Teologia

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

176 ANOS DA CHEGADA DO JUÍZO DIVINO


 Ricardo André

Hoje é um dia histórico para a Igreja Adventista do Sétimo Dia em todo o mundo – o Dia do Desapontamento de 22 de outubro de 1844. Ao levantar nesta manhã fiquei refletindo sobre aquele dia tão marcante e triste para nossos irmãos mileritas. Guilherme Miller (1782-1849), um agricultor, converteu-se à Igreja Batista e começou a estudar intensamente a Bíblia. Utilizando uma Bíblia e um material de estudo de textos bíblicos conhecido como Concordância de Cruden, conclui que o Santuário descrito na profecia de Daniel 8:14 referia-se à Terra e a purificação do mesmo ao retorno de Jesus. Fazendo uso de um método de interpretação de profecias bíblicas conhecido como princípio dia-ano (Números 14:34; Ezequiel 4:6), concluiu, depois de 16 anos de estudo das profecias (1816-1832) que as "2300 tardes e manhãs" referidas, iniciavam-se em 457 a.C e se cumpriam entre março de 1843 e março de 1844. Como o fato não ocorreu (a volta de Jesus), o retorno aos estudos sobre o assunto gerou uma compreensão mais acurada. Samuel S. Snow, ministro protestante milerita, concluiu que a purificação do santuário descrita na profecia ocorreria de acordo com o calendário judaico dos caraítas em 22 de outubro de 1844.

Miller sentiu o desejo de exclamar: “Não posso expressar a alegria que encheu meu coração!” (Miller, Apology and Defence, p. 12. Citado em A Visão Apocalíptica e a Neutralização do Adventismo, p. 33). Durante 14 anos Guilherme Miller pregara sua mensagem. Aproximadamente 50 mil pessoas em todos os Estados Unidos, aceitaram-na. Eles aguardavam com sinceridade a volta de Jesus. Todos acreditavam que finalmente havia chegado a hora da vinda do Salvador a este mundo, para terminar a triste história do pecado. A esperança daqueles crentes era tão forte que a própria morte não tinha poder sobre eles. Ellen G. White afirmou: “As alegrias da salvação nos eram mais necessárias do que a comida e a bebida. Se as nuvens nos obscureciam o espírito, não ousávamos repousar ou dormir antes que fossem varridas pela certeza de que éramos aceitos pelo Senhor” (Vida e Ensinos, p. 53).

Haviam feitos todos os preparativos, acertados todas as contas. Reconciliaram-se com aqueles que haviam ferido ou prejudicado. Deixaram de lado toda a rotina diária, doaram os frutos de suas terras aos amigos e anunciaram com galhardia e coragem ao mundo de seus dias que a volta de Jesus seria naquela data. Que fé maravilhosa! Que desejo ardente de ver o Senhor Jesus! Entre eles, encontrava-se a adolescente Ellen G. Harmon. A respeito desse dia de espera, ela escreveu: "Este foi o ano mais feliz de minha vida. Meu coração transbordava de alegre expectativa" (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 54). O dia tão esperado chegara. Não havia dúvidas. As últimas horas haviam sido gastas em fervorosa oração e reestudo da Bíblia, para confirmação das datas anunciadas na profecia. O dia era este, sem dúvida. O dia tão esperado; o dia da segunda vinda de Jesus Cristo, mas na data nada ocorreu, gerando O Grande Desapontamento e muita tristeza.

C. M. Maxwell narra a intensa expectativa entre eles: “As sombras do acaso estendiam-se serena e friamente por toda a terra. As horas da noite passavam vagarosamente. Em desconsolados lares de mileritas, os relógios assinalaram doze horas da meia-noite – 22 de outubro havia terminado. Jesus não viera. Ele não voltara!” (História do Adventismo, p. 34).

Será que temos uma compreensão clara do que passaram aqueles primeiros “adventistas”? Compreendemos o significado da dor e da decepção que sofreram? Já pensamos o que significa caírem por terra todos os seus sonhos e a esperança da volta de Cristo desvanecer-se com o amanhecer do dia 23 de outubro, ao invés de raiar uma nova vida para os filhos de Deus? Foi um golpe terrível para os antepassados e pioneiros do Adventistimo. Aquela multidão de homens e mulheres pregava uma mensagem clara e inequívoca: Jesus voltará no dia 22 de outubro de 1844! É difícil compreender o grande drama experimentado pelos pioneiros naquela época.

Depois da experiência do desapontamento, enquanto a maioria dos Milleritas acabaram por desanimar, vários grupos continuaram estudando a Bíblia e constataram que a profecia de Daniel 8:14, sobre os 2.300 dias-anos, deveria realmente cumprir-se naquela data. Contudo, o acontecimento foi interpretado de forma equivocada. Eles compreenderam que a profecia não tratava da volta de Cristo e sim de eventos celestiais relatados no livro de Hebreus. Um desses grupos foi liderado pelo capitão aposentado José Bates e pelo casal Tiago White e Ellen G. White. Depois de reexaminarem as profecias, esse grupo compreendeu que havia um santuário real no Céu (Hb 8:1-5; Ap 11:19) e que a “purificação do santuário” de Daniel 8:14 não tinha nada ver com a Terra, mas com o Santuário Celestial, do qual o santuário terrestre era cópia ou tipo, e que, ao invés de Jesus voltar nessa data, Ele entrou como nosso Sumo Sacerdote no segundo compartimento do Santuário celestial, o Santo dos Santos, para iniciar o juízo investigativo predito na profecia de Apocalipse 14:6 e 7, e antes prefigurado no ritual do Dia da Expiação do santuário terrestre (Lv 16).

