Ricardo
André
Se você esteve ligado
nas redes sociais e nos programas de notícias durante a última semana, já deve
estar por dentro do – infeliz – caso da adolescente Amanda Vitória.
Amanda, que tinha
apenas 17 anos, cometeu suicídio pela ingestão de veneno para matar ratos,
segunda-feira passada, dia 16. A menina cursava o 2º ano do Ensino Médio, no
Colégio Estadual Abelardo Romero Dantas (Polivalente), em Lagarto/SE.
Informações das redes sociais dão conta de que ela era natural de Aracaju, mas
veio morar em Lagarto/SE, ainda este ano. Quando ouvimos relatos tristes como
este, a pergunta que logo vem a nossa mente é: O que motivou a garota a tomar
essa atitude? Comenta-se que ela cometeu o suicídio por conta do fim do namoro.
Mas, não sabemos ao certo as causas específicas que levou-a a intentar contra a
própria vida. Fato é, que o episódio deixou-nos todos (mesmo aqueles que não a
conheciam) muito chocados e tristes.
As cicatrizes
emocionais deixadas na família e amigos produzidas pelo suicídio são profundas
e produzem não apenas sentimentos de solidão, mas particularmente senso de
culpa e desnorteamento.
O
Suicídio – uma tragédia mundial
O suicídio é uma das
grandes tragédias da vida. Desde os exemplos bíblicos de Saul e Judas, até os
últimos casos no jornal de hoje, o suicídio afeta todas as camadas sociais,
toda faixa etária, todos os níveis educacionais, toda profissão, todas as
religiões e ambos os sexos. Quando uma pessoa toma uma decisão como esta,
comumente ela se encontra num estado de depressão aguda, e a depressão não
escolhe classe social para habitar um coração desprotegido, então, pouco
importa se é rico e famoso ou pobre e desconhecido. A depressão afeta a todas
as classes sociais.
O suicídio de jovens
cresce de modo lento, mas constante no Brasil: dados ainda inéditos mostram
que, em 12 anos, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos subiu de 5,1
por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014 - um aumento de quase 10%. Todavia,
o crescimento de suicídio não ocorre somente no Brasil, mas em todo o mundo. Para
se ter uma ideia, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), estima-se que
um milhão de pessoas morram desta forma anualmente, a cada 40 segundos alguém
dá cabo a própria vida em todo o mundo.
Causas
do Suicídio
Por que pessoas tiram a
própria vida? Está o problema com a pessoa que se suicida, com a sociedade ou
com uma combinação do indivíduo e do ambiente? São diversas as causas do
suicídio, mas a depressão é, indiscutivelmente, uma causa comum de suicídio. Em
vários momentos da vida, algumas pessoas podem pensar em suicídio por não encontrarem
saída para certos problemas que surgem, e acreditam não serem capazes de
resolver. Sentem-se sem esperança e uma grande angústia vem acompanhada com o
pensamento de se privarem do direito de viver. Tenho duas alunas com depressão
que confessaram que já sentiram vontade de suicidarem. Um professor, colega
meu, me falou que este ano três alunos adolescentes confessaram para ele que
sentem desejos suicidas. Certamente todos estão sofrendo de depressão.
Na depressão, a pessoa
se isola, chora muito, fica irritadiça, não sente mais prazer nas atividades
que antes lhe agradavam, prefere não falar sobre seus sentimentos, não confia
em ninguém e tem pensamentos suicidas.
Dentre os motivos para
o suicídio entre os adolescentes estão: solidão, viver longe de casa pela
primeira vez (no caso de irem morar em repúblicas), receber pouco afeto dos
pais, ter pais alcoólatras, pais divorciados ou separados, morte de um dos
pais, enfrentar novos problemas, tentar se sobressair academicamente quando a
competição é muito mais forte do que no ensino médio, indecisões quanto à
escolha da profissão, solidão causada pela ausência dos velhos amigos e
ansiedade em relação aos novos. Nos dias de hoje, o bullying, enfrentado por
muitos jovens na escola, é uma outra razão pela qual os adolescentes tiram a
própria vida.
