Teologia

sábado, 28 de dezembro de 2019

SOMOS FARISEUS OU PUBLICANOS?


Ricardo André

No evangelho de Lucas está registrado uma poderosa parábola contada por Jesus durante Seu ministério terrestre que desafia você e eu a fazermos um saudável autoexame de consciência. A parábola descreve dois homens visitando o mesmo templo, ambos orando ao mesmo Deus. Mas algo entre os dois é completamente distinto. Neste estudo vamos conhecer o contexto, explicação, significado e as profundas verdades espirituais que a Parábola do Fariseu e o Publicano nos ensina.  Ao ler esse extrato do evangelho eu fiquei muito feliz porque acredito piamente que, se compreendermos plenamente essas verdades, elas serão capazes de mudar de forma concreta a minha vida e a tua também.

"Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. "Mas o publicano ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito, dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’. "Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado" (Lucas 18:10-14, NVI).

Uma Parábola Impactante

Nos dias de Jesus os fariseus eram considerados entre os mais piedosos e religiosos de todos os judeus. Eram zelosos “pelo cumprimento estrito de todos os deveres religiosos prescrito pela Torah, ou ‘Lei de Moisés’ [...]. Sua ocupação era interpretar e aplicar ‘a lei’ a cada detalhe minuciosos e circunstância da vida. Nos tempos de Cristo, essa crescente lista de regras era conhecida como ‘a tradição dos anciãos’ (Mt 15:2)” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 495). Eles se orgulhavam por se acharem cumpridores da Lei e das tradições. Por outro lado, os publicanos por recolherem os impostos e taxas alfandegárias do povo para Roma eram estereotipados. Eram em sua esmagadora maioria “extorquiadores, que, com a conivência dos soldados romanos, pressionavam o máximo possível. Eram muito odiados. Ficavam alienados da sociedade, eram evitados ao máximo e quase nunca eram vistos no templo ou na sinagoga (Mt 11:19; 21:31). O judeu que se tornasse publicano era considerado um lacaio dos detestados romanos e traidor de Israel” (Ibdem, p. 1105). Eles eram vistos como a máfia dos seus dias. Então, você pode perceber, porque a conclusão de Jesus desta parábola, deixou seus ouvintes literalmente atordoados. Foi um exemplo escandaloso e politicamente incorreto sugerir que um publicano seria justificado e salvo, enquanto um fariseu estaria sem perdão e perdido. Mas Jesus transformou o sistema de classificação deles de ponta cabeça.

Segundo Ellen G. White, “o fariseu e o publicano representam os dois grandes grupos em que se dividem os adoradores de Deus” (Parábolas de Jesus, p. 152). Logo, estes dois homens representam dois destinos opostos, os salvos e os perdidos, entre aqueles que vão à igreja hoje. Todo crente professo de hoje cai em um desses grupos. Um desses homens me representa. Um representa você.

Cada um de nós precisa pedir humildade e orientação ao Espírito Santo, ao considerar esta questão. Você pode estar pensando que é um publicano quando você é realmente um fariseu, ou vice-versa. Ou você pode ser um pouco dos dois. É importante estudarmos esta parábola, porque todos nós somos um desses homens, e queremos certificar-nos de ser aquele a quem Jesus perdoa.

Alguns pontos em comum entre o Fariseu e o Publicano

Estes homens tinham algumas coisas em comum.

1) Ambos acreditavam em Deus. Se você quer estar no grupo de salvos, isso é um bom começo! Mas acreditar em Deus não é o único critério para a salvação. “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o creem, e estremecem” (Tiago 2:19). Porque os demônios também acreditam que existe um Deus, deve haver algo mais para sermos salvos.

2) Os dois homens também iam à igreja. Isso também é importante se você quer estar no grupo dos salvos. Alguém certa vez disse corretamente que “se você não tem fé suficiente para ir à igreja uma vez por semana, não é provável que você terá fé suficiente para chegar ao céu para a eternidade”.

Às vezes as pessoas se desculpam por não ir à igreja, alegando que existem hipócritas lá. Mas eu digo, não se preocupem, pois há sempre espaço para mais um. Além disso, Jesus ia à igreja todos os sábados ainda que ela estivesse recheada de hipócritas, alguns dos quais o queriam até mesmo morto.

