Teologia

terça-feira, 6 de outubro de 2020

DESMOND FORD E A DOUTRINA DO SANTUÁRIO: ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS FASES DISTINTAS


 Glauber S. Araújo*

RESUMO: Desde Glacier View, em 1980, uma quantidade considerável de literatura relacionada às profecias de Daniel, o santuário, Hebreus, o juízo investigativo e temas correlacionados tem sido publicada por adventistas em busca de refutações às ideias apresentadas por Desmond Ford nesse evento. Embora isso tenha sido feito, não foi encontrado um estudo mostrando que suas ideias eram revogadas pelo próprio Ford anos antes. O propósito deste estudo foi prover uma análise comparativa das ideias de Desmond Ford durante as reuniões em Glacier View com suas ideias antes desse evento, a fim de mostrar que muitas das idéias expostas naquela ocasião podem ser refutadas através de seus próprios argumentos publicados previamente. Após uma análise das críticas de Ford relacionadas à (1) interpretação profética, (2) o juízo investigativo e (3) Ellen G. White e o dom profético, são providos argumentos publicados anteriormente por Ford contra suas críticas. Esse estudo está primariamente baseado em livros, artigos e outras obras de Desmond Ford.

INTRODUÇÃO

Desde o final do século 18 o mundo cristão contemporâneo vem assistindo ao cumprimento da profecia de Daniel 12:4 concernente ao interesse no estudo e na compreensão das profecias de Daniel: “Muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará”.1 A Igreja Adventista do Sétimo Dia surgiu devido a este interesse no estudo do livro de Daniel. Temos observado uma intensificação desse interesse desde as reuniões de Glacier View, em agosto de 1980, em que líderes e teólogos da igreja discutiram assuntos sobre o livro de Daniel, o santuário, 1844, o juízo investigativo, Hebreus e temas correlacionados.

Esse evento desencadeou uma grande quantidade de publicações tratando dos assuntos acima citados. A interpretação tem permanecida praticamente inalterada, mas houve um aprofundamento considerável nessas áreas. Esse aprofundamento surgiu numa busca por respostas às críticas feitas por Desmond Ford em Glacier View quanto à interpretação desses temas.

1. Para um estudo mais detalhado das interpretações de Daniel ver Alberto R. Timm, Amin A. Rodor, e Vanderlei Dorneles, eds., O futuro (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2004), 265-302; Francis D. Nichol, ed., “History of the Interpretation of Daniel”, Seventh-day Adventist Bible Commentary (Hagerstown, MD: Review and Herald), 4:39-78; LeRoy E. Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers: The Historical Development of Prophetic Interpretation (Washington, DC: Review and Herald, 19461954), Vols. 3 e 4.

Definição do Problema

Uma quantidade considerável de literatura tem sido publicada por adventistas buscando trazer maior compreensão de Daniel 8:14, o santuário e o juízo investigativo. Embora isto tenha sido feito para refutar as ideias apresentadas por Desmond Ford em Glacier View, até hoje não encontramos um estudo que visa mostrar o contraste de suas propostas durante Glacier View e suas ideias antes deste evento. Vários estudos foram apresentados, procurando revogar a nova interpretação feita por Desmond Ford naquele evento, mas não foi encontrado um estudo mostrando que estas ideias eram revogadas pelo próprio Ford anos antes.

Propósito do Estudo

O propósito deste estudo é prover uma análise comparativa das ideias de Desmond Ford durante as reuniões em Glacier View com suas ideias antes dessa reunião, a fim de mostrar que muitas das ideias expostas naquela reunião podem ser refutadas através de seus próprios argumentos publicados previamente.

Escopo e Delimitações do Estudo

Para que o assunto possa ser melhor compreendido, uma breve descrição histórica da vida de Desmond Ford é apresentada. Também são providos alguns detalhes quanto ao contexto no qual Ford vivia e como ele acabou influenciando o mundo teológico adventista. Atenção é dada aos escritos de outros autores somente quando estes proveem alguma contribuição significativa para a compreensão do contexto histórico.

O estudo comparativo das ideias de Desmond Ford antes e durante Glacier View limita-se a uma análise comparativa entre as principais propostas feitas por Ford neste evento, atacando a posição tradicional adventista e suas ideias anteriormente mantidas, defendendo a mesma. 

O ano de 1959 foi o ano escolhido como o ponto de partida para análise das publicações de Desmond Ford, pois foi naquele ano que aparece sua primeira contribuição significativa sobre o tema do presente estudo. O ano de 1980 foi o ano escolhido para o término do estudo pois nesse ano foi publicado seu livro contendo todas as suas propostas apresentadas em Glacier View.

 Metodologia

O presente estudo analisa os livros, manuscritos não publicados, e artigos publicados por Desmond Ford até Glacier View que tratem do livro de Daniel, o santuário, o juízo investigativo e temas correlacionados. É também pesquisada sua dissertação de mestrado sobre Daniel 8:14 e os últimos dias2, sua tese doutoral sobre a abominação da desolação na escatologia bíblica3 e o texto publicado para Glacier View intitulado “Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative Judgment”.4 Duas abordagens são utilizadas neste estudo. No estudo biográfico, é usada uma metodologia histórico-cronológica, e no estudo da compreensão de Ford sobre os princípios de interpretação profética, o juízo investigativo e o dom profético de Ellen G. White é empregada uma metodologia temático-comparativa.

2. Desmond Ford, Daniel 8:14 and the Latter Days (dissertação de M.Th., Potolomac University, Washington, DC, setembro de 1959).

3. Idem, The Abomination of Desolation in Biblical Eschatology (tese de Ph.D., University of Manchester, julho de 1972).

4. Desmond Ford, Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative Judgment (Casselberry, FL: Euangelion Press, 1980); doravante, estaremos nos referindo a esta obra como Daniel 8:14.

 

Organização do Estudo

Este estudo constitui-se de seis capítulos. O primeiro introduz a presente  pesquisa. O capítulo 2, intitulado “Biografia de Desmond Ford”, trata de uma breve descrição histórica da vida de Desmond Ford e do contexto teológico de seu tempo. Também são abordados alguns pontos fundamentais que levaram a Glacier View. No próximo capítulo, sob o título “Interpretação profética”, é oferecida uma comparação dos escritos de Desmond Ford relacionados (1) ao princípio dia-ano, (2) ao chifre pequeno e Antíoco Epifânio, (3) a Jesus e o Novo Testamento, e (4) ao princípio apotelesmático.

O capítulo 4 – “O juízo investigativo” oferece uma comparação dos escritos de Desmond Ford relacionados aos juízos investigativos mencionados (1) no Antigo Testamento e (2) no Novo Testamento. O quinto capítulo “Ellen G. White e o dom de profecia” analisará, comparativamente, os escritos de Desmond Ford relacionados à Ellen White e o dom profético. O último capítulo contém um resumo e as conclusões finais.

CAPÍTULO 2

BIOGRAFIA DE DESMOND FORD

Desmond Ford nasceu em Townsville, Austrália1, em 19292 e cresceu em uma família anglicana3. Ainda jovem, Ford desenvolveu uma paixão pela leitura de livros sobre “religião, história, assuntos contemporâneos, biografia, ciência e saúde”.4  Além de seu interesse pela leitura, Ford também era um aluno brilhante, mas teve que abandonar temporariamente seus estudos devido à Segunda Guerra Mundial, na qual seu país também estava envolvido.5 

Aos 14 anos, Ford começou a trabalhar no Newspaper of Sidney e a se interessar por assuntos religiosos. Seu interesse o levou a ler O Grande Conflito de Ellen G. White.6 Refletindo sobre esta ocasião, Ford relembra:

1. “Des Ford” [http://www.goodnewsunlimited.org/bioford.cfm], acessado em março de 2006.

2. Currículo de Desmond Ford concedido por sua filha Elenne.

3.  Enoch de Oliveira, A mão de Deus ao leme (Santo André, SP: Casa

Publicadora Brasileira, 1985), 135.

4. “Des Ford” [http://www.goodnewsunlimited.org/bioford.cfm], acessado em março de 2006.

5. Ibid.

6. Alberto R. Timm, Desenvolvimento da doutrina do santuário no contexto do conflito cósmico, Apostila da aula de Doutorado (Argentina: Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, 1997), 53; Oliveira, 135.

 

Foi o livro O Grande Conflito, de Ellen G. White, que o Senhor usou para tornar-me um adventista do sétimo dia. Quando tinha 16 anos, eu o lia nos trens, bondes, e nos cinemas ao ar livre enquanto esperava nas filas por um tíquete de entrada. Eu levava o livro comigo ao trabalho nos sábados de manhã e o lia quando possível. Eu vivia em outro mundo conforme aquelas maravilhosas páginas eram devoradas; e quando terminei de lê-lo, já era, em essência, um adventista do sétimo dia, mesmo tendo meu batismo ocorrido meses depois.7

Ford se tornou um evangelista seis anos após seu batismo,8 e posteriormente cursou o Seminário de Teologia no Avondale College, em New South Wales, concluindo-o em 1958.9 Ele está atualmente casado com Gillian, e tem três filhos.10

Desde sua infância, a vida de Ford foi marcada por uma sede e busca pelo conhecimento. Terminando o Bacharelado em Teologia, Ford iniciou seu Mestrado em Teologia Sistemática no Seminário Teológico Adventista, em Washington, DC, o qual concluiu em 1959 com uma dissertação sobre Daniel 8:14 e os últimos dias.11 Terminando o Mestrado, Ford iniciou seu Doutorado em Comunicação na Michigan State University, tendo encerrado em 1961.12

7. Desmond Ford, “The ‘Everlasting Gospel’ as Found in ‘The Great Controversy’”, Australasian Record, outubro de 1977, 6-7.

8. Idem, “Investigative Judgment Forum”, Palestra oferecida em Pacific Union College, 27 de outubro, 1979, 3 [digitado].

9. “Des Ford” [http://www.goodnewsunlimited.org/bioford.cfm], acessado em março de 2006.

10. Desmond Ford, Discovering God’s Treasures (Washington, DC: Review and Herald Publishing Association, 1972), contra capa; idem, Right with God Right Now: How God Saves People as Shown in the Bible's Book of Romans (Newcastle, CA: Desmond Ford Publications, 1999), xii. 

11. Idem, Daniel 8:14 and the Latter Days.

12. Timm, 53-54.

 

Em 1972, ele obteve seu segundo Doutorado pela Manchester University com uma tese sobre a abominação da desolação na escatologia bíblica.13 Nos 16 anos seguintes, Ford foi diretor do departamento de Teologia no Avondale College e membro do Comitê de Pesquisa Bíblica da Associação Geral.14

Durante as décadas de 1960 e 1970, surgiu uma discussão no meio adventista sobre a justificação pela fé. Na Austrália, Robert D. Brinsmead promovia ideias com um forte teor perfeccionista,15 ideias estas que eram contestadas por Desmond Ford. Para Ford, a justificação tem uma significação forense... possui associações legais e está vitalmente ligada com questões da lei... Assim, quando o pecador, pessoal e gratamente, aceita o pagamento de Cristo, em lugar de seus próprios pecados... a divina absolvição imputa inocência, em razão da aceitação, pelo pecador, dAquele que somente possui perfeita justiça...16

Ele continua dizendo:

o crente consagrado tem pecado nele, mas não pecado sobre ele, tal como Cristo tinha pecado sobre si, mas não em si... toda alma convertida tem ainda sua velha natureza para combater... Nossa velha natureza será finalmente destruída, na glorificação, quando nosso Senhor retornar. Então não teremos pecado nem em nós, nem sobre nós.17

13. Timm, 54. Sua dissertação foi posteriormente publicada como Desmond Ford, Abomination of Desolation in Biblical Eschatology (Lanham: University Press of America, 1978).

14. “Desmond Ford” [http://www.goodnewsunlimited.org/bioford.cfm], acessado em  março de 2006; Geoffrey J. Paxton, O abalo do adventismo (Rio de Janeiro, RJ: JUERP, 1987), 135.

