrepiado o exército israelita. A armadura de bronze de
Golias pesava cerca de 60 quilos (v.5) — talvez mais do que o peso de Davi.
Golias avultava no horizonte como um homem-montanha de tecnologia de combate.
Enfrentando o gigante
com apenas uma funda de couro, atirou-lhe uma pedra na testa e o feriu e matou.
Golias foi morto por um simples disparo da funda de um pastor. Subitamente um
grito de vitória explode no arraial de Israel. “Quando os filisteus viram que
seu guerreiro estava morto, recuaram e fugiram” (1 Samuel 17:51).
Muitos anos se passaram
desde que Davi derrotara o gigante Golias espetacularmente em nome de Deus.
Agora o jovem pastorzinho tinha se tornado rei, era um guerreiro cansado e um
homem de idade avançada quando Israel entrou outra vez em guerra contra os
filisteus (2 Samuel 21:18-22).
O relato bíblico nos
diz que numa batalha contra o inimigo, Davi ficou cansado: “De novo tiveram os filisteus uma
guerra contra Israel. E desceu Davi, e com ele os seus servos; e tanto pelejara
contra os filisteus, que Davi se cansou. E Isbi-Benobe, que era dos filhos do
gigante, cuja lança tinha o peso de trezentos, siclos de bronze, e que cingia
uma espada nova, intentou matar Davi. Porém, Abisai, filho de Zeruia, o
socorreu; e, ferindo ao filisteu, o matou” (vs.15-16).
Quando o perigo passou,
os homens de Israel disseram ao rei: “Nunca mais sairás conosco à batalha, para
que não apagues a lâmpada de Israel” (v. 17). Mas os filisteus
continuaram atacando e desta vez foi Sibecai que matou outro gigante, chamado
Safe. Aparentemente, estava tudo acabado em outra batalha contra o mesmo
inimigo apareceu outro gigante cuja lança era como rolo de um tear.
Desta vez foi Elanã que
defendeu o rei. Finalmente, apareceu um gigante que tinha 12 dedos nas mãos e
doze nos pés. Este também desafiou Israel e foi morto por Jônatas, filho de
Siméia, irmão de Davi.
Nossa
vida é um constante e permanente enfrentar gigantes
Qualquer pessoa que lê
a história de Davi, pensa só no primeiro gigante que aprecem na vida do rei
(Golias). Pouca gente sabe que a vida de Davi foi um permanente enfrentar
gigantes. Os gigantes nunca o deixaram em paz. Atacaram-no quando era muito
jovem e aparentemente não tinha forças para derrotar alguém maior do que ele, e
atacaram-no também quando já era velho e cansava-se facilmente.
Os gigantes estão aí
diante de nós, todos os dias. Eles estão aí esperando o momento de maior
fraqueza, prontos a atacar-nos. É preciso enfrenta-los. Os gigantes que enfrentamos
são reais: gigantes filosóficos, educacionais, financeiros, pessoais ou
profissionais. Eles invadem nosso horizonte, obscurecem-nos a visão,
ameaçam-nos a estabilidade e põem em perigo nosso futuro.
Considere alguns dos
gigantes filosóficos que desafiam o nosso modo de pensar e viver.
Um deles é o humanismo secular. Afirma que a
humanidade é criadora e árbitro de seu próprio destino. Passeia pelas nossas
universidades sob o disfarce da objetividade científica: “Abandone suas
pressuposições religiosas e aceite os resultados ‘inquestionáveis’ do empirismo
científico. Nada há de sobrenatural no mundo. Tudo o que vemos pode ser
explicado por causa e efeito”. De início, este gigante parece invencível ao jovem
estudante. Afinal, como desafiamos anos de darwinismo ferrenho com nada mais do
que uma Bíblia aberta?
Outro gigante que enfrentamos
é o relativismo moral. O relativismo
moral ensina que quando se trata de moral, do que é eticamente certo ou errado,
as pessoas podem e devem fazer o que quer que sintam ser o certo para elas.
Verdades éticas dependem de indivíduos, grupos e culturas que as sustentam.
Porque acreditam que a verdade ética é subjetiva, as palavras como devem ou
deveriam não fazem sentido porque a moral de todo mundo é igual; ninguém tem a
pretensão de uma moral objetiva que seja pertinente aos outros. O relativismo
não exige um determinado padrão de comportamento para todas as pessoas em
situações morais semelhantes. Quando confrontadas com exatamente a mesma
situação ética, uma pessoa pode escolher uma resposta, enquanto outra pode
escolher o oposto. Não há regras universais de conduta que se apliquem a todos.
