Teologia

domingo, 13 de setembro de 2015

A PROFECIA DE APOCALIPSE 10: AS RAÍZES PROFÉTICAS DOS ADVENTISTAS

Ricardo André



I – Introdução:

O capítulo 10 de Apocalipse revela as raízes proféticas ou históricas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que surge a partir de um grande despertamento religioso no século XVII, predito neste capítulo profético. A verdadeira igreja de Cristo, por longos séculos foi perseguida pela Igreja Romana, sendo dizimada pelos tribunais da inquisição, por cruzadas e por inúmeras chacinas.

Porém, a queda do poder do papado em 1798, trouxe uma nova era para o cristianismo, e o mundo foi sacudido por uma mensagem poderosa, exatamente como anunciado nesta profecia.

Está inserida como um parêntesis entre a sexta e a sétima trombetas, devendo, portanto, cumprir-se antes do toque inicial da sétima trombeta, isto é, antes de 1844.

II – O Anjo Forte e o Livrinho

João assim descreveu o “Anjo” que abarca a Terra e o mar:
 “Vi outro anjo forte descendo do céu, vestido de uma nuvem. Por cima da sua cabeça estava o arco-íris; o seu rosto era como o sol, e os seus pés como colunas de fogo” (Apocalipse 10:1).

Seis vezes, no Apocalipse, a mensagem enviada do Céu é simbolizada por um anjo. Mas a descrição deste anjo é mais gloriosa do que a dos outros: “O seu rosto era como o Sol”.

Quem é o “Anjo forte” que João viu vir diretamente da presença de Deus?

A semelhança da descrição com a de Cristo em Apoc.1:13-16, indica que este anjo seja Cristo. Quando transfigurado diante dos discípulos, o rosto de Cristo “brilhava como o Sol” (Mat. 17:2). Ele é chamado “o Mensageiro do concerto” (Mal.3:1), e “o Anjo que me redimiu” (Gên. 48:16).
Em Daniel 12:1 e 7, Jesus é apresentado como Miguel. Mas se Miguel é identificado como o Arcanjo, seria Cristo, então, um anjo? O Arcanjo não é um anjo. Ele é o chefe dos anjos. O presidente dos Estados Unidos é o comandante-em-chefe do exército, mas não é um soldado.

Cristo é um mensageiro. Ele não é um ser criado, como um anjo.

Outra evidência de que o Anjo forte é Jesus está em I Tess.4:16. Ali nos é dito que é a voz do Arcanjo que despertará os mortos, por ocasião da primeira ressurreição. Em João 5:25, nos é dito que é a voz do Filho de Deus que despertará os mortos.

“O Anjo forte que instruiu a João não era outro personagem senão Jesus Cristo. Pondo o pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a terra seca, Ele mostra a parte que desempenha nas cenas finais do grande conflito com Satanás. Essa posição denota Seu supremo poder e autoridade sobre a Terra” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 971).

O arco celeste é símbolo do concerto e a “nuvem” é também sinal da divindade, pois uma nuvem sobre o acampamento de Israel era evidência da presença de Deus como guia de Seu povo.

III - Um Movimento Mundial de Pregação

 “E tinha na mão um livrinho aberto. Pôs o seu pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra” (Apocalipse 10:2).

A expressão um pé na terra e o outro no mar indica que a mensagem deste Anjo é de âmbito mundial, o que significa o início de um movimento religioso de extensão mundial.

Que livro aberto pode ser este? Parece haver apenas uma resposta, pois, até onde se saiba, a única parte das Escrituras que foi fechada ou selada foi uma porção do livro de Daniel. Ao profeta foi ordenado: “Fecha estas palavras e sela este livro até o tempo do fim. Muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará”.(Dn.12:4).

