Teologia

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

NO PRIMEIRO NATAL DEUS TORNOU-SE UM DE NÓS


Ricardo André

Está chegando o Natal. Particularmente, amo o Natal! Na minha vida e história ele tem um significado muito importante, pois é uma época do ano em que minha família se reúne, nos reencontramos, renascemos um para o outro, estamos ali sendo luz na vida do outro. Mais que isso, o Natal é uma data bem marcante para mim, sobretudo, porque é um tempo de celebrar o maior acontecimento da história, o nascimento de Jesus, o Deus que se fez carne e habitou entre nós. Essa história sempre me impressiona e me emociona, porque como diz Ellen White, “a história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas as ‘profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus’" (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 48). Então, gostaria de apresentar uma reflexão sobre este extraordinário acontecimento.

Foi numa noite tão linda, serena e tranquila na pequena cidade camponesa de Belém da Judeia, “numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2:7), que Jesus nasceu, provavelmente “no outono do ano 5 a. C.” (Comentário Bíblico Adventista, p. 290). O dia e o mês não sabemos, pois os evangelhos omitiram esse detalhe do nascimento do Salvador, possivelmente para evitar a idolatria de uma data. Nesse sentido, Ellen G. White escreveu: “Ele [Deus] ocultou o dia preciso do nascimento de Cristo, para que o dia não recebesse a honra que devia ser dada a Cristo como Redentor do mundo – Aquele que deve ser recebido, em quem se deve crer e confiar como Aquele que pode salvar perfeitamente todos os que a Ele vêm. A adoração da alma deve ser prestada a Jesus como o Filho do infinito Deus” (O Lar Adventista, p. 477, 478).

Em seu evangelho o apóstolo João faz a mais extraordinária declaração neotestamentária a respeito da divindade de Jesus e de sua misteriosa encarnação há mais de dois mil anos: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. [...] Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:1, 14, NVI).

Na “Palavra”, descobrimos o verdadeiro significado do Natal: dar! Deus deu a Si mesmo tornando-se carne, uma pessoa como nós. Jesus deixou o Céu para fazer parte deste mundo corrupto e resgatar-nos do pecado, degradação e morte eterna. Deus Se tornou carne! Maria concebeu e “deu à luz um filho” (Mt 1:25, NVI). Não era um filho comum. Era Emanuel, Deus conosco (Is 7:14), um “Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2:11, NVI).

Falando a respeito do propósito da vinda de Cristo ao mundo, a escritora cristã Ellen G. White afirma: “Cristo veio a fim de revelar Deus ao mundo como um Deus de amor, pleno de misericórdia, ternura e compaixão. A espessa escuridão com que Satanás se esforçara por circundar o trono da Divindade, foi dissipada pelo Redentor do mundo, e o Pai mais uma vez Se manifestou aos homens como a luz da vida. [...] Cristo declara-Se enviado ao mundo como representante do Pai. Em Sua nobreza de caráter, em Sua misericórdia e terna piedade, em Seu amor e bondade, Ele Se acha perante nós como a encarnação da perfeição divina, a imagem do Deus invisível” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 335, 336). Sim, ao vir viver conosco, Jesus nos mostrou como Deus realmente é. João escreveu uma das grandes verdades do Evangelho: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:14, NVI). A festa do Natal celebra a encarnação dessa Palavra.

Por intermédio de Jesus, Deus desceu como “carne e viveu entre nós”. No Tabernáculo do Antigo Testamento, Deus visitava Israel no Lugar Santíssimo, para que pudesse “habitar no meio deles” (Êx 25:8). Depois, nos tempos do Novo Testamento, Deus através da encarnação “habitou entre nós”. A palavra grega para “habitou” é skenoõ, que significa literalmente “acampou-Se” ou “armou Sua tenda entre nós” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 994). “Assim Cristo estabeleceu Seu tabernáculo no meio de nosso acampamento humano. Estendeu Sua tenda ao lado da dos homens, para que pudesse viver entre nós, e tornar-nos familiares com Seu caráter e vida divinos” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 23). Logo, o Verbo Encarnado toma o lugar da antiga tenda como local da presença de Deus entre os homens. O evangelho natalino é convite para acolhermos a Palavra (o Verbo) que se tornou um ser humano e que veio construir sua tenda em nosso meio, e com quem as pessoas da época conviveram e a quem, através dos Evangelhos, podemos ver com nossos próprios olhos.