A pressão de sair-se
bem nos estudos e o fracasso em namoro também contribuem para a tendência ao
suicídio entre estudantes. Estudos revelam que mais de 90% dos estudantes que
tentaram suicídio fracassaram no trabalho ou nos estudos. O problema seguinte
mais comum era dificuldade em relações amorosas.
A falta de apoio social
é outra explicação para a incidência elevada de suicídio entre estudantes de
faculdade. Estudos revelam que apoio social, de familiares, amigos, colegas de
trabalho, vizinhos e membros de igreja, “promove saúde mental e previne estafa
psicológica”.
Prevenção
de suicídio
A maioria das pessoas
desejam prestar auxílio preventivo aos seus colegas, amigos e ente queridos
propensos ao suicídio, mas não sabem como fazê-lo. Visto que uma parcela de
estudantes secundaristas e mais ainda os estudantes universitários têm tendências
ao suicídio, a direção e professores deveriam se envolverem mais em tais
problemas. Cursos e seminários sobre prevenção de morte e suicídio, mais
envolvimento social de professores e estudantes, mais encorajamento e
recomendação para aconselhamento e melhor comunicação entre estudantes,
professores e funcionários, tudo isso ajudaria.
Se você acha que um
amigo ou conhecido esteja pensando em suicídio, eis alguns passos que você
poderia tomar para ajudar:
1) Pergunte à pessoa se
sente tendência ao suicídio.
2) Estimule a pessoa a
falar sobre seus planos.
3) Procure eliminar os
meios para evitar que se cometa o suicídio.
4) Encoraje a pessoa a
entrar em contato com um centro de prevenção de suicídio. Forneça o número dos
telefones.
5) Leve a pessoa a
fazer uma afirmação verbal ou um contrato escrito com você dizendo que não
tentará suicídio sem chamá-lo.
6) Se possível, elimine
o problema que está levando a pessoa a pensar em suicídio.
7) Permaneça com a pessoa
que tenta suicidar-se ou arranje alguém que faça companhia até passar a crise.
8) Encoraje a pessoa a
obter conselho profissional; ofereça-se para acompanhá-la.
Adventistas
e suicídio
Qual deveria ser a
atitude dos adventistas do sétimo dia em relação ao suicídio? As Escrituras
registram dois casos de suicídio, ambos envolvendo homens em posição de
liderança. Primeiro, a história do rei Saul. Saul estava se afastando de Deus
gradualmente. Em I Samuel 31, ele vê com horror Israel perder uma batalha vital
e três de seus filhos mortos. Então é ferido e sabe que não há modo de escapar.
Ele pede ao escudeiro que o mate, mas o homem se recusa a fazê-lo. Saul escolhe
cair sobre sua própria espada de preferência a ser capturado pelo inimigo.
Aparentemente o suicídio era mais honroso do que cair prisioneiro. Ellen White
comenta: “Assim pereceu o primeiro rei de Israel, com o crime do suicídio em sua
alma. Sua vida fora-lhe um fracasso, e sucumbira com desonra e em desespero,
porque pusera sua vontade própria e perversa contra a vontade de Deus.”
(Patriarcas
e Profetas, pág. 682).
A segunda pessoa
mencionada na Bíblia a cometer suicídio foi Judas. Jesus preveniu Judas de que
ele caminhava para o desastre (Mateus 26:23-25), mas Judas achava que agia
certo ao trair a Jesus. Somente quando viu seu plano fracassando (Mateus
27:3-5) reconheceu que não valia a pena viver. Ellen White diz que Judas
“sentiu que não podia viver para ver Jesus crucificado, e em desespero, foi
enforcar-se.” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 692). Jesus sabia o que
Judas estava planejando; contudo, não “proferiu nenhuma palavra de condenação.
Olhou piedosamente para Judas, dizendo: Para esta hora vim ao mundo.” (Idem, p.
692). Se Jesus, conhecendo o coração humano, pode continuar a trabalhar com
pessoas sem condená-las, podemos ser diferentes?