Outros reclamam que a igreja é chata. Mas é o propósito da igreja divertir ou adorar a Deus? E se a sua adoração não é satisfatória, ore a Deus para mudar seu coração. Mas vá à igreja. Jesus deu o exemplo, ensinando e adorando na igreja toda semana (Lucas 4:16).

3) Ambos oraram. Jesus diz em Lucas 18:1 que os homens devem “orar sempre”, e Paulo escreve que devemos “orar sem cessar” (1 Tessalonicenses 5:17). Os salvos de verdade oram.

Assim vimos que ambos os homens acreditavam em Deus. Ambos iam à igreja. Ambos oravam. Creio que você também pratique esses hábitos da fé.

As diferenças

Os fariseus eram cumpridores da Lei, mas espiritualmente orgulhosos

Agora vamos considerar algumas de suas diferenças. Os fariseus usavam orgulhosamente sua piedade. Eles eram um elemento extremamente conservador de crentes que eram zelosos rem relação às Escrituras, a lei de Deus, e a pureza do culto a Yahawéh. Quando os judeus estavam em cativeiro na Babilônia, os profetas, lhes disseram que eles foram subjugados por causa de sua infidelidade a Deus. Em resposta, foi formada a seita dos fariseus, para que Israel não se permitisse ser influenciado pelas nações pagãs circunvizinhas. Meticulosos nos detalhes de sua religião, os fariseus sabiam que se Israel caísse na idolatria novamente, Deus poderia retirar para sempre a Sua proteção.

Portanto, este era geralmente um bom grupo de pessoas que eram apenas muito zelosas em sua crença de não se contaminarem por seu ambiente.

Infelizmente, muitos e talvez a maioria dos fariseus deixaram o seu zelo pela obediência apagar o seu amor por seus semelhantes. Jesus os repreendeu várias vezes por sua preocupação com o formalismo religioso, a religião exterior e sua maldade hipócrita. Nenhum aspecto da prática religiosa foi mais condenado por Jesus do que o farisaísmo: uma vida baseada no que é externo, no legalismo, no estilo de vida ostentoso e na hipocrisia, ao passo que pouca ou nenhuma atenção é dada ao amor, à misericórdia e à justiça. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia” (Mateus 23:27).

Nesta parábola reveladora, o fariseu é um homem hipócrita. Portanto, Jesus advertiu: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” (Lc 12:1). Hipocrisia na definição de Cristo, não é alguém que fica aquém dos ideais divino. Hipócrita é aquele que busca “visibilidade”, que troca o alvo de agradar a Deus pelo objetivo idólatra de ganhar aplauso humano. Como os fariseus, cuja religião era praticada visando ao louvor dos observadores, e não à glória de Deus.  Examine a si mesmo: Será que sou um fariseu? A parábola do fariseu e do publicano nos convida para que examinemos até que ponto deixamos o farisaísmo entrar em nossas vidas; até que ponto confiamos em nós mesmos e nossos esforços como agentes da nossa salvação; até que ponto nos damos o direito de julgar os outros, conforme os nossos critérios. Se você tem toque de fariseu em sua vida, cuidado!
                                                                                                                  
Os publicanos eram considerados traidores e corruptos.

O publicano, por outro lado, era a versão antiga de um coletor de impostos – apesar de serem bastante diferentes dos coletores de impostos de hoje. Quando os romanos conquistavam uma província, eles não falavam a língua e não conheciam a cultura da mesma, mas precisavam do imposto de renda. Então, ao invés deles mesmos recolherem os impostos, eles permitiram que os judeus obtivessem licenças para serem cobradores de impostos. Os cobradores de impostos eram necessários para acumular uma certa quantidade do imposto do seu distrito podendo manter um percentual sobre esse valor para si mesmos. Muitos deles exploravam a sua posição para extorquir grandes quantias para encher seus próprios bolsos. Zaqueu era fabulosamente rico, porque ele era um cobrador de impostos em Jericó (Lc 19:1-10).

