Teologia

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

SE EU DESPERTASSE EM VEZ DE MORRER


Ricardo André

Introdução

No início do século XX, as pessoas tinham ideias bem precisas sobre o que é certo e o que é errado, o que é de boa moral e o que é imoral, o que é honroso e o que é desonroso. Porém, nos anos 1960 começou a ocorrer uma mudança: as pessoas fizeram com que o inteiro rol de ideias sobre virtude, moral, honra e ética parecesse ilógico, desumano e inaceitável. As ideias que passaram a predominar exaltavam o individualismo e o relativismo moral. Defendiam o conceito de cada um viver segundo alvos determinados por si mesmo. Segundo essa filosofia, é proibido proibir. Não existem princípios de moral absolutos – tudo é relativo. “O que é errado para você pode ser certo para outro”, afirmam os relativistas. Outros dizem: “Faça o que bem quiser, e eu também farei isso. Que cada um faça o que lhe agrada. Existem muitas maneiras de agir, e todas elas são certas, nada é errado”.

Hoje a sociedade enfrenta um vácuo de valores. Está fragmentada por variados estilos de vida. Uma vez que o indicador moral de cada um aponta para quase toda a direção, as pessoas do nosso século não hesitam em validar praticamente qualquer tipo de comportamento como aceitável. E é por isso que a violência é uma forma de liberdade de expressão, prega-se o sexo livre e a obscenidade é vista como arte.

O vírus que contamina os valores espalhou-se por todos os setores da sociedade. Lamentavelmente, os valores estão invertidos nesta Terra e poucos tem se apercebido deste fato. Cultua-se a imoralidade, o viver dissoluto, o vício, e não se dá crédito às pessoas de viver sadio e puro! Existe tanto escárnio do que é correto, que os honestos procuram ficar no anonimato. Como dizia o grande jurista baiano Rui Barbosa: “Os homens bons têm vergonha de ser honestos”. As pessoas valem pelo que tem e não pelo que são. Valoriza-se a roupa e não aquele que o veste! O exterior é valorizado, esquecendo-se que Deus olha para o interior do coração (I Sm 16:7). As Sagradas Escrituras advertem: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo” (Isaías 5:20, NVI). Essa mistura do bem com o mal, essa mescla do doce com o amargo, está confundindo, desnorteando, pervertendo à crentes e incrédulos, misturando o santo com o profano, produzindo pecado e morte.

As consequências desastrosas da filosofia relativista

Eis aqui algumas consequências desastrosas desta filosofia:

1) Os políticos (não todos) compram votos dos eleitores, trapaceiam e praticam corrupção.
2) Os pregadores da Palavra de Deus traem a esposa.
3) Milhões de pessoas destroem a si mesmo e a outros pelas devastações causadas pelas drogas e pelo crime.
4) Estudos apontam que 50% dos casamentos terminam em divórcio.
5) 22% de todos os filhos que nascem hoje, nascem fora do casamento, e um terço de todos os filhos morarão com o padrasto ou a madrasta antes de chegarem aos 18 anos. Muitos não sabem quem são seus pais biológicos. É evidente que a dissolução da família é maciça.

Essa formação desordenada, de tudo em todos, cria duas tremendas realidades: O mundo desorientado e a igreja de Deus conturbada e adormecida.

O mundo desorientado

São sete fontes que alimentam o mundo desorientado. Vejamos:

