Ricardo
André
“Pois vocês são salvos
pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras,
para que ninguém se glorie” (Efésios 2:8, 9, NVI).
Introdução:
Estes dois versos
resumem o coração do evangelho de Paulo. A sua tese é que a graça é a parte de
Deus na salvação do pecador, a fé é a resposta humana, e toda a experiência da
salvação que vem pela graça mediante a fé é dom de Deus, não pelas obras.
Philip Yancey relata
num dos seus livros que “durante uma conferência sobre religiões comparadas, na
Grã-Bretanha, eruditos do mundo inteiro debatiam sobre qual era a crença, se é
que existiam alguma, que fosse exclusiva da fé cristã. Começaram eliminando as
possibilidades. Encarnação? Outras religiões tinham diferentes versões de
deuses aparecendo em forma humana. Ressureição? De novo, outras religiões
tinham registros de retorno após a morte. O debate prosseguiu por algum tempo
até que C. S. Lewis entrou no recinto. ‘Qual é o motivo do tumulto?’, perguntou
ele, ouvindo como resposta que seus colegas discutiam a contribuição única do
cristianismo entre as religiões mundiais. Lewis respondeu: ‘Ah, isso é fácil. É
a graça’.
“Após alguma discussão,
os conferencistas tiveram de concordar. A noção do amor de Deus que nos chega
de modo gratuito, sem segundas intenções, parece ir contra qualquer instinto da
humanidade. Os oito caminhos do budismo, a doutrina hindu do carma, o concerto
judaico e o código da lei muçulmana – cada um deles apresenta uma forma de
conseguir aprovação. Só o cristianismo ousa dizer que o amor de Deus é
incondicional” (What’s So Amazing About Grace? [O Que Há de Tão Impresionante
na Graça?], p. 45.
De fato queridos esta é
sem dúvida a palavra mais central e singular do Evangelho. Segundo Phillip
Yancey é “a última palavra perfeita” sendo a única que não sofreu distorções,
não foi maculada e continua significando o que sempre significou.
Infelizmente embora ela
esteja muito presente em nosso vocabulário cristão, já que a escutamos em
pregações, em cânticos, em hinos, em poesias, em literaturas cristãs e até
alguns cristãos saúdam uns aos outros com ela, poucos conseguem perceber a sua
extraordinária importância. O problema é que sem o entendimento correto da
graça não conseguiremos viver a vida cristã de modo adequado; não entenderemos
a lógica e o diferencial do Evangelho e não nos relacionaremos com Deus de modo
íntimo e pleno.
Definição
da Graça:
Nos versos 8 e 9 de
Efésios 2, as palavras-chave são graça e fé. Como entender essas palavras? “É o livre
favor eterno e absoluto de Deus, manifesto no derramar sem reservas nem
merecimento bênçãos espirituais e eternas a culpados e indignos”. Graça se
refere à iniciativa de Deus e à base de nossa redenção do pecado. “Nos
concílios do Céu, antes de o mundo ser criado, o Pai e o Filho firmaram uma
aliança de que, se o homem se demonstrasse desleal a Deus, Cristo, que era um
com o Pai, tomaria o lugar do transgressor e sofreria a penalidade da justiça
que deveria cair sobre ele” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 6, pág. 1190).
Como pecadores,
merecemos a morte, e Deus oferece vida (Rm 6:24). Estamos separados dEle e uns
dos outros, e Ele nos oferece reconciliação. O apóstolo Paulo escreveu aos
efésios que “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando
aos homens as suas transgressões...” (Ef 5:18 e 19). Estamos sob a
escravidão do pecado e destinado ao juízo, e Ele nos oferece liberdade. Não
merecemos nada do que Ele nos oferece, porque pecamos e permanecemos em
rebelião contra Deus (Cl 1:21). Consequentemente, a graça é com frequência como
favor não merecido de Deus por nós.