O gigante diz: “Moralidade é tudo o que satisfaz suas necessidades. Não há
código moral absoluto. Faça qualquer coisa que o torne feliz”. Este gigante
passeia pelas universidades sob o disfarce da descoberta estudantil. Reforçado
pelo hedonismo do circuito de divertimentos, ele seduz os jovens e os
desassossegados, os solitários e isolados.
O
materialismo é outro gigante opressor. As pessoas são levadas a ver os
estudos não como o meio para um serviço maior, mas como meio de aquisição
material. O carro, a casa, a indumentária fazem “a boa vida”.
As
circunstâncias duras da vida. A adversidade e as
dificuldades de toda sorte são também nossos gigantes. O seu pode ser o Golias
de abusos sofridos na infância. Ou o Golias de um casamento infeliz, ou de uma
família destroçada, ou uma doença. Ou pode ser o Golias de uma situação
financeira que se deteriora, a perda prematura de um dos pais ou, pior ainda, a
morte de um filho! Golias nos encontra quando os desafios excedem nossos
recursos — quando somos superados e desarmados. Golias é real!
Estes são apenas alguns
dos gigantes que enfrentamos na vida, mas o fato a recordar é que não só
haveremos de enfrentá-los, mas onde, quando e como os enfrentaremos! Talvez a
história de Davi e seu gigante nos ajude um pouco.
Como
vencer os Gigantes espirituais?
A resposta de Davi nos
diz onde enfrentar nossos gigantes — no ponto onde se cruzam a fé, coragem e competência.
Coragem é um traço de liderança do qual todos precisamos. Coragem é a
disposição de enfrentar nossos desafios sem medo. Competência é a habilidade
necessária para vencer nossos gigantes. Coragem sem competência é bravata.
Competência sem coragem é temeridade. Todavia, a dramática história da vitória
de Davi sobre Golias é mais do que um relato de coragem, competência e ousadia.
É uma história de fé; fé de que não foi ofuscada pela dúvida, pelo desânimo e
pelo desespero; de fé que não se deixou corroer pela tendência de encarar as
coisas meramente da perspectiva humana; de fé que confia no poder de Deus para
fazer o que parece ser impossível.
Este exemplo nos lembra
que não precisamos ficar aterrorizados diante dos “gigantes” em nossa vida. Ele
nos ensina o que Davi compreendia tão bem, a saber: que a peleja pertence ao
Senhor dos Exércitos. Não alcançaremos a vitória pela espada ou lança, mas pelo
poder divino. E isso não se dá para nossa própria honra ou glória, mas para que
“toda a terra [saiba] que há Deus em Israel” (I Sm 17:46). Portanto, para enfrentar nossos gigantes
precisamos dos três. Nos desafios que se nos defrontam, precisamos ter fé,
coragem e competência. Os gigantes do humanismo, relativismo, materialismo e as
vicissitudes da vida não podem derrotar nossa experiência pessoal com Deus! Precisamos
mostrar como estas ideias são falidas, mas isso só pode ser feito sobre a
plataforma de uma experiência viva com Deus.
O apóstolo Paulo em Filipenses 4:13, fala da maior força
possível ao cristão! Ele diz: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses
4:13, NVI). A força que sustinha Paulo, a força locomotora de sua vida
era Cristo! Ele nos ensina que como cristãos somos fortes em Cristo Jesus. Em
sua fraqueza diante dos gigantes o cristão confia na força de Jesus. Apesar das
vicissitudes, das enormes dificuldades, não somente o cristão recebe o alento,
o bálsamo que necessita, o perdão e a paz, mas a força e o ânimo para enfrentar
novas lutas.
Enfrente-o!
Nunca me esquecerei de
como minha falecida mãe enfrentou seu gigante. Enfrentou com serenidade e
confiança em Deus. Ela era hipertensa. Lembro-me do dia em que recebi um
telefonema de minha irmã Roberlane Cordeiro, no ano de 2002, que informou que
ela não estava bem, e que encontrava-se no hospital para submeter-se a uma
cirurgia para a retirada de mioma. Ela falou que seu eu quisesse vê-la ainda
com vida fosse lá. O pensamento de perdê-la doía tanto que eu mal conseguia
puxar o fôlego entre um soluço e outro. Então clamei a Deus: “Senhor Jesus, Tu
sabes o quanto eu desejo que minha mãe viva, por isso peço-Te que cures minha
mãe. Eu não quero que mamãe morra, mas não sei como orar”.
