VOLTA DE JESUS: A ÊNFASE ESQUECIDA
por Rubens Lessa*
Quando se prega ou
escreve sobre a volta de Jesus, a tendência é girar em torno de assuntos periféricos
Quando eu era criança,
quase todas as pregações sobre a volta de Jesus me deixavam assustado e com
medo. E pensava: "Quando eu me tornar adulto, esse temor vai
desaparecer." Ledo engano. Na adolescência e juventude, fui perseguido
pelo mesmo sentimento: expectativa, sensação de despreparo, ideia de perigo à
vista.
Tenho pensado muito
sobre isso, ultimamente, e noto que a maioria das pessoas de minha faixa etária
passou pela mesma experiência.
Por quê?
Ao buscar uma resposta
que me pudesse convencer, fiz duas coisas: puxei gavetas do arquivo da memória
e examinei exemplares antigos da Revista Adventista e de O Atalaia. Examinei
também as edições mais recentes de nosso órgão denominacional. Conclusão: a
ênfase dos artigos publicados em nossas revistas e dos sermões que tenho ouvido
ao longo do tempo, recai num chavão: sinais e iminência da volta de Jesus.
Mas o leitor deve estar
perguntando: Não devemos falar sobre esses aspectos? Sim, devemos, mas sem nos
esquecermos da ênfase que a volta de Jesus merece.
Relembrando
Em setembro de 1917, quando
a Primeira Guerra Mundial estava em andamento, a Revista Mensal, precursora da
Revista Adventista, publicou um artigo de F. S. Spies, intitulado: "Acaso
não virá logo?" O autor conta que, numa campal realizada na América do
Norte, estava presente um idoso irmão que havia durante quase toda a sua vida
cooperado na proclamação da terceira mensagem. Ele estava triste e abatido,
sentado no fundo de sua barraca. Ao passar por ali, um dos dirigentes perguntou-lhe:
"Que tem o irmão? Parece triste e desanimado."
- Sim - respondeu o
velho. - Já há quase 50 anos que estou a pregar a este povo que Jesus logo
virá. Esta verdade tem esforçado minha alma nas lutas e tentações. Ainda creio
nela tão firmemente como nunca antes. Mas estou ficando cada dia mais velho e
mais fraco. Eu contava que havia de ver a Jesus vindo nas nuvens do céu, sem
primeiro morrer, mas esta esperança vai-se desvanecendo. E isto que me faz
abatido e triste. Ah , acaso não virá logo?
Um pouco antes de
estourar a Segunda Guerra Mundial, em 1939, L. H. Christian escreveu um artigo
na Revista Adventista, sobre "Sinais do dia por vir". Ele menciona os
marcos proféticos, os sinais que proclamam a proximidade do fim e "nossa
relação com o Céu". No segundo parágrafo, adverte: "A humanidade vive
hoje uma atmosfera de intensa expectação. Por toda a parte o povo diz: Alguma
coisa vai suceder, algum grande acontecimento tem que ocorrer', mas não sabe
qual é."
Em maio de 1942, J. E
Wright fez veemente apelo aos leitores de nossa Revista, ressaltando as
palavras de Jesus: "Estai vós apercebidos". O artigo, de forte conteúdo
espiritual, alertava: "Oh, se pudéssemos avaliar, na íntegra, compreender
profundamente a solenidade da hora presente! Estamos na hora do juízo; a
tríplice mensagem está atingindo agora os remotos confins da Terra. Estamos
mais próximos do fim, do que pensamos."
"Está chegando a
hora zero", foi o título de um artigo escrito por Valdemar R. da Silva, em
O Atalaia de julho de 1944. Esse título, na verdade, é uma frase dita por Churchill,
referindo-se à invasão da Europa pelos aliados. O Pastor Silva diz inicialmente:
"Isto nos leva a pensar seriamente numa outra 'hora zero', decisiva para
toda a humanidade, e que rapidamente se aproxima: a 'hora zero' para o mundo, a
qual está mais próxima do que pensam muitos descuidados e
procrastinadores."
