Vanderlei
Dorneles, Ms. Teologia e Com. Social
Professor no Unasp,
Campus Engenheiro Coelho, e diretor da Unaspress
Resumo: Este artigo
analisa a contribuição do pontificado de Karol Wojtyla para a restauração do
poder papal, poder este perdido desde o final do século 18. Através de
sumários, o autor toma em consideração o extraordinário impacto das mais
importantes ações e documentos articulados por João Paulo II, com a intenção de
reaproximar a Igreja Católica dos seus inimigos históricos, bem como do poder
político mundial. Dorneles conclui sua análise sinalizando que as feridas
históricas restauradas pelo papa João Paulo II convergem para a restauração da
ferida maior, profetizada no Apocalipse.
Abstract: This article comprises an analysis of the
contribution made by the pontificate of Karol Wojtyla to restore the papal
power, that historically had been lost since the end of the 18th century. By
way of summaries, the author takes into consideration the massive impact of the
main actions and documents articulated by John Paul II, intended to get the
Catholic oser to its historical enemies as well as to the world political
powers. Dorneles concludes indicating that the historical wounds restored by
pope John Paul II, converge with the restoration of the major wound, predicted
in the book of Revelation.
Introdução
A imagem do último dia
do velório de João Paulo II correu o mundo através de milhares de canais
televisivos, impressos e eletrônicos.1 O longo e emocionante funeral do
pontífice popular que fez o terceiro maior pontificado da história católica foi
acompanhado por mais de 1 milhão de fiéis, na Praça de São Pedro.2
Nesta praça, fotógrafos
registraram a cena histórica: o caixão do papa cercado por um cinturão de
cardeais de vestes vermelhas e brancas; no altar à direita, o então decano do
colégio de cardeais Joseph Ratzinger que oficiava a cerimônia, no outro extremo,
líderes de diversas religiões que também prestavam suas homenagens; à direita
de Ratzinger, grande número de políticos e estadistas, de ternos escuros, que
ali compareceram para honrar Karol Wojtyla, o papa que encantou o planeta. A
cerimônia se desenrolou “diante dos mais importantes líderes políticos e
religiosos de todo o mundo”.3 Foi literalmente, “o dia um que o mundo parou
pelo papa”, segundo manchete do jornal O Estado de S. Paulo.4 A cena foi
impressiva. “Em reconhecimento à santidade de João Paulo II, chefes de Estado,
tão acostumados à frieza dos funerais, emocionaram-se e alguns chegaram a
comungar”.5
O prestígio do papa
pôde ser avaliado pelo espaço que sua morte e sua sucessão ocuparam nos meios
de comunicação ao redor do mundo. Foi o acontecimento de maior repercussão na
mídia de todos os tempos. Além disso, Wojtyla conseguiu alterar o padrão geral
das coberturas midiáticas dos fatos católicos, em geral, muito críticas. A
cobertura foi marcada pelo “emocionalismo” e “ausência de uma interpretação
crítica” dos fatos, o que caracterizou um “retorno à Idade Média”, na maneira
de o mundo relacionar-se com a Igreja Católica.6 Diversificada por sua
natureza, a imprensa, desta vez, “mostrou-se unânime no tom solene e grave de
uma cobertura que transformou a praça São Pedro no centro do planeta”.7
Tanto em vida quanto na
morte, o polonês Karol Wojtyla exerceu forte influência no sentido de restaurar
a admiração e o respeito mundial pela Igreja de Roma. Na semana do velório, o
presidente americano George W. Bush, seu pai George Bush, o ex-presidente Bill
Clinton e a secretária de Estado Condoleezza Rice ajoelharam-se diante do
esquife em veneração e reconhecimento da importância do primaz de Roma.8 Uma
comitiva ecumênica brasileira liderada pelo presidente Lula também homenageou o
papa e seu pontificado de 26 anos.
As imagens do
sofrimento do pontífice circularam pelo mundo todo e despertaram compaixão e
simpatia pelo esforço e sacrifício mostrados ao longo de sua vida e mais
acentuadamente nos últimos dias. O impacto dessas imagens e seu poder de
arregimentar simpatias e de despertar apoio em prol das causas religiosas de
Roma certamente ainda serão sentidos.
Para Alberto Dines,
diretor do “Observatório da Imprensa”, Karol Wojtyla vai entrar para a história
“pelo carisma, pela fé que transmitiu, pelas férreas convicções, pela
disposição física, pela coragem de enfrentar desafios que poucos pontífices
enfrentaram e, sobretudo, pelo uso que soube fazer dos meios de comunicação”.9
O pontificado de Wojtyla
destacou-se por seu efeito pacificador e reconciliador. Ele foi um restaurador
de feridas. Visitou mais de 100 países, viajou mais de 1 milhão de quilômetros.
Conseguiu aproximar da Igreja muitos de seus inimigos históricos. Por meio de
documentos assinados por seu punho, encíclicas e missas especiais, tratou
feridas milenares e rompeu barreiras que separavam os católicos dos
protestantes, judeus, islâmicos, ortodoxos, anglicanos e mesmo da Ciência.
A maior ferida para a
qual o pontificado de João Paulo II iniciou um processo de restauração, porém,
está para além das questões históricas citadas. A restauração dessa chaga
poderá implicar um definitivo reposicionamento da Igreja no centro do mundo
político e religioso, o que vai lhe outorgar o poder de moldar costumes, ditar
leis universais, impor crenças e ritos, determinar quem deve viver e quem deve
morrer. Esta ferida histórica, imposta ao papado pela Revolução Francesa e
prevista há dois mil anos no Apocalipse, arrebatou os poderes terrenos das mãos
do papado e da Igreja. Mas as imagens de estadistas de todo o mundo ao redor do
papa morto, anunciaram silenciosamente que a retomada desse poder é iminente.
