Gustavo
Cangussú Góes*
Resumo:
Richard Dawkins em seu livro “Deus, um Delírio” causou um impacto gigantesco em
toda a comunidade cristã leiga, desafiando a existência de Deus e exigindo uma
resposta dos religiosos, especialmente do cristianismo. Apesar de seus
argumentos já estarem ultrapassados, é interessante observar que a origem deles
remonta ao vazio resultante da teologia liberal cristã. O autor do presente
trabalho propõe uma leitura da vida e do contexto existencial de Dawkins e a
sua relação intrínseca com a Teologia Liberal.
Introdução
Muitas pessoas se
sentiriam incomodadas com a declaração:
“O Deus do Antigo
Testamento talvez seja o personagem mais desagradável da ficção: ciumento, e
com orgulho; controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida étnico e
vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógino, homofóbico, racista,
infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo.”1
Entretanto, muitos têm
crido piamente nestas palavras por meio de um discurso recheado de bela
retórica, construído com inteligentes falácias e vazio de bons argumentos,
Richard Dawkins está atraindo cada vez mais seguidores devido à sua luta contra
o teísmo. Alister McGrath diz que a religião “está para Dawkins como o pano
vermelho está para o touro: não só desencadeia uma resposta agressiva, mas joga
fora os padrões acadêmicos básicos de precisão e imparcialidade escrupulosas.”2
Por mais que Dawkins não queira se considerar um fundamentalista3,
mas sim um apaixonado pelas idéias, sua feroz atividade anti-teísta indica
totalmente o oposto, também diz que não pode haver sentimentos religiosos, pois
estes são destituídos de fundamento, entretanto ele mesmo trata o seu ateísmo
de maneira religiosa.
Em seu site há uma
seção chamada “Cantinho dos Convertidos” (Converts’ Corner)4 onde
podemos encontrar diversos testemunhos de teístas convertidos para o ateísmo,
ao que em sua grande maioria trata Dawkins como sendo uma espécie de profeta5.
Veja algumas das declarações:
“Como um professor de
ciência em uma escola católica na Bélgica – estou aposentado agora – eu podia
ensinar evolucionismo sem problemas, mas nunca compreendi que isto tinha uma
espécie de poder ‘aniquilador da religião’. Não que eu fosse um devoto
católico. Desde meus tempos de estudante eu senti que religião e ciência não
poderiam estar juntas. Suponho que eu fosse um tipo de deísta: Deus fez o mundo
e o abandonou. Mas quando eu vi Richard Dawkins fazendo seu discurso de Natal
na TV (solstício de inverno?), eu vi que alguém havia entendido evolução de uma
maneira que eu nunca tinha entendido. Eu tenho comprado e lido muitos de seus
livros e agora também “Deus, um delírio”. E “as escamas caíram de meus olhos”.
Muito obrigado, Rik.”
“Eu apenas gostaria de
te falar que estive no seu discurso sobre o seu livro na Filadélfia e eu
gostei. Eu li seu livro e sou agora, oficialmente, uma católica recuperada. É
legal conhecer que existem outros aí fora que sentem o mesmo que eu. Ciência e
matemática irão futuramente nos suprir com todas as respostas que precisamos.
Obrigado pelo discurso. Deb Casnick.”
Este tipo de atitude
não tem ficado apenas no site, mas está se espalhando por todos os lugares onde
Dawkins tem acesso, diversas pessoas têm entrado em descrédito devido ao trabalho
de ‘evangelização’ realizado por ele. Richard Dawkins já se tornou um showman,
sendo entrevistado por diversos programas de televisão e rádio, escrevendo
documentários anti-religiosos amplamente divulgados6 e mesmo em seu
site há uma loja virtual onde se pode adquirir filmes, documentários e mesmo
vestuário com temas ateístas.
Muitas pessoas ao lerem
ou assistirem às palestras de Richard Dawkins têm entrado em conflito religioso
crendo piamente que as palavras do cientista estão corretas. Devido a isto se
faz necessária uma avaliação das idéias e pressupostos do autor, para então se
encontrar a melhor maneira de combatê-lo.
Portanto o presente
trabalho tem como principal objetivo analisar o contexto7 de Richard
Dawkins e as fontes que o levaram a desenvolver o seu pensamento antiteísta,
pois como ele mesmo declara “‘Na verdade’, para um animal, é aquilo que o seu
cérebro precisa que seja, para ajudá-lo a sobreviver. E, como espécies
diferentes vivem em mundos tão diferentes, haverá uma variedade perturbadora de
‘na verdade’.”8 Tratarei de detectar a verdade de Dawkins, analisar
suas fontes de desenvolvimento e verificar se ‘na verdade’ a verdade de Dawkins
é verdadeira 9.
1.
Quem é Richard Dawkins?10
Richard Dawkins nasceu
no dia 26 de Março de 1941 em Nairóbi, Quênia. Seu nome completo é Clinton
Richard Dawkins. Seus pais se mudaram para a Inglaterra quando ele tinha oito
anos, passando então a viver na cidade de Oudle. Já se divorciou duas vezes e
atualmente está casado com a atriz Lalla Ward.
A família de Dawkins é
de origem Anglicana Ortodoxa, mas, segundo ele mesmo, as idas aos cultos eram
apenas em momentos de festa como o Natal. Estudou em uma escola anglicana, mas
apesar disto, ele diz que começou a duvidar da existência de Deus aos seus nove
anos de idade, entretanto, até aos dezesseis anos ele cria que poderia haver
algum tipo de designer para todas as coisas, porém, esta suposição foi
derrubada quando compreendeu o Darwinismo, neste momento, diz Dawkins, “eu
percebi quão errado estava aquele ponto de vista; naquele momento,
repentinamente pesos caíram de meus olhos e então eu me tornei fortemente
antireligioso neste ponto.”11
A formação acadêmica de
Richard Dawkins começou em 1962 quando ele se forma em Zoologia pelo Balliol
College, Oxford, onde foi orientado pelo etologista ganhador do prêmio Nobel de
1973 em Psicologia, Nikolaas Tinbergen. Em 1966 ele já havia alcançado o
Mestrado em Artes e o Ph.D., seguido por um Sc.D (Doutor em Ciência) em 1989.
De 1967 até 1969 Dawkins foi professor assistente na Universidade da
Califórnia. Em 1995 ele se torna o primeiro cátedra da Compreensão Pública da
Ciência na Universidade de Oxford. Participa de várias organizações e já ganhou
diversos prêmio, entre eles o “Prêmio de Humanista do Ano” em 1996 e o “Prêmio
Galaxy British Book” de autor do ano de 2007. Além de suas graduações ele
recebeu o doutorado emérito em ciência pela Universidade de Westminster, da
Universidade de Durham e da Universidade de Hull; e um doutorado emérito da
Open University e da Vrije Universiteit Brussel. Recebeu outro doutorado
emérito pela Universidade de St. Andrews e pela Universidade Nacional
Australiana, foi eleito líder da Royal Society of Literature em 1997 e pela
Royal Society em 2001. Atualmente é vice-presidente da Associação Britânica
Humanista.
Dawkins também é autor
de diversos documentários editados pela BBC e outras emissoras de televisão,
assim como também é autor 9 livros, dentre estes, os mais conhecidos são: ‘O
Capelão do Diabo’, ‘O Relojoeiro Cego’, ‘O Gene Egoísta’ e ‘Deus, um Delírio’.
Ele também é colunista da revista ‘Free Inquiry’, uma revista que está em
associação com a organização ‘Secular Humanism’, uma organização que busca
acabar com a religião. Ele também tem algumas participações na revista ‘Skeptical
Inquirer’, a qual tem a mesma linha editorial da anterior.
Richard Dawkins se
considera um ferrenho guerreiro contra a alucinação que chamam de religião.
Define, como principal objetivo, a aniquilação de toda e qualquer idéia acerca
da religião.
2.
Contexto Imediato de Dawkins
Devemos analisar qual
era o contexto do mundo ao qual Richard Dawkins conheceu, especialmente o
período de 1950, sendo este o ano em que ele começou a duvidar da existência de
Deus.
2.1 Período pós-guerra
O período de Richard
Dawkins foi o período pós-guerra, onde o mundo, em sua maior parte, se
encontrava em um estado de recessão. A Segunda Guerra Mundial havia destruído
boa parte da Europa, deixando diversos países com uma crise econômica terrível.
A produção industrial estava a um terço do que era normalmente produzido no
período de 1938 12, enquanto que a produção agrícola caiu pela
metade13. Os refugiados da guerra estavam retornando aos seus países
de origem. A Europa estava sendo dividida nas seções ‘Oriental’ e ‘Ocidental’;
o lado Ocidental era liderado pelos Estados Unidos da América sob o regime
democrático, enquanto que o lado Oriental era liderado pela União Soviética sob
o regime comunista.
Em resumo, o mundo
estava revirado e posto de cabeça para baixo, com os sistemas econômicos em
colapso, com as sociedades desestruturadas e a igreja se remodelando ao período
da época.
2.2 O impacto da guerra
sobre a teologia
O período da Segunda
Guerra Mundial foi marcado com uma decadência religiosa que vinha desde os idos
da Primeira Guerra. A teologia liberal (cuja qual falarei mais tarde), vinha
tendo grandes progressos ideológicos no período que antecedeu as guerras,
entretanto, com a chegada das Guerra Mundiais, o idealismo pregado por ela veio
a entrar em descrédito, especialmente após a Segunda Guerra, onde o
cristianismo e a carnificina foram misturados em um mesmo caldeirão.