“Fora ordenado a Daniel: ‘Encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim’. Cap. 12:4. Esta admoestação se aplica particularmente à parte das profecias de Daniel que trata dos últimos dias (...) e, sem dúvida, especialmente ao fator do tempo dos 2.300 dias (Cap. 8:14), pois se relaciona com a pregação das mensagens do primeiro, do segundo e do terceiro anjos (Ap 14:6-12). Visto que a mensagem do Anjo que estamos considerando trata do tempo e presumivelmente de acontecimentos no tempo do fim, quando livro de Daniel devia ser desselado(Dn 12:4), parece ser razoável deduzir que o livrinho aberto na mão do Anjo era o livro de Daniel. Com a apresentação a João do livrinho aberto, são reveladas as partes seladas da profecia de Daniel. O fator do tempo, indicando o fim da profecia dos 2.300 dias, torna-se claro. Consequentemente, o capítulo em apreço focaliza o tempo em que foi feita a proclamação dos versos 6 e 7, isto é, durante os anos 1840 a 1844” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 797).

Uma vez que esta parte do livro de Daniel foi fechada somente até o tempo do fim, segue-se naturalmente que nesse tempo do fim ele seria aberto.

Dois acontecimentos asseguram a época em que o livrinho de Daniel deveria ser aberto:

1) O advento do “tempo do fim”;

2) a era da multiplicação da ciência.

Quando chegou o “tempo do fim” predito por Daniel? No próprio livro deste profeta encontramos a resposta. Em Daniel 11:30-35, temos a introdução da potência papal como poder perseguidor do povo de Deus.

O versículo 35 declara que o povo de Deus seria perseguido, por dito poder, “até o tempo do fim”, o que quer referir-se até ao fim da supremacia temporal do papado ocorrido em 1798, quando a França revolucionária lhe tirou o poder e aprisionou o papa reinante, Pio VI.

Prova mais incontestável de que o “tempo do fim” chegou com o fim da supremacia temporal do papado em 1798, temos ainda em Daniel 12:7, onde é esclarecido que o povo de Deus seria perseguido até completar-se o período de “um tempo, dois tempos e metade de um tempo”, ou sejam 1260 anos de supremacia temporal de Roma papal, em realidade findos em 1798.

Isso pareceu estranho a Daniel, e ele diz: “Eu ouvi, mas não entendi”(Dan.12:8). Não era possível que Daniel entendesse quando escreveu, porque certos acontecimentos tinham de ocorrer primeiro. Por isso, pediu explicação ao anjo, e este lhe disse: “Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até o tempo do fim”(Dan.12:9). Mas “no tempo do fim”, foi garantido que alguns entenderiam. Disse o anjo: “Nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão” (Dan.12:10).

Outra evidência que confirma o início do “tempo do fim” em 1798 é o desenvolvimento marcante da ciência. A ciência que hoje conhecemos começou a se “multiplicar” exatamente a partir de 1798, quando, não temos dúvida em afirmar, o selo do livro de Daniel foi removido, dando início a um grande movimento religioso que se dedicaria ao estudo aprofundado das profecias relativas ao “tempo do fim”.

O Significado da proclamação relatada em Apocalipse 10:6: “Já não haverá demora”.

 “E jurou por Aquele que vive para todo o sempre, o qual criou o céu e o que nele há, e a terra e o que nela há, e o mar e o que nele há, que não haveria mais demora” (Apocalipse 10:6).

Não haveria mais demora, ou em outra versão não haveria mais tempo. Esta expressão indica que o movimento que este anjo representa está diretamente ligado ao “tempo do fim”, já que, depois dele, não haveria outro, segundo a profecia.

“Esse tempo, que o Anjo anuncia com solene juramento, não é o fim da história deste mundo, nem do tempo da graça, mas do tempo profético, que deve preceder o advento de nosso Senhor; isto é, as pessoas não terão outra mensagem sobre tempo definido. Depois desse período de tempo, que se estende de 1842 a 1844, não pode haver um delineamento definido do tempo profético. O cômputo mais longo se estende até o outono de 1844” (Comentário Bíblico Adventista, v. 7, p. 971).

