Teologia

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O ADVENTISMO: MOVIMENTO PROFÉTICO SINGULAR



Por Ricardo André

Sou Adventista do Sétimo Dia desde os meus onze anos. Isso quer dizer que conheço a Igreja há 29 anos, certamente melhor a partir da minha adolescência. Ao longo deste tempo (pouco, considerando os 169 anos da nossa história mundial), aprendi a partir de muitos estudos o que é a Igreja Adventista do Sétimo Dia: porque surgimos, o que defendemos, qual a nossa missão, enfim, aquilo que somos. Pretendemos neste artigo responder as seguintes questões: “O que é a Igreja Adventista do Sétimo Dia?” e  “Por que somos adventistas?” 

Se os membros da igreja fossem solicitados a definir a singularidade da Igreja Adventista do Sétimo Dia, a resposta seria bem variada. Alguns diriam que sua singularidade é a maneira como seus membros adoram no sábado em vez de no domingo. Outros mencionariam a compreensão do ministério de Cristo no santuário celestial ou o ministério profético de Ellen White. Outros, ainda, apontariam as questões do estilo de vida, tal como abster-se de certos tipos de alimentos, recreações ou estilos de vestimenta e adornos. Em certo sentido, todas essas respostas estariam, pelo menos, parcialmente corretas. 

Há, porém, outro modo de definir o Adventismo: um movimento profético, suscitado por Deus num tempo específico para restaurar e proclamar algumas verdades distintivas. A missão da igreja é proclamar o “evangelho eterno”, esboçado no livro de Ap 14:6-12. O Adventismo é visto como um movimento singular por causa de três características distintas. Nenhuma outra igreja alega ter tais características, mesmo antes de a Igreja Adventista ter sido fundada oficialmente, em 1863.
Essas características específicas definem os adventistas como o único povo em quem podem ser encontradas: 

1. Raízes proféticas, ou históricas, preditas em Apocalipse 10.
2. Identidade profética definida em Apocalipse 12.
3. Mensagem profética e missão indicadas em Apocalipse 14.
Os adventistas não alegam ter tais características devido a uma atitude de exclusividade religiosa ou jactância. O fato não é que os Adventistas do Sétimo Dia são “melhores do que”; ao contrário, são “diferentes de” outras igrejas.

 Raízes Proféticas de Apocalipse 10

O apóstolo João, em Apocalipse 10:1-10, descreve eventos que interessam aos adventistas quando pesquisam suas raízes proféticas, ou a história do Adventismo. João vê um Anjo forte vindo diretamente da presença de Deus, envolto numa nuvem, com um livro aberto. Ele tem  o “arco-íris por cima de Sua cabeça”. Seu rosto brilha “como o sol, e as pernas como colunas de fogo” (Ap 10-1-3).Quem é este Anjo forte? Pela semelhança da descrição com a de Cristo no  cap. 1:13-16, somos levados a crer que o Anjo forte que instruiu a João não era outro personagem senão Jesus Cristo. O arco-íris faz lembrar aquele que circunda o trono de Deus (4:3). Quando transfigurado diante dos discípulos, o rosto de Cristo “brilhava como o Sol” (Mt 17:2). Ele é chamado “o Mensageiro do concerto” (Ml 3:1), e “o Anjo que me remiu” (Gn 48:10). Que “livrinho” poderia ser este mencionado nos versos 2, 8, 9 e 10? Referência ao livro de Daniel, pois a única parte das Escrituras que foi fechada ou selada foi uma porção do livro de Daniel. 

Embora a profecia de Daniel seja primariamente uma mensagem de tempo, quando ele perguntou o significado do tempo que lhe havia sido revelado, foi-lhe dito: “encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim” (Dn 12:4). Esta admoestação se aplica particularmente à parte das profecias de Daniel que trata dos últimos dias. E, sem dúvida, especialmente ao fator do tempo dos 2.300 dias do cap. 8:14, pois se relaciona com a pregação da tríplice mensagem angélica (Ap 14:6-12). Uma vez que esta parte do livro de Daniel foi fechada somente até o tempo do fim, segue-se naturalmente que nesse tempo do fim ele seria aberto, ou seja, o que havia ficado selado por séculos, seria compreendido no fim dos tempos. 