O assunto da volta de
Jesus sempre teve espaço nobre em nossas publicações. O Atalaia de setembro de
1939 trazia na página 7: "Prepara-te para te encontrares com o teu
Deus"; Revista Adventista: "Quando vem Jesus?" (março de 1940); "Guarda,
que houve de noite?" (outubro/1940); "Por que desejo a volta de
Jesus" (dezembro/1940); "Jesus voltará" (maio/1943).
Todos os artigos
publicados por nossas revistas, durante as duas guerras mundiais, são interessantes,
mas o único a dar a ênfase adequada foi o de dezembro de 1940. N . P. Nielsen
começa dizendo: "Alguém me fez a pergunta: Por que o senhor deseja que
Jesus venha outra vez?"
Qual foi a resposta?
Bem, controlemos nossa curiosidade por alguns instantes...
Ênfase
recente
No dia 9 de julho de 1990,
na cidade de Indianapolis, o Pastor Enoch de Oliveira, de saudosa memória,
pregou eloquentemente sobre o tema: "Nos O veremos no cumprimento da
profecia". Antes do apelo, disse: "A hora está avançada. Dias de
tribulação há muito preditos acham-se diante de nós. O dia eterno em breve
raiará. O que fazemos, temos de realizar depressa. Se perdermos este sentido de
urgência, perderemos a própria essência do adventismo." Numa assembleia
daquela natureza, a mensagem foi oportuna. Eu estava presente. Senti-me
comovido.
Explorando outro
ângulo, Francisco Lemos afirmou na Revista Adventista de novembro de 1991:
"É lastimável que continuemos a vincular o preparo para o segundo Advento
com as nossas obras e nosso esforço próprio". Na mesma edição, Paulo
Pinheiro analisou "como a igreja vê a volta de Jesus". Várias
crianças de uma escola adventista foram entrevistadas.
Alguns trechos:
"Se Ele vier hoje,
não estarei preparado para um lugar tão bonito como aquele" (Bruno, 10
anos).
"Se Jesus vier
hoje, não vou estar preparado, porque há muitas coisas para fazer e não as fiz
ainda" (Daniel, 10 anos).
"Eu espero Jesus
feliz, alegre, contente e, às vezes, triste" (Eliane, 10 anos).
"Jesus pode vir hoje,
amanhã, qualquer dia; mas que vou com Ele, eu vou" (Felipe 10 anos).
E o que pensam os
adultos? Na Casa Aberta de 1991, uma pesquisa realizada em nome da Revista
Adventista, mostrou as tendências de nosso povo. Dos 455 entrevistados:
• 83,8% disseram que o
assunto da volta de Jesus lhes causa alegria;
• 94,2% afirmaram que somente
Deus sabe o dia;
• 95,7% acharam que
Cristo não veio porque a igreja não está preparada como deveria;
87,6% disseram que crer
em Cristo e depender inteiramente dEle é a condição para estar preparado.
Luz
no final do túnel
Outro artigo que despertou
minha atenção para o enfoque que precisamos dar ao tema da volta de Jesus, foi
escrito por Lester Bennett, na edição de janeiro de 1988. Logo no início, ele
afirma: "Vejo na Igreja Adventista não apenas uma crença na Segunda Vinda,
mas uma fascinação a respeito do tempo em que ela deverá ocorrer."
Aqui está o nó górdio.
Precisamos desatá-lo, sob pena de continuarmos no mesmo diapasão. Nosso erro é
o seguinte: falamos mais sobre o tempo, ou a iminência do evento, do que sobre
a "bendita esperança". Foi por isso que, na infância, adolescência e
juventude, eu ficava com medo e assustado. A volta de Jesus era apresentada
como um dia de juízo. Além disso, os pregadores salientavam muito a
perseguição, as pragas, o tempo de angústia. Passei a depositar minha fé nos
"sinais", e não em Cristo e Suas promessas. O fato é que ouvi muito
pouco sobre a promessa: "Virei outra vez" (João 14:3). Por que se
prega tão pouco sobre João 14:1-3?