Para se ter uma visão
clara da importância do pontificado de Karol Wojtyla e de seu efeito restaurador,
é preciso lembrar a geografia do poder no final da década de 1970, quando ele
assumiu a liderança do catolicismo, repassar algumas de suas iniciativas, bem
como rever documentos de seu pontificado. O objetivo deste artigo é fazer uma
menção resumida das principais ações pacificadoras do papa a fim de se alcançar
uma visão do conjunto das mesmas e de se vislumbrar seu efeito no sentido de
restaurar as relações da Igreja com o mundo moderno.
Poder
disperso
Durante a Idade Média,
o papado gozava de elevado prestígio. O mundo era um só. O continente europeu
era o centro da civilização e a igreja estava no núcleo de todas as decisões
envolvendo o poder temporal. No final da década de 1970, porém, o mundo estava
dividido em diversas forças, muitas delas hostis à Igreja romana.
Essa geografia do poder
pode ser resumida em quatro aspectos principais: 1) O mundo político estava
polarizado entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética. A Guerra Fria
impunha o pesadelo de uma hecatombe nuclear que poderia destruir o mundo.10 A Igreja
estava à margem do poder político e sem influência de ambos os lados. 2) No
cenário religioso, as divisões históricas do cristianismo dificultavam ao papa
qualquer ação ecumênica de vulto, já que protestantes, anglicanos e ortodoxos
permaneciam separados da Igreja romana. Além disso, o catolicismo amargava uma
inimizade ferrenha do Islã desde as Cruzadas, e dos judeus, desde o Holocausto.
O crescimento do pentecostalismo era outro fator que pesava contra o
catolicismo, já que a renovação carismática no meio católico veio tardiamente,
só década de 1960, ao passo que os evangélicos já experimentavam essa renovação
desde o início do século.11 3) No campo da Ciência, a Igreja fora posta à
margem da credibilidade desde a controvérsia com Galileu e desde o lançamento
da teoria da Evolução. 4) Internamente, a Igreja sofria as consequências de um
clero partido entre conservadores e progressistas, estes divididos em dois
grupos: europeus e americanos que buscam aberturas para as questões morais e os
sul-americanos que defendiam a Teologia da Libertação, desejando empurrar a
Igreja para uma revolução social.
Atitudes históricas
equivocadas lançaram o catolicismo no vazio de poder, nesse mundo dividido.
Desde o século quarto
da era cristã, a Igreja assumiu uma postura intolerante e autoritária em
relação a seus oponentes. Essa postura começou a se evidenciar a partir da
conversão de Constantino. Sabemos que em 312 d.C., durante uma batalha, o
imperador foi surpreendido pela visão de uma cruz no céu. Ele venceu a guerra,
atribuiu a vitória ao Deus dos cristãos e tornou-se um deles. No ano seguinte,
os cristãos passaram a ter liberdade de culto e, em 321, o domingo virou um dia
santo, no qual todos deviam deixar suas atividades e cultuar. Com a morte de
Constantino, em 337, seu filho Teodósio ascendeu ao trono e iniciou uma
política de perseguições às outras religiões e aos inimigos da Igreja. A
religião tinha dado as mãos ao Estado, que a recomendava, protegia e lutava
contra seus opositores. A Igreja cristã montou-se sobre uma “besta” (símbolo
apocalíptico para poder político), capaz de cumprir seus desígnios e atender a
sua vontade.
A queda de Roma, em
476, com a invasão dos bárbaros, possibilitou ao bispo de Roma, já chamado de
papa, assumir a posição de comando do mundo, o que ampliou grandemente o poder
e a influência do papado. Ele se tornou a única instituição capaz de assegurar
ordem num mundo tomado pelos bárbaros, os quais inclusive passaram a reconhecer
seu poder. A igreja acumulou o poder civil, tomou as forças militares, e lançou
o mundo na Idade Escura.
O papado fez fortunas
com as indulgências e a adesão de todos os nobres. Os pecados de Roma, porém,
acumulados junto com seu ouro, aos poucos foi minando as bases de seu domínio.
Durante séculos o trono da Igreja romana foi ocupado por homens desonestos,
aventureiros, depravados, viciados. A instituição que era para ser o retrato de
Deus tornou-se o retrato do pecado. Foi esse o caminho que levou a Igreja e o
papado ao descrédito e ridículo perante o mundo. No final da Idade Média,
iniciava-se uma “ferida de morte” sobre uma das cabeças da besta, que a levaria
ao precipício na Revolução Francesa.
O processo de
civilização, colocado em curso na Europa no final da Idade Média, possibilitou
à população poder ler e pensar. Houve a Renascença, que recolocou o homem no
centro da cultura.12 Ocorreu a Reforma, que enfraqueceu a Igreja no norte da
Europa, e o Iluminismo, que instituiu o critério da Razão como a norma da vida,
liquidando a força da Igreja em todo o continente.13 O povo simples passou a
ser instruído a ver seu valor, seus direitos, sua força. A influência exercida
pelos pensadores independentes, por meio de seus livros, abriu os olhos da
Europa. Esse processo culminou com a Revolução Francesa, cujo espírito se
espalhou por toda a Europa.14 O poder da Igreja e de seu líder ruiu. A
credibilidade da religião oficial e o respeito pelo clero se substituíram pelo
mais acirrado ódio, refletido em teorias científicas que desmontavam as teses
da Igreja, correntes humanistas que emanciparam o homem e descartaram Deus da
vida.15 Consolidou-se a “ferida de morte” sobre o papado e a Igreja
perseguidora, como profetizado no Apocalipse de João.
