SOMOS FARISEUS OU PUBLICANOS?
Ricardo
André
No evangelho de Lucas
está registrado uma poderosa parábola contada por Jesus durante Seu ministério
terrestre que desafia você e eu a fazermos um saudável autoexame de
consciência. A parábola descreve dois homens visitando o mesmo templo, ambos
orando ao mesmo Deus. Mas algo entre os dois é completamente distinto. Neste
estudo vamos conhecer o contexto, explicação, significado e as profundas
verdades espirituais que a Parábola do Fariseu e o Publicano nos ensina. Ao ler esse extrato do evangelho eu fiquei
muito feliz porque acredito piamente que, se compreendermos plenamente essas
verdades, elas serão capazes de mudar de forma concreta a minha vida e a tua
também.
"Dois homens
subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em
pé, orava no íntimo: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros
homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo
duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho’. "Mas o publicano
ficou à distância. Ele nem ousava olhar para o céu, mas batendo no peito,
dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador’. "Eu lhes digo que
este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem
se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado" (Lucas
18:10-14, NVI).
Uma
Parábola Impactante
Nos dias de Jesus os
fariseus eram considerados entre os mais piedosos e religiosos de todos os
judeus. Eram zelosos “pelo cumprimento estrito de todos os deveres religiosos
prescrito pela Torah, ou ‘Lei de Moisés’ [...]. Sua ocupação era interpretar e
aplicar ‘a lei’ a cada detalhe minuciosos e circunstância da vida. Nos tempos
de Cristo, essa crescente lista de regras era conhecida como ‘a tradição dos
anciãos’ (Mt 15:2)” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 495). Eles
se orgulhavam por se acharem cumpridores da Lei e das tradições. Por outro
lado, os publicanos por recolherem os impostos e taxas alfandegárias do povo
para Roma eram estereotipados. Eram em sua esmagadora maioria “extorquiadores,
que, com a conivência dos soldados romanos, pressionavam o máximo possível.
Eram muito odiados. Ficavam alienados da sociedade, eram evitados ao máximo e
quase nunca eram vistos no templo ou na sinagoga (Mt 11:19; 21:31). O judeu que
se tornasse publicano era considerado um lacaio dos detestados romanos e
traidor de Israel” (Ibdem, p. 1105). Eles eram vistos como a máfia dos seus
dias. Então, você pode perceber, porque a conclusão de Jesus desta parábola,
deixou seus ouvintes literalmente atordoados. Foi um exemplo escandaloso e
politicamente incorreto sugerir que um publicano seria justificado e salvo,
enquanto um fariseu estaria sem perdão e perdido. Mas Jesus transformou o
sistema de classificação deles de ponta cabeça.
Segundo Ellen G. White,
“o fariseu e o publicano representam os dois grandes grupos em que se dividem
os adoradores de Deus” (Parábolas de Jesus, p. 152). Logo, estes dois homens
representam dois destinos opostos, os salvos e os perdidos, entre aqueles que
vão à igreja hoje. Todo crente professo de hoje cai em um desses grupos. Um
desses homens me representa. Um representa você.
Cada um de nós precisa
pedir humildade e orientação ao Espírito Santo, ao considerar esta questão.
Você pode estar pensando que é um publicano quando você é realmente um fariseu,
ou vice-versa. Ou você pode ser um pouco dos dois. É importante estudarmos esta
parábola, porque todos nós somos um desses homens, e queremos certificar-nos de
ser aquele a quem Jesus perdoa.
Alguns
pontos em comum entre o Fariseu e o Publicano
Estes homens tinham
algumas coisas em comum.
1) Ambos acreditavam em
Deus. Se você quer estar no grupo de salvos, isso é um
bom começo! Mas acreditar em Deus não é o único critério para a salvação. “Tu
crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o creem, e estremecem”
(Tiago 2:19). Porque os demônios também acreditam que existe um Deus, deve
haver algo mais para sermos salvos.
2) Os dois homens
também iam à igreja. Isso também é importante se você
quer estar no grupo dos salvos. Alguém certa vez disse corretamente que “se
você não tem fé suficiente para ir à igreja uma vez por semana, não é provável
que você terá fé suficiente para chegar ao céu para a eternidade”.
Às vezes as pessoas se
desculpam por não ir à igreja, alegando que existem hipócritas lá. Mas eu digo,
não se preocupem, pois há sempre espaço para mais um. Além disso, Jesus ia à
igreja todos os sábados ainda que ela estivesse recheada de hipócritas, alguns
dos quais o queriam até mesmo morto.