E não há dúvida de que o movimento predito neste capítulo surgiu depois de 1798, e no final da profecia dos 2.300 dias proféticos de Dan.8:14, concluída em 1844. Esse movimento, portanto, deve ser identificado como surgido entre 1798 e 1844, porque não encontramos na Bíblia outra profecia de tempo que se estenda além de 1844.

“Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver prestes a tocar a sua trombeta, se cumprirá o mistério de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos” (Apocalipse 10:7)

O “mistério de Deus”, ou o “segredo de Deus”, como também é chamado nas Escrituras, é o grande plano da salvação em Jesus Cristo (Efés. 3:3-6). Jesus Cristo é o único meio de salvação, não apenas para os gentios, mas também para os judeus. “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações. Então virá o fim” (Mat. 24:14).

O anjo do Apocalipse 10, em seu juramento, proclama que “nos dias da voz do sétimo anjo”, se cumpriria “o mistério ou segredo de Deus”. Quer dizer isto que, de 1844 até o final, seria consumada a obra de pregação do evangelho a todo o mundo.

Portanto, a pregação final do evangelho a todo o mundo seria consumada de 1844 ao final, na voz do sétimo anjo, o que implica em dizer que um movimento mundial tomaria lugar desta data em diante, proclamando o “mistério de Deus” e consumando a obra da redenção entre as nações, através da pureza do evangelho isento de erros e tradições humanas.

E este movimento predito surgiu em 1844, exatamente depois do primeiro movimento que findou nesta data, ter abrangido todo o mundo, e logo terminará a sua tarefa.

IV - Fim do Mais Longo Período Profético

O Anjo ordena que João tome e coma o pequeno livro, informando-o de que ele será doce na boca, mas amargo no estômago.

 “Então a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra” (Apocalipse 10:8).

O livro que é aberto na visão de João é o mesmo que foi selado nas visões de Daniel. Por quanto tempo deveria ele ficar selado? Daniel 12:7 diz que deveria ser por 1260 anos. O livro de Daniel está sendo aberto nos últimos dias. Profecias que antes não eram entendidas, agora o são. Nem tudo no livro de Daniel foi selado, Nabucodonosor sabia quem era a cabeça de ouro na imagem de Daniel. Havia muitas coisas que foram entendidas.

O que realmente confundiu Daniel naquelas visões foram as profecias de longo tempo. Sobre elas, ele disse: “Espantei-me acerca da visão”. As profecias que o deixaram confuso foram as 70 semanas, os 1260 dias e os 2300 dias, proféticos, ou seja, um dia equivalente a um ano.

A profecia revelada em Daniel 8:14 diz: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado”. Em Daniel 9:25, a explanação relativa à primeira parte dos 2300 anos nos diz que este grande período profético iniciar-se-ia com “a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém”.

E esta ordem, dada aos judeus que eram cativos no Oriente ao tempo da dominação mundial da Pérsia, foi emitida pelo rei Artaxerxes, na última parte do ano 457, antes de Cristo. Contando desta data inicial, os 2300 anos alcançaram a última parte do ano de 1844, quando então a verdade seria restaurada pela pregação e o santuário seria purificado.

Segundo o ritual do santuário do antigo Israel, a purificação do santuário significava a remoção simbólica dos pecados do povo de Deus do santuário, através de um sacrifício especial, oferecido sempre no dia 10, do sétimo mês judaico, correspondendo a outubro do nosso calendário.

O santuário de Israel, erguido por Moisés conforme o modelo que lhe fora mostrado por Deus, era uma figura do verdadeiro santuário que existe no céu, onde Cristo ministra por Sua igreja desde que para lá ascendeu, depois de Sua ressurreição.

Desse modo, a purificação simbólica do santuário de Israel realizada pelo sumo-sacerdote uma vez ao ano, era emblema da purificação do santuário celeste que Cristo devia se realizar a partir do final dos 2300 anos, ou seja: Depois de 1844.

