Você já imaginou se suas orações não passassem de apenas um diálogo consigo mesmo, uma projeção de suas vontades e desejos, uma invenção de sua imaginação febril? Você já pensou se orar fosse um ato irracional e ridículo, pois Deus conhece tudo? Você fica frustrado quando vê que suas orações não são respondidas? Você já se sentiu insatisfeito com Deus porque Ele não atendeu aos seus pedidos?
Essas e outras
perguntas surgem em nossa mente quando refletimos sobre o mistério da oração.
E, a menos que entendamos o que a Palavra de Deus diz a respeito disso, essas
perguntas não terão respostas.
Que tragédia seria
passar pela vida sem qualquer indicação de por que seguimos por um caminho ou
para onde o caminho nos leva! A jornada da vida já é válida por si mesma. No
entanto, essa jornada tem um significado! As Santas Escrituras nos ensinam
sobre a relação que existe entre o ato de orar e o significado da vida.
ORAÇÃO:
O CHAMADO E A RESPOSTA
A Bíblia nos ensina que
orar é uma resposta inspirada da criatura para com o chamado e as promessas do
Criador. “E desse mesmo modo – pela nossa fé – o Espírito Santo nos ajuda em
nossos problemas diários e em nossas orações. Nem mesmo sabemos por quais
devemos orar, nem orar como devemos; o Espírito Santo, porém, ora por nós com
tal sentimento que não pode ser expresso em palavras” (Romanos 8:26 – Bíblia
Viva). O que significa “resposta inspirada”? Será que Deus chama e também
responde? De que maneira a oração pode ser um chamado e uma resposta ao mesmo
tempo?
Para responder a essa
pergunta, vamos voltar à origem da humanidade. O livro de Gênesis nos diz que,
depois da queda, Adão e Eva foram dominados pelo medo e se esconderam da
presença de Deus – pelo menos eles achavam que podiam se esconder. O Criador,
porém, seguia os passos de Suas criaturas. Ele os buscou onde estavam: “Mas o
Senhor Deus chamou o homem, perguntando: ‘Onde está você?’” (Gênesis 3:9). Deus
pro- curou estar mais próximo da humanidade. Foi Ele que pronunciou a primeira
palavra na consciência de Adão e Eva. Ele “chamou Adão”. E Adão respondeu:
“Ouvi Teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso me
escondi” (verso 10).
Foi o chamado de Deus e
a respostas a esse chamado que tornou possível a primeira conversa entre o
Criador e a criatura após a queda. Mas, nessa conversa, não temos ainda uma
oração, nem mesmo em sua forma embrionária. Por quê? Por causa da atitude de
Adão: ele fugiu de Deus e estava com medo. Ele reconheceu sua situação e
respondeu ao chamado de Deus. Contudo, essa não era uma forma de resposta que
inicia um relacionamento com Deus.
Esse, porém, não foi o
fim do encontro: a resposta de Adão não foi um impedimento para Deus; ao
contrário, fez com que Deus respondesse com amor, para dar a ele uma solução ao
seu problema. Qual foi a resposta divina para a nudez da humanidade
representada pelo primeiro casal? A Bíblia assim nos diz: “O Senhor Deus fez
roupas de pele e com elas vestiu Adão e sua mulher” (Gênesis 3:21).
Assim, desde o
princípio, as Escrituras nos dizem três coisas sobre o nosso relacionamento com
Deus: Primeiro, começa com um chamado amoroso de Deus a nós, pois o
relacionamento é, fundamentalmente, um anseio divino. Em segundo lugar, As
Escrituras nos dizem que nossa tendência natural é fugir de Deus. Adão
respondeu: “Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por
isso me escondi.” Ficar com medo de Deus é o nosso pior inimigo! Terceiro, Deus
é o Único que oferece as respostas para os nossos temores, os quais nos fazem
fugir da vida. Deus satisfaz à nossa necessidade de nos sentirmos protegidos,
afastando de nós vergonha de nos sentirmos nus.
A oração inicia o
relacionamento com Deus. Ela é tanto o chamado que Deus faz ao nosso coração,
como a resposta às nossas mais profundas necessidades humanas. É também a nossa
resposta, inspirada por Deus, e o chamado que inspirou essa resposta. A oração
verdadeira é uma busca e uma resposta divina em nosso coração. Em cada coração
humano! Tendo em vista que a oração não é uma questão confessional, não é
também a herança de qualquer tradição religiosa. Você não precisa ser judeu,
cristão, hindu, muçulmano, xintoísta ou budista para receber o chamado de Deus
em sua consciência e responder a ele da maneira apropriada. O chamado está lá,
no profundo do ser, em cada pessoa. Está em nossa consciência porque somos
criaturas humanas. Está também no ateu que, ao negar a Deus, pronuncia o Seu
nome. Deus é a origem da nossa existência, e a oração é o chamado e a resposta
que dá significado à vida.
O chamado de Deus está
no profundo do nosso ser, mas como uma verdade que podemos ignorar, como um
chamado que também podemos ignorar. A verdade de Deus não é “algo” que deva ser
“lembrado” e trazido à luz pelo simples raciocínio. A verdade de Deus é um
chamado sempre presente, que pode ser rejeitado (ver Hebreus 3:15).
Portanto, a oração é,
antes de tudo, a expressão de um sentimento de amor. É o primeiro apelo de Deus
à humanidade. E é também a resposta humana inspirada pelo Espírito Santo que
corresponde a esse sentimento com outro sentimento de amor.
Assim, se na oração,
tudo vem de Deus, qual é a participação humana? O que dizer a respeito das
orações de súplica e de confissão?