1) Prazer sem consciência – Se eu me divirto, que me importa o sacrifício de terceiros?
2) Riqueza sem trabalho – Eu vou trabalhar a vida inteira e não vou juntar um milhão de reais, posso arranjar isso em fraudes, roubos, tráficos de drogas, entre outros.
3) Política sem princípios – A maioria dos políticos se elegem prometendo honestidade no trato com a coisa pública, quando ganham roubam os recursos públicos ou se envolvem em outras práticas corruptas. Até nos setores religiosos isso acontece. Diversos líderes religiosos no Brasil se utilizam da religião para obter lucro, explorando a fé alheia. Enriqueceram-se à custa dos símplices do Evangelho (2 Pe 2:3). Esses pastores acumularam, com a facilidade, verdadeiras fortunas. E com elas construíram verdadeiros impérios da Comunicação, ao comprarem rádios, jornais e TVs. Há um claro interesse comercial, uma rede de negócios, que envolve meios de comunicação, gravadoras, editoras, shows, viagens turísticas, empreendimentos imobiliários, franquias e muito mais. As “campanhas”, “correntes”, dízimos e ofertas doados pelos fiéis, bem como a vendas de uma infinidade de materiais “sagrados” fazem com que essas igrejas neo-pentecostais sejam negócios altamente lucrativos, e seus líderes, milionários. É a chamada "indústria da fé".
4) Educação sem caráter – Quanto mais cultos maiores criminosos.
5) Comércio sem moralidade – Muitos lojistas fazem falsas promoções para atrair clientes ou cobram valores exorbitantes em suas mercadores. Para eles quanto mais, melhor, não importa quem está pagando. E, que vença a ganância!
6) Religião sem sacrifício – Muitos dizem: Eu só entro numa religião que pode tudo, que não me prive da liberdade, que pode usar joias, mini saias, decotes, que pode ir as festas, que respeite meu estilo de vida. É o homem determinando as bases do cristianismo que deseja praticar. Um cristianismo enfermo. É lamentável.
7) Concepção errônea de Deus – Segundo os deístas Deus existe, criou tudo e desapareceu tornando-se um eterno ausente. Ele vive tão longe do planeta Terra e é tão transcendente que a Terra e suas criaturas precisam arranjar-se por si mesmas; há a teoria de que Deus é uma energia, uma emanação, uma influência que está em tudo e em todos. É o panteísmo. Há ainda as versões mais esdrúxulas e esquisitas da divindade, que muitas vezes os pais transmitem aos seus filhos.

Joãozinho era um desses garotos vítima do deus da sua mãe, que como boa católica acreditava no inferno como lugar onde Deus diariamente castigava os infiéis. Na hora da comida ela usava o inferno para intimidar o garoto. Aquela tarde o Joãozinho participou de uma festinha na escola e comeu alguns doces, e foi para casa. A sua mãe que havia preparado uma boa sopa que queria que ele tomasse bastante sopa. Não sendo possível, pois havia comido doce na escola, não queria revelar a mãe. A situação se complicou. Então a mãe fez a sua ameaça; “Se você não tomar, um dia Deus vai pôr você no inferno, porque você está desobedecendo a sua mãe”. Diante disso, Joãozinho comeu um pouquinho da janta. A mãe disse: “Agora vá para o seu quarto”. Por coincidência o céu naquela noite ficou muito escuro, e fortes trovões e fulminantes relâmpagos iluminavam e barulhentavam o céu. Joãozinho se lembrou das palavras da mãe: Deus não gosta de crianças como você, desobedientes”. Resolveu abrir a janela no exato momento quando depois do ribombar dos trovões um relâmpago iluminou toda a vila. Joãozinho fechou a janela e acrescentou: “Tudo isso, meu Deus, por causa de um prato de sopa?” Imaginou que toda aquela tormenta era o irado deus de sua mãe começando a castigá-lo.

Estas sete realidades deixam o mundo desorientado. O profeta Isaías diz: “A terra seca-se e murcha, o mundo definha e murcha, definham os nobres da terra. A terra está contaminada pelos seus habitantes, porque desobedeceram às leis, violaram os decretos e quebraram a aliança eterna. Por isso a maldição consome a terra, e seu povo é culpado. Por isso os habitantes da terra são consumidos pelo fogo, ao ponto de sobrarem pouquíssimos” (Isaías 24:4-6, NVI).

A Igreja adormecida

A segunda mais dura realidade, amigos, que temos e que lamentar com profundidade é a situação interna da igreja de Deus, Igreja Remanescente, de nós mesmos como um povo que deveria ser santo.

No livro Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 387, escreve a Sra. Ellen White: “O torpor da morte apoderou-se de muitos professos cristãos”. Ela faz um apelo a cada crente que tem estado como sob influência hipnótica: “Meus irmãos e irmãs, rogo-vos, despertai do sono da morte.” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 168).

Quão triste, quão terrivelmente trágico, que a Igreja de Deus, a juventude de Deus, adormeçam em seus postos nesta hora de perigo!