Outros reclamam que a
igreja é chata. Mas é o propósito da igreja divertir ou adorar a Deus? E se a
sua adoração não é satisfatória, ore a Deus para mudar seu coração. Mas vá à
igreja. Jesus deu o exemplo, ensinando e adorando na igreja toda semana (Lucas
4:16).
3) Ambos oraram.
Jesus diz em Lucas 18:1 que os
homens devem “orar sempre”, e Paulo escreve que devemos “orar sem cessar” (1
Tessalonicenses 5:17). Os salvos de verdade oram.
Assim vimos que ambos
os homens acreditavam em Deus. Ambos iam à igreja. Ambos oravam. Creio que você
também pratique esses hábitos da fé.
As
diferenças
Os fariseus eram cumpridores
da Lei, mas espiritualmente orgulhosos
Agora vamos considerar algumas
de suas diferenças. Os fariseus usavam orgulhosamente sua piedade. Eles eram um
elemento extremamente conservador de crentes que eram zelosos rem relação às
Escrituras, a lei de Deus, e a pureza do culto a Yahawéh. Quando os judeus
estavam em cativeiro na Babilônia, os profetas, lhes disseram que eles foram
subjugados por causa de sua infidelidade a Deus. Em resposta, foi formada a
seita dos fariseus, para que Israel não se permitisse ser influenciado pelas
nações pagãs circunvizinhas. Meticulosos nos detalhes de sua religião, os fariseus
sabiam que se Israel caísse na idolatria novamente, Deus poderia retirar para
sempre a Sua proteção.
Portanto, este era
geralmente um bom grupo de pessoas que eram apenas muito zelosas em sua crença
de não se contaminarem por seu ambiente.
Infelizmente, muitos e
talvez a maioria dos fariseus deixaram o seu zelo pela obediência apagar o seu
amor por seus semelhantes. Jesus os repreendeu várias vezes por sua preocupação
com o formalismo religioso, a religião exterior e sua maldade hipócrita. Nenhum
aspecto da prática religiosa foi mais condenado por Jesus do que o farisaísmo:
uma vida baseada no que é externo, no legalismo, no estilo de vida ostentoso e
na hipocrisia, ao passo que pouca ou nenhuma atenção é dada ao amor, à
misericórdia e à justiça. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que
sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem
formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a
imundícia” (Mateus 23:27).
Nesta parábola
reveladora, o fariseu é um homem hipócrita. Portanto, Jesus advertiu:
“Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia” (Lc 12:1). Hipocrisia
na definição de Cristo, não é alguém que fica aquém dos ideais divino.
Hipócrita é aquele que busca “visibilidade”, que troca o alvo de agradar a Deus
pelo objetivo idólatra de ganhar aplauso humano. Como os fariseus, cuja
religião era praticada visando ao louvor dos observadores, e não à glória de
Deus. Examine a si mesmo: Será que sou
um fariseu? A parábola do fariseu e do publicano nos convida para que
examinemos até que ponto deixamos o farisaísmo entrar em nossas vidas; até que
ponto confiamos em nós mesmos e nossos esforços como agentes da nossa salvação;
até que ponto nos damos o direito de julgar os outros, conforme os nossos
critérios. Se você tem toque de fariseu em sua vida, cuidado!
Os publicanos eram
considerados traidores e corruptos.
O publicano, por outro
lado, era a versão antiga de um coletor de impostos – apesar de serem bastante
diferentes dos coletores de impostos de hoje. Quando os romanos conquistavam
uma província, eles não falavam a língua e não conheciam a cultura da mesma,
mas precisavam do imposto de renda. Então, ao invés deles mesmos recolherem os
impostos, eles permitiram que os judeus obtivessem licenças para serem
cobradores de impostos. Os cobradores de impostos eram necessários para acumular
uma certa quantidade do imposto do seu distrito podendo manter um percentual
sobre esse valor para si mesmos. Muitos deles exploravam a sua posição para
extorquir grandes quantias para encher seus próprios bolsos. Zaqueu era
fabulosamente rico, porque ele era um cobrador de impostos em Jericó (Lc
19:1-10).
