“TRAGO EM MEU CORPO AS MARCAS DE JESUS”
Ricardo
André
Vivemos num mundo
marcado pelo pecado, corrupção e prazeres efêmeros. Vemos com frequência nos
jornais e na televisão os resultados daqueles que entregam sua vida ao inimigo
de nossa alma. Os quadros da guerra civil em Ruanda entre os grupos étnicos
hutus e tutsis, em 1994, que causou a morte de cerca de 800 mil tutsis; a
guerra em Sarajevo ocorrida entre 1992 e 1995 pela
independência da Bósnia. Que deixou um saldo de milhares de mortos (as
estimativas falam de 100.000 a 200.000 mortos). O conflito também ficou marcado
pelo processo de limpeza étnica promovido pelas forças sérvio-bósnias contra a
população bosníaca (bósnio-muçulmanos); e mais recentemente os ataques
terroristas nos EUA, em 11 de setembro de 2001, coordenados pela Al Qaeda,
matando quase três mil pessoas, estão indelevelmente gravados em nossa mente.
Crianças desnutridas com rostos emaciados; o choro dos que perdem seus entes
queridos, vítima da violência e do crime; o semblante dos dependentes químicos
e bandidos carcomidos pela droga e vícios do mundo; os corpos cadavéricos dos
contaminados pelo vírus da AIDS – são todas marcas do mundo.
Mas, o apóstolo Paulo,
um dos gigantes do cristianismo nos fala de outras marcas: as marcas de Jesus. Ele
afirmou: “Sem mais, que ninguém me perturbe, pois trago em meu corpo as marcas
de Jesus” (Gálatas 6:17, NVI). No tempo do grande apóstolo um escravo
era frequentemente marcado com um sinal (como os animais) do seu senhor, ou
identificado com alguma cicatriz específica indicando a quem ele pertencia.
Paulo era um escravo de Cristo, inteiramente submisso à vontade de Seu Mestre.
Havia, no entanto, uma grande diferença em sua vida... era uma sujeição de amor
e também de liberdade em Cristo Jesus. Ele se refere às marcas sofridas pelo
Mestre quando perseguido.
O
que são as “marcas de Jesus”?
A palavra ‘marcas’
constitui a tradução do vocábulo grego stigmata, da qual se deriva a palavra
estigma em português. “Por ‘marcas do Senhor Jesus’ Paulo se refere às
cicatrizes deixadas em seu corpo causadas pela perseguição e pelo sofrimento (ver
2 Co 4:10; 11:24-27)” (Comentário
Bíblico Adventista, v. 6, p. 1096). Ele revelava em seu corpo o estigma, a
marca das grandes lutas e privações sofridas pelo Mestre. Ele não era mais
jovem. Seu corpo estava enrugado, encurvado, as mãos trêmulas, tinha cicatrizes
da surra que levou em Filipos, do apedrejamento de Listra, do naufrágio de
Melito; tudo isto lhe havia roubado do corpo a beleza e o vigor que possuía
quando estava aos pés de Gamaliel. Paulo estava marcado por toda vida. Essas cicatrizes
de guerra, ele chamava de “marcas” do Senhor Jesus. Havia recebido 5 vezes 39
açoites, 3 vezes foi ferido com paus, foi preso e apedrejado, sofreu muitas
doenças, naufrágio e outros perigos de morte.
Os ferimentos que seus
perseguidores lhe infligiram e as cicatrizes que ficavam, estas eram as marcas
de Jesus. É possível que nesse texto, ele estivesse afirmando que a perseguição
e não a circuncisão era a autêntica marca cristã.
Paulo, ao abraçar a fé
de Jesus, decidiu lutar contra tudo e contra todos, mas ser fiel ao seu Mestre
fundamentado no amor repleto de obediência e na certeza de um futuro glorioso,
sofreu como poucos já sofreram, tornou-se, enfim, um “espetáculo para o mundo”
(Fp 2:15). Mas teve a capacidade de declarar: “Sem mais, que ninguém me
perturbe, pois trago em meu corpo as marcas de Jesus” (Gálatas 6:17, NVI).
Marcas do Senhor Jesus! É isso mesmo! Aceitar a Jesus, seguir Seus planos, Seus
caminhos traz marcas. Depois de ser de Jesus você não é mais seu, você foi
comprado (1 Co 6:19 e 20) e leva as marcas de quem um dia lhe adquiriu com
muita dor, com morte até. São marcas do amor, da conversão, da humildade, da
obediência, da consagração. Precisamos ter essas marcas. É a nossa
identificação com Cristo. Que marcas o mundo vê em você? Jesus mesmo disse: “Então
Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se
a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24, NVI).