15. Ibid., 109-172.

16. Desmond Ford, Signs of the Times, ed. Australiana, julho de 1959, citado em O abalo do adventismo, 135.

17. Desmond Ford, Signs of the Times, ed. Australiana, 1º de agosto de 1967, citado em O abalo do adventismo, 130.

 

Ford não rejeitava a necessidade de santificação, mas a separava da justificação pela fé. Em sua opinião, “santificação nunca é perfeita e não deveria ser considerada como ‘justificação pela fé’. Ela é o fruto de justificação pela fé. Porque sempre é imperfeita nesta vida, ela nunca pode nos justificar”.18 As discussões sobre a justificação pela fé atingiram seu auge em uma série de reuniões entre pastores e teólogos em Palmdale, Califórnia, de 23 a 30 de abril de 1976. A partir de então, Ford se tornou o centro das atenções.19

 18. Idem, The one way of salvation, não publicado, 2.

19. Paxton, 34. Para um estudo mais aprofundado sobre a compreensão de Ford sobre justificação pela fé, ver Desmond Ford, “Sinai’s Three Secrets”, These Times, outubro de 1973, 9-10; idem, “The Two Faces of Redemption”, Australasian Record, v.80, fevereiro de 1975, 12-14; Idem, “From Death to Life”, These Times, v.84, agosto de 1975, 6-7; Idem, “The Everlasting Ten”, Australasian Record, v.80, agosto de 1975, 10-11; Idem, “The Scope and Limits of the Pauline Expression ‘Righteousness by Faith’”, Document from the Palmdale Conference on Justification by Faith, 1-13; idem “The relationship between the Incarnation and Righteousness by Faith”, Document from the Palmdale Conference on Justification by Faith, 25-41; idem, Ellen G. White and Righteousness by Faith, Document from the Palmdale Conference on Justification by Faith, 42-60; idem, “Best News Ever!” Signs of the Times, v.104, janeiro de 1977, 18-21; idem, “‘What Think ye of Christ?’” These Times, v.86, janeiro de 1977, 22-23; idem, “Is your Wheelbarrow Inverted?” Australasian Record, v.82, fevereiro de 1977, 6; idem, “Ignorance and his Modern Counterparts”, Australasian Record, v.82, maio de 1977, 6-7; idem, “The Valley of Desperation”, Australasian Record, v.82, agosto de 1977, 10-13; idem, “Letter to a Failure”, Australasian Record, v.82, agosto de 1977, 6-7; idem, “I Believe in the Righteousness of Christ”, These Times, v.86, outubro de 1977, 17-20; idem, “The ‘Everlasting Gospel’ as Found in ‘The Great Controversy’”, Australasian Record, v.82, outubro de 1977, 6-7; idem, “I Believe in the Sacrifice of Jesus Christ”, These Times, v.86, novembro de 1977, 17-20; idem, “The Greatest Book, the Greatest Invitation, the Greatest Opportunity,--all yours!” Signs Of The Times (Australian), v.93, janeiro de 1978, 22-24; idem, “Paul--Pattern of Perfection”, Australasian Record, v.83, fevereiro de 1978, 6-7,14; idem, “The Lamb is the Hinge”, Ministry, v.51, maio de 1978, 4-7; idem, “How to Turn the World Upside down” Signs of the Times (Australian), v.93, junho de 1978, 24-26; idem, “The Truth of Paxton´s Thesis”, Spectrum, v.9, nº 3, julho de 1978, 37-45; idem, “Love that Bled at Calvary”, Ministry, v.51, setembro de 1978, 16-18. Ver também idem, Unlocking God´s Treasury (Waburton, Bict., Australia: Signs Pub. Co., 1964), 10, 11, 1518; idem, Right with God Right Now: How God Saves People as Shown in the Bible's Book of Romans (Newcastle, CA: Desmond Ford Publications, 1999).

 

Em 1977, Ford mudou-se com sua família para os Estados Unidos, pois fora convidado a lecionar no departamento de Religião do Pacific Union College, Califórnia, as matérias de “Oratória, Homilética, Evangelismo, Vida e Ensinos de Cristo, Epístolas Paulinas, Apologética, Daniel e Apocalipse, Profetas Maiores e Menores do Antigo Testamento, Introdução à Teologia e Teologia Bíblica”.20 Durante sua estada no Pacific Union College, Ford foi convidado a apresentar uma palestra em 27 de outubro de 1979 sobre Hebreus 9 e suas implicações sobre a doutrina adventista da purificação do santuário em 1844 e o juízo investigativo.

Nesta ocasião, Ford foi contra a interpretação tradicional adventista sobre a doutrina do santuário. Ele afirmou que, enquanto lia o capítulo 9 de Hebreus, pensava: “Isto é estranho, é diferente do que os adventistas dizem. Há um problema aqui”. Isso o acompanhou, admite ele, durante seus últimos 35 anos como adventista. “Desde o tempo em que era episcopal até hoje, tenho estado consciente de inconsistências e incongruências em nossa apresentação escatológica”.21 Para ele, é inquestionavelmente claro que Hebreus 9 e 10 apresentam Cristo perante Deus no Santíssimo após sua ascensão em 31 d.C. O antítipo Dia da Expiação, portanto, deveria ter iniciado naquele ano, e não em 1844.22

Segundo Ford, naquela ocasião, foi declarado que Daniel 8:14 não tem nenhuma ligação linguística com o capítulo sobre o Dia da Expiação em Levítico, e nem Hebreus, em sua exposição do santuário, nos aponta para Daniel 8:14. Foi sugerido que o bem conhecido conceito teológico da escatologia inaugurada e consumada – onde eventos a se cumprirem materialmente em conexão com o fim do mundo tinham uma aplicação legal prévia com a cruz – nos oferece uma chave para nosso problema principal.23

20. “Des Ford” [http://www.goodnewsunlimited.org/bioford.cfm], acessado em março de 2006.

21. Ford, Daniel 8:14, i.

22. Oliveira, 135.

23. Desmond Ford, Daniel 8:14, 21.

 

Para sustentar sua argumentação, Ford afirmou que vários dos principais editores e escritores do Comentário Bíblico Adventista “declaram que não há biblicamente como provar o juízo investigativo”.24 Ele então exortou os adventistas a deixarem suas tradições, caso não fossem verdadeiras.25  Preocupada com a palestra e suas implicações, a liderança da Associação Geral decidiu conceder-lhe seis meses para desenvolver suas ideias e apresentá-las perante um grupo representativo de teólogos e administradores da igreja.26 Durante esses seis meses, Ford e sua família foram para Washington, onde a Associação Geral lhe cedeu um escritório, ajuda secretarial e livre acesso aos arquivos do Patrimônio Literário de Ellen G. White.27

O resultado desses seis meses de estudo foi um texto de quase 1.000 páginas, intitulado “Daniel 8:14, o Dia da Expiação e o Juízo Investigativo”.28 Este documento foi estudado, analisado, e discutido por 114 líderes e teólogos da igreja em uma série de reuniões em Glacier View, perto de Denver no Color do, de 10 a 15 de agosto de 1980.29 As reuniões em Glacier View causaram tal impacto que o evento acabou sendo mencionado em revistas como Newsweek, Time e Christianity Today.30

24. Idem, “Investigative Judgment Forum”, 4-5.

25. Ibid., 3.

26. “Des Ford” [http://www.goodnewsunlimited.org/bioford.cfm], acessado em março de 2006; Timm, 54.

27. Oliveira, 135.

28. Este documento foi posteriormente publicado como Desmond Ford, Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative Judgment (Casselberry, FL: Euangelion Press, 1980).

29. J. R. Spangler, “Editorial Perspectives”, Ministry, especial ed., outubro de 1980, 6.

 30. “Des Ford” [http://www.goodnewsunlimited.org/bioford.cfm], acessado em  março de 2006.

 

Em seu texto, Ford alegou as seguintes posições:

1. Hebreus não ensina nossa posição tradicional sobre o santuário.

2. Hebreus ensina que Cristo, em sua ascensão, entrou no Lugar Santíssimo à direita de Deus.

3. Hebreus ensina que o primeiro compartimento era um símbolo da era tipológica e não afirma em qualquer lugar que possui um significado celestial com respeito a uma fase do ministério.

4. A purificação do santuário em Hebreus 9:23 refere-se ao que Cristo realizou por ocasião de sua morte, e já havia sido realizado na época em que a epístola foi escrita.

5. A Bíblia não ensina em lugar algum que um dia representa um ano nas profecias.

6. Daniel 9 não usa o princípio dia-ano. Ele não faz referência a dias.

7. O contexto de Daniel 8:10-14 nada diz sobre a contaminação do santuário celestial pelos pecados dos santos, mas refere-se muito a um vil poder terrestre lançando o santuário terrestre por terra. Como esperado, a promessa do qdcn em 8:14 é “vindicar”, “justificar”, ou restaurar” – nenhum dos quais surge do cerimonial de Levítico 16.

8. Apenas Antíoco Epifânio cumpre os detalhes específicos da ponta pequena de Daniel 8 e do homem vil de Daniel 11. Todos os outros cumprimentos, tais como Roma pagã e papal, são cumprimentos mais de princípio do que de detalhes.

9. Daniel 8:14 é uma resposta a uma pergunta sobre a duração do sucesso de um poder vil – e não um aviso sobre um juízo investigativo dos pecados dos santos.

10. Daniel 7:9-13 é uma cena de juízo com foco na chifre pequeno, não nos santos.

11. Apocalipse 14:7 fala de um juízo sobre Babilônia, não sobre os santos.

12. O Novo Testamento em lugar algum antecipa 20 séculos entre os dois adventos, mas antecipa o retorno iminente de Cristo no mesmo século em que os evangelhos e as epístolas foram escritos.

13. Nada no Novo ou Antigo Testamento ensina que o santuário é contaminado apenas quando confessamos nossos pecados.

14. O sangue das ofertas do povo comum nunca entrava no primeiro compartimento. Era um evento raro quando o sangue era levado para lá.

15. O Novo Testamento não ensina que Cristo está atualmente ministrando pelo pecado no santuário celestial assim como o sacerdote terreno tem sido apresentado pelos adventistas atuando no santuário típico.

16. É impossível ser dogmático quanto a datas precisas de cumprimentos proféticos.

17. Não há evidência de que 22 de outubro era o décimo dia do sétimo mês de 1844.

18. Quando nossos pioneiros, incluindo Ellen G. White, aplicaram Mateus 25:1-13 ao movimento de 1844 e juntaram a entrada de Cristo no Santíssimo com a vinda do noivo em 22 de outubro de 1844, eles assumiram uma posição que é extremamente indefensível exegeticamente.

19. Nossos pioneiros, incluindo Ellen White, erraram quanto à “porta fechada”, e mantiveram seu erro até aproximadamente 1851.

20. Não há textos bíblicos claros que ensinam o juízo investigativo.31

Ford tentou justificar sua nova abordagem das profecias de Daniel alegando que “desde o começo da exegese científica entre os adventistas do sétimo dia – aquela exegese que leva em consideração as línguas originais, contextos históricos e literários, e à luz da arqueologia”, todas as nossas crenças fundamentais sobre o santuário celestial, o serviço sacerdotal de Cristo e 1844 “têm sido repetidamente desafiadas por teólogos adventistas” ou pelo menos “rejeitadas pela maioria daqueles que são especialistas nesta área bíblica em particular”.32

Estudando a mudança de Ford de uma interpretação adventista tradicional para aquela que ele mais tarde manteria e defenderia arduamente, surge a pergunta: O que provocou tal mudança? Segundo Ford, quando alguém é convertido a Cristo, ele é justificado forensicamente. Em outras palavras, justificação é sinônimo de salvação. Por que então a necessidade de um juízo investigativo dos justos já que todos aqueles que aceitaram Jesus como Salvador e Senhor já estão salvos? Sua concepção de justificação pela fé teve um impacto direto na sua compreensão do juízo investigativo. Conforme Ford:

31. Ford, Daniel 8:14, 292-293.

32. Ibid., 291.

 

Por que nós, assim como todos os outros cristãos, fomos encarregados do “evangelho eterno”, é essencial que nada em nossa apresentação doutrinária compita ou contradiga este evangelho. Chegar a inferir que a obra expiatória de Cristo no Calvário não foi completa, mas necessitava de uma fase seguinte; sugerir que os méritos do sangue do Salvador não alcançaram o Lugar Santíssimo até 1844; declarar que nosso Senhor esteve durante dezoito séculos envolvido em um ministério que representava os privilégios limitados da era judaica pré-cruz (Hb 9:6-9); criar o medo de que nossa salvação eterna repousa em certa medida em obras ao invés da fé, e que a questão do juízo dependa desta medida de obras no crescimento cristão – é pôr em risco o evangelho abençoado, esquecer a advertência de Judas 3, e convidar a maldição de Gálatas 1:8, (ver Gl 2:16-21; Rm 3:19-28; Ef 2:8; Tt 3:4-7). Estes são assuntos sérios, e mesmo que a vida professional de alguns de nós corra perigo por ouvirem à voz da consciência, tal custo é valioso demais quando envolve deslealdade ao evangelho. Certamente todos nós concordaríamos com a escolha de Whitefield, quando este exclamou: “Seja meu nome esquecido, seja eu pisado pelos homens, para que Jesus seja glorificado”.33 

Glacier View causou um significativo impacto sobre a denominação. Membros da igreja e alguns teólogos seguiram Desmond Ford, deixando de crer nas doutrinas do santuário celestial e do juízo investigativo. Muitos pastores devolveram suas credenciais e deixaram a igreja.34 Ford se recusou a mudar de posição e, por isso, a igreja se sentiu obrigada a pedir que suas credenciais fossem devolvidas. Desde então, Ford esteve trabalhando com a Good News Unlimited em Auburn, Califórnia.35 Ele se mantém ocupado apresentando palestras, escrevendo artigos36 e livros.37 Mesmo depois de retornar à Austrália e estar fora do cenário teológico adventista, Ford continua sendo discutido.

Olhando para as reuniões de Glacier View, podemos afirmar que a igreja conseguiu lidar com a crise de maneira sábia e madura. Desde aquelas reuniões, uma série de estudos acadêmicos,38 teses,39 e livros40 têm sido publicados, na busca de uma melhor compreensão dos assuntos relacionados a Daniel, Apocalipse, Levítico, Hebreus, o santuário, 1844 e o juízo investigativo.

33. Ibid., i.

34. Richard W. Schwarz and Floyd Greenleaf, Light Bearers (Nampa, ID: Pacific Press Publishing Association, 2000), 634.

35. “Des Ford” [http://www.goodnewsunlimited.org/bioford.cfm], acessado em março de 2006.