Os publicanos eram odiados duplamente pelos judeus compatriotas. Primeiro, porque cobravam impostos extorsivos, e ninguém gosta disso. Segundo, porque esse imposto era destinado aos romanos opressores e pagãos. Assim, esses funcionários da fazenda eram considerados traidores do seu povo; e, para piorar, em geral, eles cobravam ágio, ou além do que deveriam, ficando com a diferença. Tudo isso os colocava numa situação oposta a dos fariseus, em termos de reputação. Os publicanos eram também conhecidos por manterem os bares abertos e estarem envolvidos em prostituição. Eles representavam a pior raça de pecadores.

Portanto, nesta parábola sobre duas pessoas que vão ao templo para orar a Deus, as pessoas naturalmente olhavam para os fariseus como os que estavam mais próximos de Deus. Eles consideravam os publicanos como sem esperança e abandonados por Deus. No entanto, Jesus conclui Sua parábola afirmando que o publicano “desceu para sua casa justificado”. Ele conseguiu o que tanto desejava, a paz repousou sobre ele. A pergunta que se impõe é: “Por que Cristo favoreceu o publicano e não o fariseu, meticuloso observador da Torá hebraica?”

Orações Peculiares e Postura

Uma distinção importante entre os dois homens foi a maneira que eles oraram. “O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo” (Lucas 18:11). Levantou-se, por si mesmo, na frente, afastados de todos, para não se contaminar. Em seguida, agradeceu a Deus por não ser como o publicano. Sua cabeça estava erguida, seus braços estavam esticados. Em última análise, ele não orava a Deus. Jesus é claro ao dizer que ele “dirigia uma oração a si mesmo”. Em outras palavras, o fariseu estava falando de si consigo mesmo. Seus elogios eram dirigidos ao seu próprio ego.

Mas a oração do publicano foi totalmente diferente. “O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13). O publicano estava humildemente com o pé atrás, nem sequer se atrever a levantar os olhos. Sua posição e comportamento revelam a atitude de alguém que, na presença de Deus, sente-se desqualificado. Ele permanece longe do altar (Lc 18:13) por sentir-se indigno. Não tem qualquer ilusão a seu respeito. Ele classificou-se a si mesmo como “o pecador”. O apóstolo Paulo também fez o mesmo quando escreveu: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Timóteo 1:15).

A oração do publicano expressa uma verdade presente em toda a Bíblia, declarando que a salvação, do início ao fim, pertence a Deus e é atribuída à sua misericórdia e graça (Salmo 51:1; Lucas 18:13; Efésios 2:8; Tito 3:5). O homem é incapaz de justificar-se a si mesmo. Sobre isso Ellen G. White escreveu: “Quem procura alcançar o Céu por suas próprias obras, guardando a lei, tenta uma impossibilidade. Não pode o homem salvar-se sem a obediência, mas suas obras não devem provir de si mesmo; Cristo deve operar nele o querer e o efetuar, segundo Sua boa vontade. Se o homem pudesse salvar-se por suas obras, teria ele algo em si mesmo, pelo qual se alegrar. O esforço que o homem faz em suas próprias forças para obter a salvação, é representado pela oferta de Caim. Tudo que o homem pode fazer sem Cristo é poluído pelo egoísmo e pecado; mas aquilo que é operado pela fé é aceitável a Deus. Quando procuramos alcançar o Céu pelos méritos de Cristo, a alma faz progresso. Olhando para Jesus, autor e consumador de nossa fé, podemos prosseguir de força em força, de vitória em vitória; pois por meio de Cristo a graça de Deus operou nossa salvação completa” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 364).

O fariseu focava em se comparar com às outras pessoas. Mas ele não fazia no sentido positivo, como por exemplo, se comparando a homens íntegros como Jó, o profeta Elias, o profeta Jeremias, o profeta Daniel e tantos outros. Na verdade ele se comparava aos demais no sentido negativo, ou seja, ele afirmava não ser um ladrão, um injusto e um adúltero. Quando viu o publicano orando, também o incluiu em sua lista de desprezados. Sua auto-glorificação era à custa da miséria alheia.

