Teologia

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

“TRAGO EM MEU CORPO AS MARCAS DE JESUS”



Ricardo André

Vivemos num mundo marcado pelo pecado, corrupção e prazeres efêmeros. Vemos com frequência nos jornais e na televisão os resultados daqueles que entregam sua vida ao inimigo de nossa alma. Os quadros da guerra civil em Ruanda entre os grupos étnicos hutus e tutsis, em 1994, que causou a morte de cerca de 800 mil tutsis; a guerra em Sarajevo ocorrida entre 1992 e 1995 pela independência da Bósnia. Que deixou um saldo de milhares de mortos (as estimativas falam de 100.000 a 200.000 mortos). O conflito também ficou marcado pelo processo de limpeza étnica promovido pelas forças sérvio-bósnias contra a população bosníaca (bósnio-muçulmanos); e mais recentemente os ataques terroristas nos EUA, em 11 de setembro de 2001, coordenados pela Al Qaeda, matando quase três mil pessoas, estão indelevelmente gravados em nossa mente. Crianças desnutridas com rostos emaciados; o choro dos que perdem seus entes queridos, vítima da violência e do crime; o semblante dos dependentes químicos e bandidos carcomidos pela droga e vícios do mundo; os corpos cadavéricos dos contaminados pelo vírus da AIDS – são todas marcas do mundo.

Mas, o apóstolo Paulo, um dos gigantes do cristianismo nos fala de outras marcas: as marcas de Jesus. Ele afirmou: “Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gálatas 6:17, NVI). No tempo do grande apóstolo um escravo era frequentemente marcado com um sinal (como os animais) do seu senhor, ou identificado com alguma cicatriz específica indicando a quem ele pertencia. Paulo era um escravo de Cristo, inteiramente submisso à vontade de Seu Mestre. Havia, no entanto, uma grande diferença em sua vida... era uma sujeição de amor e também de liberdade em Cristo Jesus. Ele se refere às marcas sofridas pelo Mestre quando perseguido.

O que são as “marcas de Jesus”?

A palavra ‘marcas’ constitui a tradução do vocábulo grego stigmata, da qual se deriva a palavra estigma em português. “Por ‘marcas do Senhor Jesus’ Paulo se refere às cicatrizes deixadas em seu corpo causadas pela perseguição e pelo sofrimento (ver 2 Co 4:10; 11:24-27)” (Comentário Bíblico Adventista, v. 6, p. 1096). Ele revelava em seu corpo o estigma, a marca das grandes lutas e privações sofridas pelo Mestre. Ele não era mais jovem. Seu corpo estava enrugado, encurvado, as mãos trêmulas, tinha cicatrizes da surra que levou em Filipos, do apedrejamento de Listra, do naufrágio de Melito; tudo isto lhe havia roubado do corpo a beleza e o vigor que possuía quando estava aos pés de Gamaliel. Paulo estava marcado por toda vida. Essas cicatrizes de guerra, ele chamava de “marcas” do Senhor Jesus. Havia recebido 5 vezes 39 açoites, 3 vezes foi ferido com paus, foi preso e apedrejado, sofreu muitas doenças, naufrágio e outros perigos de morte.

Os ferimentos que seus perseguidores lhe infligiram e as cicatrizes que ficavam, estas eram as marcas de Jesus. É possível que nesse texto, ele estivesse afirmando que a perseguição e não a circuncisão era a autêntica marca cristã.

Paulo, ao abraçar a fé de Jesus, decidiu lutar contra tudo e contra todos, mas ser fiel ao seu Mestre fundamentado no amor repleto de obediência e na certeza de um futuro glorioso, sofreu como poucos já sofreram, tornou-se, enfim, um “espetáculo para o mundo” (Fp 2:15). Mas teve a capacidade de declarar: “Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gálatas 6:17, NVI). Marcas do Senhor Jesus! É isso mesmo! Aceitar a Jesus, seguir Seus planos, Seus caminhos traz marcas. Depois de ser de Jesus você não é mais seu, você foi comprado (1 Co 6:19 e 20) e leva as marcas de quem um dia lhe adquiriu com muita dor, com morte até. São marcas do amor, da conversão, da humildade, da obediência, da consagração. Precisamos ter essas marcas. É a nossa identificação com Cristo. Que marcas o mundo vê em você? Jesus mesmo disse: “Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24, NVI).