36. Desmond Ford, “Parmenter-Ford Correspondence”, Ministry, v.53, outubro de 1980, 10-11; idem, “Ford's Second Reply”, Spectrum, v.11, n.2, 1980, 78; idem, “Ford's First Reply”, Spectrum, v.11, n.2, 1980, 77; idem, “Daniel 8:14 and the Day of Atonement”, Spectrum, v.11, n.2, 1980, 30-36; idem, “The Sabbath Brinsmead's Polemic”, Spectrum, v.12, n. 1, setembro de 1981, 66-69; idem, “Ford Responds to Shea”, Spectrum, v.11, n.4, 1981,54-57; idem, “Ford Responds”, Spectrum, v.12, n. 2, dezembro de 1981, 64; idem, “Value of Questioning”, Spectrum, v.12, n. 3, abril de 1982, 63; idem, “Ford Defends Sabbath on a Round World”, Spectrum, v.13, n. 2, dezembro de 1982, 67-68; idem, “Responding to Paulson on Theological Change”, Spectrum, v.14, n. 2, 1983, 63; idem, “Creationism”, Spectrum, v.16, n.1, 1985, 67-68; idem, “Desmond Ford on Adventist Doctrine”, Spectrum, v.19, n. 2, 1988, 60-61; idem, “Good News Bursting Forth”, Spectrum, v.22, março de 1992, 12-22; idem, “Ford on God and Creation”, Spectrum, v.22, outubro de 1992, 60; idem, “Desmond Ford on the Danger of SDAs Joining the AntiChrist”, Spectrum, v.23, outubro de 1993, 54-55; idem, “Is the Seventh-Day Sabbath Christian?” Adventist Today, v.4, julho-agosto de 1996, 11-14; idem, “Sabbath in the New Testament”, Adventist Today, v.5, março-abril de 1997, 6; idem, “Jesus Seminar”, Adventist Today, v.5, janeiro-fevereiro de 1997, 4; idem, “NPUC Critics of Ratzlaff Answered”, Adventist Today, v.6, julho-agosto de 1998, 4-6; idem, “How To Understand The End-time Prophecies Of The Bible [Review]”, Adventist Today, v.6, julho-agosto de 1998, 11-12; idem, “Ellen White Was Right ‘Increasing Light is to Shine Upon Us’”, Spectrum, v.26, janeiro 1998, 59-60; “Dr. Desmond Ford's Reply”, Adventist Today, v.10, setembrooutubro de 2002, 4.

37. Idem, Physicians of the Soul: God's Prophets Through the Ages (Nashville: Southern Pub. Association, 1980); idem, The Forgotten Day (Newcastle, CA: Desmond Ford Publications, 1981); idem, Crisis: A Commentary on the Book of Revelation (Newcastle, CA: Desmond Ford Publications, 1982); idem, The Adventist Crisis of Spiritual Identity (Newcastle, CA: Desmond Ford Publications, 1982); idem, Will There Be a NUCLEAR World Holocaust? (Auburn, CA: Good News Unlimited, 1984); idem, How to Survive Personal Tragedy (Auburn, CA: Good News Unlimited, 1984); idem, Worth More than a Million!: What Medical Science and Scripture Say about Immunity to Disease (Auburn, CA: Good News Unlimited, 1984); idem, A Kaleidoscope of Diamonds (Newcastle, CA: Desmond Ford Publications, 1986); idem, Daniel and the Coming King (Rocklin, CA: J & M Printing, 1996); Eating Right for Type 2 Diabetes : A Christian Perspective on a Traumatic Disease (Lincon, NE: IUniverse Book Publisher, 2004); idem, Right with God Right Now: How God Saves People as Shown in the Bible's Book of Romans.

38. Gerhard F. Hasel, Redenção divina hoje, Apostila de aula de Teologia (Brasília-DF: Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, 1981); William H. Shea, Selected Studies on Prophetic Interpretation, Daniel and Revelation Committee Series, vol.1 (Washington, DC: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1982); Frank B. Holbrook, ed., Symposium on Daniel: Introductory and Exegetical Studies, Daniel and Revelation Committee Series, vol.2 (Washington, DC: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1982); idem, The Seventy Weeks, Leviticus, and the Nature of Prophecy, Daniel and Revelation Committee Series, vol.3 (Washington, DC: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1986); idem, Issues in the Book of Hebrews, Daniel and Revelation Committee Series, vol.4 (Silver Spring, MI: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1989); idem, Doctrine of the Sanctuary: A Historical Survey (1845-1863), Daniel and Revelation Committee Series, vol.5 (Silver Spring, MI: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1989); idem, The Sanctuary and the Atonement: Biblical, Theological, and Historical Studies (Silber Spring, MI: Biblical Research Institute, 1989); idem, Symposium on Revelation, Book 1: Introductory and Exegetical Studies, Daniel and Revelation Committee Series, vol.6 (Silver Spring, MI: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1992); idem, Symposium on Revelation, Book 2: Exegetical and General Studies, Daniel and Revelation Committee Series, vol.7 (Silver Spring, MI: Biblical Research Institute of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1992).

39. Roy Adams, The Sanctuary Doctrine: Three Approaches in the Seventh-day Adventist Church, Andrews University Seminary Doctoral Dissertation Series, vol. 1 (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1981); Richard M. Davidson, Typology in Scripture: a Study of Hermeneutical τυπος  Structures, Andrews University Seminary Doctoral Dissertation Series, vol. 2 (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1981); Angel M. Rodriguez, Substitution in the Hebrew Cultus, Andrews University Seminary Doctoral Dissertation Series, vol. 3 (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1979); Arthur J. Ferch, The Son of Man in Daniel 7, Andrews University Seminary Doctoral Dissertation Series, vol. 6 (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1979); Samuel Nuñez, The Vision of Daniel 8: Interpretations from 1700 to 1800, Andrews University Seminary Doctoral Dissertation Series, vol. 14 (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1987); Gerhard Pfandl, The Time of the End in the Book of Daniel, Adventist Theological Society Dissertation Series, vol. 1 (Berrien Springs, MI: Adventist Theological Society Publications, 1992); Brempong Owusu-Antwi, The Chronology of Daniel 9:24-27, Adventist Theological Society Dissertation Series, vol. 2 (Berrien Springs, MI: Adventist Theological Society Publications, 1995); Nilton D. Amorim, “Desecration and Defilement in the Old Testament” (tese de Ph.D., Andrews University, 1986); R. Dean Davis, “The Heavenly Court Scene of Revelation 4-5” (tese de Ph.D., Andrews University, 1986); Richard Fredericks, “A Sequential Study of Revelation 1-14 Emphasizing the Judgment Motif : with Implications for Seventh-day Adventist Apocalyptic Pedagogy” (tese de Ph.D., Andrews University, 1987); Alberto R. Timm, O santuário e as tres mensagens angélicas: fatores integrativos no desenvolvimento das doutrinas adventistas (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2002); Winfried Vogel, “The Cultic Motif in Space and Time in the Book of Daniel” (tese de Ph.D., Andrews University, 1999); Merlin D. Burt, “The Historical Background, Interconnected Development and Integration of the Doctrines of the Sanctuary, the Sabbath, and Ellen G. White's Role in Sabbatarian Adventism from 1844 to 1849” (tese de Ph.D., Andrews University, 2003); Elias Brasil de Souza, The Heavenly Sanctuary/Temple Motif in the Hebrew Bible: Function and Relationship to the Earthly Counterparts (Berrien Springs, MI: Adventist Theological Society Publications, 2005).

40. C. Mervyn Maxwell, God Cares: The Message of Daniel for you and your  family (Boise, ID: Pacific Press, 1981); Morris Venden, Good News and Bad News about Judgment (Mountain View, CA: Pacific Press, 1983); C. Mervyn Maxwell, God Cares: The Message of Revelation for you and your family (Boise, ID: Pacific Press, 1985); Hans K.  LaRondelle, The Israel of God in Prophecy: Principles of Prophetic Interpretation (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1987); Clifford Goldstein, 1844 Made Simple  (Boise, ID: Pacific Press, 1988); idem, How Dare You Judge Us, God (Boise, ID: Pacific  Press, 1991); Leslie Hardinge, With Jess in His Sanctuary: Walk Through the Tabernacle  Along His Way (Harrisburg, PA: American Cassette Ministries, 1991); Alberto R. Treiyer, The Day of Atonement and the Heavenly Judgment: From the Pentateuch to Revelation (Sioam Springs, AR: Creation Enterprises International, 1992); Clifford Goldstein, False Balances: The Truth about the Judgment, the Sanctuary, and Your Salvation (Boise, ID: Pacific Press, 1992); Roy Adams, The Sanctuary: Understanding the Heart of Adventist Theology (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1993); C. Mervyn Maxwell, Magnificent Disappointment: What Really Happened in 1844… and Its Meaning for Today (Boise, ID: Pacific Press, 1994); Frank B. Holbrook, The Atoning Priesthood of Jesus Christ (Berrien Springs, MI: Adventist Theological Society Publications, 1996); Morris Venden, Never Without an Intercessor: the Good News about the Judgment (Boise, ID: Pacific Press, 1996); Hans K. LaRondelle, How to Understand the End-Time Prophecies of the Bible: The Biblical-Contextual Approach (Sarasota, FL: First Impressions, 1997); Normand Gulley, Christ is Coming (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1998); Paul A. Gordon, The Sanctuary, 1844 and the Pioneers (Nampa, ID: Pacific Press, 2000); Jacques B. Doukhan, Secrets of Daniel (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000); Ranko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2002); Juarez Rodrigues Oliveira, Chronological Studies Related to Daniel 8:14 and 9:24-27 (Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2004); Gerhard Pfandl, Daniel: The Seer of Babylon (Hagerstown, MD: Reviews and Herald, 2004); Alberto R. Timm, Amim A. Rodor, and Vanderlei Dornelles, O futuro: A visão adventista dos últimos acontecimentos (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2004); Clifford Goldstein, Graffiti in the Holy of Holies (Nampa ID: Pacific Press, 2004); William H. Shea, Daniel: A Reader´s Guide (Nampa, ID: Pacific Press, 2005).

 

Conclusão

Desmond Ford se uniu à Igreja Adventista do Sétimo Dia aos 16 anos de idade através da leitura do livro O Grande Conflito de Ellen G. White. Ele ingressou no Seminário Teológico em Avondale College e prosseguiu seus estudos acadêmicos até conseguir dois doutorados. Durante os anos em que foi pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Ford se aprofundou em duas áreas da teologia adventista: (1) a justificação pela fé e (2) temas relacionados ao livro de Daniel. Durantes seus últimos anos como pastor adventista, Ford começou a assumir uma posição contrária à sua posição anterior com respeito à interpretação do livro de Daniel devido à sua compreensão de justificação pela fé. Esta mudança de pensamento acabou levando-o a discutir sua posição diante de um grupo representativo de teólogos e líderes da Igreja. Ford defendia uma interpretação diferente da posição adventista nas seguintes áreas: (1) a interpretação profética, (2) o juízo investigativo e (3) o dom profético de Ellen G. White. Suas ideias causaram um impacto significativo sobre a denominação, e ainda continuam sendo discutidas.  

CAPÍTULO 3

INTERPRETAÇÃO PROFÉTICA

Analisando a obra de Desmond Ford Daniel 8:14, percebemos que ele não concorda com a interpretação profética feita pelos adventistas. Este utiliza vários argumentos para mostrar que tal interpretação não é bíblica e, assim, não deveria ser usada. Ford procura mostrar que: (1) o princípio dia-ano não é válido, (2) o chifre pequeno não é apenas Roma pagã e papal, (3) Jesus pretendia voltar no primeiro século de nossa era e (4) apenas através do princípio apotelesmático podemos interpretar corretamente as profecias de Daniel. Estudaremos cada um desses argumentos procurando mostrar como suas ideias se contradizem quando comparadas com o que ele havia publicado anteriormente sobre os mesmos assuntos.

O princípio dia-ano

Críticas

Em Daniel 8:14, Desmond Ford apresenta seis argumentos contra o princípio dia-ano e a interpretação de que o Dia Antitípico da Expiação teria ocorrido em 22 de outubro de 1844. Em primeiro lugar, ele procura mostra que o princípio dia-ano – no qual um dia profético equivale a um ano literal – não deveria ser empregado na interpretação de profecias de tempo, tais como as 2.300 tardes e manhãs, as 70 semanas, os 1.260 dias, os 42 meses, ou um tempo, tempos, e metade de um tempo. Este princípio pode ser encontrado em Números 14:32-35 e Ezequiel 4:1-8, mas não é “um princípio designado a governar outras passagens”.1 

Como segundo argumento, Ford enfatiza que Daniel 8:14 não fala de 2.300 dias, já que não encontramos a palavra “dias” no texto. “No lugar, temos a expressão ambígua ‘tardes e manhãs’ que mais provavelmente se aplica aos sacrifícios da tarde e da manhã. Portanto, no lugar dos 2.300 dias, se estes exegetas estão corretos, apenas 1.150 dias estão em vista”.2 Em terceiro lugar, Ford afirma também que “Daniel 9:24-27 não menciona dias em nenhum lugar. O hebraico shabuim significa meramente setes – setes de seja o que o contexto indicar, e aqui anos estão em vista. Muitas traduções modernas, incluindo a Revised Standard Version, reconhecem este fato”.3 “Setes” ou “hebdômadas” como literalmente traduzido, “não tem necessariamente conexão com dias”.4  

Ford oferece outro argumento mostrando que, quando o contexto é analisado, os 2.300 dias se aplicam “à duração de tempo em que a ponta pequena pisaria por terra o santuário e suspenderia os sacrifícios diários”. Ele portanto, nega que os 2.300 anos começaram séculos antes que o “chifre pequeno” iniciasse seu ataque ao santuário, ou seja, ao mesmo tempo em que as 70 semanas começaram. “A palavra hebraica chathak [em Dn 9:24] significa ‘cortar’ ou ‘decretar’, e não há como provar que estava designado cortar 490 de 2.300”.5

1. Desmond Ford,Daniel 8:14,200.

2Ibid., 174-176.