Os atos, ensinos e atitudes de Jesus são os atos, ensinos e atitudes de Deus, pois Ele é Deus. Aquele que é a Palavra estava com Deus. Cristo, “a Palavra”, existiu antes de visitar nosso mundo. O nome Cristo O designa como o Messias longamente esperado e plenamente Deus. Cristo “tornou-Se carne”. O nome Jesus refere-se a Ele como o bebê nascido em Belém de mãe humana. Assim Ele é plenamente homem. Cristo Jesus é completamente Deus e completamente homem. Deus Se tornou homem e viveu entre nós. “A união do divino com a natureza humana é uma das mais preciosas e misteriosas verdades do plano da redenção. É dela que fala o apóstolo Paulo nestas palavras: "Sem dúvida nenhuma, grande é o mistério da piedade: Deus Se manifestou em carne." (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 2, p. 344).

Jesus, o Deus eterno, viveu conosco como ser humano. Experimentou as mesmas coisas que enfrentamos. Como menino, tinha irmãos com quem contender. Então, como homem, trabalhou como carpinteiro, com suor brotando de Sua testa e dor nos músculos. Após Seu chamado para o ministério, retornou à Sua cidade natal porque Se preocupava com Seus vizinhos e amigos. Mas eles não apreciaram Sua mensagem, arrastaram-nO a um penhasco nos arredores de Nazaré e tentaram jogá-lo lá de cima para mata-Lo (Lc 4:16-30).

Ao ser encarnado, Jesus entrou na história humana, e agora era um de nós – e não houve meio melhor de nos mostrar o quanto Deus nos ama do que tornando-Se um de nós e vivendo conosco, sentindo nossa angústia, curando nossas dores, partilhando nossa alegria e morrendo na cruz por nossos pecados. Ele enfrentou as mesmas tentações com as quais lutamos, só que com muito mais intensidade. Teve fome, sede e foi tentado por Satanás a ser alguém, a progredir na vida. Cristo passou pelo trauma de ver morrer um de seus melhores amigos. Junto de Seu sepulcro, “Jesus chorou” (Jo 11:35). O sofrimento O tocava profundamente, assim como acontece conosco.

De fato, Cristo “assumiu os riscos da natureza humana” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 226); entretanto, Sua humanidade foi perfeita. “Embora, como homem, pudesse haver pecado, não repousou sobre Ele nenhuma mancha de corrupção ou inclinação para tal; não possuía propensões para o pecado” (Comentário Bíblico Adventista, v. 5, p. 994).

Mas não nos devemos esquecer nunca de que o Cristo humano era Deus conosco, “um Salvador”. Essa é a mensagem de Natal, “as boas novas de grande alegria” (Lc 2:10). Nasceu Emanuel! Ele pode mudar o coração das pessoas, ressuscitar os mortos e salvar-nos da condenação eterna. Mas fazer isso custou-Lhe a vida. Devemos sempre contemplar Belém à luz do Calvário – contemplar a esperança que a manjedoura e a cruz nos dão.

João ainda afirma que Jesus “veio para o que era Seu, e os seus não O receberam” (Jo 1:11). Que lástima! O mundo de então não O recebeu, hoje continua não havendo lugar para ele nas hospedarias do coração dos homens, posto que a sua presença é também incômoda para quem prefere a escuridão do egoísmo à luz da solidariedade. Mas, por isso mesmo ou tanto mais, é preciso anunciar que a Palavra, pela qual tudo o que existe foi feito, veio construir sua tenda entre nós. O mundo não está irremediavelmente perdido e sem rumo, pois o Natal nos recorda que Deus mesmo veio habitar conosco.

Espero que nesse dia, ao vislumbrarmos as luzes coloridas nas casas, ruas e praças das cidades, a árvore de Natal toda decorada com lâmpadas cintilantes e rodeadas de pacotes de presentes, não nos olvidamos do personagem principal do Natal, que veio transformar o coração humano – Jesus Cristo, o nosso Salvador!

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