“Tomar a cruz de Cristo” refere-se a morte – a morte do eu-próprio, a morte dos desejos e ambições egoístas para que Jesus possa ser Senhor de nossas vidas (Gl 2:20). Tomar a cruz significa desentronizar o eu. Não é procurando o sofrimento, mas é vivendo tão-somente para Cristo ao ponto de se enfrentar as consequências. No passado o criminoso romano carregava a cruz para o lugar de execução. O crente salvo por Cristo carrega consigo a mesma cruz: a renúncia de si mesmo para servir unicamente a Cristo, mesmo até a morte.

Estêfano era um converso à mensagem do advento no Congo. Era operário, e logo surgiu o problema do sábado. Estefano explicou cuidadosamente ao seu chefe porque não trabalhava no sétimo dia da semana.

O chefe de Estêfano mostrou-se condescendente. Havia um pormenor que reclamava atenção. Eles mantinham uma lista, na qual se anotava, mediante um sinal convencionado, o motivo porque algum trabalhador estava ausente do trabalho. Se por doença, o sinal era um, se com permissão cuidar de alguma coisa pessoal, o sinal era outro.

A ausência de Estêfano por motivo religioso deixou-os perplexos, pois não sabiam que sinal deviam pôr diante do seu nome na lista de ausência. O chefe de Estêfano meditou um momento, e então seu rosto se iluminou.

- Coloquem uma cruz diante do seu nome – ele ordenou – pois Estêfano é um homem da cruz!

Um homem da cruz! Que belo tributo! Eis aqui um título que cada filho de Deus devia cobiçar! Nosso Salvador torna claro que precisamos ser todos homens e mulheres da cruz – pessoas que como Estêfano, colocaram a Cristo, Sua vontade, Sua cruz, acima de qualquer outra consideração, como afirmou Jesus: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24, NVI). Nessas palavras Jesus torna claro que há uma íntima relação entre negar o eu, assumir a cruz e seguir o Senhor. Não traremos as marcas de Jesus, as marcas da cruz, a menos que o eu tenha sido tratado como deve.

Da Pena Inspirada, lemos: “A luta contra o próprio eu é a maior batalha que já foi ferida. A renúncia de nosso eu, sujeitando tudo à vontade de Deus, requer luta; mas a alma tem de submeter-se a Deus antes que possa ser renovada em santidade” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 43). A maior batalha que cumpre ao cristão travar em sua vida, não é o de permanecer fiel quando tentado a trabalhar no sábado do Senhor, mas sim, a batalha contra o eu. Ganhando a esta batalha, Estefano não teve problema quanto à guarda do sábado. Ele fizera de Jesus o primeiro em sua vida.

Da mesma forma que a cruz de Cristo deixou suas cicatrizes no corpo de Cristo, os sofrimentos de Paulo deixaram-lhe também marcas indeléveis. Estas cicatrizes que lhes lembravam as agressões sofridas por causa do evangelho, ele as exibia com honra e alegria, porque eram evidências de que ele pertencia a Jesus.

Ao contrário do sinal da circuncisão de que tanto se orgulhavam os judeus, as cicatrizes a que o evangelista das nações aludiu, eram o resultado de sua escolha voluntária, tomada após madura reflexão, não para cumprir uma tradição ou um requisito da lei, mas para satisfazer os anseios de um coração rendido a Cristo. Elas simbolizavam sua liberdade, pois embora fosse “escravo” de Cristo, sentia-se emancipado das tradições que se inspiravam na escola judaica.

Os homens preferem medalhas e não cicatrizes

A nossa geração tem sido marcada pela busca pelo prazer, pela fama e glória. É uma geração que preferem medalhas e não cicatrizes. Desejam alcançar a glória de um grande nome e não as marcas de Cristo.