3Ibid.,197.

4Ibid., 203.

5Ibid.,175.

 

Em seu quinto argumento, ele alega que nada em Esdras 7 fala do decreto para a restauração de Jerusalém. Aliás, “o contexto diz que esse decreto, assim como aquele de Ciro e Dario, tinha a ver com o templo. Os magistrados estavam encarregados de aplicar as leis do templo. Veja Esdras 6:14 que situa este decreto entre os decretos do templo”.6 O ano de 457 a.C., portanto, não poderia ser uma data para o início das 70 semanas.7

Finalmente, Ford argumenta que “mesmo se estabelecêssemos o ano de 457 a.C., não há como demonstrar que devemos datar o decreto para o dia 22 de outubro daquele ano. Pelo contrário, há indícios que parecem apontar para a direção oposta... Teriam todos os judeus caraítas observado o dia 22 de outubro como o Dia da Expiação em 1844? A evidência mostra que a maioria não”.8 Para ele, o Dia da Expiação teria caído no dia 23 de setembro no calendário caraíta.9  

6. Ibid.,174-176.

7. Ibid.

8. Ibid., 195-196.

9. Ibid., 196-197.

 

Respostas Anteriores

Como é o propósito deste estudo, as declarações de Ford podem ser revogadas pelos seus próprios argumentos anteriormente publicados. Em seu livro Laynd,10 podemos encontrá-lo apresentando seis argumentos a favor do uso do princípio dia-ano. Ele afirma que (1) “dias” comuns não poderiam estar aqui tencionados por estas profecias, pois como “as visões abarcam temas amplos, ao invés de temas insignificantes, assim também os períodos de tempo enfatizados são símbolos de eras extensas, ao invés de limitadas”.11 (2) Da mesma forma que em Daniel 2, os quatro metais da imagem são símbolos de quatro reinos e em Daniel 7, os quatro animais são representações de quatro reinos, “os períodos de tempo incorporados em tais profecias devem... ser necessariamente simbólicos ao invés de literais e passíveis de elucidação”.12 (3) “O método em particular no qual os períodos de tempo em Daniel e Apocalipse são expressos também indica que estes devem ser aplicados simbolicamente”. A expressão “um tempo, dois tempos, e a metade de um tempo” de Daniel 7:25 não poderia ser literal. “Em dois outros lugares este intervalo ocorre nas Escrituras, e em ambos os casos são expressos em sua forma natural de ‘três anos e seis meses’ (ver Lc 4:25; Tg 5:17)”. “A teoria dia-ano requereria que o símbolo fosse expresso de tal forma a indicar que não seja interpretado literalmente. Daniel 7:25 não o faz de forma admirável?”13 (4) O mesmo acontece com a expressão “duas mil e trezentas tardes e manhãs”. Esta não seria a expressão normal e literal para um período entre seis a sete anos.

Há apenas três eventos em toda a história bíblica onde um período de tempo maior do que 40 dias é expresso em dias apenas, e é absolutamente sem precedentes nas Escrituras que períodos de mais de um ano sejam assim descritos (Gn 7:24; 8:3; Ne 6:15; Et 1:4).

As diferentes expressões usadas para denotar o mesmo período são provas adicionais que o “um tempo, dois tempos, e a metade de um tempo” de Daniel 7:25 não pode representar três anos e meio normais. Duas vezes é mencionado como “tempo, dois tempos, e a metade de um tempo” (Dn 7:25; 12:7); uma vez como “um tempo, tempos, e a metade de um tempo” (Ap 12:14); duas vezes como “quarenta e dois meses” (Ap 11:2; 13:5); e duas vezes como “mil duzentos e sessenta dias” (Ap 11:3; 12:6). Comparando o contexto em cada caso, é evidente que todos estes se aplicam ao mesmo período, mas a expressão natural de “três anos e seis meses” não é usada um só vez. Obviamente Deus está indicando a natureza simbólica da expressão...14

Ele também argumenta que (5) assim como “animais de vida curta são utilizados como símbolos de impérios duradouros”, seria mais lógico que os tempos mencionados fossem também apresentados proporcionalmente, “com uma unidade de tempo menor representando uma unidade maior”.15 Finalmente, Ford argumenta que até esse ponto, a única medida de tempo não empregada no simbolismo de Daniel é a do ano. 

Dias, semanas, e meses são utilizados (1.260 dias, setenta semanas, quarenta e dois meses), mas a palavra para ano não é encontrada... A explicação mais óbvia para esta omissão da palavra para ano em Daniel e Apocalipse, enquanto que os outros termos de um calendário são encontrados, é que o ano é a medida tipificada nessas profecias, e que o dia, o período de tempo mais curto do calendário simbólico, é utilizado para o representar. Há uma propriedade natural no princípio dia-ano sendo escolhido pelo Criador quando lembramos que existem duas grandes rotações da Terra. Uma em seu eixo, durando 24 horas, a qual dá origem ao dia; e a outra em sua órbita, durando 365 dias, que dá surgimento ao ano. É realmente apropriado que o menor se torne símbolo do maior...16

Sobre a expressão “tardes e manhãs” de Daniel 8:14, Ford cita Keil,17 mostrando que Daniel tinha um dia completo em mente: 

Quando o hebraico procura expressar separadamente o dia e a noite, as partes componentes de um dia da semana, então o número de ambos é expresso. Eles dizem, por exemplo, 40 dias e 40 noites (Gn 7:4, 12; Êx 24:18; 1Re 29:8), e três dias e três noites (Jn 1:17; Mt 12:40), mas não 80 dias e noites ou três dias e noites, quando procuram se referir a 40 dias ou três dias completos. Um leitor do hebraico não poderia compreender o período de tempo de 2.300 tardes e manhãs de 2.300 meiodias ou 1.150 dias completos; porque manhã e tarde, na criação, não constituíam metade, m s o dia completo... D vemos, portanto, ler as palavras como eles são, ou seja, 2.300 dias completos.18

Em Laynd, Ford também mostra que apesar da palavra “dias” não aparecer em Daniel 9:24, o autor estava se referindo a dias:

Enquanto que a palavra aqui [Dn 9:24] encontrada para semanas, shabûa‘, simplesmente significa hebdômada (uma unidade de sete dias), não obstante, o uso bíblico deste termo é sempre para uma semana de dias (ver Gn 29:27, 28; Dn 10:2. Não é usado, por exemplo, em Lv 25:1-10 para o período de sete anos). Considerando que outras evidências indicam que este período de 490 anos é cortado de um período maior dos 2.300, é óbvio que o último consiste em anos também. Deste modo, aqui em Daniel 9 acertamos no teste pragmático, e o princípio dia-ano justificado, apesar do fato que a palavra dia não apareça nesta passagem.19

Ele procura comprovar a conexão existente entre Daniel 8 e 9, mostrando que: (1) o mesmo anjo do capítulo 8 vem para “fazer entender” a visão no capítulo 9. Suas primeiras palavras a Daniel se referem à visão do capítulo 8; (2) o tema de ambos os capítulos é o mesmo – o futuro do santuário; (3) Daniel 9:24 se torna relevante quanto ao “que”, e ao “quando” do evento prometido em 8:14;20 (4) ambas profecias se referem a Cristo e ao anticristo como os protagonistas na guerra pelo santuário; (5) ambas começam com a Medo-Pérsia; (6) ambas culminam com o juízo sobre o anticristo no fim dos tempos; e (7) ambas apontam para o surgimento da justiça eterna.21 Mais adiante, Ford afirma que “se Gabriel está cumprindo a comissão de Daniel 8:16 para explicar 8:1-14 a Daniel, e se é o que e quando do verso 14 que continuam preeminentes e requerem explicação, parece evidente que est primeir declaração de Gabriel afirma que as 70 semanas de anos sejam ‘cortadas’ dos 2.300 dias simbólicos ou anos atuais”.22

Infelizmente não encontramos Ford explicando o motivo pelo qual concordava com 457 a.C. anteriormente. A única coisa que ele comenta é que à margem de Esdras 7, todas as Bíblias indicam o ano de 457 a.C. como sendo o ano do decreto.23 Aliás, todas as datas que são geralmente aceitas no cristianismo, como 457 a.C. para o decreto da reconstrução de Jerusalém, 27 d.C. para o batismo de Cristo, 31 d.C. para Sua crucificação, e 34 d.C. para o apedrejamento de Estevão, eram também aceitas por Ford, mas ele não procurou apresentar argumentos para sua posição.

10. Idem,Laynd (Nashville, TN: Southern Publishing Association, 1978).

11. Ibid., 301.

12. Ibid., 301

13. Ibid.

14. Ibid., 301-302.

15. Ibid., 302

16. Ibid.

17. Ibid., 197.

18. Carl Friedrich Keil, Biblical Commentary on the Book of Daniel, Commentary on the Old Testament (Grand Rapids, MI: William B. Eerdmans, 1975), 303 e 304.

19. Desmond Ford, Laynd, 302 e 303.

20. Ibid., 207.

21. Idem, “More Evidence of the Connection Between Daniel 8 and 9”, Ministry, julho de 1968, 30-32.

22Idem, Laynd, 225.

23. Idem, “Arithmetic Proves Christianity True”, Ministry, outubro de 1974, 17

 

O chifre pequeno e Antíoco Epifânio

Crítica

Ford procura mostrar que Roma não é a única alternativa para o “chifre pequeno”, já que devemos “procurar por um poder surgido do mundo grego nos anos 300 a.C. e antes da supremacia romana em 30 a.C.”. Em sua opinião, o “chifre pequeno veio de um dos quatro chifres, e não de um dos quatro ventos. Afirmar, como alguns têm feito, que o chifre pequeno surge de um dos quatro ventos, ao invés dos quatro chifres, destrói a unidade visual do símbolo”.24 Para Ford, Antíoco preencheria o simbolismo perfeitamente já que suas operações se encaixam dentro da profecia, o que não aconteceria com Roma.

Ele não limitou o cumprimento apenas a Antíoco Epifânio mas, través do princípio apotelesmático, amplia para vários outros possíveis cumprimentos. Ford acredita que a aplicação sobre o abominável da desolação feita por Jesus em Mateus 24:15 como ainda para dias futuros “apenas mostra que o significado da profecia não tinha ainda sido completamente esgotado. Em outras palavras, a declaração de Cristo valida o princípio apotelesmático”.25 Ele afirma que “a profecia, enquanto originalmente cumprida em Antíoco, e somente com ele em relação aos detalhes, também se aplica de maneira geral às manifestações posteriores do anticristo, incluindo Roma pagã e papal. Seu cumprimento final ainda está no futuro, quando o homem da iniquidade se assentar no templo de Deus e se mostrar como Deus – não meramente a apostasia papal mas a contrafação final de Satanás”.26

Para encaixar os períodos de tempo encontrados na profecia, Ford propõe que períodos de tempo bíblicos são normalmente números arredondados, ao invés de precisos... Daniel 8 apresenta todo o período de perseguição, não apenas o período de interrupção dos serviços do santuário. Esta perseguição começou em 171 a.C. e incluiu o assassinato do embaixador judeu em Tiro em 170 a.C., o morticínio e cativeiro de 80.000 judeus no mesmo ano, e a profanação do templo nesta época. Em 168 a.C. ocorreu a suspensão total dos ritos do santuário, uma suspensão que durou até 165 a.C. O período aproximado da opressão por Antíoco foram 2.300 dias”.27

24. Idem, Daniel 8:14, 235.

25.Ibid., 245.