Até mesmo os anjos
ficam maravilhados com esse dom supremo (1Pe 1:12). Não há dúvida: de tudo o
que Deus nos concede, a graça que nos é concedida em Jesus Cristo é o dom mais
precioso de todos. Sem a graça, não teríamos esperança! O doloroso impacto do
pecado sobre a humanidade é muito grande para que os seres humanos se libertem
dele sozinhos. Nem mesmo a obediência à lei de Deus poderia nos trazer vida.
“É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum! Porque,
se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria
procedente de lei” (Gl 3:21). Afinal, se alguma lei pudesse nos salvar, seria a
lei de Deus. Mas Paulo disse que nem mesmo essa lei seria capaz de nos redimir.
Só podemos ser salvos pela graça.
Graça é iniciativa e
atividade soberana de Deus para a salvação dos pecadores. Essa graça apareceu
“na plenitude do tempo” (Gl 4:4) no evento histórico de Jesus Cristo – mais
especificamente, o ato de Cristo na cruz. A maior revelação da graça foi a
morte de Jesus na cruz (Rm 5:8). Na cruz, Jesus demonstrou a natureza mortal do
pecado. E ainda nos mostrou a imensidão do Seu amor. Ao invés de nos deixar sob
a pena da morte, Ele assumiu essa culpa. Ele absorveu o nosso pecado, com toda
a culpa e a condenação à morte – eterna separação do Pai. Não temos parte nem
na concepção nem na execução da salvação. É dom de Deus para aquele que crê em
Jesus (Jo 3:16).
A escritora cristã
Ellen G. White afirmou: “Este é o mistério da misericórdia a que os
anjos desejam examinar: que Deus pode ser justo, ao mesmo tempo em que
justifica o pecador arrependido e renova Suas relações com a humanidade
decaída; que Cristo pode humilhar-Se para erguer inumeráveis multidões do
abismo da ruína e vesti-las com as vestes imaculadas de Sua justiça, a fim de
se unirem aos anjos que jamais caíram e habitarem para sempre na presença de
Deus” (O Grande Conflito, p. 415).
A graça é uma
característica de Deus. É o poder que transforma uma pessoa que crê, de um
arrependido pecador em uma nova criatura, e preenche nossas necessidades
espirituais a cada dia. Como pessoas, não merecemos o perdão e a salvação, mas
Deus instituiu um plano que nos permite receber a salvação.
Isto torna a graça
escandalosa. Alguém já disse que se o Evangelho da graça for pregado e não
causar espanto nem incômodo, com certeza não foi pregado de modo pleno.
O Deus do Evangelho é o
único que comete a falta de decoro de amar pecadores. Em todas as Religiões se
vê o homem em busca de “deus”. No Evangelho é Deus quem busca o homem; é Deus
que paga o preço; É Deus quem se sacrifica.
A fé é a resposta
humana à provisão de Deus. Em sentido cristão, a fé não é uma virtude que
desenvolvemos sozinhos. É a resposta de admiração ao que Deus fez para nos
redimir do pecado, e pronta aceitação da operação de Deus em nossa vida. Fé
salvadora é mudança de submissão – do eu para Deus, da negação ou indiferença
às reivindicações de Deus à aceitação aberta. A fé abre o coração para a
habitação de Cristo. Sendo assim, não pode se originar no coração carnal. A
irmão Ellen G. White, afirma que fé é “dom de Deus, mas a faculdade de exercê-la é
nossa. A fé é a mão pela qual o coração se apodera das ofertas divinas de graça
e misericórdia” (Patriarcas e Profetas, p. 431).
Três
verdades sobre a graça
1) A graça de Deus é
gratuita
A qualidade
impressionante da graça de Deus é que Ele nos dá a salvação como um dom
absolutamente gratuito. Ela não é uma conquista, mas uma dádiva – Ser salvo
pela graça é a constatação de que jamais teríamos condições de conquistá-la.
Ela não nos foi dada por mérito, nem é fruto de nossa justiça ou trabalho
religioso. É dom gratuito de Deus. Nada que possamos fazer conquistará ou
merecerá a salvação. Como, então, a recebemos? “Pois vocês são salvos pela graça,
por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus”. E o que é fé?