2.2.1 Nazismo e
Cristianismo
Hitler se considerava
um cristão, apesar de muitas vezes negar os conceitos do cristianismo14,
entretanto, ele acreditava que havia uma continuidade entre o cristianismo e o
nazismo,15 sendo que esta idéia não era apenas um conceito vindo da
cabeça de Hitler, pois “um número considerável de cristãos na Alemanha,
entretanto, estavam convencidos de que Cristianismo e Nazismo não eram duas,
mas uma só religião.”16 Neste período surgiu na Alemanha um
movimento chamado ‘Alemães Cristãos’ o qual propagava e apoiava os ideais
nazistas como sendo ideais vindos do próprio cristianismo. “Representando cerca
de um terço dos cristãos na Alemanha, os católicos alemães tentaram acomodar o
cristianismo ao programa nazista.”17 O cristianismo estava
intimamente ligado com muitos ideais da guerra, inclusive o Holocausto, que foi
uma atitude influenciada por desvios no cristianismo. Portanto, após a guerra,
com a derrota do partido nazista, o cristianismo entrou em total descrédito
devido às atitudes tomadas por Adolf Hitler e aliados em favor das crenças
cristãs.
2.2.2 Neo-ortodoxia
Diante deste e outros
fatores surge Karl Barth, o teólogo da liberdade. Barth, diante da crise da
guerra, se depara com a teologia liberal que ele vinha estudando e não encontra
soluções para os problemas que o mundo estava enfrentando.18 Então ele
se levanta em oposição às ideias da teologia liberal, rejeitando a elevada
ênfase sobre o método histórico-crítico e na ‘mitologia bíblica’.
Barth desenvolveu a ideia
da neo-ortodoxia, um movimento que tentou resgatar as ideias ortodoxas em
oposição ao liberalismo. Nesta teologia foi desenvolvido um conceito que enfatizava
sobremaneira a transcedência divina. Havia uma distância muito grande entre
Deus e os homens. A Bíblia não era a Palavra de Deus propriamente dita, mas uma
manifestação humana do que era Deus.
Barth, ao observar a
guerra que estava ocorrendo, percebendo a ‘adoração’ que a população estava
fazendo a Adolf Hitler19 e o levante cristão os ‘Alemães Cristãos’,
compreendendo que Deus está inacessível ao ser humano, por isso Hitler não pode
ser uma representação de Deus na terra20, Barth se une ao movimento
‘Igreja Confessante’, torna-se um de seus líderes e entra em uma luta contra o
nazismo.
Entretanto, apesar de
Barth procurar revitalizar o cristianismo através da neoortodoxia e procurar
combater o nazismo. O período pós-guerra foi marcado pela negação da existência
de Deus. O mundo não conseguia conciliar a bondade divina com as desgraças da
guerra.
2.2.3
Anos Dourados e a Negação de Deus
Entretanto, apesar de
toda a desgraça que a guerra trouxe, não podemos nos esquecer das duas superpotências
que emergiram neste período, Rússia e EUA, que ao contrário de todo o restante
do mundo, entraram em um período de ascensão econômica como jamais vista. Os
EUA oferecem, em 1947, o plano Marshall21, um plano que visava
auxiliar os países europeus que desejassem um empréstimo para poderem se
reconstruir.
Nesta época surge uma
revolução na ciência com a descoberta da estrutura de dupla-hélice do DNA.22
Termos como ‘biologia molecular’, ‘biotecnologia’ e ‘engenharia genética’ logo
se tornaram comuns entre as pessoas. A indústria americana cresce e junto com
todo este otimismo, cresce também a descrença em Deus.
Chega a década de 60 e
com ela muitas revoluções ideológicas surgiram no mundo, foi exatamente nesta
década que Richard Dawkins foi para os EUA lecionar na Universidade da
Califórnia23. Durante este período surgiu um movimento chamado “Deus
está Morto”. A revista TIME em 22 de Outubro de 1965 publica um artigo falando
acerca deste movimento, no qual, diversos teólogos fazem parte:
“Estes teólogos estão
tentando redefinir outras máximas de um Cristianismo sem um Criador. Algumas
coisas da variedade e escopo do movimento podem ser julgadas a partir do
trabalho dos quatro mais conhecidos advogados da teologia da morte de Deus:
Altizer [professor de religião na Universidade Emory de Atlanta, uma escola
Metodista], Paul van Buren da Universidade Temple, William Hamilton da Escola
de Divindade Colgate Rochester, e Gabriel Vahanoan da Universidade de
Syracuse.”24
Este não era um
movimento isolado, mas uma das várias manifestações que estavam ocorrendo nos
EUA neste período e tudo isto estava levando este país a uma descrença
generalizada. A TIME, em 8 de Abril do ano seguinte tinha como título na capa
esta pergunta: “Deus está morto?” e ao abrir a revista podíamos nos deparar com
a seguinte reportagem: “Em direção a um Deus oculto”25 e nesta
reportagem nos é dada a seguinte estatística por Pollster Harris: “Dos 97% [dos
americanos] que dizem acreditar em Deus, apenas 27% destes se declaram
profundamente religiosos.” E ainda, neste mesma reportagem, chega-se a
intitular William Hamilton com um ‘Cristão Ateísta’. Esta manifestação reflete
o pensamento da época acerca de Deus, o qual, em muito, se parece com o
pensamento nietzschiano, veja:
“Os cristãos algumas
vezes são inclinados a olharem para trás nostalgicamente para o mundo medieval
como a grande era da fé. Em seu livro, A Morte de Deus, Gabriel Vahanian da
Universidade de Syracuse, sugere que atualmente isto é o princípio da negação
do divino. Cristianismo. Pela imposição de sua fé pela arte, política e mesmo
pela economia de uma cultura, inconscientemente criou Deus como parte daquela
cultura, e então quando o mundo mudou, a crença neste Deus foi minada.”26
Mesmo os pastores, que
se diziam conservadores, começaram a ficar desesperados, pois estavam perdendo
muitos membros em suas congregações. Então, alguns teólogos, tanto “ortodoxos”
ou não, disseram que haviam quatro opções para solucionar este problema: “Parar
de falar acerca de Deus por enquanto, apontar o que a Bíblia diz, formular uma
nova imagem e conceito de Deus utilizando categorias de pensamento
contemporâneo, ou simplesmente mostrar o caminho para áreas da experiência
humana que indicam a presença de alguma coisa além do homem em vida.”27
Durante este mesmo
período de negação da existência de Deus surge Rudolf Bultmann com a sua
teologia da desmistificação da Bíblia, onde ele retira todo o elemento
sobrenatural das Escrituras classificando-os então como sendo meramente fatos
que explicam o existencial do ser humano. Também neste período se levanta Paul
Tillich, um prussiano que dizia que Deus é na realidade um ‘ser’ perfeito que
está inerente a todo ser humano, sendo este ‘ser’ o ideal a alcançar. Em última
estância, tanto Bultmann quanto Tillich encabeçam um movimento que nega a
existência de Deus28, em outras palavras, um movimento de cristãos
ateus, por mais irônico que possa soar.
É neste ambiente que
Dawkins dá os seus passos em direção à sua ideia antiteísta. Um mundo regido
pela depressão do pós-guerra, a qual levou as pessoas a desacreditarem da
existência de um ser supremo, de explosões de descobertas no meio científico e
com a descrença em Deus estampada tanto na compreensão secular como na
religiosa.
Entretanto, estas
(des)crenças e ideologias não apareceram como se nada as houvesse procurado,
alguns pontos anteriores contribuíram para o desenvolvimento destas
compreensões ateístas, as quais também contribuíram e muito para o
desenvolvimento anti-teísta de Dawkins. Estes são: A Revolução Francesa e a
Teologia Liberal, Charles Darwin e Friedrich Nietzsche.
3.
Contexto Anterior a Richard Dawkins
3.1
Revolução Francesa e a Teologia Liberal
A Europa estava
entrando em uma nova fase, o Iluminismo estava se espalhando por todo o
continente e a igreja estava começando a perder o poder.
A França estava
sofrendo uma recessão econômica desde os tempos de Luís XV, o qual não tinha
controle dos gastos do país, sendo que já se encontrava em uma crise devido a
Guerra dos Sete Anos e a Guerra da França e Índia nas colônias americanas. Os
custos de tais guerras levaram a França à elevação das taxas, conhecendo a
situação econômica do país, Luís XV quer impor tais taxas aos nobres29,
que, no caso, não pagavam nenhuma taxa.30 Então, o chanceler do rei,
René Nicolas Charles Augustin de Maupeon decide dissolver o parlamento e criar
um outro novo, todavia tal atitude não melhorou em nada a imagem do rei e nem
solucionou o problema fiscal da França. Morre Luís XV e sobe então ao trono, em
1774, seu neto, Luís XVI, um rapaz de vinte anos e sem experiência alguma.
Uma das primeiras
atitudes de Luís XVI foi reconstituir o antigo parlamento com os magistrados
anteriores 31, tentou, assim como seu avô, impor o pagamentos das
taxas aos nobres, porém, fracassou. Procurou outras formas solucionar o
problema econômico da França, mas nada conseguiu, então, para agradar a todas
as pessoas ele convoca os Estados-Gerais, um estilo de parlamento, que há muito
não era mais utilizado, no qual consistia em votos das três ordens – clero,
nobreza e povo. Houveram algumas reuniões, entretanto, nada foi solucionado,
por isso, Luís XVI despede as pessoas e reconvoca os Estados-Gerais para Maio
de 1789.