26. Ibid.

27. Ibid., 239.

                                                                                                                        

Respostas Anteriores

Por outro lado, podemos encontrar Ford enfatizando inúmeras vezes que um poder na época dos macabeus não se enquadra no perfil da profecia. Ao comentar sobre a data em que o livro de Daniel foi escrito, ele mostra que “se o livro de Daniel foi escrito no segundo século a.C. e seu horizonte está ligado às façanhas de Antíoco Epifânio, então o nono capítulo tem por tema “profético” não o Messias mas um tirano Sírio”.28 Ford nunca assumiu essa posição, pelo contrário, sempre admitiu que o livro de Daniel foi escrito durante o cativeiro babilônico.29 Neste caso, Deus estaria preocupado com uma esfera mais ampla do que o problema nacional.30 “Ver isto [a profecia de Dn 9:24] como apenas uma esperança piedosa associada ao restabelecimento do serviço do santuário após Antíoco Epifânio significa restringir sua perspectiva sem uma razão legítima”.31 Este capítulo contém uma profecia apocalíptica, não esquecendo que

o propósito de toda profecia apocalíptica é apontar para o fim dos tempos... A natureza apocalíptica do capítulo [Dn 8] automaticamente pede não apenas por uma interpretação escatológica, mas uma que se estende além das fronteiras nacionais. A apocalíptica é cósmica em sua extensão, e seu término é o reino de Deus em glória.32   

Além do mais,

O princípio da repetição e aumento característico das profecias de Daniel e Apocalipse também oferecem luz aos períodos de tempo empregados nestes livros... o quarto esboço em Daniel, o dos capítulos 11 e 12, cobrem o mesmo conteúdo dos capítulos 2, 7 e 8. A descrição encontrada em 11:31-45 claramente se encaixa com 8:11-13, 23-25. O capítulo final de Daniel oferece, em maiores detalhes, o que é encontrado nos versos 44 e 45 do capítulo 2. Deste modo, para podermos interpretar o período mencionado em 8:14, é essencial que levemos em consideração o fato que o principal poder para os 2.300 dias é representado no capítulo 11 como durando até que o reino de Deus seja estabelecido. Neste caso, a inadequabilidade de interpretar as 2.300 tardes e manhãs como apenas dias durante a era macabéia é aparente.33

Ford relembra que “Cristo, Paulo e João aplicaram o chifre pequeno às manifestações do anticristo, começando com a Roma pagã e atingindo o clímax com as ilusões satânicas nos últimos dias”.34 “Mateus 24 deixa claro que ambas as profecias se referem à destruição de Jerusalém em 70 d.C., mas continuam a se cumprirem na guerra contra o Israel espiritual pelo anticristo durante os séculos... Esse fato apenas desqualifica a posição dos críticos que aplicam Daniel 8 aos tempos de Antíoco Epifânio”.35

Ele compara as palavras de Jesus em Mateus 24:15 com Daniel 8:13 e mostra que ambos os textos tratam dos mesmos assuntos: a “abominação da desolação”, o santuário, e este sendo pisado por terra.36 “Em suma, pode ser afirmado que no primeiro livro do Novo Testamento temos uma referência específica a Daniel 8:13, 14, e a aplicação feita não é apenas para o futuro; mas é conectado especificamente ao fim do mundo e o estabelecimento do reino de Cristo”.37 O mesmo acontece com Paulo em 2 Tessalonicenses 2:3, 4. Tanto a “abominação da desolação”, o santuário, e este sendo pisado por terra, são temas encontrados em Daniel 8:13 e 2 Tessalonicenses 2:3, 4. Paulo os aplica nestes textos ainda para o futuro.38

28. Idem, “The Dating of the Book of Daniel, Part 1”, Ministry, julho de 1973, 12.

29. Idem, “The Dating of the Book of Daniel, Part 1”, Ministry, julho de 1973;

30. Idem, Daniel 8:14 and the Latter Days, 27 e 28.

31. Idem, “The Dating of the Book of Daniel, Part 1”, 14.

32. Idem, laynd, 167.

33. Ibid., 303.

34. Ibid., 172.

35. Idem, “More Evidence of the Connection Between Daniel 8 and 9”, 32.

36. Idem, “Daniel Eight in the New Testament”, Ministry, novembro de 1961, 28.

37. Ibid.

38. Ibid.

 

Jesus e o Novo Testamento

Crítica

Uma das principais suposições de Ford é que todas as profecias, mesmo as que envolvem períodos de tempo, estavam tencionadas a se cumprirem até o primeiro século d.C. Assim sendo, Cristo pretendia retornar naquele mesmo século. Quando, por exemplo, Jesus em seu discurso no Monte das Oliveiras, encontrado em Marcos 13, fala sobre o fim de Jerusalém e do mundo, Ford entende que a predição de Jesus aponta para um evento interligado: a destruição de Jerusalém e o fim do mundo, e não como dois eventos separados.39 Ele assume que, como a expressão “esta geração” é encontrada 14 vezes nos evangelhos, Jesus pretendia enfatizar a sua volta naquela mesma geração.40 A declaração de Jesus em Marcos 13:30, afirmando “Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça”, é entendida por Ford como sendo uma profecia condicional. Para ele, Jesus “acreditava que se a igreja primitiva se mostrasse fiel à comissão missionária, e se a nação judaica se arrependesse, o fim ocorreria na mesma época. É a junção da proclamação evangélica ao mundo com fim naquela era que provê a indicação do elemento contingente. Tal proclamação dependeria da dedicação total da igreja”.41 Ele continua: “A evidência de Mateus 24:34 (Mc 13:30) torna claro o fato de que não era originalmente o plano divino que o pecado durasse séculos após a cruz. Profecias como Daniel 7:25; 8:14; Apocalipse 1:2; 12:16; 13:5, teriam se cumprido em escala menor se a igreja tivesse rapidamente entendido e proclamado o evangelho em sua pureza”.42

O plano ideal de Deus era de que Jesus voltaria no primeiro século d.C., não muito tempo após sua ascensão ao céu. Isto é ensinado claramente de Mateus a Apocalipse e é reconhecido por uma vasta maioria de estudiosos do Novo Testamento. Isto nos ajuda a entender porque Hebreus podia aplicar o Dia da Expiação para a ascensão de Cristo “além do véu” e prometeu que logo sairia para abençoar todos aqueles que, no pátio terrestre, ansiavam pela sua vinda (ver Hb 9:26-28) .43  

Além disso, o livro de Apocalipse teria sido escrito para “preparar e fortalecer espiritualmente” os cristãos daquela época a fim de espalharem o evangelho para que “o fim do mundo fosse consumado em seus dias”.44 Qualquer tentativa de dissolver a iminência e urgência dos eventos relatados em Apocalipse seria uma eisegése.45 O uso que alguns fazem de 2 Pedro 3:8 para explicar a aparente urgência destes textos não somente é errada como também “um estratagema humano para evitar a dificuldade”.46 

Ford conclui: “Repetimos – a evidência é clara que o livro de Apocalipse foi escrito a fim de fortalecer a Igreja daqueles dias para completar a comissão evangélica. O céu pretendia que fiéis daquela geração pudessem ver Cristo voltando nas nuvens e serem arrebatados nos ares para encontrá-lo sem passar pelos portais da tumba”.47

39. Idem, Daniel 8:14, 180.

40. Ibid., 178-188.

41. Ibid., 184.

42. Ibid., 185.

43. Ibid., 178.

44. Ibid., 185.

45. Ibid., 186.

46. Ibid., 187.

47. Ibid., 188.

 

Respostas Anteriores

Mas em sua tese doutoral, Ford discute extensivamente a conexão feita por Jesus entre o bde,lugma th/j evrhmw,sewj de Marcos 13:14, e o ~mevom. ~yciWQvi de Daniel. Ele mostra que “Cristo está se referindo ao bde,lugma th/j evrhmw,sewj em conexão com a destruição de Jerusalém, e o único momento no livro de Daniel onde ~mevom. ~yciWQvi é especificamente ligado à destruição da cidade santa é Daniel 9”.48 Ao fazer isto, Cristo não tinha apenas Daniel 9:26-2749 em mente, mas Daniel 7,50 8:13-14,51 e 11:36.52 Há, inclusive, um paralelismo peculiar entre o capítulo 13 de Marcos, e todo o livro de Daniel “quando se referindo ao poder abominável”.53 Tendo em mente este paralelismo existente, é necessário não esquecermos que “algumas porções [das profecias de Daniel] estavam ‘seladas’ até ‘o tempo do fim’” e que “a aplicação vital destas profecias ‘seladas’ pertencem não ao tempo dos macabeus, mas aos últimos dias desta era”.54 Se o livro de Daniel profetisa o estabelecimento final do reino de Deus e sua vitória sobre o mal,55 então os períodos de tempo apresentados neste livro são extensos, e não poderiam se cumprir no primeiro século de nossa era.

Ali, Ford também mostra que é importante “não confundir imediação e iminência”.56 Os sinais apresentados em Apocalipse “podem indicar um tempo relativo, sem revelar o dia ou hora específico”.57 A imagem apresentada por Cristo é de que a vinda de seu reino será repentina e inesperada para um mundo ao qual, assim como nos dias de Noé, se entregou para as coisas da carne. Assim como a destruição veio repentinamente aos habitantes de Sodoma e Gomorra apesar dos avisos de Ló, que compreendia os sinais dos tempos, assim será no fim dos tempos. Esta explicação... se harmoniza com Marcos 13:34 que admoesta os discípulos da impossibilidade de apontar para o momento exato da Parousia e ainda impele-os a grhgoh/sai.58 

 “Em nenhum lugar no Antigo ou Novo Testamentos é a segunda vinda do Senhor caracterizada como sujeita a uma demora interminável”.59 A sua iminência é enfatizada, mas não o tempo específico.

48. Idem, The Abomination of Desolation in Biblical Eschatology, 181.

49. Ibid., 199.

50. Ibid.

51. Ibid., 181.

52. Ibid., 199.

53. Ibid., 144; idem, Daniel 8:14 and the Latter Days, 42.

54. Ibid., 16.

55. Idem, Laynd, 167.

56. Idem, The Abomination of Desolation in Biblical Eschatology, 51.

57. Ibid.

58. Ibid., 54.

59. Ibid., 58.

 

O princípio apotelesmático

Crítica

Para resolver as dificuldades exegéticas até agora discutidas, Ford propõe o  princípio apotelesmático. Segundo ele, o “princípio apotelesmático” afirma que “uma profecia cumprida, ou parcialmente cumprida, ou até não cumprida no tempo designado, pode ter uma recorrência posterior ou cumprimento consumado. O cumprimento final é o mais abarcante, mesmo que os detalhes da previsão original sejam limitados ao primeiro cumprimento”.60 Em outras palavras, é o “conceito de que uma profecia específica, em seu esboço ou ao considerar uma característica dominante na profecia pode ter mais de uma aplicação no tempo”.61 Quando aplicando este princípio ao livro de Daniel, Ford nos lembra que Israel não foi fiel, e a profecia de Daniel 8 tinha um cumprimento limitado para os dias de Antíoco Epifânio, outro com Roma pagã, outro com Roma papal, e ainda terá outro cumprimento final na manifestação de Satanás logo antes do milênio e seu fim. Mas em cada era, o juízo aconteceu. Antíoco chegou a seu fim, Roma pagã foi destruída, o papado perdeu seu poder para a Reforma, e o último anticristo será destruído pela glória da segunda vinda de Cristo. Estes juízos sucessivos foram preditos pelo ‘então o santuário será justificado’. Cada era de reavivamento das verdades simbolizadas pelo santuário pode ser considerada um cumprimento de Daniel 8:14.62

Ford acredita que o princípio dia-ano “quanto a sua essência prática, sempre esteve correto – aquilo que podia se cumprir em dias caso a igreja tivesse permanecido fiel, agora está levando anos”. Este interpreta o princípio dia-ano como uma “base filosófica para a provisão permissiva de Deus na hermenêutica”. Ele então conclui dizendo que “temos também errado (com exceção de Ellen G. White e alguns outros) por usar um historicismo rígido quanto à exegese profética. Enquanto que as Escrituras mostram claramente que as profecias podiam ter mais do que um único cumprimento, e Ellen G. White amplamente exemplificou essa verdade – como denominação temos sido lentos em apreciar o princípio apotelesmático”. Para ele, o princípio apotelesmático é “a chave principal que precisamos para autenticar nossa apropriação denominacional de Daniel 8:14 para nosso próprio tempo e obra”.63 

Para fortalecer seu argumento, ele cita passagens onde Ellen G. White teria supostamente “endossado” o princípio apotelesmático. Passagens onde ela comenta sobre um “cumprimento parcial” ou “cumprimento final” tais como a de Joel 2:28 apontam, segundo Ford, para a aceitação de Ellen White deste princípio.64 Ele declara que podemos encontrá-la diversas vezes, aplicando a mesma profecia a instantes diferentes.65 “Ela aplica Apocalipse 11 à Revolução Francesa, que coincide com a abertura do livro selado de Daniel; os sinais preditos sobre os céus são aplicados ao famoso Dia Escuro de 1789 e a chuva de meteoros de 1833; a parábola profética de Mateus 25:1-13 é usada como predizendo o movimento de 1844; e Daniel 8:14; 7:9-13, assim como Malaquias 3:1-4 são aplicados similarmente... Ellen G. White não considerava esses cumprimentos como sendo finais, na perspectiva bíblica. A Revolução Francesa é apresentada como sendo ‘um’ (não o) ‘cumprimento marcante’ da profecia de Apocalipse 11”.66 Isso também acontece com Daniel 8:14 e 1844.67

60. Idem, Daniel 8:14, 302.

61. Ibid. Para um estudo mais aprofundado sobre a compreensão de Ford sobre o princípio apotelesmático, ver ibid., 301-329.

62. Ibid., 302.

63. Ibid., 215.

64. Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 11.

65. Ellen G. White, O Desejado de todas as nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000), 24, 757; idem, Atos dos apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora  Brasileira, 1999),33; idem, Carta 230, 1907, também citado em Seventh-day Adventist Bible Commentary, ed. F. D. Nichol (Washington, DC: Review and Herald, 1953-1957), 5:1109; Ellen G. White, Parábolas de Jesus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000), 386; idem, Primeiros Escritos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 251, 253; idem, O Grande Conflito, 417-432; idem, Patriarcas e Profetas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), 358.

66. Desmond Ford,Daniel 8:14, 338.

67. Ibid., 350; “Existem vários outros símbolos além do Dia da Expiação, ao qualEllen  G.  White  os  aplica  a  um  primeiro  momento,  e  então a  um  segundo momento  mais tarde. Por exemplo, logo após 1844, ela aplicou o abalo, a ira das nações, o selamento, os sinais nos tempos e especialmente Mateus 25:1-13 à eventos relacionados a 1844. Mas em anos posteriores, os   mesmos   símbolos   são aplicados   a eventos   ainda no futuro, relacionados ao segundo advento. Este é um forte paralelo para seu uso do simbolismo do Dia da Expiação”. Ibid.,338-340.