Portanto o tempo de referência desta profecia é 1798 e que veio a seguir, ao término do período de três anos e meio proféticos, ou  os 1 200 anos literais (Dn 7:25; Ap 12:6; 13: ). Logo as profecias de Daniel relacionadas a tempo só seria compreendias depois de 1798. O período de tempo que Daniel queria entender era o dos 2.300 dias, ao fim do qual o santuário seria purificado. Essa era a única mensagem selada no livro de Daniel. Muitos séculos mais tarde, na Ilha de Patmos, foi mostrado a João, em visão, um tempo, no futuro, em que um anjo poderoso desceria à Terra, tendo na mão um livro – aberto; não fechado, não selado, mas aberto. 

Olhando a História, podemos ver que foi após o fim do domínio papal em 1798 (início do tempo do fim), que os homens começaram a estudar esta profecia dos 2 300 dias/anos, com o incontido desejo de entendê-la. A profecia de Daniel declarava que o povo de Deus a entenderia (Dn 12:9, 10). Portanto, foi perto do fim dos 2.300 dias proféticos, em 1844, que o anjo, com o livro aberto de Daniel, fez exatamente o que foi mostrado a João. Precisamente no tempo previsto, a mensagem profética do anjo envolveu toda a Terra. Como predito na visão de João, o tempo profético atingiu seu clímax. 
O desdobramento desta grande profecia levou muitos milhares de pregadores na Europa, América e muitas outras terras a pregarem com convicção a volta de Jesus para 22 de outubro de 1844, fim do período profético dos 2 300 anos. Pensando que a purificação do santuário descrita por Daniel se referia à purificação da Terra pelo fogo da segunda vinda de Cristo, concluíram que esse seria o tempo do retorno de Jesus. Essa fantástica notícia logo foi proclamada em todo o mundo. 

Para os adventistas do sétimo dia, em particular, o ano de 1844 e os que o precederam, evocam o nome de Guilherme Miller. Entretanto, ele era apenas um dos muitos que pregavam, naquele tempo, sobre o breve retorno de Jesus. Pessoas como Manuel Lacunza, José Wolff, Henry Drummond, Edward Irving, Hugh M’Neile e os pregadores-mirins da Suécia também proclamavam o fato de que as profecias do fim dos tempos estavam quase se cumprindo e, como haviam entendido, Jesus voltaria. 
  
No fim do tempo profético, precisamente como havia sido mostrado ao apóstolo João e no tempo exato predito por Daniel mais de 2.300 anos antes, a mensagem foi proclamada com ‘grande voz’ ao redor do mundo. Não é de admirar que os pioneiros adventistas ficassem tão eufóricos quando chegaram à conclusão de que era o cumprimento da profecia! 

Lemos em Apocalipse 10:10: “Tomei o livrinho da mão do anjo e o devorei, e, na minha boca, era doce como mel; quando, porém, o comi, o meu estômago ficou amargo.” 
    
Não poderia haver melhor resumo do que aconteceu a seguir, na história da Igreja Adventista, do que aquelas palavras proféticas. Todos os fundadores da igreja haviam sido mileritas, ou seja, seguidores de Guilherme Miller, um fazendeiro batista que se tornara pregador e proclamava que Cristo retornaria por volta de 1843 ou 1844, no fim da profecia dos 2.300 dias, como ele havia entendido. O anúncio do retorno de Jesus em glória para 1844 foi recebido com grande entusiasmo pelos crentes fiéis. Multidões de cristãos de variadas congregações, os mais devotos, especialmente na América do Norte e Europa, fremiam com a mensagem. A alegria enchia-lhes o coração. Tal mensagem pareceu “doce como  mel”, pois a perspectiva do breve encontro com o Salvador encheu-os de regozijo.

Para os adventistas que vivem hoje, 169 anos após aquele evento, é difícil imaginar quão preciosa foi a experiência daqueles mileritas ao se aproximarem do dia 22 de outubro de 1844, data que, segundo os estudos feitos por eles, seria o fim da profecia de Daniel. Sua experiência foi fascinante durante as semanas que precederam o dia 22 de outubro. Mas eles estavam condenados ao amargo desapontamento.

Finalmente, o grande dia chegou. Mas Cristo não voltou. A fé daqueles mileritas sofreu um terrível golpe. A experiência que havia sido tão doce em sua boca, como predito pelo apóstolo João, agora se tornara amarga no estômago (10:9,10). Assim como não podemos compreender completamente a experiência pela qual passaram, há tanto tempo, ao aguardar a volta de Jesus naquela terça-feira, também não entendemos plenamente a intensidade da dor que sentiram nos dias e semanas após o desapontamento de 22 de outubro. 