Toda a França estava
ansiosa por este dia, o assunto nas rodas de amigos era apenas este, até que
chegou o grande dia onde 1248 deputados se reuniram para ouvir o rei e seus
magistrados.32 Entretanto, a diferença representativa entre o
Terceiro Estado – o povo – para os outros dois era gritante, o que causou uma
certa tensão entre este e os outros dois. Os que pertenciam ao Terceiro Estado
se reuniram em 17 de Junho de 1789 se autodenominando Assembleia Nacional, pois
eles eram a maior parte dos habitantes da França.33 Todavia, três
dias depois ele são impedidos de entrar na sala de reuniões. Indignados com a
discriminação, estes se reúnem na quadra de Tênis com o objetivo de criar uma
nova constituição. A Revolução germina. No dia 14 de Julho, os pertencentes ao
Terceiro Estado criam um exército que foi chamado de Guarda Nacional, este
ataca a fortaleza de Bastilha, um edifício que foi de grande significado para o
império francês. A Guarda Nacional perde a batalha, mas neste momento nasce a
Revolução.
Naquele dia, após
voltar de uma tarde de caçadas o rei Luís XVI escreve no seu diário: “14 de
Julho: Nada”. Neste momento, entra na sala o Duque de La
Rochefoucauld-Liancourt que havia acabado de chegar de Paris e lhe conta acerca
do ataque à Bastilha. “Por quê?” – pergunta o rei – “Isto é uma revolta!” “Não,
senhor.” Diz o Duque. “Isto é uma revolução!”34
No contexto da
Revolução Francesa estava o princípio do Iluminismo, o qual valorizava a razão,
a liberdade do homem em tomar suas próprias decisões independentemente do que a
Igreja ou o Estado declare. Portanto neste período o Cristianismo Ortodoxo
começou a ser minado por dúvidas que antes não eram levantadas, a ‘Era da
Razão’ havia se iniciado e a Igreja continuava prosseguindo como se nada
houvesse acontecido.35 Isto fez com que um contexto ateísta
emergisse, um excesso de confiança na razão, o que em realidade, a Revolução
Francesa foi o despontamento do ateísmo, muitos foram os que se levantaram
naquela época contra a igreja. Um político inglês ao visitar a França em 1773
disse que ficou chocado com a propaganda anti-católica e, frequentemente, antirreligiosa
do filósofos na França.36
A Revolução Francesa
não afetou apenas a França, mas influenciou outros países ali próximo, em
especial a Alemanha. No ano de 1790, muitos jovens alemães estavam
entusiasmados com o ocorrido na França, Immanuel Kant estava tão empolgado
quanto estes jovens37 e é neste contexto que vive um personagem que
se destacou na teologia: Friedrich Schleiermacher.
Para completar este
todo o pano de fundo o Romantismo se caracteriza como linha de expressão para
as pessoas da época, o qual é caracterizado principalmente pelo idealismo. E
foi exatamente este Romantismo aliado à Razão que serviu de força motora à
Revolução Francesa, que moldou os pensamentos de Immanuel Kant38 e
serviu de base para a teologia de Schleiermacher. 39
Nesta época, na
Alemanha, os professores das faculdades de teologia começaram o estudo
histórico-crítico da Bíblia, aplicando métodos e princípios de história secular
para a interpretação Bíblia.40 Schleiermacher, indo contra o
racionalismo extremo, surge com sua teologia que misturava a razão e o
romantismo, sendo chamado posteriormente de o pai da teologia moderna.
A teologia de
Schleiermacher consistia definir a religião não como algo que devo conhecer ou
fazer, mas “uma consciência imediata do universal de todas as coisas finitas
dentro do infinito e através do infinito, de todas as coisas temporais dentro
do eterno e através do eterno.”41 A morte de Cristo não teve nenhum
caráter salvífico, tanto que seu conceito de salvação era totalmente contrário
àquele advogado pela teologia ortodoxa e isto se devia principalmente ao
conceito de pecado. Pecado nada mais era do que a incapacidade do homem em
fazer o bem, era uma imperfeição na natureza humana em alcançar o ideal.
Schleiermacher “considerava o pecado não apenas algo mau, mas algo incluído na
consciência de Deus – pressuposto indispensável para se sentir a necessidade de
salvação.”42 Para ele, sua teologia tinha como principal objetivo
não o apresentar Deus como algo externo ao ser humano, mas como um ser inerente
ao homem43. Em ultimato, a teologia de Schleiermacher leva a uma
conclusão panteísta do mundo o que não é em suma o ateísmo, mas ele foi o
precursor de um movimento chamado de Teologia Liberal que alterou totalmente a
forma tradicional de se ler as Escrituras. Esta teologia se desenvolveu através
dos séculos chegando até Rudolf Bultmann e a sua teologia da ‘desmistificação’
da Bíblia. A Teologia Liberal leva em última estância ao ateísmo.44
Tudo isto começou
devido a um despontamento ideológico extremamente enfatizado na razão que
explodiu com a Revolução Francesa, mudando assim a maneira de pensar da época.
Como veremos mais a
frente, o fator da Teologia Liberal é um ponto de grande peso no
desenvolvimento da Teologia de Dawkins. Entretanto, há outro elemento que deve
ser considerado, agora voltado especialmente para a ciência: Charles Darwin.
3.2
Charles Darwin
Seu nome completo era
Charles Robert Darwin, nascido em um lar anglicano de uma família religiosa,
Darwin se torna o maior expoente para uma contribuição à negação de Deus nos
seus tempos.
Nem sempre Darwin negou
a existência de Deus, apesar de que não era um ateu propriamente dito, mas um
agnóstico. Em princípio ele foi um teísta, batizado na igreja Anglicana,
entretanto, começou a lhe surgirem algumas ideias contrárias ao conceito do
sobrenatural quando passou a refletir acerca do início da vida.
O mundo de Darwin
estava impregnado com o conceito de negar a Deus, reflexos do racionalismo
nascido anos antes. Seu avô, Erasmo Darwin, já havia especulado (sendo considerado,
naquela época, uma espécie de herege)45 acerca da origem das
espécies por meio de uma seleção natural, porém, Darwin desenvolveu a sua
dúvida acerca de Deus, que vinha crescendo a cada dia, em sua viagem a bordo do
navio HSM Beagle (1831 – 1836), pois antes de embarcar neste navio ele ainda
era um criacionista.46
Entretanto, ao observar
as espécies nas Américas, especialmente na ilha de Galápagos. Após retornar da
viagem, ele apanha as suas anotações e cerca de vinte anos depois publica o
livro A Origem das Espécies, inspirado tanto nos conceitos evolucionistas de
sua época como na visão de Thomas Malthus acerca do crescimento populacional47.
Ernst Mayr diz que Darwin se tornou evolucionista em um período entre 1835 –
1837.48
Darwin negou a
existência do sobrenatural, declarando que tais eventos são simplesmente leis
fixas da natureza que o homem descobre com o tempo.
“Eu estava desgostoso
em abandonar minha crença. … Entretanto a descrença me envolveu gradualmente,
mas foi no mínimo completa. Este envolvimento foi tão gradual que eu não senti
nenhuma tensão, e desde então nunca tenho duvidado por um único segundo que
minha conclusão esteja correta.”49
Ele também passou a
confiar na Alta Crítica, tal qual era usada pela Teologia Liberal, chegando a
declarar:
“Eu gradualmente tornei
a ver por este tempo que o Antigo Testamento a partir de sua, manifestadamente
falsa, história do mundo, com sua Torre de Babel, o Arco-íris como sinal, etc.,
etc., e das atribuições dos sentimentos de tirano vingador a Deus, não são mais
confiáveis que os sagrados livros dos Hindus, ou as crenças de qualquer
bárbaro.”50
Sua aversão ao conceito
de tormento eterno colaborou para rejeição ao Cristianismo. Entretanto, sua
rejeição a Deus alcançou o ápice com a morte de sua filha em 1851. Os anos
entre 1848 e 1851 foi o período em que Darwin finalmente renuncia sua fé.51
Darwin se declara um agnóstico52,
algo que pode ser corroborado por suas declarações finais em ‘A Origem das
Espécies’:
“Há uma grandiosidade
nesta visão da vida, com vários de seus poderes, tendo sido originalmente
soprados pelo Criador em poucas formas ou em uma; e esta, enquanto este planeta
tem estado em um ciclo de acordo com a lei fixa da gravidade, de um começo tão
simples de formas infinitas mais belas, mas maravilhosas que têm sido e estão
sendo evoluídas.”53
Em acordo com a sua
posição demonstrada em uma carta:
“Parece-me um absurdo
duvidar que um homem pode ser um ardente Teísta e um evolucionista.”54
Todavia, apesar de Darwin
nunca ter sido um ateísta, sem sombra de dúvidas, “seu desenvolvimento
científico pode ser como tendo convertido o mundo Ocidental ao ateísmo.”55
Não é necessário se
fazer muita análise no que diz respeito a relação de Dawkins com Darwin, algo
que será apresentado mais abaixo, entretanto, vejamos um último elemento
anterior que colaborou para o desenvolvimento de seu pensamento acerca de Deus:
Friedrich Nietzsche.