 

 

Respostas Anteriores

Não encontramos publicações por Desmond Ford argumentando contra o princípio apotelesmático, já que este é encontrado não apenas na obra Daniel 8:14 mas também em laynd,68 em sua dissertação de mestrado69 e tese de doutorado.70 Ford não é o único a apoiar o uso deste princípio. Já em 1955 encontramos George McCready Price se referindo a “um cumprimento apotelesmático da profecia”, “sempre que condições semelhantes predominam” na história do mundo.71

Conclusão

Na obra Daniel 8:14, Ford apresenta vários argumentos contra os princípios de interpretação profética usados por adventistas. Ford procura mostrar que: (1) o princípio dia-ano não é válido, (2) o chifre pequeno não é apenas Roma pagã e papal, (3) Jesus pretendia voltar no primeiro século de nossa era e (4) apenas através do princípio apotelesmático podemos interpretar corretamente as profecias de Daniel.

Contra o princípio dia-ano, Ford argumenta que apesar desse princípio ser encontrado na Bíblia, ele não deve ser usado para interpretar outras passagens além das quais é referido. Como não encontramos a palavra “dia” em Daniel 8:14 e 9:24, Ford acredita que este princípio não deveria ser aqui empregado. Ele também alega que as 70 semanas não foram cortadas das 2.300 tardes e manhãs e que não há como provar que ambas profecias começam no ano 457 a.C. Mesmo se isso fosse possível, não há como demonstrar que o Dia da Expiação cairia no dia 22 de outubro. Para isso, foram apresentadas algumas citações anteriormente publicadas por Ford, mostrando que (1) o princípio dia-ano é válido e deve ser utilizado para que haja uma clara interpretação das profecias envolvendo tempo, (2) Daniel estava se referindo a dias em Daniel 8:14 e 9:24 mesmo se a palavra não aparece no texto, (3) há uma forte ligação entre os capítulos 8 e 9 de Daniel, e que, portanto, (4) ambas as profecias começam na mesma data.

Contra a interpretação de que o chifre pequeno seja Roma, Ford afirma que esta não cumpre a profecia assim como Antíoco Epifânio o faz. Ford também propõe que profecias de tempo não são precisas, mas arredondadas. Mais uma vez, encontramos Ford argumentando, anos antes, contra esta posição. É possível encontrar citações afirmando que um poder na época dos macabeus não se enquadra no perfil da profecia. Além do mais, Jesus, o apóstolo Paulo, e João aplicaram o chifre pequeno para o futuro de seus dias.

Com relação a visão neo-testamentária das profecias de Daniel, Ford afirma que Jesus pretendia retornar naquele mesmo século. Não era plano divino que a volta de Jesus demorasse tanto tempo. As profecias de Daniel, portanto, deveriam se cumprir até o fim do primeiro século d.C. Novamente, é possível encontrar Ford negando tais posições, alegando que as profecias de Daniel estavam seladas até o fim, e não ao tempo dos macabeus. Os períodos de tempo encontrados em tais profecias são extensos, e não poderiam se cumprir no primeiro século d.C.

Finalmente, Ford propõe o princípio apotelesmático como solução. Uma profecia poderia se cumprir várias vezes, e no caso do chifre pequeno, poderia se cumprir em Antíoco Epifânio, Roma, e o anticristo que surgiria nos últimos dias ao lado de Satanás. Contra esta posição, não foi encontrada uma citação anteriormente publicada, já que Ford sempre advogou tal princípio.

A mudança de interpretação das profecias de Daniel relacionadas ao santuário levou Ford a também modificar sua compreensão do juízo investigativo e da purificação do santuário. Se a purificação do santuário de Daniel 8:14 não ocorreu em 1844 d.C., a natureza desse evento é consequentemente alterada.

68. Idem, Laynd, 49, 172, 187, 197.

69. Idem, Daniel 8:14 and the Latter Days, 18-25.

70. Idem, The Abomination of Desolation in Biblical Eschatology, 195, 197, 199, 202, 241, 286, 288, 322.

71. George McCready Price, The Greatest of the Prophets: A New Commentary on the Book of Daniel (Mountain View, CA: Pacific Press, 1955), 30.

 

CAPÍTULO 4

O JUÍZO INVESTIGATIVO

O juízo investigativo é negado por Ford em Daniel 8:14. Ele o faz, alegando que não podemos encontrar referências a esse evento no Antigo ou Novo Testamento. Para tanto, estudaremos sua compreensão desse assunto e suas críticas relacionadas aos capítulos 7 e 8 de Daniel e aos livros de Hebreus e Apocalipse.

O juízo investigativo

Crítica

Ford reconhece que os santos serão julgados, assim como é mencionado por Paulo em 1 Coríntios 4:4, 5:10 e Romanos 14:10. Ele reconhece que em Apocalipse 20, encontramos “duas ressurreições, onde todos os santos se levantam da prisão da morte”. Isto indica que “seu julgamento é antes da volta de Cristo. O fato de que é mencionado que crentes não apenas comparecem perante o julgamento, mas que devem também, como assistentes de Cristo, julgar o mundo e os anjos caídos – requer uma decisão antes do advento a seu favor, antes do julgamento dos perdidos”.1 Mas este julgamento dos justos é algo contínuo durante sua vida. “Apenas aquele que permanecer fiel até o fim será salvo. A decisão de fé deve ser continuamente reafirmada. São aqueles que permanecem em Cristo e confiam inteiramente em Seus méritos, demonstrado em uma vida de obediência fiel, que ‘continuam na prática da justiça’ quando a porta da graça fechar”.2 

O fato de que há dois grupos de textos sobre os santos concernente ao juízo – um declarando que até eles devem passar pelo exame divino, e o outro que eles julgarão os ímpios – requer um juízo pré-advento para estes. Daniel 12:10 e Apocalipse 22:11 apontam para isto – não um processo que se prolonga por séculos, mas um reconhecimento por nosso Sumo Sacerdote dos nomes daqueles que estão no livro da vida que, através da fé, estão intitulados à justificação final e irrevogável.3 

Ford acredita que não há necessidade de um juízo investigativo. 

Deus não precisa de livros e de 140 anos para definir o destino do homem. Os anjos, ou os mundos não-caídos ou os habitantes desta terra aproveitariam de um juízo investigativo como o temos descrito. De acordo com Ellen G. White, os anjos já sabem as intenções e pensamentos de nosso coração, assim como Deus certamente sabe nosso estado espiritual e ‘aqueles que são Seus’. Ele sabe quem são Suas ovelhas atualmente. Assim, as Escrituras nos dizem que o destino de muitos já foi traçado muito tempo atrás sem a necessidade de um juízo investigativo. Abraão, Isaque, Jacó, os profetas, os apóstolos, os heróis de Hebreus 11, e a multidão ressuscitada no primeiro advento são apresentados com destino já definido tempos atrás. É o juízo visível ao fim dos tempos que confirma a vindicação que Deus realizou na cruz, e não um processo judicial invisível que seria inútil para os mortos, quanto a informá-los de seu destino.4 

Novamente, Ford propõe o princípio apotelesmático como solução. A purificação do santuário seria “dar fim aos pecados, e trazer a justiça eterna. É expiar a iniquidade – ou seja, erradicar o mal. Forensicamente, isto ocorreu na cruz, mas sua consumação está no último juízo, que purificará o universo do pecado e dos pecadores. Aqui está a inspirada interpretação bíblica de Daniel 8:14. Ela aponta para o Dia da Expiação cumprido no calvário, e brevemente ‘consumada’ no juízo final de Deus”.5 Logo, 1844 seria “um cumprimento apotelesmático, ao invés de primário, da passagem apocalíptica, o que não a torna insignificante, mas deixa de competir com o calvário e o segundo advento”.6

1. Desmond Ford, Daniel 8:14, 391.

2. Ibid., 230.

3. Ibid., 403.

4. Ibid., 403.

5. Ibid., 259.

6. Ibid., 229.

 

Respostas Anteriores

Por outro lado, em 1974, Ford enfatiza que “o juízo do professo povo de Deus é apresentado em Daniel como cobrindo um período referido como ‘tempo do fim’... se referindo a um tempo durante o qual ocorrem eventos climáticos antes do advento. A Daniel foi dito que os 2.300 dias alcançariam o começo do “tempo do fim” (Daniel 8:17). A ele foi dito que compareceria perante o juízo ‘ao fim dos dias’ (ver Daniel 12:13)”.7 

Em seu artigo “Some Reflections on the Investigative Judgment”, Ford relembra que

é evidente que um juízo não é para o benefício do Todo Onisciente, mas para tornar pública Sua justiça. De fato, isso parece ser a única razão para o Senhor ter permitido o pecado em primeiro lugar – para que Suas criaturas pudessem adorá-lo em amor como resultado da exaltação de seu caráter... É também evidente que se Deus considera parte de sua justiça permitir que Suas criaturas vejam os resultados de Sua rejeição por muitos antes de Sua execução de juízo (Ap 20:4, 5; 2Co 5:10; Sl 149:9), assim também os seres caídos deveriam ser permitidos a ver as razões para a recompensa envolvida na primeira ressurreição, e isto requer um juízo investigativo... as Escrituras claramente descrevem um trabalho judiciário ocorrendo antes da segunda ressurreição, ou seja, seres criados são permitidos a ver nos registros as razões para a exclusão de milhões do novo mundo – a lógica sugere um processo paralelo antes da primeira ressurreição.8

Daniel 7

Crítica

Desmond Ford reconhece que a cena encontrada em Daniel 7:9-10 é uma cena de juízo. Mas esse é um juízo (1) do chifre pequeno9 e (2) dos ímpios, e não dos santos. Ele argumenta que “Daniel 7 e a cena do juízo são o coração do livro. Vemos os ímpios sendo examinados, condenados, e destruídos. O juízo está ‘a favor’ dos santos, por que seus inimigos são acusados e condenados. Esse é o verdadeiro significado do juízo em Daniel 7, e não uma investigação dos pecados dos santos”.10 Para ele, a vindicação dos justos em Daniel 7:22 tem o mesmo significado de Daniel 8:14 ou seja, a condenação dos ímpios, e a vindicação dos justos.11

7. Idem, “How Long, O Lord”, Ministry, setembro de 1974, 15.

8. Idem, “Some Reflectionson the Investigative Judgment”, Ministry, outubro de 1965, 8.

9. Idem, Daniel 8:14, 176.

10. Ibid., 229.

11. Ibid., 230.

 

Respostas Anteriores

Em resposta a esta crítica, encontramos Ford em 1965 mostrando que, quando comparamos Daniel 7 e 8, a cena de juízo de Daniel 7:9-10 é paralela com a purificação do santuário de Daniel 8:14. O detalhe interessante é que “Daniel 8, ao seguir a sequência idêntica, mas substituindo uma representação interpretativa para a cena do juízo, confirma nossa interpretação de cada cena. Também não é sem significado que o termo hebraico aqui usado para ‘purificado’ é declarado por estudiosos como tendo um significado ‘forense’. Isto é, se referindo à lei e ao juízo”.12

                                               

Daniel 8

Relacionado a Daniel 8, Ford nega que (1) a purificação do santuário em Daniel 8:14 está relacionada aos pecados dos professos crentes em Cristo, (2) “purificado” seja uma tradução apropriada para Daniel 8:14 e (3) a purificação do santuário começou em 1844.13 

Contaminação e purificação do santuário em Daniel 8:14

Crítica

Em Daniel 8:14, Ford argumenta que a contaminação feita sobre o santuário de Daniel 8:14 provém dos ímpios, e não dos pecados dos santos. Analisando o contexto, ele procura mostrar que a pergunta feita em Daniel 8: se refere à profanação do chifre pequeno.