Hiram Edson resumiu sua experiência assim: “Esperamos pela vinda de nosso Senhor até que o relógio desse as doze badaladas, indicando a meia-noite. O dia havia passado e nosso despontamento transformou-se em realidade. Nossa tão acariciada esperança estava destruída e caiu sobre nós tamanho espírito de tristeza e lágrimas como eu nunca havia experimentado antes … Choramos e choramos, até o alvorecer.” (História do Adventismo, p. 49).

O Pastor Tiago White em seu livro Life Incidents (p. 182), diz: “Quando o irmão Himes visitou Portland, Maine, poucos dias após a passagem da data, e declarou que os irmãos deveriam preparar-se para outro duro inverno, meus sentimentos foram quase incontroláveis. Deixei o local da reunião e chorei como uma criança” (História do Adventismo, p. 36). 
 
Mas Apocalipse 10 tem mais um verso: “Então, me disseram: É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis” (Ap 10:11). O grande desapontamento de 1844 não deveria por um fim à missão de restaurar e anunciar as verdades de Deus, principalmente a respeito da breve volta de Jesus. Muito ao contrário, o movimento do estudo profético deveria agora ganhar dimensões mundiais.

É certo que, em seu desapontamento, os pioneiros adventistas não compreenderam completamente esse versículo, especialmente a parte sobre profetizar ainda “a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis”. A obra mundial a eles designada nasceria gradualmente em sua mente, assim como a mensagem ampliada que deveriam pregar, incluindo o sábado, o santuário, o estado dos mortos, a mensagem de saúde, e assim por diante. 

Depois do grande desapontamento de 1844, um pequeno grupo de crentes genuínos não abandonaram sua crença na segunda vinda de Cristo, ou a convicção de que o seu movimento era de origem divina. Continuaram estudando a Bíblia em busca de respostas, o que resultou em mais clara compreensão da profecia. Compreenderam que Cristo não deveria voltar a Terra naquele dia, mas transferiu-se do Lugar Santo (que lá estava desde sua ascensão ao Céu) para o Lugar santíssimo do Santuário Celestial para iniciar o juízo, simbolicamente representado pela purificação do santuário terrestre no Dia da Expiação. (Dn 8:14; Ap 14:6,7; Lv 16). A breve volta de Jesus tornou-se uma grande certeza. Desse grupo originou-se uma nova igreja, a Igreja Adventista do Sétimo Dia, a qual reivindica ter redescoberto as verdades bíblicas rejeitadas na Idade Média e que os reformadores falharam em restaurar. Essa é a Igreja que recebe a ordem: “É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis” (Ap 10:11).

“A igreja Adventista do Sétimo Dia não se desenvolveu a partir de uma crise ocorrida em alguma igreja anterior de onde surgiu um líder carismático a fim de levar seus seguidores para uma nova organização, como no caso de John Wesley e os metodistas. Nem surgiu por causa de uma contenda doutrinária, semelhante á origem de diversas igrejas luteranas e presbiterianas que existem hoje em dia.

“A Igreja adventista do Sétimo Dia nasceu de um profundo despertamento espiritual conhecido como movimento milerita. O companheirismo criado pela crença na “bendita esperança” (Tito 2:13) – um dos temas centrais do Novo Testamento – manteve o jovem grupo unido” (Mensageira do Senhor: o ministério profético de Ellen G. White, p. 183).

Esse breve panorama nos lembra a razão pela qual os adventistas veem a sua história profética predita em Apocalipse 10. Esta, porém, é apenas a primeira das três características profeticamente identificadas.

 Identidade Profética em Apocalipse 12

No apocalipse 12, temos um maravilhoso esquema profético, descrevendo o sofrimento e triunfo da Igreja de Deus ao longo de dois mil anos.

É uma excelente exposição de toda a história da igreja, incluindo sua projeção futura. Apocalipse 12 cobre um tempo histórico maior do que qualquer outro capítulo isolado da Bíblia: desde a queda de Lúcifer até 1798 d.C. 