“Tomar a cruz de Cristo”
refere-se a morte – a morte do eu-próprio, a morte dos desejos e ambições egoístas
para que Jesus possa ser Senhor de nossas vidas (Gl 2:20). Tomar a cruz
significa desentronizar o eu. Não é procurando o sofrimento, mas é vivendo tão-somente
para Cristo ao ponto de se enfrentar as consequências. No passado o criminoso
romano carregava a cruz para o lugar de execução. O crente salvo por Cristo
carrega consigo a mesma cruz: a renúncia de si mesmo para servir unicamente a
Cristo, mesmo até a morte.
Estêfano era um
converso à mensagem do advento no Congo. Era operário, e logo surgiu o problema
do sábado. Estefano explicou cuidadosamente ao seu chefe porque não trabalhava
no sétimo dia da semana.
O chefe de Estêfano
mostrou-se condescendente. Havia um pormenor que reclamava atenção. Eles
mantinham uma lista, na qual se anotava, mediante um sinal convencionado, o
motivo porque algum trabalhador estava ausente do trabalho. Se por doença, o
sinal era um, se com permissão cuidar de alguma coisa pessoal, o sinal era
outro.
A ausência de Estêfano
por motivo religioso deixou-os perplexos, pois não sabiam que sinal deviam pôr
diante do seu nome na lista de ausência. O chefe de Estêfano meditou um
momento, e então seu rosto se iluminou.
- Coloquem uma cruz
diante do seu nome – ele ordenou – pois Estêfano é um homem da cruz!
Um homem da cruz! Que
belo tributo! Eis aqui um título que cada filho de Deus devia cobiçar! Nosso
Salvador torna claro que precisamos ser todos homens e mulheres da cruz –
pessoas que como Estêfano, colocaram a Cristo, Sua vontade, Sua cruz, acima de
qualquer outra consideração, como afirmou Jesus: "Se alguém quiser
acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24,
NVI). Nessas palavras Jesus torna claro que há uma íntima relação entre
negar o eu, assumir a cruz e seguir o Senhor. Não traremos as marcas de Jesus,
as marcas da cruz, a menos que o eu tenha sido tratado como deve.
Da Pena Inspirada,
lemos: “A luta contra o próprio eu é a maior batalha que já foi ferida. A
renúncia de nosso eu, sujeitando tudo à vontade de Deus, requer luta; mas a
alma tem de submeter-se a Deus antes que possa ser renovada em santidade”
(Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 43). A maior batalha que cumpre
ao cristão travar em sua vida, não é o de permanecer fiel quando tentado a
trabalhar no sábado do Senhor, mas sim, a batalha contra o eu. Ganhando a esta
batalha, Estefano não teve problema quanto à guarda do sábado. Ele fizera de
Jesus o primeiro em sua vida.
Da mesma forma que a
cruz de Cristo deixou suas cicatrizes no corpo de Cristo, os sofrimentos de
Paulo deixaram-lhe também marcas indeléveis. Estas cicatrizes que lhes lembravam
as agressões sofridas por causa do evangelho, ele as exibia com honra e
alegria, porque eram evidências de que ele pertencia a Jesus.
Ao contrário do sinal
da circuncisão de que tanto se orgulhavam os judeus, as cicatrizes a que o
evangelista das nações aludiu, eram o resultado de sua escolha voluntária,
tomada após madura reflexão, não para cumprir uma tradição ou um requisito da
lei, mas para satisfazer os anseios de um coração rendido a Cristo. Elas
simbolizavam sua liberdade, pois embora fosse “escravo” de Cristo, sentia-se
emancipado das tradições que se inspiravam na escola judaica.
Os
homens preferem medalhas e não cicatrizes
A nossa geração tem
sido marcada pela busca pelo prazer, pela fama e glória. É uma geração que preferem
medalhas e não cicatrizes. Desejam alcançar a glória de um grande nome e não as
marcas de Cristo.