3.3. Friedrich
Nietzsche
Friedrich Nietzsche
nasce na Prússia. Seu pai, Ludwig Nietzsche, era um pastor luterano e filho de
pastor, assim como sua mãe. Seu avô por parte de pai escreveu diversos livros
cristãos. A família de Nietzsche era extremamente envolvida com a religião.56
Seu pai morreu quando
ele tinha cinco anos de idade e pouco tempo depois (1850) seu irmão mais novo
também vem a falecer, fazendo com que sua mãe se mude com a família para a
cidade de Naumburgo. Nesta época de sua vida, Nietzsche se vê rodeado de
mulheres, sua mãe, sua avó57 e sua irmã.58 Freqüentou a
escola de Pforta e quase sempre era o primeiro da classe.
Em 1864 ele entra, a
pedido da mãe, para o curso de teologia e filologia clássica na Universidade de
Bonn, entretanto, em 1865 ele abandona teologia se mudando para Leipzig.59
Todavia, em 1869 sua vida acadêmica é interrompida, pois Ritschl lhe
chama para ocupar a cátedra de filologia clássica, onde ele passa a se
interessar pela tragédia grega e os estudos da cultura grega clássica, período
no qual ele passa a desenvolver seu pensamento filosófico.
Durante toda a sua
vida, Nietzsche sempre estava sofrendo de alguma doença. Quando em Janeiro de
1889 andando de cavalo nas ruas de Turim Nietzsche se sente mal e cai. A partir
de então seus escritos se tornam um tanto que loucos, estando desta maneira até
o dia de sua morte.
O pensamento
nietzschiano se baseia no conceito de elevar a razão acima de todas as coisas e
que a liberdade humana deveria ser valorizada60. Crendo que a
democracia e o cristianismo tornava as pessoas em escravos, pois estes estavam
sob o domínio ideológico criado por eles, dizia que estes estavam procurando
impor ao mundo uma ordem fixa, entretanto, em seu pensamento, há uma constante
mudança no pensamento, portanto, a degradação das antigas verdades fez com que
o Deus do cristianismo viesse a morrer, então declara: “Deus está morto!”61
“Nietzsche acreditou
que o Deus-mito já viveu uma vez. Este tinha sido um modelo pelo qual a Europa
Medieval e Reformada tinha baseado sua vida. Esta cultura, entretanto, havia
decaído. A Modernidade levou à humanidade moderna, a qual não podia mais acreditar
em Deus. ‘Deus está morto!’ Clamou Nietzsche. A moderna humanidade precisa
enterrar a Deus e continuar em frente.”62
Nietzsche dizia que os
conceitos de Deus, pecado, paraíso e tantos outros mais não teriam nenhum
significado especial se não fosse a definição dada pelo clero. Desta forma,
todos os crentes estariam subordinados à crença cristã. “[Segundo Nietzsche] o
cristianismo é um absurdo da linguagem, uma aberração lingüística, mera
invenção humana, e a pretensa interpretação que ele faz da realidade e na
verdade uma maneira de avaliar, valorar e impor de forma específica os signos
lingüísticos.”63 Ele utilizava a filologia e a genealogia como o
‘martelo’ para ‘des-construir’ o cristianismo. Por meio da filologia ele
analisará os conceitos cristãos e pela genealogia estudava o desenvolvimento de
tais conceitos através da história, tal qual a Escola das Religiões.
Assim como para Freud,
Nietzsche dizia que Deus é simplesmente uma ilusão sem fundamento criada na
mente das pessoas.64 Para ele, as pessoas só poderíam crescer por
meio da razão, sem esta, todas estavam em regime de escravidão:
“Nunca mais rezarás,
nunca mais adorarás, nunca mais descansarás na confiança sem fim – te proíbes
de parar diante de uma sabedoria última, bondade última, potência última, e
desemparelhar teus pensamentos – não tens nenhuma constante vigia e amigo para
tuas sete solidões – vive sem a vista de uma montanha que traz neve sobre a
fronte e brasa no coração – não há mais para ti nenhum pagador, nenhum revisor
para dar a última mão – não há mais nenhuma razão naquilo que acontece, nenhum
amor naquilo que te acontecerá – para teu coração não está mais aberto mais
nenhum abrigo, onde ele só tenha o que encontrar e nada mais para procurar – tu
te defendes contra qualquer paz última, queres o eterno retorno de guerra e
paz: – homem da renúncia, a tudo isso quereis renunciar? Quem te dará força
para isso? Ninguém aqui teve essa força!” – Há um lago, que um dia recusou a
escoar, e levantou um dique ali, por onde até agora escoava: desde então esse
lago sobe cada vez mais alto. Talvez precisamente aquela renúncia nos
emprestará também a força com que a própria renúncia poderá ser suportada; o
homem, talvez, subirá cada vez mais alto, desde que deixar de desaguar em um
deus.”65
Nietzsche se tornou a
base para todo pensamento ateísta, seu desenvolvimento do pensamento acerca do
funeral de Deus tem permeado a compreensão ateísta da divindade. Não é
diferente com Richard Dawkins.
Após analisar todos
estes elementos, tanto aqueles imediatos à vida de Dawkins quanto os que
contribuíram através da história com o desenvolvimento da idéia ateísta e,
consequentemente, às suas ideias. Vamos analisar como todos estes pontos juntos
contribuíram para o anti-teísmo de Richard Dawkins.
4.
O Anti-Teísmo de Richard Dawkins
O pensamento de Richard
Dawkins se baseia principalmente na negação de Deus obtendo como produto
secundário o combate a qualquer tipo de religião, pois para ele a religião é
hostil 66 em qualquer circunstância, porque leva o homem a atos de violência,
irracionalidade e fundamentalismo. Para comprovar tal ele apresenta alguns
argumentos:
4.1 A Negação de Deus
Dawkins declara:
“Definirei a Hipótese
de que Deus Existe de modo mais defensável: uma inteligência sobre-humana e
sobrenatural que projetou e criou deliberadamente o universo e tudo que há
nele, incluindo nós. Este livro vai pregar outra visão: qualquer inteligência
criativa, de complexidade suficiente para projetar qualquer coisa, só existe
como produto final de um processo extenso de evolução gradativa.”67
Para ele, Deus não
passa de uma definição criada pelas pessoas, não podemos comprovar a Sua
existência, não podemos vê-lo, tudo o que se passa tem algum tipo de explicação
lógica que não tem necessidade alguma de se recorrer ao sobrenatural. Por isso,
para Dawkins, “Deus, no sentido da definição, é um delírio; … um delírio
pernicioso.”68 Ele apresenta uma história inventada para
exemplificar o porquê que Deus não existe e a irracionalidade de se querer
buscar qualquer prova para isto, esta história é a do Bule Celeste de Bertrand
Russell69 onde ele argumenta que ninguém busca um bule celeste que
está em órbita em torno do Sol devido ao seu pequeno tamanho e por ser uma
aparente loucura, entretanto, se houvesse escritos antigos acerca deste bule e
se ensinasse sobre ele todos os domingos, então isto deixaria de ser uma
loucura para se tornar um adoração e quem questionasse seria alvo de
atendimentos psiquiátricos ou mesmo inquisição, em épocas anteriores. Com este
argumento em mente ele pergunta acerca de diferença em o Bule Celeste e Javé,
tanto um como outro não pode ser provado, entretanto, a diferença é que a
adoração ao último vem desde épocas muito antigas.
No capítulo 3 de ‘Deus,
um Delírio’, Dawkins apresenta algumas das hipóteses para a existência de Deus
que são defendidas, segundo ele, pelo mundo a fora: As cinco provas de Tomás de
Aquino, argumento ontológico, da beleza, da experiência pessoal, das Escrituras,
dos cientistas admirados e religiosos, a aposta de Pascal e os argumentos
bayesianos. Para cada uma destas provas ele apresenta uma contraprova para
demonstrar a improbabilidade da existência de Deus e como estes argumentos são
fracos para se levantarem em qualquer tipo de defesa à divindade.
Entretanto, o grande
erro de Dawkins é considerar tais argumentos como sendo defendidos por qualquer
teísta, porém, tais não são bons para nenhuma mente humana religiosa, racional
e pensante, pois estes são vazios de brilhante argumentação.
As cinco provas de
Tomás de Aquino: Deve ser lembrado que quando Aquino escreveu suas ‘provas para
a existência de Deus’, ele não estava querendo provar algo a priori,
entretanto, sua argumentação baseava-se em a posteriori, em realidade, Tomás de
Aquino não queria provar a existência de Deus no sentido de ‘método
científico’, entretanto, queria fazer uma “demonstração da coerência interna da
fé em Deus”.70 Utilizar tais argumentos para provar que Deus existe
como se fosse um método infalível, é falhar na própria argumentação.
Argumento Ontológico:
Este é um argumento que foi desenvolvido por
Anselmo de Canterbury,
o qual, em suma, dizia que se posso conceber o entendimento de algo, portanto,
este existe, porque a mente não pode conceber o entendimento de algo que não
exista. Observe que tal argumento, da maneira que é apresentado no livro, se
torna uma contraprova de si mesmo. Pois veja que tal vai mesmo contra a
teologia ortodoxa, pois certas doutrinas como a da Trindade, são
incompreensíveis na sua totalidade ao entendimento humano, mas isto não implica
que estas não existam.