Alex Dias, ex-diretor-executivo nacional dos atletas de Cristo, conta que nos jogos olímpicos de Los Angeles, em 1984, foi feita uma pesquisa entre os atletas, com a seguinte pergunta: “Você tomaria uma pílula que lhe desse medalha de ouro se a substância não aparecesse de jeito nenhum no antidoping, mesmo que essa pílula provocasse sua morte dentro de cinco anos?” Por incrível que pareça, 103 dos 197 entrevistados responderam “sim”. “E se a pílula desse a você a vitória, mas o matasse dentro de um ano, você ainda a tomaria?” “Sim”, disseram 99 atletas. Apenas quatro mudaram de ideia quando prazo foi reduzido de cinco para um ano. O que queriam mesmo era a vitória ali, naquele momento, porque uma medalha de ouro numa Olimpíada, significa muita fama, realização pessoal, respeito, aplausos, amigos, amores, conforto e milhões de dólares. A vida por uma medalha. Que lástima!

Já nos dias de Jesus os discípulos queriam glória e poder. Tiago e João discutiram porque queriam lugares escolhidos no Céu. Cristo respondeu que não estava oferecendo cadeiras cativas... mas sofrimentos, lutas, dificuldades, cicatrizes e marcas, sim, marcas como resultado de nossa batalha contra o pecado. O próprio Mestre sofreu duras provações, pois nasceu numa estrebaria, morreu como um criminoso, foi rejeitado pelo Seu próprio povo, pelos seus familiares e pela nação judaica.

Qual a nossa atitude?

Havia na família Taylor, na Inglaterra, dois irmãos. Um resolveu fazer para si um grande nome, dedicando seu tempo e talentos ao serviço do Parlamento inglês. Hudson, que era o mais jovem dos dois, resolveu ser missionário, e dedicou a vida ao serviço da humanidade. O mundo hoje honra e venera seu nome como fundador da Missão Interna Chinesa. Ora, sempre que se faça menção ao irmão mais velho, ele é designado como “o irmão de Hudson Taylor”.

Cristo honra os que dizem “não” à fama e à fortuna dispostos a dedicar-lhe inteiramente a vida, sem reservas. Tivesse Saulo de Tasso permanecido orgulhoso e beato fariseu, e seria de duvidar que a História lhe tivesse recordado o nome. Quando, porém, volveu costas a seus desejos e ambições, para servir a Deus e proclamar o evangelho da salvação por Cristo, foi honrado como o grande apóstolo dos gentios. Deixou ele um registro de ministério cristão, não superado por nenhum outro senão o Senhor.

Tenho descoberto que quando jovens entregam o coração a Deus e a vida ao Seu serviço, avançam mais longe e mais depressa dos que os que vivem para a ambição egoísta.

Caro leitor, Cristo nos convida para uma peregrinação com Ele e não um piquenique. Cristo nos convida para uma vida de afazeres e não de prazeres. Ele nos convida para a execução final de Sua Obra e não para uma excursão na Terra. Jesus nos convida a sofrermos tribulações e termos no corpo, não as marcas da acomodação ao mundo e às suas concupiscências, mas as marcas de Jesus – o resultado de nossa lealdade ao Pai celestial. Qual é a nossa atitude?

As cicatrizes e marcas físicas no apóstolo Paulo eram “as marcas de Jesus” sobre ele. Eram lembranças de Seu domínio. Eram evidências tangíveis do direito de Deus sobre sua vida. Podemos nós também exibir, com santo orgulho, as marcas de Jesus em nossa vida? Rememorando nossa experiência cristã, que evidência tangíveis nós podemos encontrar que mostram a influência guiadora de Cristo? Mostramos em nossa conduta diária os sinais que nos identificam como “escravos” de Jesus Cristo, onde quer que estejamos, em casa ou no trabalho, na sociedade ou na comunhão da igreja?

Mesmo não passando pelos sofrimentos de Paulo e marcando o próprio corpo físico, corramos para marcar o nosso caráter com os valores inegociáveis do Reino de Deus, marcando-o com as marcas de Jesus! Oro ao Senhor que após a leitura desse texto, você possa desejar levar no seu corpo as marcas de Cristo e quando as pessoas olharem para você, elas verão as marcas de Cristo. Marcas nos joelhos calejados pela comunhão com Jesus, marcas em nossa Bíblia, demonstração de nossa devoção e estudo de Sua Palavra. Marcas do amor pelos nossos semelhantes! Peça ao Senhor: “Eu quero ser marcado com as tuas marcas! Eu quero ser marcado pelo zelo da santidade ao ponto de não estar complacente diante do pecado.

Que Deus nos abençoe!!!




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