Como no santuário terrestre os serviços diários eram efetuados no lugar santo e a purificação no lugar santíssimo, de modo idêntico, Cristo, desde que ascendeu ao céu, efetuou Sua obra de intercessão no lugar santo do santuário celestial até 1844.

Nesta data, em outubro, Ele deixou o lugar santo e penetrou no lugar santíssimo para efetuar a purificação do santuário, ou seja, a remoção dos pecados de Seu povo. Esta obra de purificação continuará até o fechamento da porta da graça, quando estará concluída a purificação do santuário celestial e Jesus voltará para executar o juízo.

Olhando a História, podemos ver que foi perto do fim dos 2.300 dias proféticos, em 1844, que o anjo, com o livro aberto de Daniel, fez exatamente o que foi mostrado a João. Precisamente no tempo previsto, a mensagem profética do anjo envolveu toda a Terra. Como predito na visão de João, o tempo profético atingiu seu clímax.
No fim do século XVIII e início do século XIX, as pessoas começaram a estudar as profecias de Daniel e Apocalipse. Assim, muitos chegaram à conclusão de que os 2.300 dias de Daniel 8:14 terminariam no fim dos anos 1840. Pensando que a purificação do santuário descrita por Daniel se referia à purificação da Terra pelo fogo da segunda vinda de Cristo, concluíram que esse seria o tempo do retorno de Jesus. Essa fantástica notícia logo foi proclamada em todo o mundo.

Como os servos de Deus entenderam a purificação do santuário na profecia de Daniel? A resposta histórica é esta: Eles entenderam que o santuário a ser purificado no final dos 2300 anos, em 1844, era a própria terra e que, para que isto pudesse ser realizado, Jesus deveria voltar naquele ano e atear fogo e enxofre ao mundo para purificá-lo da maldade humana.

Como chegaram à conclusão de que a terra seria o santuário a ser purificado? Simplesmente pelo fato de, em 1844, não haver mais santuário na terra e desconhecerem a doutrina do santuário celestial, do qual o santuário terrestre era uma cópia.

O fato de conceberem, pelo livro de Daniel, que Jesus voltaria em 1844 para purificar a terra e salvá-los é que cumpre a profecia de ter o profeta achado o livrinho doce como o mel ao tomá-lo da mão do anjo e comê-lo. Nada mais doce para eles do que ter a indicação do ano da volta de Jesus e estarem, como pensavam eles, diante da concretização de suas tão acalentadas expectativas quanto ao retorno do Senhor Jesus.

V - O Desapontamento Previsto Na Profecia

Inicialmente, Guilherme Miller, pastor da igreja batista de Nova York, começou a pregar que a volta de Jesus ocorreria no dia 22 de Outubro de 1844. O grande erro do movimento consistiu em não compreenderem seus dirigentes a natureza do acontecimento que tomaria lugar no fim do período profético dos 2300 anos, isto é, em Outubro de 1844. Para os adventistas do sétimo dia, em particular, o ano de 1844 e os que o precederam, evocam o nome de Guilherme Miller. Entretanto, ele era apenas um dos muitos que pregavam, naquele tempo, sobre o breve retorno de Jesus. Pessoas como Manuel Lacunza, José Wolff, Henry Drummond, Edward Irving, Hugh M’Neile e os pregadores-mirins da Suécia também proclamavam o fato de que as profecias do fim dos tempos estavam quase se cumprindo e, como haviam entendido, Jesus voltaria.     

Não foi apenas na América ou na Europa que as pessoas faziam tal proclamação. A mensagem circulava o globo. Wolff pregou no Oriente Médio e no Norte da África (do Egito ao Afeganistão, e da Inglaterra à Índia). Em 1837, ele visitou os Estados Unidos, onde também pregou. Na Índia, Daniel Wilson, bispo da Igreja Episcopal de Calcutá, pregou e escreveu panfletos especificamente sobre as profecias de Daniel.1 Em Adelaide, Austrália, a mensagem sobre o breve retorno do Salvador foi pregada por Thomas Playford.2 As multidões ali se tornaram tão grandes que seus seguidores tiveram que construir uma igreja maior para abrigar as pessoas.
        