Uma ampla pesquisa realizada na Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul, no dia 28 de outubro de 2018, revelou, entre outras coisas, que, a maioria dos nossos adolescentes e jovens não mantém uma comunhão diária com Deus. Eles não leem a Bíblia todos os dias, não estudam a Lição da Escola Sabatina e não oram profundamente todos os dias. Entre as pessoas de 14 a 16 anos, somente 28,2% estudam a Bíblia e na faixa etária de 17 a 30 apenas 34,2%. No que se refere ao estudo da Lição da Escola Sabatina o cenário é o mesmo: Somente 26,6% e 27,9% respectivamente nas faixas etárias mencionada acima. Com relação a oração segue o mesmo padrão encontrado no estudo da Bíblia e da Lição da Escola Sabatina. Isso é um cenário preocupante. (Revista Adventista, setembro 2019, p. 12-15).

No que se refere a importância da Palavra de Deus, o Senhor disse a Josué para não se desviar de Sua lei (Torah) nem pra direita nem pra esquerda, ou seja, não se desviar de seus propósitos, sendo inclusive esta a condição para que tudo corresse bem em sua missão. “Não deixe de falar as palavras deste Livro da Lei e de meditar nelas de dia e de noite, para que você cumpra fielmente tudo o que nele está escrito. Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido” (Js 1:7,8). Temos, portanto, nesse versículo a condição sine qua non (expressão que vem do latim e que se refere a uma ação, condição indispensável, essencial) para que as promessas de Deus se cumpram em nossa vida.

Elias era um homem de Deus, mas era um ser humano como qualquer um de nós. Depois de derrotar os 450 profetas de Baal no Monte Carmelo, ele permitiu que o medo entrasse em seu coração pois conhecia bem o coração da Rainha Jezabel e sabia do que ela era capaz. Esqueceu-se de nutrir o seu espírito no Senhor e ficou debilitado, caindo em uma profunda depressão. Sentou-se debaixo do pé de zimbro e pediu a morte. Mas Deus, vendo-o naquele estado compadeceu-se e enviou um anjo para despertá-lo, trazendo pão e água para que ele conseguisse chegar até o Monte Horebe (I Reis 19:5-8).

Da mesma forma, quando não buscamos no Senhor a renovação de nossas forças, quando deixamos de lado o pão da vida, que é a Sua Palavra, a fraqueza se instala, vem a sonolência espiritual e a morte é inevitável, por isso que Ellen White aconselhou: “Enchei o coração todo com as palavras de Deus. São elas a água viva, a mitigar vossa sede ardente. São o pão vivo do Céu. Jesus declara: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos." João 6:53. E Ele mesmo explica essa declaração, dizendo: "As palavras que Eu vos disse são espírito e vida." João 6:63. Nosso corpo é formado pelo que comemos e bebemos; e como se dá na economia natural, assim também na espiritual; é aquilo em que meditamos, que dará força e vigor à nossa natureza espiritual” (Caminho a Cristo, p. 88).

Levantamentos realizados em 2016 feitos pelo departamento de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa da sede mundial da IASD nos dão conta de que 49% membros recém-batizados deixam a igreja. Isto significa que em cada 100 membros recém-batizados 49 serão sacrificados. (Para saber mais, clique no link: http://www.revistaadventista.com.br/blog/2016/10/12/perda-de-fieis/).

Podemos perceber claramente o ciclo dos adventistas. Aceitam a mensagem adventista, é doce como mel e clara como a alva. É a pura água da vida, ensinamentos e princípios exatos, os mais ricos conhecimentos espirituais. São “o maior tesouro já confiado a mortais”, diz Ellen G. White (Eventos Finais, p. 29).

Esse novo converso em contato com essa maravilhosa luz fica encantado, e por um período de dois a três anos vive o seu primeiro amor adventista, fala para outras pessoas, realiza pregações e ajuda de toda forma a igreja caminhar, mas começa a ver tantos fósseis espirituais, mortos em ofensas e pecados, que esse fervoroso irmão, essa estrelinha brilhante, começa a esvaecer, e com mais dois anos anestesiado, adormece ou morre também. É mais uma múmia espiritual.

Enquanto um mundo perece, os adventistas estão dormindo. O mundanismo penetra pelos quatro cantos do arraial dos que se intitulam remanescentes; o espírito dos pioneiros desaparece de modo melancólico; a intemperança campeia solta; o apego as coisas materiais impede o engajamento de recursos financeiros na finalização da Obra; as reuniões de domingo e quarta-feira se tornam desérticos, a quantidade de braços cruzados aumenta assustadoramente. A mensagem do apóstolo Paulo é especialmente para esse povo que dorme: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti" (Efésios 5:14, NVI).