Após se comparar com outras pessoas, o fariseu começou a exibir seus grandes feitos como cumpridor da Lei. Na verdade, como um bom fariseu, ele se esforçou para enfatizar que ele fazia ainda mais do que a Lei mandava. “Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo” (Versículo 12). Note que ele dizia jejuar duas vezes por semana, enquanto a Lei exigia apenas um dia de jejum por ano, apesar de permitir o jejum voluntário em qualquer ocasião (Levítico 16:29). Os fariseus, por sua vez, instituíram a segunda-feira e a quinta-feira como dias de jejum. Muito provavelmente era disso que ele estava falando. Ele queria que as pessoas soubessem o que ele estava fazendo e dando para o Senhor. Ele proclamou a sua obediência à lei. Sua oração foi realmente de auto exaltação.

Em contraste, Cristo começou o Seu ministério dizendo: “Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens” (Mateus 23:5). Jesus diz que essa é toda a recompensa que terão (Mateus 6:2).

Esta parábola é importante para nós, mesmo hoje, porque ainda temos fariseus na igreja de hoje.

O problema com este fariseu foi que ele em momento algum reconheceu que tivesse quaisquer problemas ou pecados, e que, portanto, necessitasse de ajuda e arrependimento. Ao contrário disso, o fariseu parecia tentar mostrar para Deus o quanto ele era bom, e como Deus era privilegiado por ter alguém daquela qualidade orando diante dele. Na verdade ele tinha orgulho interior, estava orgulhoso de sua “bondade”. Não há nada mais perigoso para o verdadeiro cristianismo do que o orgulho espiritual. Como Ellen G. White apresenta: “Nada é tão ofensivo a Deus nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável” (Parábolas de Jesus, p. 154). Isto que Ellen White escreveu expressa uma verdade, porque como ela mesmo afirmou, “o orgulho não sente necessidade alguma, e assim fecha o coração a Cristo e às infinitas bênçãos que veio dar” (Caminho a Cristo, p. 30).

Ainda de acordo com a Bíblia, a sua auto-justiça era inútil. “Se vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20 NVI). Essa é a afirmação mais assustadora em todo o repertório de ideias de Jesus. Deve ter deixado Seus discípulos e demais ouvintes perplexos, chocados. Mais justos do que os fariseus – quem seria capaz de uma coisa dessas? Como já dissemos anteriormente, os fariseus ordenavam a vida meticulosamente em estrita obediência às regras escritas e não escritas de sua religião, e Jesus está nos dizendo que temos que fazer ainda mais? Impossível, talvez tenham ditos seus ouvintes.

Aqui, Jesus não está demonstrando a justiça dos fariseus, como um padrão. Em vez disso, Ele nos diz que devemos ir além do padrão deles para entrarmos no reino dos céus. Jesus “declarou que a justiça a que os fariseus davam tão grande importância, nada valia. [...] Todas as suas pretensões de piedade, suas invenções e cerimônias humanas, e mesmo o cumprimento das exigências exteriores da lei, não os podiam tornar santos. Não eram puros de coração ou nobres e semelhantes a Cristo no caráter” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 53). Portanto, a justiça deles “era fruto de seus esforços para guardar a lei, segundo suas próprias ideias, e para seu benefício pessoal, egoísta” (Ibdem, p. 54), mas não a verdadeira justiça “que vem de Deus” (Rm 10:3).

“Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 6:1).

Exige-se humildade fazer secretamente o bem aqui na terra, dar alguma coisa e não deixar ninguém saber a respeito. Isso nos ajuda a domar nosso espírito e revela a nossa motivação em fazer o bem: “Agimos para que os outros pensem que somos generosos? Será que realmente nos importamos com os que estamos a ajudar?

Em quem depositamos nossa confiança?