Argumento da Beleza: O
belo, simplesmente não pode provar a existência de Deus, mas apenas a
existência do belo.71
Argumento da
Experiência Pessoal: Mesmo que este argumento possa ser sustentado por muitos
fiéis, não pode ser um argumento conclusivo, devido às variações psicológicas
que qualquer pessoa pode sofrer. Ainda que uma mente religiosa sensata
considere como um argumento para a prova da existência de Deus, tal é
extremamente subjetivo para utilizar como comprovação final.72
Argumento das
Escrituras: Por mais que estas sejam consideradas a prova de fé, não é prova de
existência divina, pois acabaria se incorrendo no erro de julgar o réu pelo advogado
de defesa somente.
Argumento dos
cientistas admirados: Querer provar a existência de Deus por meio de cientistas
admirados é recorrer a argumentação sem provas, pois dizer que Isaac Newton
cria na existência de Deus não significa que Deus realmente exista, mas que Ele
existiu para Newton.73
A aposta de Pascal:
Pascal dizia que a religião era a melhor coisa a ser seguida, pois ainda que
haja a possibilidade de estar errada, não se perde nada em segui-la, porque se
ela estiver correta, estaremos salvos, mas se estiver errada, nada se altera.
Tal argumento foge da verdadeira interpretação do que significa fé.74
Argumentos bayesianos:
Estes argumentos são baseados no Teorema de Bayes, o qual lista uma série de
probabilidades numeradas e em seguida aplica-se métodos matemáticos para
acrescentar ou retirar peso à evidência, o grande problema é que tais
probabilidades são classificadas como mais importantes ou menos importantes
apenas por julgamentos pessoais. Portanto, considerar a possibilidade da existência
de Deus em 50% e depois listar probabilidades de acordo com julgamento próprio
é cair no mesmo erro do Argumento das Escrituras, o erro de ser tendencioso.
Entretanto, o seu
anti-teísmo apresenta argumentos contra a existência de Deus que vão além da
mera contra-argumentação das hipóteses apresentadas, mas trata de mostrar por
meio de argumentos da ciência moderna e da lógica mal-feita que esta existência
é simplesmente muito improvável. No quarto capítulo de ‘Deus, um Delírio’
Dawkins apresenta tais provas.
Ele inicia este
capítulo revertendo o argumento do Boeing 747 para o teísmo. Este argumento diz
que é extremamente improvável que um Boeing 747 seja montado após um furacão
passar por cima de um ferro-velho. Tal argumento é muito usado por pessoas que
querem combater o evolucionismo.
Logo em princípio,
Dawkins esclarece que o evolucionismo não defende o acaso, mas que apartir da
matéria já existente as coisas vieram a evoluir, pois não há evolução sem algo
precedente a esta. Entretanto, para Dawkins, tal argumento é muito melhor
apresentado se for posto em contrapartida para a argumentação de Deus.
Em seguida, Dawkins
apresenta a seleção natural de Darwin como sendo uma conscientizadora do
Zeitgeist de sua época, trazendo as pessoas para a verdadeira compreensão da
origem da vida sem a necessidade de um Deus.
“A seleção natural não
só explica a vida toda; ela também nos conscientiza para o poder que a ciência
tem para explicar como a complexidade pode surgir de princípios simplórios, sem
nenhuma orientação deliberada. … Quem, antes de Darwin, poderia ter imaginado
que algo tão aparentemente projetado quanto a asa de uma libélula ou o olho de
uma águia é na verdade o resultado de uma longa seqüencia de causas não
aleatórias, mas puramente naturais?”75
Mostra então que o
argumento da complexidade irredutível é sem fundamento, pois podemos encontrar
na natureza diversos exemplos de órgãos de seres vivos que são totalmente
plausíveis de simplificação citando como exemplo o olho do Nautilus, cujo qual
está entre a complexidade olho humano e a de um platelminto, mostrando desta
maneira que a evolução faz sentido e que a complexidade irredutível é falsa.
Dawkins mostra então a
fragilidade dos argumentos teístas, ao lembrar da indevida adoração às lacunas,
dizendo que os criacionistas, se encontrarem um vazio, uma lacuna, no argumento
da evolução, então, conseqüentemente colocam Deus para preencher este espaço.
Para Dawkins, é um desenvolvimento ilógico de pensamento, pois se existe a
lacuna, não significa que ela tenha que ser preenchida por Deus, mas que
simplesmente ainda não se encontrou nenhum argumento76.
“Existe, portanto, uma
ligação infeliz entre a necessidade metodológica da ciência de buscar áreas de
ignorância para definir seus alvos de pesquisas e a necessidade do design
inteligente de buscar áreas de ignorância para reivindicar a vitória por
eliminação.”77
Então, após apresentar
suas provas primárias para a negação da existência de Deus, Dawkins revela seu
argumento final que, aparentemente, resolve a questão toda do capítulo: O
Argumento Antrópico!
O ponto-chave deste
argumento é o antropocentrismo. Admitindo que seja muito improvável que a zona
Cachinhos Dourados78 possa ter ocorrido apartir do nada79, Dawkins
apresenta o argumento antrópico como solução ateísta provisória para a
resolução do problema, o qual diz que ainda que seja muito improvável, tal
aconteceu, pois eu estou aqui analisando a situação.
“A beleza do princípio
antrópico é que ele nos diz, contrariando a nossa intuição, que um modelo
químico só precisa prever que a vida vá surgir em um planeta em 1 bilhão de
bilhões para nos dar um boa e totalmente satisfatória explicação para a
presença da vida aqui.”80
Portanto, a origem da
vida (não a evolução, que é o desenvolvimento da vida) é fruto do simples acaso
que por sorte nos concedeu o privilégio viver. Ainda que seja extremamente
improvável ocorreu, pois eu estou aqui para poder contar a história.
Entretanto, a hílare
final é que para defender a ideia de que Deus não existe Dawkins conclui
dizendo:
“A hipótese de que haja
um projetista suscita imediatamente o problema maior sobre quem projetou o
projetista. O problema que tínhamos em nossas mãos quando começamos era o da
improbabilidade estatística. Obviamente não é solução postular uma coisa ainda
mais improvável.”81
Perceba que o problema
dele não é com os argumentos a respeito de Deus, mas que Deus tem uma
improbabilidade muito grande de existir. Ainda que ele ache não haja argumentos
concretos a favor da existência de Deus, Dawkins não consegue encontrar nenhum
para provar o contrário, cai então no campo da especulação barata e passa a dar
um golpe na ponta da faca que acabara de afiar.
4.2 (Anti-) Doutrinas
Tendo visto que a base
principal de suas ideias é a negação de Deus, vejamos como algumas doutrinas
são combatidas a partir deste princípio:
4.2.1 Cosmologia
Partindo do princípio
lógico que Dawkins não reconhece nenhum tipo de divindade, devemos concluir que
logo ele não aceita nenhum tipo de sobrenaturalismo. Para Dawkins “não há nada
além do mundo natural e físico, nenhuma inteligência sobrenatural vagando atrás
do universo observável, que não existe milagres – exceto no sentido de
fenômenos naturais que não compreendemos ainda. Se houver alguma coisa que
pareça estar além do mundo natural, conforme entendemos hoje, esperamos no fim
ser capazes de entendê-la e adotá-la dentro da natureza.”82
Para Dawkins toda
realidade se baseia naquilo que podemos ver, tocar e provar por meio do método
científico.
4.2.2 Trindade
Dawkins equivoca-se em
compreender a Trindade, caindo em um erro que permeia as mentes secularizadas.
Para ele, esta doutrina não passa de uma confusão sistematizada do cristianismo
que é aumentada por meio da igreja católica que acrescenta muitos outros santos
e ordens angélicas.83
4.2.3 Escrituras
Para Richard Dawkins,
como era de se esperar, a Bíblia não passa de um livro antigo com histórias
antigas que nem mesmo deveriam servir de base para as nossas moralidades, nem
de como fonte histórica para a solução de eventuais problemas da linha de
tempo. Segundo Dawkins, não há nenhuma diferença entre a Bíblia e as mitologias
dos outros deuses.
“O principal motivo de
a Bíblia ter de fazer parte de nossa educação é o fato de ela ser uma
importante fonte de cultura literária. A mesma coisa aplica-se às lendas dos
deuses gregos e romanos, e aprendemos sobre eles sem que ninguém peça que
acreditemos neles.”84
4.2.4 Pecado original e
expiação
Dawkins considera o
pecado original85 como sendo uma preocupação sem sentido que o
cristianismo desenvolveu.86 E a expiação dos pecados como sendo uma
loucura sadomasoquista:
“Deus encarnou como
homem, Jesus, para que pudesse ser torturado e executado em expiação do pecado
hereditário de Adão. Desde que Paulo expôs esta doutrina repugnante, Jesus vem
sendo adorado como o redentor de todos os nossos pecados. … Descrevi a expiação
dos pecados, a doutrina central do cristianismo, como cruel, sadomasoquista e
repugnante. Também deveríamos qualificá-la como loucura de pedra, se não fosse
pela enorme familiaridade com ela, que anestesia nossa objetividade.”87
Para Richard Dawkins o
conceito de bem e mau não passa de simplesmente uma questão de ‘erros e
acertos’ que durante o período evolutivo foi sendo desenvolvido. Por exemplo,
descobriu-se que matar aqueles que fazem parte da mesma espécie causava uma
diminuição da mesma, então, por meio disto, verificou-se o erro que passou a
ser considerado algo ruim. O mesmo ocorre com os acertos que passaram a ser
algo bom. Ou seja, não existe pecado, apenas definições morais que foram sendo
desenvolvidas durante o período de evolução.