O apóstolo Paulo diz por que precisamos despertar de nosso sono espiritual: “Façam isso, compreendendo o tempo em que vivemos. Chegou a hora de vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos” (Romanos 13:11, NVI).

Urge entre o povo de Deus acontecer o despertamento profetizado. Somos uma poderosa árvore carregadíssima de frutos de todas as espécies, mas não nos esqueçamos que a profecia aponta a sacudidura o vendaval dos mais angustiantes. Ventos soprarão sobre essa frondosa e carregada árvore: vai cair muitas folhas secas e considerável número de frutos mortos. Eu me pergunto: Que tipo de fruto sou e represento? Eu lhe pergunto: Que qualidade de obras você faz e representa? Somos um “cheiro de vida para a vida” ou “cheiro de morte para a morte”? (2 Co 2:16).

Nos EUA viveu uma senhora chamada Elsie Brandon. Tinha uma doença do coração, que era incurável. Os prognósticos não eram bons. Segundo o médico, ela tinha apenas seis meses de vida. Ela tinha muita dificuldade para andar, e suas pernas e pés davam trabalho.

Seis meses para viver! Depois de uma reflexão cuidadosa, com oração, a irmão decidiu que com a graça de Deus os seis meses seriam muito proveitosos. Seriam gastos para a Sua glória. Ela não iria simplesmente “deitar e morrer”. Cada dia que lhe restava seria dado ao Salvador, em Seu serviço.

A irmã Brandon pôs de lado qualquer pensamento sobre sua enfermidade. Ela “esqueceu suas dores”, e o que é mais importante, literalmente “esqueceu de morrer” ao final dos seis meses. Com efeito, ela viveu mais nove anos depois de findos os meses que lhe haviam sido marcados. Durante esse tempo a pequena igreja que a irmã Brandon frequentava despertou e encheu-se de ânimo. Inspirados pelo testemunho da irmã, eles saíram com ela para o trabalho. A igreja reaviveu espiritualmente e aumentou em número porque uma irmã se esqueceu de si mesma e trabalhou para Deus!

Esta desafiadora experiência fez-me pensar. Muitos de nós, como Elsie Brandon, estamos vivendo em tempo emprestado. Sua experiência nos desafia a despertar – Despertar e servir a Deus para Sua glória!

A hora vai avançada, muito avançada, muito avançada. Nosso tempo é curto, muito curto. Já não podemos dizer que vivemos na hora undécima da história deste mundo. Dificilmente podemos dizer que faltam cinco minutos para a meia-noite. Vivemos, isto sim, nos momentos finais do tempo. A vinda de Jesus está próxima, muito próxima.

Por concessão da Providência – de um amorável Pai – você e eu fomos chamados para viver e servir neste clímax da História. Que pensamento solene! Numa hora como esta devemos todos, jovens e membros adultos da igreja remanescente de Deus, despertar do sono e se empenhar com o máximo da nossa capacidade em advertir o mundo da condenação iminente – e da vinda de nosso grande Libertador.

“Desperta, tu que dormes”, é a exortação que o apóstolo nos dirige hoje. Ellen G. White nos faz o dramático apelo: “Deus chama a todos [...] para que despertem [...]. As cenas da história terrestre estão em rápido desfecho. Achamo-nos entre os perigos dos últimos dias. Maiores perigos se encontram diante de nós e ainda não estamos despertos [...]. Que direi a fim de despertar o povo remanescente de Deus? [...] [Satanás] sabe que se eles dormirem um pouco mais [...] será certa sua destruição” (Serviço Cristão, p. 81).

Caro leitor, despertemo-nos para saudar a manhã gloriosa que em breve raiará. “Oh, preparemo-nos para encontrar com nosso Senhor em paz! Os que estiverem preparados receberão em breve uma incorruptível coroa de vida, e habitarão para sempre no reino de Deus, com Cristo, com os anjos, e com os que foram redimidos pelo precioso sangue de Cristo. Uma coroa de glória... nos está reservada, a nós que esperamos, amamos e anelamos o aparecimento do Salvador” (Ellen G. White, Filhos e Filhas de Deus [MD 2005], p. 362).



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