O fariseu exaltou suas próprias práticas religiosas em detrimento do seu vizinho. Ele confiou em suas próprias boas ações para torná-lo agradável a Deus. Ele não invocou os méritos de Cristo. Muitas pessoas de boa vontade fazem isso sem perceber. Certamente, o apóstolo Paulo desenvolveu sua teologia da “Justificação pela fé” baseado nesse ensino de Jesus contido nessa parábola. Ele afirmou enfaticamente: “Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à lei” (Rm 3:28). Ele estava falando da lei em seu sentido mais amplo do judaísmo. Por mais conscienciosamente que um judeu tentasse viver sob esse sistema, se deixasse de aceitar Jesus como o Messias, essa pessoa não poderia ser justificada. Se a pessoa fosse justificada por suas próprias ações, poderia se orgulhar disso. Mas quando é justificada porque Jesus é o objeto de sua fé, então, o crédito pertence claramente a Deus, que justifica o pecador. Ellen G. White escreveu: “Ninguém pode ser justificado por quaisquer obras próprias. Só pode ser liberto da culpa do pecado, da condenação da lei, da pena da transgressão, pela virtude do sofrimento, morte e ressurreição de Cristo. A fé é a condição única de obter a justificação, e a fé abrange não só a crença mas também a confiança” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 389). Ela define Justificação de uma forma belíssima: “O que é justificação pela fé? É a obra de Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele por si mesmo não pode fazer” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 456).

O fariseu mediu-se comparando-se aos outros e não com Deus. Faltava-lhe um espírito humilde e contrito. Ele não sentia necessidade de Deus e não fez nenhum pedido em sua oração. Seus agradecimentos não estavam agradecendo a Deus por ser Deus. Seus agradecimentos eram para si mesmo. Cinco vezes em sua oração ele disse: “Eu”. Foi um discurso totalmente centrado no eu.

Normalmente, mesmo a oração egocêntrica é feita para pedir alguma coisa. “Deus, faça isso por mim. Senhor, dá-me isso.” É correto orar sobre as nossas necessidades. Jesus mesmo diz para pedirmos a Deus nosso pão de cada dia (Mateus 6:11). Mas, muitas vezes pedimos coisas que não precisamos, perdendo fôlego que poderia ser gasto em oração pelos outros.

Notavelmente, o fariseu não fez nenhum tipo de pedido. Ele era tão hipócrita que ele acreditava que não precisava de nada. Ele desfrutava de um falso senso de retidão pessoal, a coisa que mais o desqualificava para o céu! C. S. Lewis disse, “Quando um homem está ficando melhor ele entende mais e mais claramente o mal que ainda resta nele. Quando um homem está ficando pior ele compreende a sua própria maldade cada vez menos”

Culto a si mesmo

O publicano e o fariseu ambos acreditavam em Deus, mas acontece que um estava adorando a si mesmo. O fariseu estava confiante em suas próprias obras para a salvação, o publicano pedia a misericórdia de Deus.

Isto não nos faz lembrar de dois outros homens, os irmãos Abel e Caim. Os dois trouxeram suas ofertas a Deus. Ambos oram, Caim está confiante em seu próprio trabalho, oferecendo o fruto da sua horta. Abel pede a misericórdia de Deus, trazendo um cordeiro e dependendo do sangue deste substituto para cobrir seu pecado. Quando vê sua auto-justiça sendo rejeitada por Deus, Caim despreza e mata o seu irmão (Gn 4:1-10). Veremos este mesmo cenário se repetir nos últimos dias.

Voltando ainda mais para trás, Lúcifer caiu na mesma armadilha. Ele ficou encantado consigo mesmo. O orgulho se transformou em culto voluntário, que gerou ciúme e assassinato.

Em Lucas 18:12, o fariseu lembrou o Senhor sobre suas boas obras, uma das quais era jejuar duas vezes por semana. Sendo que era requerido dos judeus que jejuassem uma vez por ano em uma das festas durante a páscoa.

Não há nada errado com o jejum. Na verdade, a maioria de nós deveria fazer mais do mesmo.

Não existe nada de errado com a oração, nem com dar algo a qualquer um. O problema é quando você faz essas coisas pela razão errada, esta é a diferença entre o publicano e o fariseu. Tem a ver com motivos.

Jesus ensinou: “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque eles desfiguram os seus rostos, para que os homens vejam que estão jejuando” (Mateus 6:16). Seja bom! Ore! Jejue! Mas não faça isso para ser admirado. Pratique a religião sem se preocupar com os aplausos ou com a sua imagem. Basta Deus saber o que você está fazendo.