A esta lista de pecados
da Igreja, acrescenta-se ainda o fato de ela não ter conseguido em tempo entrar
no passo da modernidade. No século 18, o papa Pio VI esbravejava contra “a
abominável filosofia dos direitos humanos”, defendida pela Revolução Francesa.
E não era por menos. A revolução matou padres na guilhotina e confiscou terrenos
da Igreja. No século 19, Roma voltou-se contra a industrialização: os papas
atacavam as ferrovias, o gás, a iluminação. “A igreja deposta do papel de dona
do mundo, virou inimiga declarada da modernidade. E, como a modernidade é uma
inimiga poderosa, o papa foi ficando mais e mais irrelevante. A Igreja chegou à
metade do século 20 sem poder político”.16
Tratando
a ferida
Com o Concílio Vaticano
II, em 1966, a Igreja começou a mudar sua estratégia no tratamento com a
modernidade. Alterou a liturgia, abriu a guarda para o ecumenismo e a renovação
carismática.17 Começou a tomar fôlego. Mas as mudanças que lhe devolveriam a
posição de centro no mundo seriam tomadas pelo papa polonês. João Paulo II
liderou os quase um bilhão de católicos com decisões e atitudes internas
conservadoras na área moral, e iniciativas externas muito modernas na área
filosófica, política e científica.
No início de seu
pontificado, com a primeira visita à Polônia, em 1979, ele exerceu influência
decisiva para desestabilizar os regimes comunistas do Leste Europeu, preparando
o terreno para a derrocada destes governos no final da década de 1980, o que
lhe possibilitou vantajosa amizade com os Estados Unidos. Segundo Richard
Allen, secretário de Segurança Nacional de Ronald Reagan, o papa João Paulo II
e Reagan “formaram uma das maiores alianças secretas de todos os tempos”.18
Ainda em 1979, no
primeiro ano de seu pontificado, por ocasião da comemoração do 900o aniversário
do martírio de São Estanislau, o padroeiro da Polônia, a visita do papa à
capital Varsóvia fez estremecer o regime comunista. A cúpula vermelha em Moscou
recomendou ao governo polonês que não aceitasse a visita do pontífice. O
governo de Varsóvia, no entanto, não podia impedir a entrada de um cidadão
polonês em sua própria terra natal, embora ele fosse o papa. João Paulo II
seria o primeiro pontífice a entrar num território comunista. Na visita que
durou uma semana, as multidões o saudavam com o refrão “Queremos Deus! Queremos
Deus!”.19 Em vista da adesão popular a seus discursos, um documento do Conselho
para Assuntos Religiosos da União Soviética relatou: “Os camaradas poloneses
caracterizaram João Paulo II como mais reacionário em assuntos da igreja e mais
perigoso no nível ideológico que seus predecessores. Quando cardeal,
distinguiu-se por sua posição anticomunista”.20 O movimento popular em prol do
catolicismo e da retomada da religião se fortaleceu após a visita do pontífice.
Fortaleceu-se também o sindicato Solidariedade, uma instituição permeada pelos
valores católicos e a principal opositora do governo comunista.
Em junho de 1989, na
primeira eleição direta após o início do comunismo, a Polônia deu 261 cadeiras,
das 262 de seu Senado, ao partido Solidariedade. Esse fato marcou o fim do
regime socialista no país, e geraria um efeito dominó sobre todos os demais
governos comunistas do Leste Europeu. Em seu livro Sua Santidade, os escritores
Marco Politi e Carl Bernstein afirmam que o papa João Paulo II tornou-se,
então, o centro em volta do qual a história passou a girar.21 A Igreja voltava
ao núcleo do mundo, uma vez que seu chefe foi a peça-chave para o desmonte de
uma das piores situações já vividas pelo Ocidente, a Guerra Fria.
O falecido padre
jesuíta, assessor pessoal dos papas João XXIII e Paulo VI, Malachi Martin, em
seu livro The Keys of this Blood (“As chaves deste sangue”), diz que a eleição
do papa João Paulo II foi estrategicamente feita como um projeto católico para
o estrangulamento do comunismo, parte de um plano secular da Igreja para assumir
o controle de uma Nova Ordem Mundial.22 Como cidadão polonês, o papa poderia
entrar na Polônia, por que apesar de ser o chefe católico, ele era um cidadão
do país.
Segundo Martin, o
programa do pontífice polonês desde o início foi o de trabalhar pela derrocada
do Comunismo no Leste Europeu, como uma condição indispensável para que o
Vaticano pudesse assumir o controle da Nova Ordem Mundial, possibilitando a
Igreja tomar nas mãos outra vez os destinos do mundo. Além do Comunismo,
constava dos planos originais do Vaticano que também o poder capitalista
ocidental, sediado nos Estados Unidos, fosse cooptado pelo papa. No entanto, a
mesma expectativa de controle da nova ordem já era assumida pelo ex-presidente
americano George Bush, no início dos anos 1990: “É uma grande idéia: uma nova
ordem mundial, onde diversas nações se unem numa causa comum”. E na visão de
Bush, “unicamente os Estados Unidos da América do Norte tinham tanto os meios
econômicos quanto a posição moral para sustentá-la”.23 De acordo com Martin, o
papa João Paulo II, por sua vez, insistia que “os homens não têm nenhuma
esperança segura de criar um sistema geopolítico, que possa subsistir, a menos
que seja sobre a base do Cristianismo Católico Romano”.24 Na verdade, João
Paulo II, como pretendente ao controle da Nova Ordem Mundial, reclamava para o
papado “o direito de ser o supremo tribunal de julgamento na sociedade
planetária”.25 Na disputa pelo controle desse poder mundial, Martin acertou
quanto ao primeiro bloco político a ser desintegrado pelo papa, mas, quanto ao
segundo, certamente, em vez de antagonizá-lo, os papas vão continuar buscando
aproximação do mesmo como têm feito nas últimas décadas.