Os publicanos eram
odiados duplamente pelos judeus compatriotas. Primeiro, porque cobravam
impostos extorsivos, e ninguém gosta disso. Segundo, porque esse imposto era
destinado aos romanos opressores e pagãos. Assim, esses funcionários da fazenda
eram considerados traidores do seu povo; e, para piorar, em geral, eles
cobravam ágio, ou além do que deveriam, ficando com a diferença. Tudo isso os
colocava numa situação oposta a dos fariseus, em termos de reputação. Os
publicanos eram também conhecidos por manterem os bares abertos e estarem
envolvidos em prostituição. Eles representavam a pior raça de pecadores.
Portanto, nesta
parábola sobre duas pessoas que vão ao templo para orar a Deus, as pessoas naturalmente
olhavam para os fariseus como os que estavam mais próximos de Deus. Eles
consideravam os publicanos como sem esperança e abandonados por Deus. No
entanto, Jesus conclui Sua parábola afirmando que o publicano “desceu para sua
casa justificado”. Ele conseguiu o que tanto desejava, a paz repousou sobre
ele. A pergunta que se impõe é: “Por que Cristo favoreceu o publicano e não o
fariseu, meticuloso observador da Torá hebraica?”
Orações
Peculiares e Postura
Uma distinção
importante entre os dois homens foi a maneira que eles oraram. “O fariseu, de
pé, assim orava consigo mesmo” (Lucas 18:11). Levantou-se, por si mesmo, na
frente, afastados de todos, para não se contaminar. Em seguida, agradeceu a
Deus por não ser como o publicano. Sua cabeça estava erguida, seus braços
estavam esticados. Em última análise, ele não orava a Deus. Jesus é claro ao
dizer que ele “dirigia uma oração a si
mesmo”. Em outras palavras, o fariseu estava falando de si consigo mesmo.
Seus elogios eram dirigidos ao seu próprio ego.
Mas a oração do
publicano foi totalmente diferente. “O publicano, porém, estando em pé, de
longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo:
Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13). O publicano estava
humildemente com o pé atrás, nem sequer se atrever a levantar os olhos. Sua
posição e comportamento revelam a atitude de alguém que, na presença de Deus,
sente-se desqualificado. Ele permanece longe do altar (Lc 18:13) por sentir-se
indigno. Não tem qualquer ilusão a seu respeito. Ele classificou-se a si mesmo
como “o pecador”. O apóstolo Paulo também fez o mesmo quando escreveu: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar
pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Timóteo 1:15).
A oração do publicano
expressa uma verdade presente em toda a Bíblia, declarando que a salvação, do
início ao fim, pertence a Deus e é atribuída à sua misericórdia e graça (Salmo
51:1; Lucas 18:13; Efésios 2:8; Tito 3:5). O homem é incapaz de justificar-se a
si mesmo. Sobre isso Ellen G. White escreveu: “Quem procura alcançar o Céu por
suas próprias obras, guardando a lei, tenta uma impossibilidade. Não pode o
homem salvar-se sem a obediência, mas suas obras não devem provir de si mesmo;
Cristo deve operar nele o querer e o efetuar, segundo Sua boa vontade. Se o
homem pudesse salvar-se por suas obras, teria ele algo em si mesmo, pelo qual
se alegrar. O esforço que o homem faz em suas próprias forças para obter a
salvação, é representado pela oferta de Caim. Tudo que o homem pode fazer sem
Cristo é poluído pelo egoísmo e pecado; mas aquilo que é operado pela fé é
aceitável a Deus. Quando procuramos alcançar o Céu pelos méritos de Cristo, a
alma faz progresso. Olhando para Jesus, autor e consumador de nossa fé, podemos
prosseguir de força em força, de vitória em vitória; pois por meio de Cristo a
graça de Deus operou nossa salvação completa” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p.
364).
O fariseu focava em se
comparar com às outras pessoas. Mas ele não fazia no sentido positivo, como por
exemplo, se comparando a homens íntegros como Jó, o profeta Elias, o profeta
Jeremias, o profeta Daniel e tantos outros. Na verdade ele se comparava aos
demais no sentido negativo, ou seja, ele afirmava não ser um ladrão, um injusto
e um adúltero. Quando viu o publicano orando, também o incluiu em sua lista de
desprezados. Sua auto-glorificação era à custa da miséria alheia.