Alex Dias,
ex-diretor-executivo nacional dos atletas de Cristo, conta que nos jogos
olímpicos de Los Angeles, em 1984, foi feita uma pesquisa entre os atletas, com
a seguinte pergunta: “Você tomaria uma pílula que lhe desse medalha de ouro se
a substância não aparecesse de jeito nenhum no antidoping, mesmo que essa
pílula provocasse sua morte dentro de cinco anos?” Por incrível que pareça, 103
dos 197 entrevistados responderam “sim”. “E se a pílula desse a você a vitória,
mas o matasse dentro de um ano, você ainda a tomaria?” “Sim”, disseram 99
atletas. Apenas quatro mudaram de ideia quando prazo foi reduzido de cinco para
um ano. O que queriam mesmo era a vitória ali, naquele momento, porque uma
medalha de ouro numa Olimpíada, significa muita fama, realização pessoal,
respeito, aplausos, amigos, amores, conforto e milhões de dólares. A vida por uma
medalha. Que lástima!
Já nos dias de Jesus os
discípulos queriam glória e poder. Tiago e João discutiram porque queriam
lugares escolhidos no Céu. Cristo respondeu que não estava oferecendo cadeiras
cativas... mas sofrimentos, lutas, dificuldades, cicatrizes e marcas, sim, marcas
como resultado de nossa batalha contra o pecado. O próprio Mestre sofreu duras
provações, pois nasceu numa estrebaria, morreu como um criminoso, foi rejeitado
pelo Seu próprio povo, pelos seus familiares e pela nação judaica.
Qual
a nossa atitude?
Havia na família
Taylor, na Inglaterra, dois irmãos. Um resolveu fazer para si um grande nome,
dedicando seu tempo e talentos ao serviço do Parlamento inglês. Hudson, que era
o mais jovem dos dois, resolveu ser missionário, e dedicou a vida ao serviço da
humanidade. O mundo hoje honra e venera seu nome como fundador da Missão
Interna Chinesa. Ora, sempre que se faça menção ao irmão mais velho, ele é
designado como “o irmão de Hudson Taylor”.
Cristo honra os que
dizem “não” à fama e à fortuna dispostos a dedicar-lhe inteiramente a vida, sem
reservas. Tivesse Saulo de Tasso permanecido orgulhoso e beato fariseu, e seria
de duvidar que a História lhe tivesse recordado o nome. Quando, porém, volveu
costas a seus desejos e ambições, para servir a Deus e proclamar o evangelho da
salvação por Cristo, foi honrado como o grande apóstolo dos gentios. Deixou ele
um registro de ministério cristão, não superado por nenhum outro senão o
Senhor.
Tenho descoberto que quando
jovens entregam o coração a Deus e a vida ao Seu serviço, avançam mais longe e
mais depressa dos que os que vivem para a ambição egoísta.
Caro leitor, Cristo nos
convida para uma peregrinação com Ele e não um piquenique. Cristo nos convida
para uma vida de afazeres e não de prazeres. Ele nos convida para a execução
final de Sua Obra e não para uma excursão na Terra. Jesus nos convida a
sofrermos tribulações e termos no corpo, não as marcas da acomodação ao mundo e
às suas concupiscências, mas as marcas de Jesus – o resultado de nossa lealdade
ao Pai celestial. Qual é a nossa atitude?
As cicatrizes e marcas
físicas no apóstolo Paulo eram “as marcas de Jesus” sobre ele. Eram lembranças
de Seu domínio. Eram evidências tangíveis do direito de Deus sobre sua vida.
Podemos nós também exibir, com santo orgulho, as marcas de Jesus em nossa vida?
Rememorando nossa experiência cristã, que evidência tangíveis nós podemos
encontrar que mostram a influência guiadora de Cristo? Mostramos em nossa
conduta diária os sinais que nos identificam como “escravos” de Jesus Cristo,
onde quer que estejamos, em casa ou no trabalho, na sociedade ou na comunhão da
igreja?
Mesmo não passando pelos
sofrimentos de Paulo e marcando o próprio corpo físico, corramos para marcar o
nosso caráter com os valores inegociáveis do Reino de Deus, marcando-o com as
marcas de Jesus! Oro ao Senhor que após a leitura desse texto, você possa
desejar levar no seu corpo as marcas de Cristo e quando as pessoas olharem para
você, elas verão as marcas de Cristo. Marcas nos joelhos calejados pela
comunhão com Jesus, marcas em nossa Bíblia, demonstração de nossa devoção e
estudo de Sua Palavra. Marcas do amor pelos nossos semelhantes! Peça ao Senhor:
“Eu quero ser marcado com as tuas marcas! Eu quero ser marcado pelo zelo da
santidade ao ponto de não estar complacente diante do pecado.
Que Deus nos abençoe!!!
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