O fariseu exaltou-se a si mesmo aos olhos dos homens. Isto deu-lhe um sentimento de orgulho e valor, sim, mas ele não encontrava isso aos olhos de Deus. Quando ele quis saber o que a Lei significava e onde estava em relação a ela, olhou em volta e comparou-se a outros homens. Paulo aborda essa atitude fatal, dizendo: “Porque não ousamos classificar-nos, ou comparar-nos com alguns, que se louvam a si mesmos; mas estes que se medem a si mesmos, e se comparam consigo mesmos, estão sem entendimento” (2 Coríntios 10:12).

Nós sempre podemos encontrar alguém pior espiritualmente do que nós somos. O publicano não era provavelmente o pior pecador nas imediações, mas ele não se comparava aos outros homens. Ele não orou com uma perspectiva horizontal, mas sim, comparou-se a si mesmo à Deus e implorou por Sua misericórdia, porque ele viu que a diferença era enorme.

Devemos reconhecer nossa pobreza espiritual para recebermos o perdão de Deus

Isaías, na presença de Deus, disse: “Ai de mim” (Isaías 6:5). O fariseu, na presença do publicano, disse: “Eu não sou tão ruim assim.” Todos nós fazemos isso às vezes, anestesiamos nossa culpa, se conseguimos encontrar alguém para criticar. Nós recitamos ao Senhor as nossas virtudes e listamos as falhas dos outros, tentando convencê-Lo, ou convencer a nós mesmos, que não estamos tão mau assim.

Mas devemos parar de tentar elevar a nós mesmos agindo dessa forma. Fazer isso simplesmente não funciona. Ao contrário, devemos nos comparar a Jesus, tomando-o como nosso exemplo e padrão. Essa é a única forma de podermos ser verdadeiramente exaltados. “Humilhai-vos perante o Senhor, e Ele vos exaltará” (Tiago 4:10).

Jesus disse: “Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apocalipse 3:17).

Caro amigo leitor, quão relevante a parábola do fariseu e publicano proferida por Jesus é para você e para mim hoje, no final dos tempos. Temos de ser cuidadosos. Arrogância e falta de vontade em admitir que precisamos de salvação será um problema crônico no período final da igreja. Se não abandonarmos a presunção e a justiça própria, o Examinador de corações, como fez com o rei pagão Belsazar, fará o registro contra nosso nome: “Foste pesado na balança e achado em falta” (Daniel 5:27, NVI). Isso significa condenação eterna.

Por outro lado, são aqueles que vêm a Deus reconhecendo sua pobreza espiritual que encontram aceitação, perdão e vida eterna. “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3). Nesse sentido Ellen G. White escreveu: “Não somos dignos do amor de Deus, mas Cristo, nossa segurança, é digno, e capaz de salvar abundantemente todos os que forem a Ele. Qualquer que tenha sido vossa vida passada, por mais desanimadoras que sejam vossas circunstâncias presentes, se fordes a Jesus exatamente como sois, fracos, incapazes e em desespero, nosso compassivo Salvador irá grande distância ao vosso encontro, e em torno de vós lançará os braços de amor e as vestes de Sua justiça. Ele nos apresenta ao Pai, trajados nas vestes brancas de Seu próprio caráter. Ele roga a Deus em nosso favor, dizendo: Eu tomei o lugar do pecador. Não olhes a este filho desgarrado, mas a Mim. E quando Satanás intervém em altos brados contra nossa alma, acusando-nos de pecado, e reivindicando-nos como presa sua, o sangue de Cristo intercede com maior poder” (O Maior Discurso de Cristo, p. 9).

Aqui algumas perguntas devem ser feitas: No dia de hoje, você se parece com o homem que foi para casa justificado ou com aquele que não alcançou perdão? Quando você olha para sua própria vida através do espelho das Escrituras quem você vê: o fariseu ou o publicano?

Certamente todos nós podemos nos ver de alguma forma através das palavras de Jesus na Parábola do Fariseu e o Publicano.

Que estas verdades das Sagradas Escrituras sejam plantadas no fundo de nossos corações. Que o Senhor ajude-nos a perceber a extensão da nossa necessidade dEle, bem como a estar dispostos a ser humilde de espírito.



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