Uma definição simples aparece em Hebreus 12:2: “Tendo os olhos fitos em
Jesus, autor e consumador da nossa fé” (NVI). Fé é olhar para Jesus.
Como dissemos acima, é minha resposta total à atividade de Deus em meu favor.
Ellen G. White,
afirmou: “Há dois erros contra os quais os filhos de Deus — particularmente os
que só há pouco vieram a confiar em Sua graça — devem, especialmente,
precaver-se. O primeiro, do qual já tratamos, é o de tomar em consideração as
suas próprias obras, confiando em qualquer coisa que possam fazer, a fim de
pôr-se em harmonia com Deus. Aquele que procura tornar-se santo por suas
próprias obras, guardando a Lei, tenta o impossível. Tudo que o homem possa
fazer sem Cristo, está poluído de egoísmo e pecado. É unicamente a graça de
Cristo, pela fé, que nos pode tornar santos.
O erro oposto e não
menos perigoso é o de que a crença em Cristo isente o homem da observância da
Lei de Deus; que, visto como só pela fé é que nos tornamos participantes da
graça de Cristo, nossas obras nada têm que ver com nossa redenção.
Mas notai aqui que a
obediência não é mera aquiescência externa, mas sim o serviço de amor. A Lei de
Deus é uma expressão de Sua própria natureza; é uma corporificação do grande
princípio do amor, sendo, daí o fundamento de Seu governo no Céu e na Terra. Se
nosso coração é renovado à semelhança de Deus, se o amor divino é implantado na
alma, não será então praticado na vida a Lei de Deus? Implantado no coração o
princípio do amor, renovado o homem segundo a imagem dAquele que o criou,
cumpre-se a promessa do novo concerto: ‘Porei as Minhas Leis em seu coração e
as escreverei em seus entendimentos’. E se a Lei está escrita no coração, não
moldará ela a vida? A obediência — nosso serviço e aliança de amor — é o
verdadeiro sinal de discipulado” (Caminho a Cristo, p. 59 e 60).
É isto que diferencia o
Evangelho da graça pregado pelo Cristianismo de todas as outras religiões. A
salvação na mentalidade religiosa segue a lógica da justiça retribuitiva, logo
a salvação, as bênçãos e o favor são conquistas, fruto de um árduo trabalho, de
uma vida de sacrifício e privações. O homem é o agente de sua própria salvação.
No cristianismo é
radicalmente diferente! Não é a nossa justiça que conta, pois jamais
conseguiríamos cumprir as exigências da lei; também não foram nossas boas
obras. Como fica claro em Tito 3:5 “Não por obras de Justiça que
praticamos, mas por sua misericórdia fomos regenerados”. Foi a justiça
e as obras de Jesus Cristo em nosso favor. Importante lembrarmos ressaltarmos
que A graça é gratuita para nós, porém custou a vida e o sangue de Jesus
Cristo.
2) A graça de Deus é
suficiente
Não há nada mais que
precisamos fazer para complementá-la. Ela cumpre totalmente todas as
exigências. Ela cobre por completo nossas dividas, não restando nada mais a ser
liquidado. Ela é suficiente para cobrir nossos pecados sejam eles quais forem e
nos purificar para sempre de toda iniquidade. Uma vez salvo pela graça não há
mais condenação nem culpa. Deus não se relaciona mais conosco na base da
justiça, porque sua justiça foi suficientemente preenchida na cruz do Calvário.
Estamos reconciliados com Deus e isto torna sua companhia uma benção para nós.
Não precisamos mais fugir ou nos escondermos de Deus. Não há mais juízo sobre
nossas vidas! Louvado seja Deus!
Há um texto de Ellen G.
White que aprecio muito, que transcrevo aqui:
“Jesus é nosso
sacrifício expiatório. Nós não podemos fazer expiação por nós próprios; mas
pela fé podemos aceitar a expiação que foi feita. ‘Porque também Cristo padeceu
uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus’. ‘Não foi
com coisas corruptíveis que fostes resgatados, mas com o precioso sangue de
Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado’. […]
Homem algum da Terra
nem anjo do Céu poderia ter pago a pena do pecado. Jesus era o único que podia
salvar o rebelde homem. NEle se combinaram divindade e humanidade, e foi isso
que deu eficiência à oferta na cruz do Calvário. Na cruz encontraram-se a
misericórdia e a verdade, a justiça e a paz se beijaram.