Este conceito de pecado
é um reflexo do pensamento nietzschiano, pois se não há Deus, o pecado não é
nada mais do que uma questão de valores morais que estão impregnados na
sociedade, ou seja, não tem nada que ver com espiritualidade.88
4.3 Fontes ‘teológicas’
de Richard Dawkins
Após estas
considerações, passemos a analisar as fontes que levaram Dawkins a desenvolver
o seu tipo de anti-teísmo ferrenho. Para isto, podemos detectar pelo menos
quatro pontos que exerceram grande influência sobre Richard Dawkins: Família,
Religião, Ciência e a Teologia Liberal.
4.3.1 Família
Vamos nos lembrar que
Richard Dawkins nasceu em um contexto de Segunda Guerra Mundial89.
Seu pai foi um soldado de guerra quando eles ainda moravam em Nairóbi, Quênia 90.
Isto nos leva ao contexto pós-guerra, que, como já foi dito, foi um período
caracterizado pela deteriorização da família e um esfriamento muito grande na
religião91, sendo que o próprio Dawkins não estava imune a tal
contexto, especialmente devido ao fato de que sua família não era muito
religiosa. Ele diz:
“Meus pais eram
Anglicanos ortodoxos no sentido que eles eram ambos batizados, assim como eu
fui, mas eles não eram profundamente religiosos, e eles não são profundamente
religiosos. Nós costumávamos ir à igreja a cada Natal, mas eu digo que não
havia muito mais que isto.”92
Claro que este fator
não é o mais importante, pois temos tantos outros ateus (e.g. Nietzsche) que
vinham de famílias muito religiosas, mas que caminharam para direções
totalmente opostas. Entretanto, a família exerce um papel fundamental no
desenvolvimento ideológico de uma pessoa.
4.3.2 Religião
O Anglicanismo já vinha
sofrendo um certo declínio desde a época do século XVIII93
alcançando o sua depressão no período entre 1870 – 1900, período que se
apresentou como sendo uma época de abandono às antigas crenças.94 Entretanto,
a religião não parou neste período. A época após a segunda guerra mundial se
caracterizou por um período de grandes mudanças e um abandono da religião,
fazendo com que as pessoas se apegassem mais à razão.95 Um exemplo
disto é o movimento ‘Deus está Morto’ que pregava o racionalismo na religião
levando as pessoas a abandonarem o sobrenatural e considerá-lo como sendo fatos
a seres explicados.
O esfriamento da
religião adicionado ao movimento racionalista e antirreligioso que surgiu no
mundo na década de 60, podemos perceber que estes são fatores que corroboraram
para o desenvolvimento teológico de Dawkins, pois foi exatamente nesta época
que ele esteve lecionando na Universidade da Califórnia, antes de ser chamado
para ser professor em Oxford.
Não é de admirar que
Dawkins tenha pensamentos tão parecidos com os conceitos desenvolvidos naquela
época.96
4.3.3 Ciência
Sem dúvida alguma
Dawkins é darwiniano, a contar pelo número de citações positivas que faz a este
cientista ou suas idéias97. Em toda a sua argumentação ele utiliza os princípios
de Darwin para explicar o motivo. Como é o caso da religião, onde Dawkins a
coloca na explicação da ‘seleção de grupo’.
“Darwin visualizou
tribos com membros altruisticamente colaborativos espalhando-se e tornando-se
mais numerosos, em termos de número de indivíduos.”98
Com isto ele diz que
religiões como o cristianismo sobreviveram graças ao altruísmo que havia entre
eles, tornando-os assim, cooperadores e desta forma, mais fortes para
resistirem aos ataques de outros grupos sociais.
Ele também atribui à
seleção natural a origem da vida no mundo, pois, dentre os bilhões de planetas
que há no universo, o planeta Terra foi o ‘selecionado’ para que a vida pudesse
florescer, e isto é explicado pelo princípio antrópico.99
Para Dawkins, Darwin é
o ponto de origem para todo o desenvolvimento científico na área da biologia,
sociologia e religião.
4.4.4 Teologia Liberal
Podemos perceber a
Teologia Liberal em muitos dos argumentos de Dawkins. Em realidade, sempre
quando são mencionados os teólogos e estes estão de alguma forma de acordo com
suas idéias, tais conceitos, argumentos e teólogos são liberais.
Apesar de dizer: “os
teólogos não têm nada de útil a dizer sobre mais nada; vamos jogar um bolinho
para eles e deixá-los preocupados com uma ou duas perguntas a que ninguém
consegue responder, e talvez jamais responderá.”100 Dawkins mais a
frente cita os ‘teólogos’ como autoridades para a sua argumentação:
“Desde o século XIX,
teólogos acadêmicos vêm defendendo que os evangelhos não são relatos confiáveis
sobre o que aconteceu na história do mundo real. Todos eles foram escritos
muito tempo depois da morte de Jesus, e também das epístolas de Paulo, que não
mencionam quase nenhum dos supostos fatos da vida de Jesus.”101
Interessante que este
mesmo tipo de ideia também é defendido por Bart Ehrman, teólogo liberal que ele
cita logo mais à frente:
“O acadêmico bíblico
americano Bart Ehrman, num livro cujo subtítulo é Quem mudou a Bíblia e porquê,
revela as imensas incertezas que obscurecem os textos do Novo Testamento.”102
Em outro lugar ele
também faz referência a Dietrich Bonhoeffer, um outro teólogo liberal, cujo
qual ele é simpatizante das ideias.
Em resumo, a verdadeira
teologia, se podemos dizer desta maneira, para Richard Dawkins é aquela que
trata a Bíblia e os milagres da mesma maneira que ele, com ceticismo, análise
racional extremada e com uma negação ao sobrenatural.
Considerando que Dawkins,
durante a fase de seu desenvolvimento de pensamento, viveu em um período onde
grandes capadócios da teologia liberal estavam despontando, tais como o próprio
Bonhoeffer, Bultmann, Tillich dentre outros. A sua ideologia foi muito bem
desenvolvida em cima da teologia destes indivíduos e do contexto antirreligioso
de sua época.
5. Falácias Deliberadas
Observando todo este
desenvolvimento, é interessante analisaremos algumas das contradições
falaciosas que Richard Dawkins apresenta em seu livro ‘Deus, um delírio’, pois
o desenvolvimento de seu anti-teísmo fundamentalista é tão misturado, acolhendo
tantos pensamentos e procurando tantos meios de defender suas ideias que em
certos pontos atinge uma massa crítica ocasionando uma fissão em sua cognição.
Alguns dos exemplos que
podemos citar é aquele que já foi apresentado no tópico anterior, onde
primeiramente Dawkins rejeita qualquer autoridade teológica, entretanto, estas
autoridades são somente aquelas que discordam de suas ideias, porque, em outros
pontos ele cita teólogos como uma força que se encaixam em sua argumentação.
Veja outros dois exemplos de falácia apresentados por Dawkins, caracterizando-o
com o Zeitgeist atual de ‘dois pesos, duas medidas’:
5.1 Falácia da Fonte
Desqualificada
Nas páginas 69-71
Dawkins recebe Thomas Jefferson, ex-presidente americano, como autoridade para
argumentar a Bíblia. Talvez eu devesse convidar o presidente Lula para a
próxima convenção de Física Subatômica para dar uma palestra sobre pósitrons e
anti-matéria.
“Essa é a tese
defendida de forma arrasadora pelo físico americano e antropólogo evolucionista
John Hartung. … A interpretação que Hartung faz da Bíblia sugere que ela não
fornece base para uma complacência tão convicta como a dos cristãos.”103
Puxa vida! Um físico e antropólogo evolucionista também tem autoridade para
fazer interpretações sobre a Bíblia! E este intérprete diz que “Jesus limitou
seu grupo de salvos estritamente aos judeus, no que respeitava a tradição do
Antigo Testamento, que era tudo que conhecia.”104 Quer dizer então
que o Dr. Wilson Paroschi, Dr. F. F. Bruce, Dr. D. A. Carlson, Dr. Amin Rodor,
Dr. Rodrigo P. Silva, Dr. Oscar Cullmann, Dr. Martinho Lutero, Dr. Calvino e
tantos outros que dedicaram a vida toda ao estudo da teologia estavam o tempo
todo errados! Pois é, tantos trabalhos teológicos para nada, porque um físico
conseguiu desvendar os segredos!
Ao citar a declaração
do famoso biólogo J. B. S. Haldane, na página 461, que afirma a estranheza do
universo o qual continua dizendo que há muito mais coisa do que podemos
imaginar, Dawkins completa com uma citação à peça Hamlet, de William
Shakespeare: “Há mais coisa no céu e na terra, Horácio, do que sonha a tua
filosofia.”
Perceba que há uma
falta de, no mínimo, senso científico para argumentar utilizando autoridades,
pois o que Richard Dawkins está interessado na realidade não é a verdade, mas a
virtualidade que ele mesmo quer criar para o mundo, por isso, não importa quem
esteja falando, desde que concorde com ele e/ou seja famoso.