Quando meu pai
descansou em Cristo, a volta de Jesus passou a ter mais significado para mim. O
desejo de rever esse ente querido, que me inspirou a trabalhar na obra do
Senhor, despertou em mim outras expectativas. Passei a falar menos sobre os
acontecimentos que precederão a volta de Jesus, para falar mais e mais sobre o
encontro com Ele. Sim, os sinais são ainda importantes para mim, pois foram preditos
pelo próprio Jesus, mas Jesus é mais importante do que os sinais! É importante saber
que Jesus está às portas, mas será muito mais significativo encontrá-Lo na
nuvem de glória.
Cumprindo o que prometi
linhas atrás, volto agora à pergunta dirigida ao Pastor Nielsen: "Por que
o senhor deseja que Jesus venha logo?" Sua resposta foi sublime e inteligente:
"Porque Ele é meu Amigo. Perdoou os meus pecados. Ele me ama e aprendi a
amá-Lo. Desejo vê-Lo como Ele é. Ouvi a Seu respeito, mas quero contemplá-Lo
face a face e estar em Sua presença. Doces são as histórias de Seu maravilhoso
amor, e elas me cativaram a alma. Quero vê-Lo em toda a Sua formosura e
deleitar-me nos sorrisos de Seu amor. Sim, alegro-me de que Ele virá outra vez,
pois é meu Amigo."
Meus irmãos, o encontro
com Jesus é o assunto que deve conquistar todas as nossas afeições, e não
questões periféricas. Neste sentido, Paulo deixou-nos um grande exemplo. Se, diante
do carrasco, o apóstolo tivesse posto os olhos na espada que ia decepar sua
cabeça, teria sucumbido. Notemos, porém, o que ele fez: "O apóstolo estava
a olhar para o grande além, não com incerteza ou terror, mas com esperança
gozosa e anelante expectativa. Ao encontrar- se no lugar do martírio, não vê a
espada do carrasco ou a terra que tão “logo lhe há de receber o sangue; olha,
através do calmo céu azul daquele dia de verão, para o trono do Eterno” (Atos dos Apóstolos, p. 511 e 512).
Muitos adventistas
estão sucumbindo porque só olham para os "sinais". O que os sinais
lhes dizem? Que haverá perseguição, fome, angústia e sofrimento, antes da volta
de Jesus. Ao pensarem nessas coisas, perdem a visão do Salvador e do feliz
companheirismo com Ele, através da eternidade. Essa maneira de encarar os
acontecimentos do fim é obra de Satanás, que, com astúcia, leva muitos
adventistas a desenvolver uma perspectiva pessimista quanto aos temas
escatológicos.
O que é mais importante
para noivos que verdadeiramente se amam: os preparativos para o casamento, ou o
momento a partir do qual estarão juntos para sempre?
Na
casa paterna
Se o filho pródigo, ao tomar
a decisão de retornar à casa paterna, tivesse pensado nos perigos do caminho e
duvidasse da possibilidade de o pai recebê-lo com alegria, teria permanecido na
"terra longínqua". Ele, no entanto, estava convicto de que o pai
estava ansioso por sua volta.
"O pai disse aos
seus servos: Trazei depressa o melhor vestido, e vesti-lhe, e ponde-lhe um anel
na mão, e alparcas nos pés; e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e
alegremo-nos; porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido,
e foi achado. E começaram a alegrar-se" (Lucas 15:22-24).
A volta de Jesus será a
maior festa de todos os tempos. Doenças, defeitos físicos e mentais, tristezas
e angústias, guerras e desavenças, desigualdades e injustiças, sofrimento e
morte - tudo estará no passado. Na presença do Rei dos reis, haverá alegria
eterna.
Quando passarmos a
falar mais do encontro com nosso Redentor, entenderemos os sinais como avisos
de que nosso Amigo está às portas. E, com alegria, anunciaremos ao mundo esta
empolgante notícia.
Que o Dono e Anfitrião
da festa seja a nossa paixão suprema, a nossa esperança, a alegria e motivação
de nossa vida! "Ora vem, Senhor Jesus" (Apoc. 22:20).
*Rubens
da Silva Lessa, editor da Revista Adventista
FONTE:
Revista Adventista, maio 1997, p. 08-10.
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