Ao contemplar o pecador
o Salvador a morrer no Calvário, e reconhecer que o Sofredor é divino, pergunta
ele por que motivo foi feito esse grande sacrifício, e a cruz aponta para a
santa Lei de Deus, que foi transgredida. A morte de Cristo é argumento
irrespondível quanto à imutabilidade e a justiça da Lei. Profetizando de
Cristo, diz Isaías: ‘Engrandecerá Ele a Lei, e a fará ilustre’. A Lei não tem
poder para perdoar ao malfeitor. Sua função é apontar os seus defeitos, para
que ele reconheça a necessidade de Alguém poderoso para salvar, sua necessidade
de Alguém que se torne seu substituto, seu penhor, sua justiça. Jesus satisfaz
a necessidade do pecador, pois tomou sobre Si os pecados do transgressor. ‘Ele
foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre Ele, e pelas Suas pisaduras fomos
sarados’. Poderia o Senhor ter eliminado o pecador, destruindo-o totalmente;
mas foi preferido o plano mais custoso. Em Seu grande amor Ele provê esperança
para o desesperançado, dando Seu Filho unigênito para arcar com os pecados do
mundo. E visto como derramou todo o Céu nesse único e rico dom, não reterá do
homem nenhum auxílio necessário para que possa tomar a taça da salvação e tornar-se
herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo.
Cristo veio para manifestar
o amor de Deus ao mundo, para atrair a Si o coração de todos os homens. Disse
Ele: ‘Eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim’. O primeiro
passo rumo da salvação é corresponder à atração do amor de Cristo. Deus envia
aos homens mensagem após mensagem, instando com eles para que se arrependam, a
fim de que os possa perdoar, escrevendo ‘perdão’ junto de seus nomes. Não
haverá arrependimento? Ficarão sem ser atendidos os Seus apelos? Deverão ser
passadas por alto as Suas propostas de misericórdia, inteiramente rejeitado o
Seu amor? Oh! neste caso o homem se excluirá do meio pelo qual pode ele
alcançar a vida eterna, pois Deus só perdoa ao penitente! Pela manifestação do
Seu amor, pela súplica de Seu Espírito, Ele convida o homem ao arrependimento;
pois o arrependimento é dom de Deus, e aquele a quem Ele perdoa, primeiro faz
penitente. A mais doce alegria sobrevém ao homem mediante seu sincero
arrependimento para com Deus, pela transgressão de Sua Lei, e mediante a fé em
Cristo como Redentor e Advogado do pecador. É para que os homens compreendam a
alegria do perdão e da paz de Deus, que Cristo os atrai mediante a manifestação
de Seu amor. Se correspondem à Sua atração, rendendo o coração a Sua graça, Ele
os guiará passo a passo, a um pleno conhecimento dEle, e isto é vida eterna”
(Mensagens Escolhidas, vol. 1, págs. 321 a 324).
3) A graça de Deus é
acessível
Em Tito 2:11 diz “A
graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” –
A graça de Deus está ao seu alcance. A única coisa que você precisa fazer é
abrir mão da tentativa de tentar ser perfeito, ser justo do seu jeito, de
impressionar Deus com suas boas obras e se lançar a seus pés reconhecendo que é
pecador e que precisa desesperadamente da graça de Jesus. Brennan Manning em
seu Best Seller “O evangelho maltrapilho” nos apresenta de uma forma marcante a
verdade de que “se não nos conscientizarmos de nossa miséria, de nossa
carência, de nossas vestes farroupilhas e nossa inutilidade jamais entenderemos
a graça de Deus”.
Em Mateus 5:3 Jesus afirma: “Bem-aventurado são os pobres de Espírito
porque deles é o reino dos céus” – Os pobres de Espírito são os que tem
a consciência plena e absoluta de sua nulidade e miséria diante de Deus.