5.2 Falácia na Analogia
Dawkins faz uma
analogia entre o comportamento aparentemente suicida de uma mariposa que avança
em direção ao fogo com a religião que é desenvolvida nas crianças.105
O comportamento da
mariposa seria um subproduto de um instrumento que ela utiliza para se
orientar, a bússola óptica, pois a mariposa toma a posição da Lua, regula o
foco para o infinito, ajusta para 30 graus e assim orienta-se sabendo para onde
está indo e por onde poderá voltar ao mesmo local. Entretanto, uma vela está
muito próxima para que a mariposa consiga regular o foco para o infinito e ao
tentar ajustar a posição para 30 graus, ela acaba entrando em um movimento
espiral para dentro das ‘chamas de morte’ da vela. A bússola óptica é um
produto útil para a mariposa, entretanto, o resultado, o subproduto que veio
com a vela (já que velas não são produtos da natureza) é ruim, ocasionando
assim um suicídio sem intenção.
Para Dawkins, assim
como a vela está para a mariposa, a religião está para as crianças, pois há um
produto útil, que é o conselho e a advertência, como quando os pais avisam:
“Não nade naquele rio porque tem jacarés.” “Fique junto de mim que tudo estará
seguro.” Entretanto, para ele, junto com estas advertências vem a exortação
religiosa, pois, já que os conselhos e advertências anteriores são considerados
algo bom para a sobrevivência, a exortação religiosa, em obediência às
autoridades, seja ela o padre, pastor, sacerdote, aiatolá, acaba entrando no
mesmo barco, tornando-se um sub-produto indesejável.
Todavia, Dawkins falha
em lembrar que, tanto a história como a sociologia, não detectaram nenhuma
comunidade que tenha se originado e permanecido sem religião. Portanto, a
religião, utilizando o argumento de Dawkins, seria um produto inerente a
personalidade humana, e o ateísmo, considerando que este é originado
posteriormente, seria um subproduto negativo ao sentimento religioso.
Perceba que os próprios
argumentos de Dawkins, se calibrados da maneira correta, entram em um processo
de implosão, vindo a se extinguir. Tudo isto é uma característica peculiar do
espírito secularista que ronda as correntes de pensamento hoje, e isto é um
ponto básico do fundamentalismo de Dawkins.
Conclusão
Após analisarmos todo o
contexto de Richard Dawkins, o qual foi permeado pelos sentimentos pós-guerra e
analisando retrospectivamente como tais sentimentos chegaram a ser
desenvolvidos, observando desde os tempos da Revolução Francesa, sendo
expandidos e grandemente influenciados por Nietzsche, categorizamos sua
compreensão (anti-)doutrinária, examinamos também suas idéias teológicas e como
foram desenvolvidas por pelo menos quatro fontes e detectamos a influência do
pensamento secularizado de ‘dois pesos, duas medidas’, podemos chegar a
seguinte conclusão: A principal fonte para a análise de Richard Dakwins sobre
Deus é a Teologia Liberal, pois esta serve de coluna vertebral para todo o seu
desenvolvimento anti-teísta.
Temos total consciência
de que a Teologia Liberal teve o seu desenvolvimento desde os tempos do
Iluminismo tendo sua ignição no período da Revolução Francesa com
Schleiermacher, pois aquele período foi caracterizado pela liberdade da
autoridade da igreja e de pensamento, pois, como já foi mencionado, em muitos
países europeus, especialmente na França, o ateísmo estava espalhado pelas
ruas. A partir deste momento a Bíblia começou a ser analisada por meio dos
métodos históricos-críticos da história secular, tornando-a desta maneira pouco
confiável. Este desenvolvimento teológico chegou mesmo a afetar Darwin106,
o qual foi um dos influenciadores do pensamento de Dawkins.
Percebe-se que a
Teologia Liberal torna-se o elemento unificador de todos os pontos de
desenvolvimento de Dawkins, desde o contexto secularizado pós-guerra até aos
tempos atuais, onde ele reclama a autoridade de teólogos como Bart Ehrman. Sua
compreensão doutrinária, se é que podemos chamar assim, é extremamente similar
a da Teologia Liberal negando a autoridade das Escrituras, considerando que
milagres não existem, tratando o pecado como simplesmente uma questão moral.
“Apesar de teólogos
liberais diferirem em suas visões acerca de Deus… eles têm muita coisa em
comum. Primeiro e o mais importante, a rejeição da visão cristã ortodoxa das
Escrituras, a qual constrói um consistente antisobrenaturalismo, juntamente com
sua concomitante aceitação da Alta Crítica negativa.”107
Afinal, não é
exatamente este o pensamento de Richard Dawkins? Especialmente no que diz
respeito às Escrituras, morte de Jesus e mesmo milagres?
“Se não há Deus que
pode realizar milagres, então o reclamo da autenticidade da Bíblia deve estar
seriamente comprometido, desde que tal está recheada com milagres. De fato,
isto é exatamente o que acontece com a negação da visão ortodoxa das
Escrituras.”108
Em suma, o pensamento
de Richard Dawkins é uma Teologia Liberal tendencionada ao ateísmo
nietzschiano, pois toma os elementos analíticos da Teologia Liberal para a sua
compreensão acerca da religião e Deus encerrando-os sob o discurso de Nietzsche
a respeito da liberdade.
“De fato, nós filósofos
e “espíritos livres” sentimo-nos, à notícia de que “o velho Deus está morto”,
como que iluminados pelos raios de um nova aurora; nosso coração transborda de
gratidão, assombro, pressentimento, expectativa – eis que enfim o horizonte nos
aparece livre outra vez, posto mesmo que não esteja claro, enfim podemos lançar
outra vez ao largo nossos navios, navegar a todo perigo, toda ousadia do
conhecedor é outra vez permitida, o mar, nosso mar, está outra vez aberto,
talvez nunca dantes houve tanto “mar aberto”.”109
‘Na verdade’ para
Richard Dawkins não é nada mais que uma falsa realidade baseada em discursos
contraditórios característicos da mentalidade secularizada. Sua verdade é
baseada em uma negação arbitrária da existência de Deus, selecionando fatos e
pontos que lhe deem razão, tal qual a Teologia Liberal faz com a Bíblia,
selecionando o que lhe é devido e rejeitando os pontos que caminham contrários
às suas ideias, classificando-os como mito. Considerando que a análise
verdadeira toma todos os fatos, examina-os, para então chegar-se a uma
conclusão, não posso considerar a Teologia Liberal e, consequentemente, Richard
Dawkins como verdadeiros, pois estes partem das conclusões para então analisar
o que pode ser verdadeiro, caindo então no erro da mentira.
“‘Na verdade’, para um
animal, é aquilo que o seu cérebro precisa que seja, para ajudá-lo a
sobreviver. E, como espécies diferentes vivem em mundos tão diferentes, haverá
uma variedade perturbadora de ‘na verdade’.”110
Neste contexto, a
verdade de Richard Dawkins é a Teologia Liberal levemente modificada, pois
somente esta pode dar a ele a sua sobrevivência, ainda que tal seja uma
mentira.
Referências
1. DAWKINS, Richard.
Deus, um delírio (São Paulo: Companhia das Letras. 2007), p. 55.
2. O Delírio de
Dawkins: Uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins (São Paulo:
Mundo Cristão. 2007), p. 17.
3. DAWKINS, p. 17 – 18.
4. Cf.
http://www.richarddawkins.net/convertscorner.
5. Não é à toa que a
revista Super Interessante de Agosto de 2007 o chama de “O Aiatolá dos Ateus”,
pp. 86 – 90.
6. Em sua grande
maioria pela BBC.
7. Afinal, é impossível
desenvolver idéias sem o pressuposto cultural que cada pessoa carrega.
8. DAWKINS, p. 471.
9. Considerando que é
impossível que haja verdade relativa, por mais que tal conceito esteja sendo
amplamente divulgado por meio da ideologia pluralista do mundo moderno, esta é
auto-aniquilativa, pois se a verdade é relativa, seria isto uma verdade ou
também é relativo? Verdade é um conceito absoluto, por mais que possa haver
diferentes lados da mesma verdade, estes lados nunca se contradizem, ao
contrário, se complementam. Cf. GEISLER, Noman e TUREK, Frank. Não Tenho Fé
Suficiente para Ser Ateu (São Paulo: Ed. Vida. 2006), cap. 1.
10. Informações extraídas
de uma entrevista dada à BCC Radio 3 no dia 5 de Abril de 2004, pode-se obter a
entrevista na íntegra em: http://www.bbc.co.uk/religion/religions/atheism/people/dawkins.shtml.
Também foram retiradas informações da Wikipédia em 13 de Fevereiro de 2008 no
endereço: http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Dawkins.
11. Cf. BBC Radio 3.
12. KISHLANSKY, Mark
(et al.), Societies and Cultures in World History (New York: Harper Collins
College Publishers. 1995), p. 1046.
13. Ibidem, p. 1047.
14. Richard Dawkins inclusive
dedica parte do capítulo 7 de “Deus, um Delírio” para falar acerca deste
assunto. Cf. p. 350 – 359.
15. CHIDESTER, David.
Christianity: A Global History (San Francisco: Harper Collins. 2001), p. 496.
16. Ibid, p. 497.
17. Ibid, p. 499.
18. Cf. SMITH, David. A
Handbook of Contemporary Theology (Wheaton: BridgePoint. 1992), p. 27.
19. Cf. McKAY, John P.
(et al.). A History of World Societies (New York: Houghton Miffin Company.