A obstinação com que
João Paulo II perseguiu sua meta de restaurar o poder temporal da Igreja e sua
influência sobre os destinos do mundo tinha um fundo espiritual. Segundo
Martin, enquanto recuperava-se do atentado sofrido em 1981, o papa teria
recebido um visita espiritual da Virgem Maria que lhe prometeu fazê-lo herdeiro
e controlador da Nova Ordem Mundial, a ser estabelecida sob sua influência
direta.26
No campo religioso,
consciente da necessidade de ter apoio global, João Paulo II procurou reparar
as brechas que mantinham afastadas as três religiões monoteístas. Ele foi o
primeiro pontífice a entrar numa sinagoga, em 1986, em Roma.27
Um ato importante na
reconciliação com inimigos históricos foi o documento da Santa Sé sobre a Shoáh
“Nós nos lembramos”, divulgado em 1998, em que a Igreja liderada por Karol
Wojtyla reconhecia os preconceitos que levaram os cristãos a falharem no
resistir ao mal contra os judeus. O papa pedia perdão pelos erros da igreja no
Holocausto.28
No ano seguinte, o papa
pediria perdão por erros ainda mais antigos e muito danosos, por meio do
documento chamado “Memória e Reconciliação: a Igreja e as Culpas do Passado”,
preparado pela Comissão Teológica Internacional, sob a presidência do então
cardeal Joseph Ratzinger e publicado como “um ato de arrependimento”. Nesse
contexto, em sua exortação à Igreja, o papa João Paulo II declarou que “é
preciso dar reconhecimento a qualquer parte que a Igreja teve no crescimento e
divulgação do anti-semitismo na história. É preciso pedir perdão por isso a
Deus e todo esforço deve ser feito para favorecer encontros de reconciliação e
de amizade com as crianças de Israel”.29
O texto sobre erros do
passado fez também alusão à tortura e à queima de hereges nas fogueiras da
Inquisição. Nesse mesmo documento, a Igreja pediu perdão pelas Cruzadas, contra
os muçulmanos. Aliadas a este pedido, as visitas do papa aos países islâmicos
ajudaram a reforçar a aproximação com o Islã. João Paulo II também foi o
primeiro papa a entrar numa mesquita, em maio de 2001, ocasião em que ele
incentivou cristãos e muçulmanos a pedir perdão pelos erros do passado.
Em visita a Jerusalém,
durante o jubileu do ano 2000, o papa em oração junto ao Muro das Lamentações,
deixou ali um bilhete a Deus: “Peço perdão, em nome de todos os católicos, por
todas as injustiças contra os não-católicos no decorrer da história”,
confessando o anti-semitismo dos cristãos.30
Em março de 2000, na
basílica de São Pedro, ele realizou a missa do “Dia do Perdão”. Propôs um exame
de consciência para a igreja no início do novo milênio. Dizia: “Pai, nos
pediste para amar os inimigos, fazer bem aos que nos odeiam e orar pelos que
nos perseguem. Muitas vezes, porém, os cristãos contrariaram o evangelho,
agindo pela lógica da força, violaram os direitos de etnias e povos,
prejudicando suas culturas e costumes religiosos”.31
Os muçulmanos também
foram impressionados pelo papa, na época de sua visita ao terrorista que tentou
matá-lo, em 1981, Mehmet Ali Agca. “Eu falei com ele como se fala a um irmão,
ao qual já perdoei e que goza da minha inteira confiança”, disse o papa.
A separação de meio
século entre cristãos católicos e protestantes, motivos de inúmeras guerras em
partes da Europa, também recebeu atenção especial do pontificado de Karol
Woityla. Em diversas ocasiões, o papa se dirigiu aos protestantes como “nossos
irmãos”.
As iniciativas do
pontífice e da Cúria Romana culminaram num fato histórico, em 1999, a
assinatura da “Declaração Conjunta sobre Justificação”, que, em tese, pôs fim a
uma história de controvérsias doutrinárias. Católicos e luteranos assinaram o
documento, em que concordaram nos seguintes pontos: 1) A salvação resulta da
graça de Deus e não das boas obras como mantinham os católicos. 2) Só se chega
à salvação pela fé, como ensinou Lutero. 3) Embora não levem à salvação, as
boas obras são consequência natural da fé.32 O texto ainda diz: “Nosso consenso
em verdades básicas da doutrina da justificação precisa surtir efeitos e
comprovar-se na vida e na doutrina das igrejas… Damos graças ao Senhor por este
passo decisivo rumo à superação da divisão da igreja. Rogamos ao Espírito Santo
que nos conduza adiante para aquela unidade visível que é a vontade de
Cristo”.33
O papa se referiu à
assinatura da declaração como “a superação de pontos de doutrinas incompatíveis
há 500 anos”, “um marco no complexo caminho para reconstruir a plena unidade
entre os cristãos”.34
O pontificado de João
Paulo II fez uma verdadeira revisão na história do catolicismo. O papa adotou
uma política de arrependimento e confissão que serviu para curar feridas
históricas. Em decorrência desta política pacificadora, ele conseguiu reunir,
em 2002, na Itália, cerca de 150 líderes cristãos (católicos, protestantes,
ortodoxos), muçulmanos, judeus, budistas, hindus, sikhs, jainistas, xintoístas,
zoroastristas, confucionistas e animistas para uma missão ecumênica.