Em síntese, apocalipse 12 descreve a igreja primitiva (v.1-5), em seguida a igreja medieval (v.6), continua com a igreja do deserto (v.13-16) e conclui com a igreja remanescente.(v.17). Os versos 1 a 16 salientam várias vezes que o diabo atacou furiosamente a Cristo e Sua Igreja no decorrer da História. No verso 17 é chamada a nossa atenção para os “restantes” ou “o remanescente” da descendência da mulher que surgiu depois de 1798.  “O remanescente” de Apocalipse 12:17 se refere aos verdadeiros seguidores de Cristo(Sua Igreja) que restariam após o fim dos 1 260 anos de isolamento no ‘deserto’ (Ap 12:6,14), em 1798, identificado por duas características:

1. Guardam os mandamentos de Deus – todos os dez, incluindo o quarto mandamento, ou o sábado.
2. Têm o “testemunho de Jesus”, o qual, em Apocalipse 19:10, na versão Ferreira de Almeida, é definido como o “espírito de profecia” – o dom de profecia.
Quem é o Remanescente? “Desde o princípio de sua história, os adventistas se denominaram “o remanescente” sem hesitação, nem reservas, identificando a Igreja Adventista do Sétimo Dia com o remanescente do tempo do fim da profecia bíblica. Eles fizeram isso porque ‘refletia a ideia se serem um pequeno grupo que permaneceu leal à esperança do advento, de formarem o último grupo de pessoas escolhidas por deus antes da vinda de Cristo e de serem os únicos a cumprir as condições especificadas em Apocalipse 12:17’” (Teologia do Remanescente: uma perspectiva eclesiológica adventista, p. 162).

Enquanto um pequeno número de outras igrejas guarda o sábado do sétimo dia e outras afirmam ter o dom profético em seu meio, nenhuma delas possui as duas características aqui descritas. Consequentemente, nós, adventistas do sétimo dia, vemos nossa identidade profética nas duas características mencionadas em Apocalipse 12:17.

O “Espírito de Profecia”, isto é, “o dom de profecia”(1Co. 13:2), manifestou-se na Igreja Adventista desde o seu começo, na obra e nos escritos de Ellen G. White. Os membros dessa igreja tem considerado os escritos dela como sendo divinamente inspirados. As cerca de 100 mil páginas manuscritas são o “testemunho de Jesus”. 
       
Foi num dia desconhecido do mês de dezembro de 1844 que Ellen Harmon, de 17 anos de idade, enquanto orava com outras quatro mulheres, sentiu o Espírito Santo descer sobre ela, como nunca havia experimentado antes. Deus agira outra vez – outro mensageiro profético havia sido comissionado! Assim como houvera feito em tantas ocasiões importantes na história da salvação, tal como com Noé, antes do dilúvio, e como João Batista, antes do ministério de Cristo, Deus, agora, envia outro mensageiro profético. Outra luz decisiva havia chegado à história profética: as grandes profecias do tempo de Daniel e Apocalipse estavam chegando ao fim, e como preditas, o dom de profecia foi restaurado ao povo remanescente de Deus.
           
Em 1846, Ellen Harmon casou-se com Tiago White. Seu ministério: 1) estendeu-se por um período de 70 anos – de 1844 até sua morte, em 1915; 2) abrangeu cerca de duas mil visões; 3) incluiu a autoria de mais de cinco mil artigos e 24 livros (mais dois manuscritos não publicados) antes de sua morte. Sua produção literária, que ao longo da vida acumulou cerca de 100 mil páginas manuscritas, tem suportado plenamente os testes bíblico de um profeta verdadeiro e de trazer em seu próprio bojo as evidências de que provém de uma fonte divina.

Ao observarmos hoje, após 169 anos, o fruto de seu trabalho, concluímos que os conselhos que Deus deu à igreja, por intermédio dela, resistiram à prova do tempo.
Qualquer observação sincera da história da denominação revela que a igreja prosperou quando seguiu a liderança de Deus por meio do Espírito de Profecia, e vacilou quando não o fez. 

Ao aplicarem Apocalipse 12:17 a si mesmos, os adventistas não afirmam, porém, que só eles são filhos de Deus e tem direito ao céu. “Cremos que Deus possui um grande número de seguidores fervorosos, leais e sinceros em todas as comunidades cristãs” (Questões Sobre Doutrinas, p. 162). Isso é confirmado pelas declarações de Ellen G. White:

“Apesar das trevas espirituais e afastamento de Deus prevalecentes nas igrejas que constituem Babilônia, a grande massa dos verdadeiros seguidores de Cristo encontra-se ainda em sua comunhão. Muitos deles há que nunca souberam das verdades especiais para este tempo” (O Grande Conflito, pág. 390).