Após se comparar com
outras pessoas, o fariseu começou a exibir seus grandes feitos como cumpridor
da Lei. Na verdade, como um bom fariseu, ele se esforçou para enfatizar que ele
fazia ainda mais do que a Lei mandava. “Jejuo duas vezes na semana, e dou os
dízimos de tudo quanto possuo” (Versículo 12). Note que ele dizia jejuar duas
vezes por semana, enquanto a Lei exigia apenas um dia de jejum por ano, apesar
de permitir o jejum voluntário em qualquer ocasião (Levítico 16:29). Os
fariseus, por sua vez, instituíram a segunda-feira e a quinta-feira como dias
de jejum. Muito provavelmente era disso que ele estava falando. Ele queria que
as pessoas soubessem o que ele estava fazendo e dando para o Senhor. Ele
proclamou a sua obediência à lei. Sua oração foi realmente de auto exaltação.
Em contraste, Cristo
começou o Seu ministério dizendo: “Todas as suas obras eles fazem a fim de
serem vistos pelos homens” (Mateus 23:5). Jesus diz que essa é toda a
recompensa que terão (Mateus 6:2).
Esta parábola é
importante para nós, mesmo hoje, porque ainda temos fariseus na igreja de hoje.
O problema com este
fariseu foi que ele em momento algum reconheceu que tivesse quaisquer problemas
ou pecados, e que, portanto, necessitasse de ajuda e arrependimento. Ao
contrário disso, o fariseu parecia tentar mostrar para Deus o quanto ele era
bom, e como Deus era privilegiado por ter alguém daquela qualidade orando
diante dele. Na verdade ele tinha orgulho interior, estava orgulhoso de sua
“bondade”. Não há nada mais perigoso para o verdadeiro cristianismo do que o
orgulho espiritual. Como Ellen G. White apresenta: “Nada é tão ofensivo a Deus
nem tão perigoso para o espírito humano como o orgulho e a presunção. De todos
os pecados é o que menos esperança incute, e o mais irremediável” (Parábolas de
Jesus, p. 154). Isto que Ellen White escreveu expressa uma verdade, porque como
ela mesmo afirmou, “o orgulho não sente necessidade alguma, e assim fecha o
coração a Cristo e às infinitas bênçãos que veio dar” (Caminho a Cristo, p.
30).
Ainda de acordo com a
Bíblia, a sua auto-justiça era inútil. “Se vossa justiça não exceder a dos
escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5:20
NVI). Essa é a afirmação mais assustadora em todo o repertório de ideias de
Jesus. Deve ter deixado Seus discípulos e demais ouvintes perplexos, chocados.
Mais justos do que os fariseus – quem seria capaz de uma coisa dessas? Como já
dissemos anteriormente, os fariseus ordenavam a vida meticulosamente em estrita
obediência às regras escritas e não escritas de sua religião, e Jesus está nos
dizendo que temos que fazer ainda mais? Impossível, talvez tenham ditos seus
ouvintes.
Aqui, Jesus não está
demonstrando a justiça dos fariseus, como um padrão. Em vez disso, Ele nos diz
que devemos ir além do padrão deles para entrarmos no reino dos céus. Jesus
“declarou que a justiça a que os fariseus davam tão grande importância, nada
valia. [...] Todas as suas pretensões de piedade, suas invenções e cerimônias
humanas, e mesmo o cumprimento das exigências exteriores da lei, não os podiam
tornar santos. Não eram puros de coração ou nobres e semelhantes a Cristo no
caráter” (Ellen G. White, O Maior Discurso de Cristo, p. 53). Portanto, a
justiça deles “era fruto de seus esforços para guardar a lei, segundo suas
próprias ideias, e para seu benefício pessoal, egoísta” (Ibdem, p. 54), mas não
a verdadeira justiça “que vem de Deus” (Rm 10:3).
“Guardai-vos de fazer
as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; de outra
sorte não tereis recompensa junto de vosso Pai, que está nos céus” (Mateus
6:1).
Exige-se humildade
fazer secretamente o bem aqui na terra, dar alguma coisa e não deixar ninguém
saber a respeito. Isso nos ajuda a domar nosso espírito e revela a nossa
motivação em fazer o bem: “Agimos para que os outros pensem que somos
generosos? Será que realmente nos importamos com os que estamos a ajudar?
Em
quem depositamos nossa confiança?