No fim do tempo profético, precisamente como havia sido mostrado ao apóstolo João e no tempo exato predito por Daniel mais de 2.300 anos antes, a mensagem foi proclamada com ‘grande voz’ ao redor do mundo. Não é de admirar que os pioneiros adventistas ficassem tão eufóricos quando chegaram à conclusão de que era o cumprimento da profecia!

 “Fui, pois, ao anjo, e lhe pedi que me desse o livrinho. Disse-me ele: Toma-o, e come-o. Ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. Tomei o livrinho da mão do anjo, e o comi. Na minha boca era doce como mel, mas tendo-o comido, o meu ventre ficou amargo” (Apocalipse 10:9, 10).

A expressão “toma-o e come-o” significa que a mensagem seria devorada: Plenamente assimilada, recebida. “Achadas as tuas palavras, logo as comi” (Jer.15:16).

O anúncio da breve volta de Jesus foi recebido com grande entusiasmo. A alegria enchia o coração dos cristãos. Mas eles estavam condenados ao desapontamento. Quando a hora chegou e Jesus não apareceu, a fé dos crentes sofreu um golpe terrível. O que tinha sido doce como mel, agora se tornara amargo como fel, tal como dissera o anjo.

Não poderia haver melhor resumo do que aconteceu a seguir, na história da Igreja Adventista, do que aquelas palavras proféticas. Todos os fundadores da igreja haviam sido mileritas, ou seja, seguidores de Guilherme Miller, um fazendeiro batista que se tornara pregador e proclamava que Cristo retornaria por volta de 1843 ou 1844, no fim da profecia dos 2.300 dias, como ele havia entendido. Para os adventistas que vivem hoje, 171 anos após aquele evento, é difícil imaginar quão preciosa foi a experiência daqueles mileritas ao se aproximarem do dia 22 de outubro de 1844, data que, segundo os estudos feitos por eles, seria o fim da profecia de Daniel. Sua experiência foi fascinante durante as semanas que precederam o dia 22 de outubro. Ao ler alguns de seus relatos, vislumbramos um imenso sentimento de alegria.

“No fim do encontro, as colinas de granito de New Hampshire ecoavam o grande clamor: ‘Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro!’ Enquanto as carroças carregadas e os vagões nas estradas de ferro voltavam para os diferentes estados, cidades e vilas da Nova Inglaterra, o clamor ainda ressoava: ‘Eis o Noivo! Saí ao Seu encontro!’ O tempo é curto! Preparem-se! Preparem-se!” (José Bates, Second Advent Way Marks and High Heaps, 1847, p. 30, 31.).

“Semelhante à vaga da maré”, Ellen White disse que “o movimento se alastrou pelo país. Foi de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, e para lugares distantes, no interior, até que o expectante povo de Deus ficou completamente desperto” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 400).

Finalmente, o grande dia chegou. Guilherme Miller disse o seguinte: “Mesmo os piores escarnecedores se calaram” naquele dia. Mas continuou dizendo: “O dia passou. Na manhã seguinte, era com se todos os demônios do mais profundo abismo viessem sobre nós. Os mesmos … que gritavam por misericórdia … antes, estavam agora … escarnecendo, zombando e ameaçando da maneira mais blasfema.” (Guilherme Miller carta manuscrita a J. O. Orr, M.D., 13 de dezembro de 1844, citado em F. D. Nichol, The Midnight Cry, p. 266).

A experiência que havia sido tão doce em sua boca, como predito pelo apóstolo João, agora se tornara amarga no estômago. Assim como não podemos compreender completamente a experiência pela qual passaram, há tanto tempo, ao aguardar a volta de Jesus naquela terça-feira, também não entendemos plenamente a intensidade da dor que sentiram nos dias e semanas após o desapontamento de 22 de outubro.