João Paulo II também
tentou, com relativo êxito, superar a barreira secular que separava Ciência e
Religião. Desde a controvérsia com Galileu Galilei, no século 17, em função da
posição e do movimento da Terra em relação ao Sol, e do lançamento da teoria
evolucionista de Charles Darwin, no século 19, a igreja ficou à margem da
ciência, como uma instituição destituída do critério da Razão.
Em outubro de 1992,
João Paulo II reabilitou Galileu, favorecendo sua visão heliocêntrica como
justa e correta e afirmando tratar-se de um bom cristão. Por ordem papal,
pesquisadores de diversas universidades católicas, entre elas, a Pontifícia
Academia de Ciências do Vaticano, buscaram um ponto de aproximação entre a
visão bíblica da Criação e a teoria darwinista. O resultado foi o que o papa
declarou em 1996: “a teoria da evolução é mais do que uma hipótese”.35 Sobre a
declaração papal, o padre Paul Schweizer, da PUC do Rio de Janeiro, afirmou que
“o Gênesis foi escrito como um mito da criação baseado na ideia que o povo
daquela época fazia de Deus”.36
Para João Paulo II, as
duas instituições falharam não em suas respostas, mas na maneira como
procuraram se entender no passado. No dia 15 de outubro de 1998, ele lançou a
encíclica “Fides et Ratio”, defendendo o uso da razão humana na busca pela
verdade, na qual deu eco ao pensamento de Thomas de Aquino.37 O caminho estava
aberto para que a igreja assumisse sua posição como uma instituição que
valoriza a investigação científica.
Dentro da Igreja, o
papa enfrentou desafios fortíssimos. Ele, no entanto, declarou cedo que a Cúria
Romana dizia a seu antecessor o que fazer e quando fazer. “Eles não vão me
dizer o que fazer. Eu decidirei. Eles não vão me matar.”38 Na Europa, ele enfrentou
os liberais preocupados com a posição rigorosa da Igreja na área moral. Os
padres e bispos que defendem o fim do celibato, o relaxamento no uso de
anticoncepcionais por parte dos fiéis e mesmo a tolerância do homossexualismo
tiveram que ficar em silêncio e amargaram a publicação de importantes
encíclicas e do novo catecismo, nos quais uma linha moral rígida foi mantida e
prescrita para as próximas décadas. Na América Latina, clérigos de orientação
socialista e defensores de uma Revolução apoiada pela Igreja foram desligados
de suas funções, como Leonardo Boff.
João Paulo II criou um
clero mais coeso, embora essa coesão tenha sido resultado da ação de
mão-de-ferro.
Consideradas as
iniciativas do papa no sentido de empurrar o comunismo para o precipício, de
retomar relações com inimigos históricos e de atualizar a Igreja em relação à
Ciência, por ocasião de sua morte seu legado para a Igreja foi o de um mundo
mais simpático e aberto para os interesses do Vaticano. “A maior marca do
pontificado do polonês Wojtyla será, no entanto, o prestígio de que dotou o
papado dentro e fora da Igreja. Ninguém imaginaria um início de século 21 tendo
como uma de suas grandes figuras o papa, um dos mais arcaicos cargos do mundo.
Num mundo em que as religiões tradicionais perdem espaço, João Paulo II
conseguiu impressionar com sua fidelidade aos princípios”.39
Dines analisa que antes
de João Paulo II, “os papas eram os pastores de um enorme rebanho”. Com ele e
após ele, porém, “os papas passarão a ser pastores-mediadores, guias e arautos
do rebanho planetário. Karol Wojtyla ajudou a mudar o mundo, mudou a forma de
relacionamento da religião com o mundo e do mundo com a religião”.40
O
efeito
Uma evidência de que a
Igreja passa a ocupar de novo o centro do mundo, em resultado das ações
reconciliadoras de João Paulo II, foi dada por ocasião de seu velório,
transmitido para o mundo todo como o de uma celebridade. Importantes veículos
impressos nacionais e internacionais dedicaram cadernos especiais para a
cobertura e interpretação do evento. Noticiários televisivos deram metade ou
quase toda a edição de uma semana à cobertura do adeus ao papa. Uma multidão
recorde visitou Roma naquela semana.
A essa espécie de
“veneração”, somam-se depoimentos de políticos, estadistas e religiosos que
destacaram as qualidades do pontífice como um homem impar, que lutou pelas
causas mais solidárias, ele mesmo sendo “sem pecados”, como alguns o
consideraram.
Dalai Lama, líder
espiritual budista do Tibete, disse que “o papa, assim como eu, sentia que os
seres humanos não precisam apenas de desenvolvimento material, mas também de
espiritualidade”.41
O presidente dos
Estados Unidos, George W. Bush, acrescentou que “a Igreja Católica perdeu seu
pastor. O mundo perdeu um campeão da liberdade humana e um bom e fiel servo de
Deus foi chamado para casa”. Tony Blair, primeiro-ministro britânico, disse:
“era uma inspiração, um homem de extraordinária fé, dignidade e coragem. Ao
longo de sua vida dura e muitas vezes árdua, defendeu a justiça social e os oprimidos”.
O chanceler alemão
Gerhard Schroeder reconheceu a influência do papa na formação da União
Européia. “Ele influenciou a integração pacífica da Europa durante seu
pontificado de muitas maneiras. Repetidas vezes ele agiu com sabedoria e
respeito pelas culturas e pelas tradições das pessoas para desenvolver soluções
para os problemas da humanidade”. O primeiro-ministro do Japão Junichiro
Koizumi avaliou que “a morte do papa foi uma grande perda. Ele sempre se
esforçou pelo diálogo inter-religioso”.
Também Kofi Annan,
secretário-geral da ONU, reconheceu o papel do papa nas questões globais.