O fariseu exaltou suas
próprias práticas religiosas em detrimento do seu vizinho. Ele confiou em suas
próprias boas ações para torná-lo agradável a Deus. Ele não invocou os méritos
de Cristo. Muitas pessoas de boa vontade fazem isso sem perceber. Certamente, o
apóstolo Paulo desenvolveu sua teologia da “Justificação pela fé” baseado nesse
ensino de Jesus contido nessa parábola. Ele afirmou enfaticamente: “Pois
sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à
lei” (Rm 3:28). Ele estava falando da lei em seu sentido
mais amplo do judaísmo. Por mais conscienciosamente que um judeu tentasse viver
sob esse sistema, se deixasse de aceitar Jesus como o Messias, essa pessoa não
poderia ser justificada. Se a pessoa fosse justificada por suas próprias ações,
poderia se orgulhar disso. Mas quando é justificada porque Jesus é o objeto de
sua fé, então, o crédito pertence claramente a Deus, que justifica o pecador. Ellen
G. White escreveu: “Ninguém pode ser justificado por quaisquer obras próprias. Só
pode ser liberto da culpa do pecado, da condenação da lei, da pena da
transgressão, pela virtude do sofrimento, morte e ressurreição de Cristo. A fé
é a condição única de obter a justificação, e a fé abrange não só a crença mas
também a confiança” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 389). Ela define
Justificação de uma forma belíssima: “O que é justificação pela fé? É a obra de
Deus ao lançar a glória do homem no pó e fazer pelo homem aquilo que ele por si
mesmo não pode fazer” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p.
456).
O fariseu mediu-se
comparando-se aos outros e não com Deus. Faltava-lhe um espírito humilde e
contrito. Ele não sentia necessidade de Deus e não fez nenhum pedido em sua
oração. Seus agradecimentos não estavam agradecendo a Deus por ser Deus. Seus
agradecimentos eram para si mesmo. Cinco vezes em sua oração ele disse: “Eu”.
Foi um discurso totalmente centrado no eu.
Normalmente, mesmo a
oração egocêntrica é feita para pedir alguma coisa. “Deus, faça isso por mim.
Senhor, dá-me isso.” É correto orar sobre as nossas necessidades. Jesus mesmo
diz para pedirmos a Deus nosso pão de cada dia (Mateus 6:11). Mas, muitas vezes
pedimos coisas que não precisamos, perdendo fôlego que poderia ser gasto em
oração pelos outros.
Notavelmente, o fariseu
não fez nenhum tipo de pedido. Ele era tão hipócrita que ele acreditava que não
precisava de nada. Ele desfrutava de um falso senso de retidão pessoal, a coisa
que mais o desqualificava para o céu! C. S. Lewis disse, “Quando um homem está
ficando melhor ele entende mais e mais claramente o mal que ainda resta nele.
Quando um homem está ficando pior ele compreende a sua própria maldade cada vez
menos”
Culto
a si mesmo
O publicano e o fariseu
ambos acreditavam em Deus, mas acontece que um estava adorando a si mesmo. O
fariseu estava confiante em suas próprias obras para a salvação, o publicano
pedia a misericórdia de Deus.
Isto não nos faz
lembrar de dois outros homens, os irmãos Abel e Caim. Os dois trouxeram suas
ofertas a Deus. Ambos oram, Caim está confiante em seu próprio trabalho,
oferecendo o fruto da sua horta. Abel pede a misericórdia de Deus, trazendo um
cordeiro e dependendo do sangue deste substituto para cobrir seu pecado. Quando
vê sua auto-justiça sendo rejeitada por Deus, Caim despreza e mata o seu irmão
(Gn 4:1-10). Veremos este mesmo cenário se repetir nos últimos dias.
Voltando ainda mais
para trás, Lúcifer caiu na mesma armadilha. Ele ficou encantado consigo mesmo.
O orgulho se transformou em culto voluntário, que gerou ciúme e assassinato.
Em Lucas 18:12, o
fariseu lembrou o Senhor sobre suas boas obras, uma das quais era jejuar duas
vezes por semana. Sendo que era requerido dos judeus que jejuassem uma vez por
ano em uma das festas durante a páscoa.
Não há nada errado com
o jejum. Na verdade, a maioria de nós deveria fazer mais do mesmo.
Não existe nada de
errado com a oração, nem com dar algo a qualquer um. O problema é quando você
faz essas coisas pela razão errada, esta é a diferença entre o publicano e o
fariseu. Tem a ver com motivos.
Jesus ensinou: “Quando
jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque eles
desfiguram os seus rostos, para que os homens vejam que estão jejuando” (Mateus
6:16). Seja bom! Ore! Jejue! Mas não faça isso para ser admirado. Pratique a
religião sem se preocupar com os aplausos ou com a sua imagem. Basta Deus saber
o que você está fazendo.