Tudo que você precisa é
se aproximar dele com seus pecados, suas culpas, suas carências, sua falta, seu
fracasso, seus fardos. Ele te convida “venha você que está cansado, machucado
pela vida, sem perspectiva, sem destino, sem projetos, enfim venha como está.
Quão maravilhoso é
saber que Deus é misericordioso e amoroso que não imputa a nós as nossas
transgressões. O penetrante olhar de DEUS nos vê não só como nós somos, mas
como por SUA GRAÇA nos podemos tornar ou ser. Em Davi, mentiroso e adúltero,
Ele viu um coração justo, um coração que se arrepende. Em Maria Madalena, a
prostituta, a quem o mundo não tinha senão desprezo e zombaria, Ele via uma
mulher que se tornaria uma vencedora. Em Mateus, o desprezado coletor de
impostos via um homem honesto. Em Pedro, o impulsivo, de língua incisiva, via
um homem dominado e pregador convincente. Em Saulo, o zeloso perseguidor, via o
mais poderoso evangelista do mundo. Em Tiago, filho do trovão, via um
administrador e líder da Igreja. Em João, seu irmão na violência e no espírito,
via aquele manso e suave discípulo que se fez muito amado.
O apóstolo Paulo
afirmou: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisa antigas
já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Cor. 5:17). Quando cristo toma
prisioneiro o coração humano, há em nós uma manifestação da nova vida. A graça
de Deus (que é o poder para salvar do pecado (Tito 3:7), fez por nós o que
nenhum outro elemento pode fazer.
John Newton nasceu em
Londres, em 24 de julho de 1725. Era filho de um capitão de navio que
trabalhava no mar mediterrâneo. Sua mãe morreu quando ele tinha apenas onze
anos de idade. Sua infância, no entanto, foi marcada pela imoralidade,
leviandade e pecado. Foi rejeitado pelo próprio pai devido a problemas com seus
empregados. Newton foi, então, preso e deportado (algumas bibliografias citam
que foi de Egito). Por alguns anos, ele serviu em navios de escravos, onde foi
humilhado pela mulher de um mercador de escravos, passando a ser “escravo dos escravos”.
Nos anos vindouros, na
sua rebeldia, foi de mal a pior, descendo cada vez mais na degradação. Mais
tarde achou-se tripulante num “navio negreiro”, onde se juntou ao tratamento
cruel dos infelizes escravos. Foi traído e deixado preso numa ilha, onde os
seus maus tratos não o mataram pela bondade de escravos ao seu redor. Seu pai,
chegando a saber da condição do seu filho por uma carta, secretamente enviada,
conseguiu sua libertação.
Voltando para Inglaterra
no navio Greyhound, na província de Deus, Newton havia achado e, no seu tédio e
em estado miserável, lido o livro A Imitação de Cristo, de Thomas A Kempis. Por
volta de 1750, John Newton era o comandante de um navio negreiro inglês. Ele
saía da Inglaterra e ancorava na costa africana. Lá os chefes tribais
entregavam aos europeus as “cargas” compostas de homens e mulheres, capturados
nas invasões e nas guerras entre tribos. John Newton compravam-nos em troca de
armas, munições, licor e tecidos. Ele transportou muitas cargas de escravos
africanos trazidos à América no século XVIII.
Numa das suas viagens,
o navio enfrentou uma tempestade que Newton ofereceu sua vida a Cristo,
pensando que ia morrer. Seu lado foi desmoronado e muitos tripulantes foram
levados ao mar, sem mastro; todas as provisões perdidas, o navio, por 27 dias,
flutuou a esmo. Todos a bordo, famintos e congelados, viveram entre a vida e a
morte. Newton cria que sua morte estava eminente! Foi ali que ele viu a sua
condição de pecador. Pela graça de Deus, o navio não afundou. “Voltou
dramaticamente a Deus, repudiou sua vida de depravação, e chorou lágrimas de
arrependimento.” Quando, milagrosamente, o Greyhound chegou em terra perto de
Londonderry ao norte da Irlanda, no dia 8 de abril, o primeiro ato de Newton
foi procurar uma igreja e lá orar. Após ter sobrevivido começou a estudar para
ser pastor. Com a idade de trinta e nove anos, John Newton veio a ser um fiel
ministro de Deus. Nos últimos 43 anos de sua vida ele pregou o evangelho em Olney
e em Londres.