“Sempre me impressionou seu compromisso para que as Nações Unidas se
transformassem em uma força moral na qual todas as nações do mundo se sentissem
em casa e desenvolvessem uma consciência comum da existência, ou seja, uma
família de nações”. O ex-presidente polonês Lech Walesa, amigo de João Paulo
II, considerou que “o final do comunismo já se vislumbrava no horizonte e
apenas a hora de sua queda continuava sendo uma incógnita, mas sem o papa, o
comunismo teria chegado a derramar sangue”. E Mikhail Gorbachev, o último
presidente da União Soviética, lembrou: “Para mim, João Paulo II desempenhou um
enorme papel para o fim da Guerra Fria. Nenhum conflito escapava à sua atenção.”
Do lado judaico, Ariel
Sharon, primeiro-ministro israelense, assegurou que o papa “era um homem da
paz, um amigo do povo judeu, que reconhecia sua singularidade e que trabalhou
pela reconciliação dos povos”. Do islâmico, Mahmoud Abbas, presidente da
Palestina, destacou que o papa foi “uma figura religiosa, que devotou sua vida
à defesa dos valores da paz, liberdade, justiça e igualdade para todas as raças
e religiões, assim como o direito de nosso povo à independência”.
O cantor Bono Vox,
vocalista da banda U2, considerou o papa “um grande showman, um grande
comunicador de ideias mesmo se você não concordasse com todas elas. Um grande
amigo do mundo pobre”.
O escritor místico
Paulo Coelho, numa espécie de oração, agradeceu: “Obrigado por ter nos lembrado
toda a perseverança. Obrigado por ter nos aberto os olhos para o dom da fé.
Obrigado por ter tocado nosso coração com o dom da vontade. Obrigado porque, em
um momento em que todos se sentiam fracos, o seu exemplo nos devolveu a força.”
Para Henry Sobel,
presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista,
ele (papa) viajou o
mundo inteiro promovendo não só o catolicismo, mas a paz mundial. E, em quase
todos os lugares que visitou, fez questão de encontrar líderes de outras
religiões. Ele tinha um coração enorme e naquele coração cabiam todos os filhos
de Deus: judeus, católicos, muçulmanos, todos. Só podemos esperar que seu
sucessor ouça e siga seus sábios conselhos.
O reconhecimento e a
veneração de tantos estadistas (mais de cem no velório) e de religiosos de
diversas confissões sinaliza uma outorga de poder moral à igreja e seu líder.
Quais as implicações desse gesto? Como o próximo papa vai usar essa força moral
legada por Karol Wojtyla? E mais: o que pode mudar no mundo face esse novo
status assumido pela Igreja e pelo papa?
Conclusão
– ferida curada?
A perda de poder
político sofrida pelo Vaticano desde a Revolução Francesa foi uma evidência de
que a humanidade, incluindo cientistas, pensadores, líderes políticos e o povo
comum, suspeitou de que naquele momento (século 18) a Igreja não era digna de exercer
tal autoridade. Ao longo da Idade Média, ela fora inconsequente no uso do
poder. Significou também que a Igreja perdera o passo da modernidade. O mundo
estava à frente dela e não poderia mais prestar-lhe obediência. Havia outras
instituições a quem a humanidade podia confiar seu destino, suas esperanças,
suas vidas. A ciência, a razão, a técnica se tornaram mais promissoras em
assegurar liberdade e felicidade para a humanidade. Estas, portanto,
suplantaram a Igreja na confiança e na crença das pessoas.
A modernidade
experimentou os resultados dessa mudança de “guarda”. A ciência e a razão,
porém, também não se revelaram inteiramente confiáveis para as expectativas
humanas. Guerras, revoluções, crise ambiental vieram na esteira de seu domínio.
No chegada do século 21, a humanidade parecia encaminhar-se de volta para as
instituições espirituais, em busca de segurança e proteção, num mundo outra vez
em desordem, como no tempo que sucedeu a queda do Império Romano. A
insegurança, a crise ambiental, a corrupção na política e nos negócios, o
crescimento do tráfico e dos vícios têm gerado uma situação de caos. Na crise,
a humanidade costuma buscar apoio e segurança espiritual. O papa João Paulo II
despontou no final do século 20 como um referencial de segurança. Como chefe da
Igreja romana, ele tornou-se uma evidência de que a Igreja mudou.
A perda de poder
político e de prestígio por parte do papado, por ocasião da Revolução Francesa,
não foi um acaso da história. Foi profetizada no Apocalipse de João. O profeta
vira uma “besta” que emergiria do “mar” (Ap 13:1), portanto, do Velho Mundo, a
Europa, e que se tornaria extremamente poderosa. Seu poder seria tal que
tomaria o destino dos homens em suas mãos. Teria autoridade sobre a vida e a
morte das pessoas. Mas ele também vira que ela seria ferida de morte e essa
ferida interromperia seu poder.
Os primeiros
protestantes identificaram a “besta” do Apocalipse com o papado. Mais
recentemente os adventistas do sétimo dia estão entre os que mantêm essa
interpretação. O texto apocalíptico afirma: “vi uma de suas cabeças como ferida
de morte” (Ap 13:3). Segundo Ellen G. White, “a aplicação da chaga mortal
indica a queda do papado em 1798”, com a Revolução Francesa.42 Contudo, falando
da atuação do anticristo, aquele que pretende exercer funções exclusivas de
Cristo, como perdoar pecados, o apóstolo Paulo declara que tal personagem
permanecerá até ao segundo advento de Cristo (2Ts 2:8), o que indica que a
ferida de morte não desfaria o poder dessa instituição. Ela apenas o deixaria
inerte por um tempo.