SILÊNCIO
PERANTE DEUS
O livro de Salmos nos
ajuda a entender o profundo significado da oração e a responder à questão da
função humana na oração. Ele nos auxilia a entender em que consiste o ato da
oração e como invocar a presença de Deus no coração. No Salmo 37:7, Davi nos
diz: “Descanse no Senhor e aguarde por Ele com paciência”. E o Salmo 46:10
(ARA) nos reafirma esse sentimento: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus.”
“Aquietai-vos” é um chamado para ficarmos em silêncio e nos voltarmos para Deus
como a Fonte de todas as respostas. O silêncio diante de Deus coloca em nossas
mãos o doce fruto da esperança, pois nos oferece a oportunidade de entrar em um
relacionamento de confiança com o Criador, de conhecê-Lo verdadeiramente. Ellen
White assim escreveu: “Precisamos ouvir individualmente Sua voz a nos falar ao
coração. Quando todas as outras vozes silenciam e em sossego esperamos perante
Ele, o silêncio da alma torna mais distinta a voz de Deus, Ele nos manda:
‘Aquietai-vos, e sabei que Eu Sou Deus’ (Salmo 46:10). Somente assim se pode
encontrar o verdadeiro descanso. E é essa a preparação eficaz para todo trabalho
que se faz para Deus. Por entre a turba apressada e a tensão das febris
atividades da vida, a alma que assim se refrigera será circundada por uma
atmosfera de luz e paz. A vida exalará fragrância, e há de revelar um divino
poder que atinge o coração dos homens.”
A oração começa com o
silêncio, não com nossas palavras. Não com nossos desejos e necessidades.
Devemos fazer silenciar nossos desejos e necessidades para começar a ouvir
Deus. O importante não é pedir o que pensamos que necessitamos ou desejamos,
mas pedir clareza para captar o que nossa razão não pode compreender e o que
nossa mente finita não consegue alcançar – mais precisamente, a presença da luz
de Deus em nossa vida (ver João 8:12).
A vida requer que
constantemente façamos decisões, e nós buscamos a Deus para obter as respostas.
Algumas vezes, em meio ao desespero! E muitas vezes nós não as encontramos
porque exigimos muito de nosso raciocínio limitado. Não deveríamos pensar em
como explicar nossos desejos a Deus ou fazer com que Ele entenda as nossas
orações, pois, mesmo que deixe- mos de apresentar todos os nossos desejos a Ele
e nos conformemos com as nossas dores e problemas, ainda assim, não
conseguiremos conhecer a Deus. Portanto, vamos primeiramente pedir humildade a
Deus para que a Sua presença possa ser sentida em nosso coração! Essa presença
divina destrói o que está represado em nossa mente e nos traz paz e lucidez!
Esse momento da eternidade em nosso coração é o que Jesus prometeu quando
afirmou: “Eu sou a luz do mundo. Quem Me segue, nunca andará em trevas, mas
terá a luz da vida” (João 8:12). Debaixo dessa luz, nossas decisões serão
sábias, e o tempo vai confirmar isso.
Portanto, não se trata
de Deus satisfazer os nossos desejos ou de atender aos nossos pedidos, mas de
que Ele Se torna evidente no profundo do nosso ser! Essa luz está presente na
oração correta, que não dá, nem pede explicação de nada, mas que suplica para
que Deus Se explique através de nós!
Quer isso dizer que não
devemos pedir a Deus por necessidades específicas? De modo nenhum. Isso
significa que nEle está a origem de tudo o que necessitamos ou pedimos! Deus
tem diante dEle todos os nossos desejos. Sem a luz de Deus, não sabemos o que
pedir, nem compreendemos nossas verdadeiras necessidades (ver Romanos 8:26). A
promessa é certa e segura: “O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês,
de acordo com as Suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” (Filipenses 4:19 –
itálico acrescentado).
A
ENCARNAÇÃO E A ORAÇÃO
Se a oração representa
um relacionamento entre o Criador e a criatura humana, como esse tipo de
relacionamento é expresso na vida? Como Deus conhece os anseios mais profundos
do coração do crente que ora?
A chama da oração não é
consumida na alma daquele que ora. Orar não somente faz com que estejamos
abertos para Deus, como também para aqueles que estão ao nosso redor. A oração
não é um solilóquio, isto é, ela não é um diálogo consigo mesmo, com um objeto
ou com um ser incapaz de falar. Não se trata de conversar com uma planta ou um
animal para expressar os sentimentos em meio à solidão. O ato de orar encontra
sua expressão máxima quando se transforma em ação, quando se torna uma obra de
amor em favor dos outros.
O amor é a expressão
divina mais sublime que há no mundo. A verdadeira oração sai do coração como
uma flecha atirada em direção a Deus e que se dirige ao coração do próximo. Não
é essa a maior manifestação da presença de Deus entre os seres humanos? Quem
mais, a não ser Deus, pode nos impelir a nos movermos para fora de nós mesmos e
irmos em busca do que é bom para os outros? Somente o Criador, em cuja imagem e
semelhança fomos criados, Esse mesmo Ser, que é o Originador da nossa própria
existência, pode nos impelir a ajudar nossos semelhantes.
Desse modo, concluímos
que o amor, como a expressão mais sublime e concreta de uma oração, c,
consequentemente, entre a oração e o significado da vida.
*Ricardo
Bentancur, PhD pela Universidade Nacional de Córdoba,
Argentina, é pastor e atua como diretor de Publicações Internacionais na
Pacific Press Publishing Association, Nampa, Idaho, EUA.
NOTAS
E REFERÊNCIAS
https://www.the-philosophy.com/plato-theory-knowledge.
Ellen G. White, O
Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), p.
363.
Nenhum comentário:
Postar um comentário