Foi pastor numa igreja
em Olney quase quinze anos e nesse período escreveu inúmeros hinos. Dentre os
muitos hinos que escreveu está “Graça Excelsa” (outra tradução chama de
“Maravilhosa Graça”) que parece ser um testemunho da sua conversão e da sua
vida cristã. Newton escreveu-o em 1779 e o incluiu na sua inovadora coletânea
Olney Hymns (Hinos de Olney).
A graça de Deus tem
sido definida como o Seu favor imerecido. Foi esta graça que alcançou John
Newton. Ele ficou maravilhado quando aprendeu que Cristo amou-o e morreu em seu
lugar. Foi esta graça que o fez consciente de que era um pecador, “que a mim,
perdido e cego, achou...” e que assegurou-o de que seus pecados todos foram
perdoados. E assim é com todos nós. Somos grandes pecadores não só pelas
transgressões feitas, mas também porque não cumprimos os padrões de Deus em
nossas vidas. E esta Maravilhosa Graça, nos supre de tudo. Como crentes em
Cristo continuamos a experimentar cada dia este favor imerecido através de
nossas vidas. Cada dia Ele nos perdoa as falhas se nós Lhe confessamos. Cada
dia Ele supre as nossas necessidades.
Teve uma vida feliz e
produtiva até o dia que faleceu em 21 de dezembro de 1807. Foi enterrado no
pátio da igreja na qual serviu por 27 anos, no coração de Londres. A pedra do
seu tumulo declara, com palavras que ele mesmo escreveu antes de morrer, como
um testemunho verdadeiro de um homem que, depois de transformado pelo
evangelho, tornou-se um dos grandes baluartes da verdade:
“John Newton, clérigo, antes um infiel e
libertino, servo de traficantes de escravos na África, foi pela graça e riqueza
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, preservado, restaurado, perdoado e
comissionado para pregar a fé que ele tinha lutado para destruir”.
Através de toda a sua
vida John Newton ficava sempre maravilhado com a graça maravilhosa de Deus em
sua vida.
Conclusão:
É a graça de Deus que
diz que Ele me ama e ponto final. Não existem vírgulas e nem nenhum “mas”. Eu
não fiz nada para ele me amar, nem posso fazer nada para ele me deixar de amar.
A graça diz todos os dias pra mim que ele me ama não pelo que sou, nem pelo que
um dia serei, mas apesar de quem eu sou. Se estou fraco, se estou de pé, se
estou caído ele não deixa de me amar. Martinho Lutero disse “O amor de Deus não
se destina a amar o que vale a pena ser amado, antes o seu amor gera tudo que é
amável”
Embora todos possamos
falhar de vez em quando, existe esperança para qualquer pessoa que entristeça
verdadeiramente por seus pecados. Deus espera obediência, mas prometeu perdão
àqueles que se arrependem.
A Bíblia afirma: “Se
confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça. I Jo 1:9.
Davi reclamou essa promessa
divina quando orou: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de
mim um espírito inabalável” Sl 51:10. Similarmente, quando desejamos um coração
puro e um espírito inabalável estamos habilitados a receber a graça de Deus e
cantar o cântico de vitória: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de
nosso Senhor Jesus Cristo” (I Cor. 15:57).
“Nós mesmos devemos
tudo à livre graça de Deus. A graça do concerto é que prescreveu nossa adoção.
A graça do Salvador efetua nossa redenção, regeneração e exaltação a co-herdeiros
de Cristo” (EGW, Parábolas de Jesus, p. 250).
Caro amigo leitor, você
gostaria de receber a redenção e a regeneração efetuada pela graça?
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