2004. 6 ed), p. 1039.
20. Cf. GREEN, Clifford
(ed.), Karl Barth: theologian of freedom (Minneapolis: Fortress Press. 1991),
p.173.
21. Cf. McKAY, p. 1062.
22. ROBERTS, J. M.,
History of the World (New York: Oxford University Press. 1993), p. 813.
23. Entre 1967 – 1969.
Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Dawkins.
24. The “God is Dead”
Movement, Revista TIME em 22 de Outubro de 1965, extraído de http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,941410,00.html
em 19 de Março de 2008 (grifo meu).
25. Toward a Hidden
God, TIME em 8 de Abril de 1966, extraído de http://www.time.com/time/magazine/article/0,9171,835309,00.html
em 19 de Março de 2008.
26. Ibidem.
27. Ibidem (ênfase do
autor).
28. SMITH, p. 78.
29. Estes eram os
magistrados e o clero.
30. KISHLANSKY, p. 651.
31. Ibidem.
32. Ibidem, p. 657.
33. Em 1784 a França
tinha 24.670.000 de habitantes, um crescimento considerável, pois haviam
17.000.000 em 1715, tal crescimento se deve ao fato do bom desenvolvimento da
produção de alimentos, higiene sanitária e outros fatores que levaram o país a
um grande progresso. Entretanto, em 1789 de todos os habitantes da França, é
estimado que apenas 26,000 constituíam de uma população nobre (gerente real,
administradores de província, sacerdotes e senhores feudais). Cf. DURANT, Will
e Ariel, Rousseau and Revolution (New York: Simon and Schuster, 1967), p. 927.
34. DURANT, p. 963.
35. Um certo homem
daquela época disse: “A Igreja não era odiada porque os sacerdotes reclamavam
ser os intermediários dos assuntos do outro mundo, mas porque eles eram
proprietários de terras, senhores de mansões, donos de riquezas e
administradores deste mundo.” Ibid, p. 902 (ênfase do autor).
36. Ibid, p. 722.
37. Ibid, p. 548.
38. Ibid, p. 531.
39. CLEMENTS, Keith W.
(ed.). Friedrich Schleiermacher: Pioneer of Modern Theology (Minneapolis:
Fortress Press. 1991), p. 14.
40. DOUGLAS, J. D.
(ed.). New 20th-century Encyclopedia of Religious Knowledge (Grand Rapids:
Baker Book House. 1991. 2 ed), p. 504.
41. HÄGGLUND, Bengt.
História da Teologia (Porto Alegre: Casa Publicadora Concordia. 1973), p.307.
42. Ibidem, p. 310.
43. CLEMENTS, p. 14.
44. DOUGLAS, p. 503.
45. DURANT, p.734.
46. GEISLER, Norman.
Baker Encyclopedia of Christian Apologetics (Grand Rapids: Baker Academic.
1999), p. 182.
47. Cf.
http://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Malthus. Darwin na Introdução de A Origem
das Espécies relaciona sua teoria com Thomas Malthus ao dizer que a doutrina
deste pode ser aplicada a todo o reino animal e vegetal. Cf. DARWIN, Charles.
The Origin of Species. (In: Great Books of the Western World. Encyclopedia
Britannica, Inc. 1952), p. 7.
48. GEISLER, Baker
Encyclopedia of Christian Apologetics, p. 182.
49. DARWIN, Charles.
Autobiography, p. 87, In: GEISLER, Baker Encyclopedia of Christian Apologetics,
p. 183.
50. DARWIN,
Autobiography, p. 85.
51. GEISLER, Baker
Encyclopedia of Christian Apologetics, Idem, p. 183.
52. DARWIN,
Autobiography, p. 84, In: GEISLER, Baker Encyclopedia of Christian Apologetics,
Idem, p. 183.
53. DARWIN, The Origin
of Species, p. 243.
54. Carta 7, Maio de
1879, In: GEISLER, Baker Encyclopedia of Christian Apologetics, p. 184.
55. McGRATH, Alister.
The Twilight of Atheism (New York: Doubleday. 2004), p. 98.
56. EDWARDS, Paul
(ed.). The Encyclopedia of Philosophy (New York: Macmillan Publishing Co., Inc.
and The Free Press. 1967, vols. 5 e 6), p. 504.
57. Ela era também
filha de um arquidiácono e viúva de um superintendente. Cf. SALLES, Walter
Ferreira. “Deus está Morto! Nietzsche e o “Fim” da Teologia”, Revista Reflexão
(No. 83/84. 2003), p.38.
58. Alguns chegam a
crer que o convívio familiar se tornou um peso para Nietzsche. Cf. SALLES,
Ibidem.
59. EDWARDS, p. 505.
60. Nietzsche
desenvolve este pensamento ao contemplar os escritos da tragédia grega e da
cultura grega clássica, onde a valorização do corpo era o centro de todo o
desenvolvimento ideológico.
61. ROHMANN, Chris. O
Livro das Idéias (Rio de Janeiro: Campus. 2000), p. 292.
62. GEISLER, Baker
Encyclopedia of Christian Apologetics, p. 539.
63. SALLES, p. 43.
64. GEISLER, Idem,
p.539.
65. NIETZSCHE,
Friedrich. A Gaia Ciência (In: NIETZSCHE, Friedrich. Obras Incompletas. São
Paulo: Abril Cultural. 1974), §285.
66. Cf. DAWKINS, cap.
8.
67. Ibidem, p. 56
(ênfase do autor).
68. Ibidem, p. 56.
69. Ibidem, p. 81.
70. McGRATH, O Delírio
de Dawkins, p. 36.
71. Ainda assim, a
definição de ‘belo’ é muito subjetiva.
72. Deve-se procurar
utilizar o método científico, o qual foi desenvolvido pela teologia natural,
para se introduzir uma discussão acerca de provas para a existência de Deus.
Entretanto, deve-se lembrar que ao final não poderemos obter nenhuma resposta
conclusiva, tanto à favor como contra, porém os argumentos à favor da
existência de Deus são mais plausíveis.
73. Apesar de que
devamos levar em consideração estas mentes brilhantes.
74. Sendo que este
argumento falha no que diz respeito a salvação. Pois se esta vem somente pela
fé e o argumento de Pascal não leva a fé, no seu sentido ortodoxo, então o
argumento se torna sem sentido. Cf. The Belgic Confession, artigos 22 e 24.
75. DAWKINS, p. 159.
76. McGRATH em
Apologética Cristã no Século XXI, mostra que estas lacunas cada vez mais estão
sendo preenchidas com o próprio Deus, pois os cientistas mesmos não conseguem
encontrar respostas satisfatórias para uma origem sem um originador.
77. Dawkins, p. 172.
78. Existem alguns
números que necessariamente deveriam estar em uma combinação exata, sem nenhum
tipo de alteração a mais ou a menos, para que a vida possa existir. A zona do
Universo que possui esta combinação é chamada de zona Cachinhos Dourados.
79. Cf. Ibidem, p. 183
– 185.
80. Ibidem, p. 188.
81. Ibidem, p. 213.
82. Ibidem, p. 37
(ênfase do autor).
83. Ibid, pp. 58 – 59.
84. Ibidem, p. 434.
85. No sentido ortodoxo
como sendo o pecado cometido por Adão no princípio quando tudo era perfeito e
sem pecado.
86. Ibidem, pp. 324 e
325.
87. Ibidem, pp. 325 e
326 (ênfase do autor).
88. “Noutros tempos,
blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele
morreram tais blasfemos. Agora, o mais espantoso é blasfemar contra a terra, e
ter em maior conta as entranhas do inescrutável do que o sentido da terra.”
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra (São Paulo: Martin Claret. 1999),
p. 26.
89. No dia 26 de Março
de 1941.
90. Cf.
http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Dawkins.
91. Cf. o ponto 2.
92.
http://www.bbc.co.uk/religion/religions/atheism/people/dawkins.shtml.
93. Cf. McGRATH, The
Twilight of Atheism, pp. 112 – 142.
94. Cf. Ibidem, p. 141.
95. Cf. o ponto 2.2.3
‘Anos Dourados e a Negação de Deus’.
96. Cristo apenas foi
um homem como todos os outros, a Bíblia é apenas um livro com contos antigos,
Deus é simplesmente uma questão psicológica.
97. Pp. 34, 37, 115,
139,155, 156, 159 – 160, 167 – 170, 190 – 191, 209 – 220, 222 – 227, 240, 252 –
253, 278, 465.
98. DAWKINS, p. 227.
99. Cf. Ibidem, p. 191.
100. Ibid, p. 88.
101. Ibid, pp. 131 –
132.
102. Ibid, p. 134
(ênfase do autor).
103. Ibidem, pp. 327 –
328 (grifo meu).
104. Ibidem, p. 328.
105. Cf. Ibid, pp. 227
– 252.
106. Cf. ponto 3.2.
107. GEISLER,
Systematic Theology, v.1, p. 365.
108. Ibid, p. 364.
109. NIETZSCHE, A Gaia
Ciência, §343.
110. DAWKINS, p. 471.
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Acessado em 8 de Abril de 2008.
*Gustavo
Cangussú Góes, Bacharel em Teologia pelo Unasp,
Campus Engenheiro Coelho, SP. TCC apresentado em dezembro de 2008, Orientador:
Amin Américo Rodor, Th.D. – Publicado na Revista Eletrônica de Teologia
Kerygma.
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