Na mesma semana viajei
ao Cabo de Santo Agostinho. Um dia depois da minha chegada a cidade, fui com
meu irmão Roberval André visitá-la no IMIP (Instituto de Medina Integral, em
Recife). Ao chegar lá encontrei minha querida mãe. Que emoção! Que alegria para
nós! Que abraços gostosos! Vi a alegria estampado no seu rosto por me ver ali.
Lembro-me que ela nos apresentou para sua colega de quarto, com as seguintes
palavras: “Esses são os meus dois gatos”! Mas, ao mesmo tempo fui tomado por um
sentimento de tristeza ao ver minha mãe tão debilitada, com andar trôpego,
resultante do derrame que havia sofrido. Eu contive minhas lágrimas. Eu não
queria que ela me visse chorando, e aumentasse o seu sofrimento. Ela precisava
da minha força naquele momento. Ficou vários dias naquele hospital. Sua pressão
arterial estava descontrolada. Ela era hipertensa. Somente depois que a sua
pressão foi controlada, os médicos puderam realizar a cirurgia para retirar o mioma.
Minha mãe teve oito filhos e lutou por eles. Penso que ela lutou pela família,
mais até do que por si mesma.
Aquele dia no IMIP
marcou indelevelmente minha vida. Nunca vou esquecer aquele encontro. Foi o meu
último encontro em que ela falava e estava lúcida. Meses depois sofreria o
segundo, terceiro e quarto derrame que lhe tiraria sua capacidade motora, sua
fala e memória.
Em junho de 2004,
recebi um outro telefonema de minha irmã Roberlane Cordeiro. Usando quase as
mesmas palavras dois anos antes, informou-me que nossa mãe ficou muito doente e
que estava hospitalizada, que eu precisava ir ao Cabo de Santo Agostinho se
quisesse vê-la ainda com vida.
No dia 20 de junho
daquele ano, viajei ao Cabo de Santo Agostinho/PE para ver minha mãe, que se
encontrava em coma no Hospital São Sebastião.
Fui ao hospital vê-la nos dias 22 a 25. Ela não mais se movia nem
falava. Ao vê-la naquele leito do hospital definhando e inerte tive a certeza
de que minha mãe guerreira e batalhadora, e que amava muito estava bem próximo
de encerrar sua vida aqui. A certeza de que aquela indesejada despedida estava
chegando aumentava a cada dia de internação. Eu não queria que ela partisse,
mas, no fundo, eu sabia que não sairia mais daquele hospital com vida.
No dia 25, fui pela
tarde ao Hospital novamente. Quando cheguei no hospital, sentei ao lado do seu
leito, peguei em sua mão, desabei. Não
consegui segurar. Chorei copiosamente. Eu queria orar, mas o que devia pedir?
Então clamei: Senhor, salva minha mãe! Tenha misericórdia dela! Senti que a
misericórdia do Senhor se estendeu sobre nós. Isso não mudaria minha dor, mas
me ajudaria a suportá-la.
Minha mãe faleceu na
madrugada do dia 25 de junho de 2004, levando consigo a esperança de
ressuscitar no último dia, pois ela era uma crente em Cristo Jesus.
Infelizmente, tivemos que dizer adeus à mãe mais forte e maravilhosa que
conheci. Não poderia estar mais impressionado por sua força e me sinto um
afortunado por tê-la como minha mãe. Foi uma grande tristeza para mim, para
meus irmãos, para sua mãe (que faleceu meses depois), seus irmãos e amigos.
Tenho a esperança bíblica de que um dia nos encontraremos, não muito longe, no
Novo Céu e na Nova Terra. Caminharemos pelas ruas de ouro da Santa Cidade que
Deus preparou para aqueles que O amam (Ap 21). Estaremos juntos por toda
eternidade sem fim com o nosso compassivo Salvador Jesus e todos os remidos do
Senhor.
Ellen White fala-nos de
uma visão. Viu a igreja como um navio velho e cansado de viajar, indo ao
encontro de um poderoso iceberg. A noite é fria, o iceberg é enorme, as águas
são tenebrosas, os passageiros estão assustados. Então uma voz do céu diz: “Enfrentai-o!” (Ellen G. White,
Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 205).
Caro amigo leitor, esta
é a palavra de Deus para você e para mim. Enfrente seus gigantes no ponto de
interseção de coragem, competência e entrega. Enfrente-os com segurança e
confiança plena em Deus. Enfrente-os depois de ter a certeza de que Deus está
com você. Quão bom é saber que na batalha contra os “gigantes” desta vida, não
estamos sós. Do outro lado da montanha, está Jesus, o gigante da história.
Morreu no Calvário, mas ao terceiro dia ressuscitou vitorioso. Emergiu da morte
e proclamou vitória definitiva sobre o pecado.
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