O fariseu exaltou-se a
si mesmo aos olhos dos homens. Isto deu-lhe um sentimento de orgulho e valor,
sim, mas ele não encontrava isso aos olhos de Deus. Quando ele quis saber o que
a Lei significava e onde estava em relação a ela, olhou em volta e comparou-se
a outros homens. Paulo aborda essa atitude fatal, dizendo: “Porque não ousamos
classificar-nos, ou comparar-nos com alguns, que se louvam a si mesmos; mas
estes que se medem a si mesmos, e se comparam consigo mesmos, estão sem
entendimento” (2 Coríntios 10:12).
Nós sempre podemos
encontrar alguém pior espiritualmente do que nós somos. O publicano não era
provavelmente o pior pecador nas imediações, mas ele não se comparava aos
outros homens. Ele não orou com uma perspectiva horizontal, mas sim,
comparou-se a si mesmo à Deus e implorou por Sua misericórdia, porque ele viu
que a diferença era enorme.
Devemos
reconhecer nossa pobreza espiritual para recebermos o perdão de Deus
Isaías, na presença de
Deus, disse: “Ai de mim” (Isaías 6:5). O fariseu, na presença do publicano,
disse: “Eu não sou tão ruim assim.” Todos nós fazemos isso às vezes,
anestesiamos nossa culpa, se conseguimos encontrar alguém para criticar. Nós
recitamos ao Senhor as nossas virtudes e listamos as falhas dos outros,
tentando convencê-Lo, ou convencer a nós mesmos, que não estamos tão mau assim.
Mas devemos parar de
tentar elevar a nós mesmos agindo dessa forma. Fazer isso simplesmente não
funciona. Ao contrário, devemos nos comparar a Jesus, tomando-o como nosso
exemplo e padrão. Essa é a única forma de podermos ser verdadeiramente
exaltados. “Humilhai-vos perante o Senhor, e Ele vos exaltará” (Tiago 4:10).
Jesus disse: “Porquanto
dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; não sabes que és
um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apocalipse 3:17).
Caro amigo leitor, quão
relevante a parábola do fariseu e publicano proferida por Jesus é para você e
para mim hoje, no final dos tempos. Temos de ser cuidadosos. Arrogância e falta
de vontade em admitir que precisamos de salvação será um problema crônico no
período final da igreja. Se não abandonarmos a presunção e a justiça própria, o
Examinador de corações, como fez com o rei pagão Belsazar, fará o registro
contra nosso nome: “Foste pesado na balança e achado em falta” (Daniel 5:27,
NVI). Isso significa condenação eterna.
Por outro lado, são
aqueles que vêm a Deus reconhecendo sua pobreza espiritual que encontram
aceitação, perdão e vida eterna. “Bem-aventurados os humildes de espírito,
porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5:3). Nesse sentido Ellen G.
White escreveu: “Não somos dignos do amor de Deus, mas Cristo, nossa segurança,
é digno, e capaz de salvar abundantemente todos os que forem a Ele. Qualquer
que tenha sido vossa vida passada, por mais desanimadoras que sejam vossas
circunstâncias presentes, se fordes a Jesus exatamente como sois, fracos,
incapazes e em desespero, nosso compassivo Salvador irá grande distância ao
vosso encontro, e em torno de vós lançará os braços de amor e as vestes de Sua
justiça. Ele nos apresenta ao Pai, trajados nas vestes brancas de Seu próprio
caráter. Ele roga a Deus em nosso favor, dizendo: Eu tomei o lugar do pecador.
Não olhes a este filho desgarrado, mas a Mim. E quando Satanás intervém em
altos brados contra nossa alma, acusando-nos de pecado, e reivindicando-nos
como presa sua, o sangue de Cristo intercede com maior poder” (O Maior Discurso
de Cristo, p. 9).
Aqui algumas perguntas
devem ser feitas: No dia de hoje, você se parece com o homem que foi para casa
justificado ou com aquele que não alcançou perdão? Quando você olha para sua
própria vida através do espelho das Escrituras quem você vê: o fariseu ou o
publicano?
Certamente todos nós
podemos nos ver de alguma forma através das palavras de Jesus na Parábola do
Fariseu e o Publicano.
Que estas verdades das
Sagradas Escrituras sejam plantadas no fundo de nossos corações. Que o Senhor
ajude-nos a perceber a extensão da nossa necessidade dEle, bem como a estar
dispostos a ser humilde de espírito.
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