Logo que me tornei adventista, li com fascinação a história dos pioneiros e do grande desapontamento de 1844. É difícil compreender o grande drama experimentado pelos pioneiros adventistas naquela época. Calcula-se que mais de 50.000 pessoas esperavam a volta de Jesus, “naquele dia”! A população dos Estados Unidos era de 20 milhões!

Hiram Edson resumiu sua experiência assim: “Esperamos pela vinda de nosso Senhor até que o relógio desse as doze badaladas, indicando a meia-noite. O dia havia passado e nosso despontamento transformou-se em realidade. Nossa tão acariciada esperança estava destruída e caiu sobre nós tamanho espírito de tristeza e lágrimas como eu nunca havia experimentado antes … Choramos e choramos, até o alvorecer.” (Hiram Edson, fragmento de manuscrito autobiográfico não datado, localizado na biblioteca da Universidade Andrews, p. 8a, 9).

Os discípulos de Cristo passaram por idêntica experiência. Poderia haver coisa mais trágica do que a morte de Jesus, para homens que haviam abandonado tudo, crendo que Ele era o Cristo? Quando eles desceram da cruz o corpo do seu Senhor, e o sepultaram, também sepultaram as suas esperanças.

Sua obra, porém, não estava terminada. Na verdade, ela mal havia começado. Foi depois do seu grande desapontamento que os apóstolos realizaram sua maior obra. Na tarde após a ressurreição, lemos que o Senhor “abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras” (Luc. 24:45).

Desapontamentos humanos são, às vezes, desígnios divinos, e como os apóstolos, dezoito séculos antes, este grande desapontamento de 1844 provou-se ser uma bênção disfarçada.
Uma mensagem maior precisava ainda ser dada ao mundo. Alguns, é certo, renunciaram à sua fé e deixaram a Palavra de Deus; mas, esse próprio desapontamento conduziu muitos outros a um estudo mais aprofundado da Bíblia.

VI - O Despertar de Um Novo Movimento Mundial

 “Então foi-me dito: Importa que profetizes outra vez acerca de muitos povos, nações, línguas e reis” (Apocalipse 10:11).

É notável como a profecia indica neste texto um novo movimento mundial constituído de crentes que participaram do grande desapontamento de 1844. Outra vez deviam levantar o clamor mundial da segunda vinda de Cristo, sem, no entanto, assinalarem uma nova data para o Seu aparecimento.

Nova luz deveria incidir sobre o caminho dos pesquisadores da Palavra de Deus. Uma maior mensagem, abarcando profecias ainda não imaginadas, devia vir à luz como resultado daquele estudo. Aquela mensagem pregada até 1844, não era a mensagem final de Deus.

Depois do grande desapontamento de 1844, os crentes genuínos não abandonaram sua crença na Segunda Vinda de Cristo, ou a convicção de que o seu movimento era de origem divina. Renovado interesse no estudo da Bíblia resultou em mais clara compreensão da profecia. A breve volta de Jesus tornou-se uma grande certeza. A Igreja Adventista do Sétimo Dia foi estabelecida com a missão mundial de avisar ao mundo de que Cristo voltará. Fundaram-se instituições médicas e educacionais em muitas partes do Globo. Foram erigidas igrejas, escolas, hospitais e casas publicadoras para ajudar a levar o evangelho eterno a toda nação, tribo, língua e povo. Os Adventistas do Sétimo Dia consideram sua vocação um cumprimento da profecia bíblica. Eles devem desempenhar uma parte muito importante no soar da sétimo trombeta (Ap 11). Encaram com seriedade a ordem de Ap 10:11: “Importa que profetizes outra vez acerca de muitos povos, nações, línguas e reis”.

Referência:

Comentário Bíblico Adventista, v. 7

MAXWELL, C. Mervyn. Uma Nova era Segundo as Profecias do Apocalipse. Tatuí, São Paulo: 2002.

Um comentário:

  1. Obrigada pelas informações do capitulo 10 de Apocalipse. E Deus nos capacite para cumprir essa profecia e ter o privilégio de fazer parte dessa igreja.

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