Quando interferiria o céu e puniria o agressor? O verso [de Daniel 8] é a resposta a esta indagação, mas a exposição tradicional de adventistas do sétimo dia nunca relaciona os dois. Ao invés, pulamos do tema dos versos sobre as ações do poder que está contra Deus, e nos concentramos nos pecados dos santos que contaminam o santuário. Não seja esquecido que o contexto nada diz sobre crentes profanando o santuário, mas os descrentes.14 

Em outras palavras, Daniel 8:14

trata do reparo da maldade, da punição daqueles que estão longe de Cristo, e da vindicação dos crentes. Esse juízo revelado tem em foco os perdidos – não o povo de Deus. É o chifre pequeno que está sendo investigado, não os santos sofredores. Os livros guardam os registros das transgressões deliberadas dos seguidores de Satanás, e não as falhas dos adoradores de Javé.15

Consequentemente, ele acredita que o santuário aqui descrito precisa ser vindicado do pisotear do chifre pequeno e não uma purificação ritual. “Daniel 8:14 fala de restauração e vindicação – estas são bem diferentes da purificação ritual encontrada em Levítico 16 e do processo de investigação dos pecados dos santos... Como poderia esse último ser considerado restauração ou vindicação?”16

Outro argumento oferecido por Ford é de que o significado primário da palavra hebraica qd;c' (tsadaq) encontrada em Daniel 8:14 e traduzida por “purificar”,

não é “purificar”, mas “vindicar”. O verbo usado, automaticamente nos leva para a indagação do verso 13 – isto é, a necessidade de vindicação. Mas vindicação é algo bem diferente de expiar os pecados dos santos. Enquanto é verdade que entre os outros significados de sadaq, “purificar” pode ser evocado, a purificação aqui indicada teria de se limitar ao que o contexto fala sobre a necessidade de purificação. E o contexto nada fala sobre os santos criando uma necessidade de purificação quando confessam seus pecados... Nem o Antigo nem o Novo Testamento ensinam o que temos tradicionalmente ensinado quanto aos pecados confessados dos santos profanarem o santuário celestial. Até o santuário terrestre era profanado pelo ato do pecado, não sua confissão.17 

Segundo ele, rhej' (taher), usado em Levítico 16 para descrever a purificação ritual do santuário no Dia da Expiação, não é encontrado em Daniel 8. “Esse verbo [tsadaq] não possui ligação vital com o taher da purificação ritual em Levítico 16. Assim sendo, taher não é encontrado em Daniel 8, e nem tsadaq em Levítico 16”.18

Respostas Anteriores

Já em 1965, Ford argumenta que a pergunta feita em Daniel 8:13 é uma que aparece frequentemente nas Escrituras, e foi professada por lábios humanos desde a queda. É uma indagação sobre quando Deus se levantará para vindicar a Si mesmo, Seu povo e Sua verdade, ao recompensar a justiça e punir a iniquidade... Quanto tempo durará até que a poluição do santuário seja expiada, até que suas corrupções sejam removidas, seus erros corrigidos, sua autoridade vindicada? Quanto tempo durará até que o sistema substituto de culto idólatra será exposto e Deus e Seu povo triunfará... estes eram os pensamentos na mente do profeta inspirado. Obviamente, esperamos uma resposta ampla o suficiente que vá ao encontro de tudo que é requerido nesta compreensiva indagação... apenas uma palavra hebraica envolve tudo que esta situação requer. Esta palavra é tsadaq, encontrada na forma niphal na resposta de Daniel 8:14. Tsadaq inclui tudo que é implícito por kaphar e taher, mas vai além destas duas, expressando vindicação e salvação.

Caso os escândalos na época de Antíoco Epifânio estivessem na mente de Daniel, como alguns estudiosos não-adventistas advogam, ao escrever Daniel 8, ele poderia ter usado o termo taher, que teria sido suficiente para expressar a correção pelos heróis Macabeus dos erros de sua época. No lugar de taher, no entanto, encontramos em Daniel 8:14 uma palavra que é mais inclinada forensicamente do que cerimonialmente, sendo totalmente apropriada quando lembramos que Daniel 8:14 faz paralelo tanto com a cena de juízo de Daniel 7:9 e 10, quanto a situação clamando por juízo descrita em Daniel 11:16-45, especialmente no verso 31. Apenas o juízo com sua revelação completa das obras de Cristo e do anticristo e seus seguidores poderá vindicar Deus perante o Universo.19

 O termo hebraico usado para “purificado” é declarado por estudiosos como tendo um significado “forense”, ou seja, tendo referência à lei e o juízo.20

12. Idem, “Some Reflections on the Investigative Judgment”, 9. 

13. Idem, Daniel 8:14, 175 e 176.

14. Ibid., 216.

15. Ibid., 219.

16. Ibid., 247.

17. Ibid., 216 e 217.

18. Ibid., 217.

19. Idem, “The  Linguistic  Connection Between  Daniel  8:14 e  11:31”, Ministry, dezembro de 1965, 35 e 36.

20. Idem, "Some Reflections on the Investigative Judgment", 9.

 

O Dia da Expiação em Daniel 8:14

Críticas

Ford afirma que a purificação do santuário ocorreu nos dias dos Macabeus, mas esta não é apenas limitada a estes dias, pois seria “perder a glória da Palavra profética que, assim como o seu Autor, abrange passado, presente e futuro. Daniel 8:14 é um clímax vitorioso paralelo à cena da ‘pedra se tornando em grande montanha’ de Daniel 2, ao Filho do Homem tomando posse do reino em Daniel 7, ao cessar da transgressão e à vinda da justiça eterna em Daniel 9, e ao levantar de Miguel para fazer dos Seus santos as estrelas do céu para todo sempre em Daniel 12”.21

Desta forma, Daniel 2:44; 7:9-13; 8:14; 9:24-27; e 12:1

são apotelesmáticos em aplicação, se cumprindo não somente na vitória sobre o anticristo típico, Antíoco, em 165 a.C., mas na grande redenção na cruz, e finalmente no juízo final... É aplicado também a cada reavivamento da verdadeira religião, onde elementos do reino de Deus, espelhados no santuário pelas tabuas de pedra e a arca da aliança, são proclamados novamente, como em 1844.22

 Respostas Anteriores

Com relação à aplicação apotelesmática da purificação do santuário, não encontramos qualquer citação anterior de Ford contestando esta posição, já que o encontramos apoiando esta interpretação anteriormente.23

 Hebreus

 Crítica

Quanto tratando do livro de Hebreus, Ford nega que as 2.300 tardes e manhãs tenham findado com o início do antitípico Dia da Expiação, pois “Hebreus aplica claramente o Dia de Expiação em antitípico à auto-oferta sacerdotal de Cristo no Calvário, apesar de a era cristã estar inclusa enquanto esperamos nosso Sumo Sacerdote retornar”.24 Para ele, “a obra deste compartimento simbolizava as ofertas ineficientes da era levítica quando o homem tinha acesso restrito a Deus, e experimentava a purificação cerimonial externa ao invés da perfeição da consciência”.25 Cristo não poderia ter entrado no Santíssimo 1.800 anos depois da cruz, já que Hebreus 9:8, 12, 24, 25; 10:19, 20; 6:19, e 20 dizem que Cristo entrou “por trás do segundo véu” em sua ascensão.26

Expressões encontradas em Hebreus, tais como “Santo dos Santos”, “Santíssimo”, “Lugar Santo” e “Santuário”, levam Ford a crer que “Cristo tinha, na época em que a carta [de Hebreus] tinha sido escrita, já entrado e permanecia no ta hagia – se envolvendo, portanto, na ministração do ta hagia por pelo menos 30 anos”.27 Ele afirma que “praticamente cada estudioso da era cristã entende ta hagia em Hebreus como sendo o segundo compartimento do santuário – chamado de ‘Lugar Santo’ em Levítico 16:2, 3, 16, 17, 23, e 27”.28 “O autor [de Hebreus] está repetidamente dizendo que o que o Sumo Sacerdote fazia anualmente, Cristo já o fez”.29 A expectativa de Hebreus é a saída de Cristo do Santíssimo, e não sua entrada.30 O primeiro compartimento em Hebreus “representa a era antes da cruz, e o segundo compartimento a era após a cruz”.31 “Em nenhum lugar no Novo Testamento é mencionado que o santuário celestial possui dois compartimentos”. É verdade que o livro de Apocalipse menciona os símbolos e os móveis de ambos compartimentos, “mas não há sinal de um véu. Cristo, por sua morte, uniu ambos compartimentos, rasgando o véu de separação”.32 Para Ford, interpretar o santuário terrestre como uma imagem perfeita do santuário celestial “é ignorar o testemunho repetido do resto do livro [de Hebreus] que alguns dos símbolos eram meramente uma parábola sobre a natureza temporária do sistema que servia como sombra, ao invés de uma imagem do sacerdócio de Cristo durante a era cristã”.33

Outro argumento oferecido por Ford é que Hebreus nunca faz alusão a Daniel 8:14. “A purificação do santuário é mencionada neste capítulo, repetidamente, mas é sempre aplicada ao que já tinha ocorrido com Cristo antes que a epístola fosse escrita – i.e. a purificação é passada, não futura”.34

Respostas Anteriores

Por outro lado, Ford, em 1965, mostra que o antítipo Dia da Expiação se cumpre antes da segunda vinda, e não no começo de nossa era. Ele afirma que as festas judaicas “prefiguravam toda a era cristã”.35

Enquanto que a páscoa, a festa das primícias e o pentecostes, respectivamente tipificavam a cruz, a ressurreição, e o dom do Espírito à Igreja; as últimas festas – das trombetas, Dia da Expiação, e dos tabernáculos – prefiguravam eventos associados ao segundo advento de Cristo – a proclamação mundial do fim iminente, o juízo, e a colheita das multidões.36

É conclusivo que, o último livro da Bíblia, com suas profecias especialmente relacionadas aos últimos tempos, nutra a imagem deste dia especial [Dia da Expiação], para expressar verdades vitais. É igualmente significativo que essas imagens são usadas em referência às outras festas do sétimo mês: trombetas e tabernáculos, oferecendo um testemunho duplo sobre a aplicação destas ocasiões para os últimos dias.37

Ele também declara que “é certo que nosso Senhor Jesus Cristo entrou na presença de Deus imediatamente após sua ascensão, mas o trabalho distinto do segundo compartimento concernente à transferência de pecados sobre o bode expiatório prefigura Seu trabalho ao fim do tempo”.38 “Expiação completa para o pecado foi provida no calvário e é finalmente aplicada no juízo. O juízo examina vidas para ver se seus frutos apontam para uma confiança constante nos méritos do Cordeiro de Deus. Daniel 8:14 e Daniel 7:9, 10 apontam para este ponto”.39

21. Idem, Daniel 8:14, 247.

22. Ibid., 221.                                              

23. Ver página 34 deste estudo.                                                                                                                           

24. Idem, Daniel 8:14, 175.

25. Ibid., 174-176.

26. Ibid., 174-176.

27. Ibid., 104.

28. Ibid., 105.

29. Ibid.

30. Ibid.

31. Ibid., 107.

32. Ibid., 133.

33. Ibid., 134.

34. Ibid., 111.

35. Idem, “The Apocalypse and the Day of Atonement”, Ministry, março de 1961, 28.

36. Idem, “The Desert Play of Destiny”, These Times, fevereiro de 1976, 30.

37. Idem, “The Apocalypse and the Day of Atonement”, 18.

38. Idem, “The Desert Play of Destiny”, 30.

39. Ibid.

 

Apocalipse

Críticas

Comentando o juízo investigativo no livro de Apocalipse, Ford relembra que “juízo na [literatura] apocalíptica é sobre os ímpios e a favor dos santos. O foco da investigação divina nunca está sobre os santos. Se estes se encontram em um relacionamento correto com Deus, seu status não está aberto para investigação”.40 Ford concorda que encontramos referência ao juízo em passagens como Apocalipse 6:9-11; 14:7, 18-20; 16:5, 7; 17:1; 16:8, 10, 20; 19:2, 11; e 20:11-15. Ele adverte, no entanto, que “João nunca, em seu evangelho, epístolas, ou Apocalipse, usa a palavra ‘juízo’ além de negativamente quando se referindo aos ímpios. Aqueles que creem em Cristo não sofrem a condenação do juízo. Assim sendo, Apocalipse 14:7 faz um paralelo com Daniel 7:9, 10, tendo os ímpios como foco, e oferecendo vindicação aos santos”.41

40. Ibid., 220.

41.

 

Respostas Anteriores

Relacionado ao juízo investigativo dos justos no livro de Apocalipse, não encontramos citações de Ford argumentando a favor de tal posição.

Conclusão

Desmond Ford nega o juízo investigativo baseado na argumentação de que não há referência na Bíblia de tal juízo. Ele afirma que (1) o juízo enfrentado pelos santos é contínuo, oferecendo reconhecimento aos nomes daqueles que já estão inscritos no livro da vida; (2) a cena de juízo de Daniel 7:9-10 não trata dos santos, mas do chifre pequeno e dos ímpios; (3) a purificação do santuário de Daniel 8:14 está relacionada à ponta pequena, e não aos pecados dos santos; (4) a palavra tsadaq em Daniel 8:14 deveria ser traduzida como “vindicado”; (5) a purificação do santuário ocorre cada vez que há reavivamento da verdadeira religião e verdades relacionadas ao santuário são proclamadas novamente; (6) Jesus começou o antítipo Dia da Expiação logo após sua ascensão ao céu; e (7) o juízo sempre tem como foco os ímpios, oferecendo vindicação aos santos.

Conforme o objetivo desse trabalho, oferecemos argumentos publicados pelo mesmo autor, mostrando que (1) assim como haverá uma investigação da vida dos ímpios antes da segunda ressurreição, também o mesmo ocorrerá antes da primeira ressurreição; (2) a cena de Daniel 7:9-10 faz um paralelo com Daniel 8:14, envolvendo a lei e o juízo, e que portanto trata do juízo dos santos; (3) “purificado” é a melhor tradução para Daniel 8:14, já que esse termo se molda melhor ao contexto do grande conflito entre Deus e Satanás encontrado no livro de Daniel; e (4) o Dia da Expiação faz parte das festas que se cumprem logo antes da segunda vinda, portanto o ministério sacerdotal de Cristo no Santíssimo ocorre no fim dos tempos, e não no começo de nossa era.

Para fortalecer seus argumentos quanto à interpretação de profecias e sua compreensão do juízo investigativo, Ford procura apoiar seus argumentos em citações de Ellen G. White relacionados a esses temas. Como nem sempre ambos concordam, Ford sente-se obrigado a também alterar seu ponto de vista com relação ao dom profético encontrado em Ellen G. White.  

 

CAPÍTULO 5

ELLEN G. WHITE E O DOM DE PROFECIA

 

 Em Daniel 8:14, Ford apresenta argumentos criticando o uso que adventistas tem feito dos escritos de Ellen G. White e seu conceito de inspiração. Seus argumentos se direcionam a duas áreas: (1) a inspiração de Ellen White e (2) Ellen White em sua época.