Na sequência das visões
apocalípticas, João afirma que “a sua chaga mortal foi curada; e toda a Terra
se maravilhou após a besta” (Ap 13:3). Isso indica que, quando a “besta”
conseguir o apoio dos poderes constituídos e voltar a ser seguida e adorada em
toda a Terra, sua ferida estará restaurada. E nessa nova atuação ela durará até
que venha o reino de Deus, com a segunda vinda de Cristo. O profeta reitera:
“adoraram-na todos os que habitam sobre a Terra, aqueles cujos nomes não estão
escritos no livro da vida” (Ap 13:8, 17:8). Nisso, ele está falando de um grupo
de pessoas que preferem seguir os ensinos da “besta” a seguir as orientações da
Palavra de Deus. A cura da ferida, portanto, é um fato previsto para os últimos
dias. Essa cura significa a retomada de seu culto, a restauração de seu
prestígio e autoridade sobre as nações.
Para teólogo adventista
Alberto R. Timm, “a maior contribuição de João Paulo II foi o diálogo
inter-religioso com líderes não-cristãos, o que ajudou significativamente para
a construção de uma nova hegemonia católica no mundo. Ele acrescenta que João
Paulo II “com certeza conseguiu restaurar em parte a ferida de morte” da
“besta”, profetizada no Apocalipse.43
Amin A. Rodor, diretor
do seminário teológico Adventista do Sétimo Dia, em São Paulo, considera que o
pontificado de Karol Wojtyla, embora ambíguo em vários aspectos, teve uma
agenda efetiva, em que conseguiu reunir grupos tradicionalmente separados. Para
ele, a teologia católica não mudou. Mudou a maneira de tratar as diferenças. “O
papa tornou a igreja católica, se não aceita, vista com bons olhos. Ele levou a
igreja para os debates tradicionais sobre aborto, direitos humanos e
ciência.”44 Essa é centralidade da Igreja que faltava para a restauração de
seu papel hegemônico no mundo.
A Igreja sozinha,
contudo, a despeito da popularidade que Wojtyla despertou para com o papado,
não poderá assumir qualquer controle político no mundo. Sua autoridade
limita-se ao campo ideológico e simbólico. No entanto, o Apocalipse também já
previu que nos últimos tempos, uma nova força, uma outra “besta” emergirá e
cujo poder, de natureza política, será empregado em favor dos propósitos da
primeira “besta”, de forma que a restauração final de sua chaga será feita a
partir de uma aliança entre ambas. O segundo poder descrito no Apocalipse (ver
13:11-18) aponta para os Estados Unidos. Há mais de cem anos, Ellen White
declarou que “pela mais elevada autoridade terrestre” será feito decreto para
que, “sob pena de perseguição e morte”, os habitantes da Terra adorem e sigam
os caminhos indicados pela besta, cuja ferida mortal, então, estará plenamente
curada.45 É por isso que o gesto de um presidente protestante dos Estados
Unidos ajoelhar-se perante o papa tem um significado relevante.
No capítulo 17 do
Apocalipse há uma descrição ainda mais detalhada sobre a “besta” que emergiu do
mar, historicamente identificada com o papado. Nas revelações recebidas, o
vidente percebeu que a “besta estava assentada sobre muitas águas”. Na verdade
essa figura ilustra a origem e a natureza de seu poder. A besta não tem poder
próprio, só aquele que é outorgado a ela pelas nações da Terra que lhe
reconhecem a autoridade espiritual. Explicou um anjo ao vidente: “As águas em
que está assentada a besta e a mulher são povos, multidões, nações e línguas”
(Ap 17:15). Mais à frente o texto informa que o poder descrito na visão é o de
uma cidade que “reina sobre os reis da Terra” (17:18).
A atuação da besta é
dividida em três fases diferentes nessa visão. É dito que “a besta era e já não
é, mas está para subir do abismo” (17:8). Uma corrente de interpretação entende
que o dito se refere a atuação do papado até a Revolução Francesa com a
expressão “era”. A fase em que ela “não é” refere-se ao período subsequente,
quando a “besta” perdeu seus poderes políticos. E, quando fala de seu
ressurgimento, o Apocalipse está prevendo uma nova idade escura, em que este
poder assumirá novamente o controle dos destinos do mundo, havendo a partir daí
nova política de intolerância e perseguições a dissidentes.46 Isso torna a
iniciativa de aproximação dos dissidentes feita pelo último pontífice apenas
uma estratégia no jogo do poder.
Se a retirada do apoio,
do culto e da veneração por parte das nações em relação ao papado foi a
incidência da ferida de morte sobre a cabeça da besta descrita no Apocalipse
13, a retomada dessas atitudes de forma preliminar no velório de João Paulo II
significa que a ferida está em processo de cicatrização.
Com seu exuberante
pontificado, João Paulo II conseguiu projetar a Igreja como uma instituição
capaz de orientar a humanidade insegura daqui para frente. Como a Igreja usará
esse saldo de poder e de prestígio ainda é uma incógnita. Mas só para aqueles
que ainda não conhecem o Apocalipse.
Referências
1 Uma primeira versão, mais popular, deste
artigo foi publicada pela edição de maio de 2005 da Revista Adventista, com o
título “João Paulo II, o restaurador de feridas”, bem como em alguns sites da
Internet, entre eles, o www.advir.com.br. ↑
2 Ver Caderno Especial
dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, do dia 9 de abril de
2005. ↑
3 O Estado de S. Paulo,
Caderno Especial, 9 de abril de 2005, p. H1. ↑
4 Ibid, p. H4. ↑
5 Ibid, p. H1. ↑
6 Cf. Ulisses
Capozzoli, “Religião e ciência à moda da mída”,
05/04/2005, no Observatório
da Imprensa on line, em
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=323PAP005. ↑
7 Alberto Dines, “Karol
Wojtyla”, em
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/5bloco/index.asp?edi=321 ↑
8 Cf. AFP, “Presidente
George W. Bush reza pelo papa na Basílica de São Pedro”, 06/04/2005, em
http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/mundo/1931001-1931500/1931444/1931444_1.xml.
