Teologia

sábado, 1 de outubro de 2016

A MALDIÇÃO DA LEI E O EVANGELHO



Ricardo André

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gálatas 3:13).

Muitos evangélicos que não amam a santa Lei de Deus utilizam este versículo bíblico para desenvolver o especioso argumento de que a lei de Deus não está mais em vigor, logo os cristãos não estão sob a obrigatoriedade de observá-la. Está perempta para o cristão. Esta é uma grosseira perversão de seu sentido. Aqui está o que ele significa, e o que não significa.

O apóstolo Paulo citou Deuteronômio 28 onde Deus profere bênçãos maravilhosas para os obedientes e terríveis maldições para os desobedientes. Portanto,  “a maldição da lei” recai sobre aqueles que infringem a lei. Ele afirma: “Entretanto, se vocês não obedecerem ao Senhor, ao seu Deus, e não seguirem cuidadosamente todos os seus mandamentos e decretos que hoje lhes dou, todas estas maldições cairão sobre vocês e os atingirão” (Dt 28:15, NVI).

A consequência natural da desobediência é a morte. Paulo afirma: “Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:23, NVI). A má notícia para a raça caída é que, como “todos pecaram e destituído estão da glória de Deus” (Rm 3:23), “a maldição da lei”, que é a “morte” recaiu sobre todos os homens. Ela é pronunciada sobre todos os que infringem a lei de Deus (dos Dez Mandamentos) porque essa lei é tão perfeita, tão santa, tão imutável (Rm 7:12), e tão eterna (sendo escrita em pedra, Êx 31:18), que todos os infratores são justamente condenados à morte por violarem seus princípios sagrados.

Não importa o ardor com que tentemos ser bons, a lei só pode nos condenar como transgressores. Nos tempos do apóstolo Paulo “o legalismo foi desvirtuado em um minucioso esforço para evitar incorrer na maldição da lei (...). Porém, mesmo evitando a maldição da lei, na melhor das hipóteses, o indivíduo só conseguiria obter uma justiça legal. Ele ainda não teria alcançado a justificação diante de Deus” (Comentário Bíblico Adventista, vol. 3, p. 1056). A verdade é que muitos judeus da Galácia desejavam ser justificados diante de Deus por meio da obediência a lei. Eles cometiam o erro teológico da salvação pelas obras. Por isso Paulo foi incisivo ao afirmar: “Já os que são pela prática da lei estão debaixo de maldição, pois está escrito: "Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei".

Assim, Gálatas 3:13, não é um argumento contra a lei de Deus, mas a favor dela.

Após falar sobre a impossibilidade da salvação pelas obras da lei, Paulo introduz outra metáfora para explicar o que Deus fez por nós em Cristo: “nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós.  O resgate pago por nossa salvação não foi insignificante: custou a Deus a vida de Seu próprio Filho (Jo 3:16). Jesus nos regatou da maldição, tornando-Se nosso portador de pecados (I Co 6:20; 7:23). Ele voluntariamente tomou sobre Si a nossa maldição e sofreu em nosso favor toda a penalidade do pecado. Dia a Bíblia: “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2 Co 5:21, NVI).

Paulo citou Deuteronômio 21:23 como prova bíblica, que diz: “Não deixem o corpo no madeiro durante a noite. Enterrem-no naquele mesmo dia, porque qualquer que for pendurado num madeiro está debaixo da maldição de Deus. Não contaminem a terra que o Senhor, o seu Deus, lhes dá por herança. Segundo o costume judaico, uma pessoa estava sob a maldição de Deus, após execução, o corpo fosse pendurado num madeiro. A morte de Jesus na Cruz foi vista como um exemplo dessa maldição (At 5:30; 1 Pe 2:24). Não é de admirar, então que a cruz tenha sido uma pedra de tropeço para alguns judeus que não podiam conceber a ideia de que o Messias fosse amaldiçoado por Deus. Mas esse foi exatamente o plano de Deus. Sim, o Messias sofreu a maldição; mas ela não era dEle, era nossa.

Por causa do que Jesus fez por nós no Calvário, podemos nos arrepender de nossos pecados, ter fé nEle, sermos totalmente perdoados, e assim, ficarmos em pé perante a Lei de Deus como se nunca tivéssemos pecado (Romanos 3:26).

Longe de abolir a lei de Deus, a morte de Jesus Cristo estabelece sua santidade e validade eterna. Afirma o apóstolo: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei” (Romanos 3:31).

Compreender a relação adequada entre a lei e o evangelho leva as pessoas a escolherem “guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus” (Apocalipse 14:12).


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