“Pessoas fiéis constituíram, desde o princípio, a igreja sobre a Terra. Em cada, teve o Senhor Seus vigias que deram fiel Testemunho à geração em que viveram” (Atos dos Apóstolos, p. 11).

Assim, chegamos à terceira característica: 

 Mensagem Profética de Apocalipse 14 

Se em Apocalipse 10 a Igreja Adventista encontra sua origem profética, em Apocalipse 14 encontra sua mensagem profética. Discursando a Seus discípulos, Jesus declarou que um sinal do fim seria a proclamação do evangelho a todo o mundo (Mt 24:14), cujo cumprimento é descrito em Apocalipse 14. Com isso é indicado que, no tempo do fim, Deus enviará aos habitantes da Terra Sua mensagem de advertência, descrita simbolicamente pelo voo dos três anjos pelo meio do céu proclamando o evangelho eterno “aos que moram sobre a Terra” (v. 6). Esta mensagem profética, de alcance mundial (“cada nação, e tribo, e língua, e povo” – Ap 14:6) deve ser proclamada pelo povo remanescente de Deus no tempo do fim. Os adventistas do sétimo dia creem que têm esta mensagem para o mundo encontrada em Apocalipse 14:6-12. Tanto quanto eu saiba, nenhuma outra igreja, hoje, proclama as “três mensagens angélicas”. Temos a convicção de que somente a Igreja Adventista do Sétimo Dia, dentre a cristandade, está pregando esta mensagem. 

Sobre esse mesmo ponto, muitos anos antes, Ellen White escreveu: “De certo modo muito especial, os adventistas do sétimo dia foram postos no mundo como vigilantes e portadores de luz. A eles foi confiada a última advertência para um mundo que perece. Sobre eles está brilhando a maravilhosa luz vinda da Palavra de Deus. Foi-lhes dada uma obra da mais solene importância: a proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Não há outra obra de tão grande importância. Não devem permitir que nada mais lhes absorva a atenção” (Testemunhos Para a Igreja, v.9, p. 19).

 “Essas três mensagens angélicas correspondem à resposta divina aos extraordinários enganos satânicos que varrem o mundo antes do retorno de Cristo (Ap 13:3, 8, 14-16). Imediatamente em seguida ao último apelo divino dirigido ao mundo, Cristo retorna para efetuar a colheita (Ap 14:14-20)” (Nisto Cremos, p. 227).

Como parte da proclamação final, os habitantes deste mundo são advertidos a “temer” a Deus. O que significa – ou não significa – isso? Temer a Deus é um conceito bem conhecido no Antigo Testamento. “Temer” não significa apenas sentir medo de Deus, e sim aproximar-se dEle com reverência e respeito. Inclui o pensamento de absoluta lealdade a Deus, em uma submissão completa à Sua vontade. Também transmite a ideia de tomar a Deus seriamente na vida, seguindo e obedecendo aos Seus mandamentos. Há um elemento de advertência contido na mensagem: “Vinda é a hora do Seu juízo” (Ap 14:7). Deve ser observado que, na estrutura literária, o juízo mencionado em Apocalipse 14:7 ocorre antes da segunda vinda de Cristo, referida nos versos 14-20. Portanto, é o mesmo juízo investigativo pré-advento encontrado em Daniel 7. Note os vínculos:

1. Perseguição dos santos pelo chifre pequeno (Dn 7:21, 25) versus início do juízo (Dn 7:9, 10, 21, 26);

2. Perseguição dos santos pelo dragão e seus poderes aliados (Ap 12:17; 13:7, 15, 17) versus chegada da hora do juízo (Ap 14:6); 

3. Como consequência do juízo (a) em Daniel 7, os santos possuem o reino (v. 27) versus (b) em Apocalipse 14, os santos encontram-se no Monte Sião (v. 1), ou sobre o mar de vidro (Ap 15:1-4).