Ellen White menciona
que Pilatos também cometeu suicídio. “A arriscar sua posição, preferiu entregar
Jesus para ser crucificado. A despeito de suas precauções, porém, exatamente o
que temia lhe sobreveio mais tarde. Tiraram-lhe as honras, apearam-no de seu
alto posto e, aguilhoado pelo remorso e orgulho ferido, pôs termo à própria
vida.” (Idem, págs. 709, 710).
Nestes casos bíblicos
podemos discernir que o problema real é o modo de vida. A todos é dada a
oportunidade de conhecer a Deus. Então precisam decidir o que farão com esse
conhecimento. Aqueles que rejeitam a Deus e Seus valores, com frequência sentem
que não vale a pena viver e desejam pôr fim à própria vida. Contudo, nem todo
suicídio envolve a rejeição de Deus. Há outros fatores sobre os quais a pessoa
perde o controle: stress, solidão, traição, vergonha, depressão, doença mental,
doenças fatais.
Embora não possamos
compreender plenamente as causas e motivações por trás do suicídio, como
adventistas podemos afirmar três princípios importantes:
1) A vida é preciosa e
é um dom de Deus, para ser vivida por Sua graça e pela fé. Nenhum problema é
demasiado grande que não possa ser trazido a Deus em oração. Deus criou a vida,
e nós não a possuímos para usá-la e descartá-la como bem entendermos. O sexto
mandamento também tem alguma coisa a dizer sobre o assunto. Um cristão,
portanto, não deveria considerar o suicídio como solução moralmente válida para
o infortúnio de viver num mundo onde existe dor física e moral.
2) Quando encontramos
uma pessoa com pensamentos suicidas, temos o dever de ajudá-la. Se você conhece
alguém que deu indícios de que pretende se suicidar, o ideal é retirar veneno,
medicamentos e armas de fogo do alcance dessa pessoa, além de buscar ajuda de
profissionais, a exemplo de psicólogos e psiquiatras.
3) Não nos cabe julgar.
Enquanto devemos estender um ministério de amor e ternura à pessoa envolvida,
não devemos julgar que tal pessoa cometeu o pecado máximo. A psicologia e a
psiquiatria têm revelado que o suicídio geralmente é o resultado de um profundo
transtorno emocional ou desequilíbrio bioquímico associado a um profundo estado
de depressão e medo. Não deveríamos julgar as pessoas que optaram pelo suicídio
sob tais circunstâncias. A perfeita justiça de Deus leva em consideração o
impacto que nossa mente perturbada tenha eventualmente sobre nós; Ele nos
compreende melhor que do que qualquer ser. Devemos colocar o futuro de nossos
queridos em Suas mãos de amor.
Caro amigo leitor, se
você alguma vez for tentado a cometer suicídio, saiba que há profissionais
disponíveis, medicamentos que podem ajudá-lo a superar a depressão, amigos que
o amam e fariam todo o possível para ampará-lo, e um Deus de amor que está
disposto a trabalhar por você e, por meio de outros, dar-lhe forças quando
caminhar pelo vale da sombra da morte. Devemos lançar sobre o Senhor todo o
descontentamento, desânimo, desespero e sofrimento.
A Bíblia nos exorta: “Lançando
sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (I Pedro 5:7).
Para
tirar algo que está sobre você e lançar em outra pessoa requer ação. Isso é
exatamente o que Deus pede para fazermos com nossas ansiedades: em vez de nós
as suportamos sozinhos, Ele nos pede para agir, não nos preocupando com elas,
mas as lançando sobre Ele. E isso não apenas por umas poucas ansiedades que
podemos pensar como mais importantes que outras, mas para todas as NOSSAS
ANSIEDADES. “Lance sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”,
diz a Palavra. O apóstolo Pedro deixa claro: independente das circunstâncias e
das sua percepção ELE TEM CUIDADO DE VÓS. Além disso, em outra passagem, lemos:
“Lança o teu cuidado
sobre o SENHOR, e ele te susterá; não permitirá jamais que o justo seja
abalado”(Salmo 55:22).
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