↑
9 Alberto Dines, “Karol
Wojtyla”. ↑
10 Marcelo Musa
Cavallari, “O pastor inesperado: papa polonês marcou século”. Época, 4 de abril
de 2005, Caderno Especial, 3. ↑
11 Cf. Vanderlei
Dorneles, Cristãos em Busca do Êxtase, 2ª ed. (Engenheiro Coelho, SP:
Unaspress, 2003),74-81. ↑
12 Stanley Grenz,
Pós-Modernismo (São Paulo: Vida Nova, 1997), 17. ↑
13 Sérgio Paulo
Rouanet, “A deusa da razão”, em A Crise da Razão, Org. Adauto Novaes (São
Paulo: Companhia das Letras, 1996), 289. ↑
14 Ver a obra de Aléxis
de Tocqueville, O Antigo Regime e a Revolução (Brasília, DF: Universidade de
Brasília, 1979). ↑
15 Para um estudo mais
amplo sobre o assunto, ver as teses secularizadoras que mais se opuseram à
Igreja e aos conceitos religiosos cristãos: Friedrich Nietzsche, Genealogia da
Moral: uma polêmica (São Paulo: Companhia das Letras, 1998); Karl Marx, Para a
Crítica da Economia Política e Do Capital (São Paulo: Nova Cultural, 1999); e
Sigmund Freud, O Mal Estar na Civilização (Rio de Janeiro: Imago, 1974), e
Totem e Tabu (Rio de Janeiro: Imago, 1974). ↑
16 Denis Russo, “O papa
e a História”, SuperInteressante, março de 2005, 40. ↑
17 Sullivan considera
que o concílio Vaticano II marcou o reconhecimento católico de que os dons
carismáticos são importantes para a Igreja e isso abriu o caminho para a
renovação (F. A. Sillvan, “Catholic Charismatic Renewal”, em Dictionary of
Pentecostalism and Charismatic Movements, eds. Stanley M. Burges e Gary B. McGee (Grand Rapids, MI:
Zondervan, 1988), 112. ↑
18 Russo, “O papa e a
História”, 42. ↑
19 Ibid. ↑
20 Ibid. ↑
21 Marco Politi e Carl
Bernstein, Sua Santidade: João Paulo II e a história oculta do nosso tempo,
(Rio de Janeiro: editora Objetiva, 1996). ↑
22 Malachi Martin, The Keys of the Blood (Nova York:
Touchstone, 1990). ↑
23 George Bush, “State of The Union Address”, Los
Angeles Times, 18 de fevereiro de 1991. ↑
24 Martin, The Keys of the Blood, p. 492. ↑
25 Ibid, p. 374-375. ↑
26 Ibid, p. 46-48. ↑
27 “João Paulo II foi o
primeiro papa a entrar em uma sinagoga e em uma mesquita”. Ver
http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/papa/0049.shtml. ↑
28 David Rosen,
“Relações Cristãs-Judaicas – O Legado do Papa João Paulo II”, em
http://www.jcrelations.net/pt/?id=2290. ↑
29 Para ver a íntegra
do documento acessar
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_document/
rc_con_cfaith_doc_20000307_memory-reconc-itc_po.html. ↑
30 Ver
www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020424/pri_tem_240402_206.htm. ↑
31 Ver “O tempo de João
Paulo II”, em http://www.auxiliadora.org.br/papa/tempo.htm. ↑
32 Declaração Conjunta
Católica Romana – Evangélica Luterana. Doutrina da Justificação por Graça e Fé
(Porto Alegre: Edipucrus, 1998). ↑
33 Cf. Agnus Dei,
“Declaração Conjunta Católico-Luterana sobre a Doutrina da Justificação”,
disponível em www.veritas.com.br/agnus dei. ↑
34 Ibid. ↑
35 Norton Godoy, “O
papa da ciência”, Veja, 1º/10/1997, p. 31. Afirma o texto: “Sem alarde, João
Paulo II revê 400 anos de preconceitos da Igreja e reconcilia a religião com o
mundo da razão”. ↑
36 Ibid. ↑
37 Para ver a íntegra
do documento acessar:
http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_15101998_fides-et-ratio_en.html.
↑
38 Cavallari, “O pastor
inesperado”, 4. ↑
39 Marcelo Musa
Cavallari, “Wojtyla fortaleceu o papado”, Época, 4 de abril de 2005, Caderno
Especial, 16. ↑
40 Dines, “Karol
Wojtyla”. ↑
41 Para ver este e os
seguintes depoimentos de líderes políticos e religiosos sobre o papa João Paulo
II, acesse o site Terra:
http://noticias.terra.com.br/mundo/mortedopapa/interna/0,,OI504431-EI4692,00.html.
↑
42 Ellen White, O
Grande Conflito, (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 579. ↑
43 Alberto R. Timm, em
entrevista concedida ao autor. ↑
44 Amin A. Rodor, em
entrevista ao autor. ↑
45 Ellen G. White,
Testemunhos Seletos, (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985),
2:67. ↑
46 Francis Nichol, ed. Seventh-day Adventist Bible
Commentary, (Review and Herald: Hagerstown, 1980) 7:853. ↑
Fonte:
Revista Parousia, 1° Semestre de 2005, UNASPRESS
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