O juízo aqui mencionado (Ap 14:6,7) começou em 1844, simbolicamente representado pela purificação do santuário terrestre no Dia da Expiação. E isso também pode ser inferido do texto de Apocalipse 10:1-11:14. Encontramos uma ordem para medir o santuário de Deus, o seu altar e os adoradores (Ap 11:1). Essa medição tem um paralelo temático com a descrição do ritual do Dia da Expiação (Lv 16), sendo realizada em sentido espiritual, e não físico. Vinculando com a mensagem do anjo, que afirma que “já não haverá mais tempo” (Ap 10:6), conclui-se que chegou o tempo para ter início o juízo divino no templo celestial. Esse juízo é mencionado no capítulo 11 como caindo sobre as nações enfurecidas, que experimentam a ira divina, recebendo a punição final, enquanto os “servos”, os “santos” e os que “temem” o nome de Deus recebem o galardão eterno (Ap 11:18).

A certeza do juízo produz uma consequência: adorar o Criador. Considerando que o livro do Apocalipse é um mosaico formado por referências ao Antigo Testamento, na forma de citações, ecos, alusões, paralelos verbais, temáticos etc., uma análise da mensagem de Apocalipse 14:7 torna evidente que o convite celestial para que se adore o Criador está construído sobre o quarto mandamento (Êx 20:8-11), que ordena a santificação do dia do sábado (Teologia do Remanescente, pp. 136 e 137).

Por 169 anos, os adventistas têm proclamado as três mensagens angélicas. As duas primeiras – a pregação do evangelho “eterno”, no cenário da mensagem do tempo do julgamento e o convite para sair da Babilônia – foram pela primeira vez anunciadas pelos mileritas. Foi necessário algum tempo para que aqueles mileritas desapontados, que mais tarde fundaram nossa igreja, descobrissem o significado da mensagem do terceiro anjo. Mas, depois de descobrirem o privilégio e dever de guardar o sétimo dia – o sábado – também descobriram seu significado teológico e profético em relação à terceira mensagem angélica. 

Ellen White escreveu: “Cada aspecto das três mensagens angélicas deve ser proclamado a todas as partes do mundo. Esta é uma obra muito maior do que muitos percebem” (Olhando Para o Alto, p. 277).


Conclusão 

No fim dos tempos, haverá um grupo de fiéis guardadores dos mandamentos, é o remanescente escatológico, o qual se distinguirá dos outros grupos religiosos por três características singulares. 

Somente os adventistas do sétimo dia se encaixam precisamente nessa descrição. Não devemos vangloriar-nos pelo fato de os adventistas terem sido chamados para falar sobre algo exclusivo pouco antes da segunda vinda de Cristo. Afinal, a mensagem não é da igreja, mas de Deus. Contudo, os membros da Igreja Adventista precisam viver diferentemente, agir diferentemente e pregar diferentemente. Muitas outras igrejas estão fazendo um bom trabalho; nenhuma, porém, está pregando o evangelho “eterno” no cenário do tempo do julgamento final. Tal certeza deveria conferir aos adventistas um senso de urgência em sua pregação.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem uma obra especial a realizar no tempo do fim: preparar o mundo para a vinda do Senhor. Queira Deus que os adventistas nunca percam o senso de sua missão profética; ao contrário, que mais uma vez experimentem a emoção e o compromisso dos pioneiros da igreja quando concluíram que Deus queria trabalhar, por seu intermédio, para terminar Sua obra na Terra. Que esse mesmo senso de admiração e dedicação seja a experiência de cada membro da Igreja Adventista, hoje!

Referências Bibliográficas:
1. MAXWELL, C. Mervyn. História do Adventismo. Santo André, SP: CPB, 1982.
2. MAXWELL, C. Mervyn. Uma Nova Era Segundo as Profecias do Apocalipse. Tatuí, SP: CPB, 2002.
3. DOUGLASS, Herbert E. Mensageira do Senhor: o ministério profético de Ellen G. White. Tatuí/SP: CPB, 2003.
4. White, Ellen G. O Grande Conflito, Tatuí, SP: CPB, 2006.
5. White, Ellen G. Atos dos Apóstolos. Tatuí, SP: CPB, 2006.
5. RODRIGUEZ, Ángel Manuel. Teologia do Remanescente: uma perspectiva eclesiológica adventista. Tatuí, SP: CPB, 2012.
6. Nisto Cremos: 27 ensinos bíblicos dos Adventistas do Sétimo Dia. Tatuí, SP: CPB, 19ª ed., 2007.
7. Questões sobre Doutrinas: o clássico mais polêmicos da história do adventismo. Ed. Anotada. Tatuí, SP: CPB, 2008.

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