“Levítico 16 trata de um ritual de “purificação” do santuário israelita, incluindo a “purificação” (taher) de seu altar externo (v. 19), mediante as aplicações do sangue sacrifical pelo sumo sacerdote. Essa remoção de pecados e impurezas no comando central terreno de Deus representa a restauração ou a justificação do Seu santuário. O governo de Deus só é vindicado quando ele reconfirma as pessoas leais a quem já perdoou ao longo do ano (ver Lv 4-5) e quando rejeita aqueles que cometeram “transgressão” (Lv 16:16). [...] Depois de uma primeira fase de expiação, na qual Deus perdoava os israelita arrependidos que levavam ao santuário os sacrifícios durante todo o ano (Lv 4:20, 26, 31, 35; etc.), ocorria o Dia da expiação, que era uma espécie de segunda e última fase de expiação. Essa segunda fase purificava o santuário dos pecados do povo, representando o fato de que Deus como juiz foi vindicado, isentado da responsabilidade judicial na qual havia incorrido por perdoar pessoas culpadas (ver 2Sm 14:9), atitude que um juiz justo não adota (Dt 25:1; 1 Rs 8:32). O supremo sacrifício de Cristo, para o qual apontavam os sacrifícios de animais ao longo do ano e no Dia da Expiação, torna possível que Deus seja ao mesmo tempo justo e justificador (mediante o perdão) daqueles que creem (Rm 3:26). (Roy E. Gane. “O Que é a ‘Purificação do Santuário’ de Daniel 8:14?”, Interpretando as Escrituras. Tatuí, SP: CPB, 2019, p. 213.

Portanto, estamos vivendo no antitípico Dia da Expiação, em que Cristo, como nosso Sumo Sacerdote, entrou no Lugar Santo dos Santos ou santíssimo, em 1844, para realizar a segunda e última fase de Sua obra de expiação (purificação) dos pecados do seu povo registrados nos livros no Céu (Hb 8:1, 2; 7:25). “Quando, portanto, se ouve um adventista dizer, ou se lê na literatura adventista, mesmo nos escritos de Ellen G. White, que Cristo está fazendo expiação agora, deve-se compreender que queremos dizer que Cristo está agora fazendo aplicação dos benefícios da expiação sacrifical que efetuou na cruz; que está tornando eficaz para nós individualmente, conforme nossas necessidades e petições” (Questões sobre Doutrina. “Expiação Sacrifical Provida e Aplicada”. Tatuí, SP: CPB, 2009, p. 260).

Aqueles crentes entenderam que essa era uma parte importante do plano de salvação. A partir disso, no devido tempo, surgiu um grande movimento religioso mundial: A Igreja Adventista do Sétimo Dia. Esta recebeu uma grande missão: Anunciar a última mensagem de salvação a todo mundo. Ultrapassar os limites territoriais, culturais e linguísticos para alcançar toda a população da Terra, apresentando a tríplice Mensagem Angélica descrita em Ap 14:6-12, e chamar a atenção do mundo para o juízo e Sua segunda vinda. Para isso fundaram-se instituições médicas e educacionais em muitas parte do Globo. Foram erigidas igrejas, escolas, hospitais e casas publicadoras para ajudar a levar o evangelho eterno a toda não, tribo, língua e povo. Essa Igreja encara com seriedade a ordem: “Importa que profetizes novamente” (Ap 10:11).

Ellen G. White, co-fundadora da Igreja Adventista, afirmou: “Em sentido especial foram os adventistas do sétimo dia postos no mundo como atalaias e portadores de luz. A eles foi confiada a última mensagem de advertência a um mundo a perecer. Sobre eles incide maravilhosa luz da Palavra de Deus. Confiou-se-lhes uma obra da mais solene importância. (...) Não devem eles permitir que nenhuma outra coisa lhes absorva a atenção” (Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 288).

Seis semanas depois do desapontamento de 22 de outubro de 1844, Guilherme Miller escreveu muitas linhas que ainda guiam minha jornada como fiel adventista. Ele escreveu: "Tenho fixado minha mente em outro tempo, e pretendo permanecer aqui até que Deus me conceda mais luz - para hoje, hoje e hoje, até que Ele venha e eu possa ver Aquele por quem minha alma tanto anseia" (The Midnight Cry, 5 de dezembro de 1844, p. 180. In: Revista Adventista, Outubro 2019, p. 19).

Hoje completamos 176 anos desse dia do Desapontamento. Com base nos capítulos 7 a 9 de Daniel, temos anunciado que o juízo investigativo que precede a segunda vinda de Cristo começou em 1844 e será concluído pouco antes desse glorioso evento. “Esse juízo procura essencialmente vindicar o povo de Deus, conforme se vê em Daniel 7, onde os santos são julgados e absolvidos. O povo de Deus permanece num atitude de completa dependência de Deus nas circunstâncias mais angustiosas. Os registros de sua vida são examinados e seus pecados, apagados; ao mesmo tempo, o nome dos falsos crentes é retirado dos livros (cf. Êx 34:33; Lv 23:29, 39). Aqueles cujo nome é conservado nos livros, inclusive os santos mortos, herdam o reino (Dn 7:22; 12:1, 2). Assim o santuário é purificado.” (Ângel M. Rodriguez, “O Santuário”, Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: CPB, 2011, p. 455, 456).

Quando essa obra investigativa terminar, é proferida a sentença de juízo. Então, Jesus virá como justo juiz para executar a sentença. Caro amigo leitor, continuemos a aguardar a volta de Jesus. Ele virá! Que possamos ouvir dos lábios do Mestre as boas-vindas para a eterna Pátria celestial.

Oremos para que o Senhor volte dentro em breve!

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