A inspiração de Ellen G. White

Críticas

Sobre a inspiração de Ellen G. White, Ford argumenta que “porque a atenção divina para diferentes assuntos é proporcional à sua importância, Deus exerceu maior superintendência sobre as Escrituras, do que sobre os escritos de Ellen White. Não falo de graus de inspiração, mas graus de revelação”.1  Ele reconhece que os escritos de Ellen White são uma luz, mas esses devem ser lidos como “admoestações pastorais, iluminação espiritual, e não como um comentário sobre tudo, ou como meio de evitar a tarefa rigorosa da exegese bíblica”.2 “Não deveríamos esperar o mesmo tipo de precisão necessária como na Palavra”.3 

Outro argumento apresentado por Ford, é de que “Ellen G. White, em seu capítulo sobre o juízo investigativo, fala verdadeiramente, mas não literalmente, quando se refere à cuidadosa pesquisa divina de cada pensamento, palavra e ato, assim como seus motivos. Os livros são a memória de Deus, e as decisões instantâneas, de acordo com uma fé genuína nos méritos de Cristo (fé que leva à obediência) é evidenciada”.4 “Sua [Ellen White] apresentação detalhada da investigação divina de nossas vidas é uma aplicação homilética da lei sobre nossas almas, para que possamos analisar nosso coração e voltarmos para Aquele que pode nos cobrir com Sua justiça”.5  Desta forma, “Ellen G. White foi uma mensageira especial ao remanescente, confiada com o dom de profecia. Sua inspiração deveria ser definida nos termos que ela mesmo usou como ‘para propósito prático’, ‘imperfeita’, não refletindo ‘a lógica e retórica’ divina”.6

1. Ibid., Daniel 8:14, 377.

2. Ibid., 379.

3. Ibid., 389.

4. Ibid., 392.

5. Ibid., 393.

6. Idem, 406.

 

Respostas Anteriores

Em 1965, encontramos Ford contra-argumentando ao afirmar que Deus revela sua luz progressivamente. Luz revelada posteriormente não deixa de ser tão importante quanto a luz anteriormente revelada. “Concluiríamos estas reflexões declarando a convicção de que não é estranho que esboços completos desta doutrina [o juízo investigativo] sejam, baseados no princípio da revelação progressiva, reservados para a mensageira divinamente inspirada da Igreja Adventista do Sétimo Dia – Ellen G. White”.7 

Ellen G. White e sua época

Críticas

Ford acredita que muitos dos escritos de Ellen G. White relacionados ao santuário, Daniel 8:14 e o juízo investigativo se destinavam àquela época, e não são necessariamente aplicáveis aos nossos dias. Seus escritos “não são mais úteis para um povo que teve mais de 100 anos para aprender do Novo Testamento, o significado da arca da aliança na sala do trono celestial. O significado do santuário israelita e o epítome do serviço do Yom Kippur já deveria ter raiado em nosso meio”.8 Suas aplicações “eram apropriadas para seus leitores originais, mas certamente não constituem a palavra final de Deus para nossos dias”.9

A compreensão que os pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia tinham sobre o juízo investigativo “era essencial no século 19 para a sobrevivência do desapontado e confuso remanescente que permaneceu fiel à ênfase milerita. Isto proveu uma razão lógica para sua posição”. Ele acredita que Ellen G. White teria “obtido sua compreensão do juízo investigativo de Uriah Smith e J. N. Andrews... e incorporado não somente os desvios doutrinários, mas também erros bíblicos e históricos. Tal compreensão da profecia era apropriada para aquela época, mas não hoje”. Seus escritos teriam sido publicados apenas “com propósito prático”.10 “A interpretação adventista foi cunhada para enfrentar o desapontamento, e não é bíblica”.11

Ele também acredita que poucos adventistas estão cientes de que

a crença no juízo investigativo é ‘tardia’ em nosso meio. Ela não foi ensinada por nossos pioneiros de 1845. Ela não foi mantida por Edson, Crosier, ou a família White durante a década de 1840. Quando Ellen G. White se refere à experiência de buscar nossos marcos históricos na década de 1840, é um fato histórico de que o juízo investigativo não se encontrava entre esses. Muito menos encontramos na visão original qualquer referência ao juízo investigativo”.

A purificação do santuário era um marco histórico, mas não o juízo investigativo. Este autor não questiona que a purificação escatológica do santuário, e o fato de que o Dia da Expiação e Daniel 8:14 apontam para o mesmo. Tais posições são marcos históricos de nossos pioneiros e os aceito prontamente. O final das conferências sabáticas de 1848 encontrou um grupo que acreditava nisso, mas não no juízo investigativo.12

Respostas Anteriores

Por outro lado, em seu livro Physicians of the Soul, publicado em 1980, encontramos Ford defendendo o dom profético de Ellen White, advogado que “Ellen White não caiu na armadilha exegética de interpretar a profecia com eventos atuais. Mais de 35 anos gastos estudando Ellen White ilustraram seu jeito habilidoso de evitar erros os quais seus contemporâneos, grandes homens como Smith, cometeram”. Ele chega a afirmar que “sua perspectiva se assemelha a de uma águia” – pairando acima dos erros.13

Conclusão

Desmond Ford critica as interpretações de Ellen White, e o uso que adventistas tem feito de seus escritos. Para ele, Ellen White possui um grau de revelação menor do que a Bíblia. Ela deveria ser interpretada como oferecendo admoestações pastorais, e para fins práticos. Desta forma, ela não teria autoridade doutrinária. Não encontramos muitas citações de Ford sobre Ellen White, já que esta não era sua área de conhecimento. Mas podemos perceber o uso inconsistente que ele faz de Ellen White em Daniel 8:14. Quando suas interpretações vão de encontro com as de Ellen White, isto acontece porque ela “incorporou os erros de sua época”, mas quando ambos supostamente concordam quanto ao princípio apotelesmático, então ela é inspirada.

­­­­­­­­­­­­­­­­7. Idem, "Some Reflections on the Investigative Judgment", 40

8. Ibid., Daniel 8:14, 341.

9. Ibid., 345.

10. Ibid., 368 e 369.

11. Ibid., 343.

12. Ibid., 374.

13. Idem, Physicians of the Soul, 117

 

CAPÍTULO 6

CONCLUSÃO

Desmond Ford, após tornar-se membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, passou a cursar Teologia, ingressando posteriormente no ministério. Ford prosseguiu seus estudos de pós-graduação até obter dois títulos doutorais. Durante seus anos como pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Ford se aprofundou em duas áreas da teologia adventista: (1) a justificação pela fé e (2) temas relacionados ao livro de Daniel. Durantes seus últimos anos como pastor adventista, ele começou a assumir uma postura contrária à sua posição anterior com respeito à interpretação do livro de Daniel. Esta mudança de pensamento acabou levando-o a discutir suas novas ideias diante de um grupo representativo de teólogos e líderes da Associação Geral.

Ele acreditava que (1) o princípio dia-ano não é válido; (2) o chifre pequeno encontrado no livro de Daniel não é apenas Roma pagã e papal; (3) Jesus pretendia voltar no primeiro século de nossa era; e (4) apenas através do princípio apotelesmático podemos interpretar corretamente as profecias de Daniel.

Contra o princípio dia-ano, Ford argumentava que apesar desse princípio ser encontrado na Bíblia, ele não deve ser usado para interpretar outras passagens além de Números 14:34-35 e Ezequiel 4:1-8. Como não encontramos a palavra “dia” em Daniel 8:14 e 9:24, Ford acreditava que este princípio não deveria ser aqui empregado. Ele  também alegava que as 70 semanas não devem ser cortadas das 2.300 tardes e manhãs e que não há como provar que ambas profecias começam no ano 457 a.C. Para isso, foram apresentadas algumas citações anteriormente publicadas por Ford, mostrando que (1) o princípio dia-ano é válido e deve ser utilizado para que haja uma clara interpretação das profecias envolvendo tempo; (2) Daniel estava se referindo a dias em Daniel 8:14 e 9:24 mesmo que a palavra não aparece no texto; (3) há uma forte ligação entre os capítulos 8 e 9 de Daniel, e que, portanto, (4) ambas as profecias começam na mesma data.

Ford afirmava que o chifre pequeno de Daniel não poderia ser Roma papal, pois esta não cumpre a profecia assim como Antíoco Epifânio o faz. Ele propõe que profecias de tempo não são precisas, mas arredondadas. Mais uma vez, encontramos Ford argumentando, anos antes, contra esta posição. Foi possível encontrar citações afirmando que um poder na época dos macabeus não se enquadra no perfil da profecia. Além do mais, Jesus, o apóstolo Paulo, e João aplicaram o chifre pequeno para o futuro de seus dias.

Ford argumentava que Jesus pretendia retornar naquele mesmo século. Não era plano divino que a volta de Jesus demorasse tanto tempo. As profecias de Daniel, portanto, deveriam se cumprir até o fim do primeiro século d.C. Novamente, foi possível encontrar Ford negando tais posições, alegando que as profecias de Daniel estavam seladas até o fim, e não ao tempo dos macabeus. Os períodos de tempo encontrados em tais profecias são extensos, e não poderiam se cumprir no primeiro século d.C.

Finalmente, Ford propõe o princípio apotelesmático como solução. Uma profecia poderia se cumprir várias vezes e, no caso do chifre pequeno, poderia se cumprir em Antíoco Epifânio, Roma, e o anticristo que surgiria nos últimos dias ao lado de Satanás. 

Contra esta posição, não foi encontrada uma citação anteriormente publicada, já que Ford sempre advogou tal princípio.

A mudança de interpretação das profecias de Daniel relacionadas ao santuário levou Ford a modificar sua compreensão do juízo investigativo e da purificação do santuário. Se a purificação do santuário de Daniel 8:14 não ocorreu em 1844 d.C., a natureza desse evento é consequentemente alterada. Para ele, não há referência ao juízo investigativo na Bíblia.

Ele afirma que (1) o juízo enfrentado pelos santos é contínuo, oferecendo  reconhecimento aos nomes daqueles que já estão inscritos no livro da vida; (2) a cena de juízo de Daniel 7:9-10 não trata dos santos, mas do chifre pequeno e dos ímpios; (3) a purificação do santuário de Daniel 8:14 está relacionada à ponta pequena, e não aos pecados dos santos; (4) a palavra tsadaq em Daniel 8:14 deveria ser traduzida como “vindicado”; (5) a purificação do santuário ocorre cada vez que há reavivamento da verdadeira religião e verdades relacionadas ao santuário são proclamadas novamente; (6) Jesus começou o antítipo Dia da Expiação logo após sua ascensão ao céu; e (7) o juízo sempre tem como foco os ímpios, oferecendo vindicação aos santos.

Oferecemos, em contra partida, argumentos publicados pelo mesmo autor, mostrando que (1) assim como haverá uma investigação da vida dos ímpios antes da segunda ressurreição, também o mesmo ocorrerá com os justos antes da primeira ressurreição; (2) a cena de Daniel 7:9-10 faz um paralelo com Daniel 8:14, envolvendo a lei e o juízo, e que portanto trata do juízo dos santos; (3) “purificado” é a melhor tradução para Daniel 8:14, já que esse termo se molda melhor ao contexto do grande conflito entre Deus e Satanás encontrado no livro de Daniel; e (4) o Dia da Expiação faz parte das festas que se cumprem logo antes da segunda vinda, portanto o ministério sacerdotal de Cristo no Santíssimo ocorre no fim dos tempos, e não no começo da era cristã.

Ford não se limita a mudar sua opinião quanto ao que a Bíblia fala sobre os temas acima mencionados, mas crítica também o dom profético manifestado em Ellen G. White. Para ele, Ellen White possui um grau de revelação menor do que a Bíblia. Ela deveria ser interpretada como oferecendo admoestações pastorais, para fins práticos. Desta forma, ela não teria autoridade doutrinária. Não encontramos muitas citações de Ford sobre Ellen White, já que esta não era sua área de conhecimento. Oferecemos, no entanto, uma citação de Ford argumentando que revelação posterior não deixa de ser tão importante quanto a anterior. Portanto, Ellen G. White não teria um grau de revelação inferior ao da Bíblia. Podemos perceber também o uso inconsistente que ele faz de Ellen White em Daniel 8:14. Quando suas interpretações vão de encontro com as de Ellen White, ele alega que ela “incorporou os erros de sua época”, mas quando ambos supostamente concordam quanto ao princípio apotelesmático, então ela é inspirada.

O presente estudo demonstra que muitos dos argumentos apresentados por Ford contra a interpretação tradicional da Igreja Adventista do Sétimo Dia, relevante às profecias de Daniel, o santuário, o juízo investigativo e o dom profético de Ellen G. White podem ser revogados pelos próprios argumentos usados por Desmond Ford, tempos antes, ao defender a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Essa mudança de opinião ocorreu como consequência à sua compreensão de justificação pela fé. Como justificação, para ele, é forense, não há necessidade de um juízo investigativo, já que o fiel é automaticamente salvo no momento da conversão. Dessa forma, sua mudança de compreensão não foi repentina, mas contínua ao longo dos anos, apesar de nem sempre evidente.

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FONTE: TCC Bacharel em Teologia de Glauber S. Araújo 2006, pelo UNASP, e publicado na Revista Kerigma, Ano 3, Nº 1. 1º Semestre 2007.

  

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