Teologia

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

O PRIMEIRO PRESENTE DE NATAL


 Ricardo André

Nos aproximamos do Natal. Particularmente, amo o Natal! Para mim, é o período do ano que mais gosto. A época do Natal é encantador. Na minha vida e história ele tem um significado muito importante, pois é uma época do ano em que minha família se reúne, nos reencontramos, renascemos um para o outro, estamos ali sendo luz na vida do outro. Mais que isso, o Natal é uma data bem marcante para mim, sobretudo, porque é um tempo de celebrar o maior acontecimento da história, o nascimento de Jesus, o Deus que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:1, 14; 1Tm 3:16). Essa história sempre me impressiona e me emociona, porque como diz a escritora cristão Ellen G. White, “a história de Belém é inexaurível. Nela se acham ocultas as ‘profundidades das riquezas, tanto da sabedoria como da ciência de Deus’”.1 Então, gostaria de apresentar uma reflexão sobre este extraordinário acontecimento.

No Natal as pessoas são tomadas pelo espirito de generosidade, que os impulsiona a dar presentes aos familiares e amigos próximos. Trocamos presentes em nossas comemorações natalinas familiares, o que, em si, não está errado. Parece não haver dúvidas de que essa prática de dar presentes se inspirou no presente dos magos do Oriente. Nesse caso, os magos poderiam ser considerados os verdadeiros autores da ideia. Em outras palavras, o primeiro presente de Natal teria sido ouro, incenso e mirra, e os magos seriam os primeiros doadores (Mt 2:1, 11).

Quem eram os magos do oriente?

Quem eram esses magos do Oriente? As Sagradas Escrituras não dão maiores informações quanto a estes homens, segundo a tradição eram três porque trouxeram três presentes para o Senhor, mas a verdade é que a Palavra não fala nada sobre isso. Segundo o Comentário Bíblico Adventista, “esses “magos” não eram magos no sentido como hoje se entende essa palavra. Eles eram nobres de nascimento, educados, ricos e influentes. Eram os filósofos, os conselheiros do reino, instruídos em toda sabedoria do antigo Oriente. Os “sábios” que foram em busca do Cristo recém-nascido não eram idólatras; eram homens retos e íntegros (...). Eles estudavam as Escrituras hebraicas e ali encontraram uma clara exposição da verdade. Em particular, as profecias messiânicas do AT chamaram sua atenção e, entre elas, as palavras de Balaão: “uma estrela procederá de Jacó” (Nm 24:17). É provável que também conhecessem e entendessem a profecia de tempo de Daniel (Dn 9:25, 26), e chegaram à conclusão de que a vinda do Messias estava próxima (...).  Na noite do nascimento de Cristo, uma luz misteriosa apareceu no céu e se tornou uma estrela brilhante que persistia no céu ocidental (...). Impressionados com seu brilho, os magos consultaram outra vez os rolos sagrados. Ao buscarem compreender o significado dos escritos sagrados, foram instruídos em sonho a partir em busca do Messias”2. Provavelmente, aqueles magos eram astrólogos oriundos da Pérsia. Mas o que era aquela estrela? Seria a estrela resultado de um fenômeno natural ou da providência divina? O que era a estrela? De acordo com a Biblioteca Bíblica, “todas as tentativas de se explicar a estrela como um fenômeno natural são inadequadas dada a razão dela conduzir os magos de Jerusalém até Belém e então permanecer sobre a casa. Antes, foi uma manifestação especial dada por Deus, primeiro quando apareceu indicando o fato do nascimento de Cristo, e depois quando reapareceu sobre Jerusalém e guiou os magos ao lugar certo. Considerando que foi registrada uma revelação direta para os magos (v. 12), nada há de improvável em aceitar uma revelação direta desde o começo para emprestar significado à estrela”.3

A escritora cristã Ellen G. White afirma que aquela misteriosa luz brilhante “não era uma estrela fixa, nem um planeta, e o fenômeno despertou o mais vivo interesse. Aquela estrela era um longínquo grupo de anjos resplandecentes, mas isso os sábios ignoravam. Tiveram, todavia, a impressão de que aquela estrela tinha para eles significado especial. Consultaram sacerdotes e filósofos, e examinaram os rolos dos antigos registros. A profecia de Balaão declarara: "Uma Estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel." Núm. 24:17. Teria acaso sido enviada essa singular estrela como precursora do Prometido? Os magos acolheram com agrado a luz da verdade enviada pelo Céu; agora era sobre eles derramada em mais luminosos raios. Foram instruídos em sonhos a ir em busca do recém-nascido Príncipe”.4

Um presente para Jesus

A grande diferença entre o presente dos magos e os de hoje, é que os magos deram para Jesus, e não para os amigos. Presentes geralmente são dados para o dono da festa, e para os magos o Dono da festa era Jesus. Ele era o próprio Natal.

Foi por isso que vieram de tão longe. Não era nada cômodo viajar mais de 650 km, desde a Mesopotâmia,5 por caminhos desconhecidos, atravessando desertos, e sem informações precisas a respeito da viagem. Além disso, tinham que viajar à noite, para poderem seguir a estrela. Se vieram de camelos, o que é mais provável, tinham que trazer, além da bagagem normal, toda a alimentação para os camelos durante a viagem. Provavelmente trouxeram também vasilhas com água, tendo em vista a travessia do deserto. Tudo isso representava um grande trabalho e muitos sacrifícios. Contudo, para aqueles homens nobre e sábios, valia qualquer sacrifício para levar os presentes para o Dono da festa. Eles tinham a consciência de que o menino nascido em Belém merecia mais do que isso. Assim pensavam e agiam.

Os magos procuraram prever tudo o que seria necessário para a viagem. Entretanto, o que eles jamais previam, também aconteceu. Emocionados, avistaram Jerusalém. Desceram o monte das Oliveiras e entraram na cidade. Como a estrela parou sobre o templo e desapareceu, ficaram meio confusos. “Ansiosos, dirigem os passos para diante, esperando confiantemente que o nascimento do Messias fosse o jubiloso assunto de todas as bocas. São, porém, vãs suas pesquisas. Entretanto na santa cidade, dirigem-se ao templo. Para seu espanto, não encontram ninguém que parecesse saber do recém-nascido Rei. Suas perguntas não despertavam expressões de alegria, mas antes de surpresa e temor, não isentos de desprezo.”6

Na cidade, a indiferença foi a mesma, nenhum sinal de novidade. Para grande decepção dos magos, não havia festa de Natal em Jerusalém. Aos poucos, a cidade ficou sabendo dos estranhos visitantes. Os líderes judeus sentiram-se ofendidos. Como poderia Deus indicar o nascimento do Messias aos pagãos e não a eles? "E levaram o povo a considerar o interesse em Jesus como excitação fanática. Aí começou a rejeição de Cristo pelos sacerdotes e rabis”.7

Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou perturbado, e com ele toda a Jerusalém” (Mt 2:3, NVI). Ante a notícia de que nascera um possível rival, Herodes desconfiou de que os sacerdotes estivessem planejando um golpe de Estado para tomar-lhe o trono. Irado, ordenou-lhes que pesquisassem, nas profecias, onde seria o nascimento do Messias. Só assim os magos ficaram sabendo que Jesus nascera em Belém. Após uma audiência com Herodes, reiniciaram a viagem.

“Sozinhos partiram os magos de Jerusalém. Caíam as sombras da noite quando saíram das portas, mas, para sua grande alegria viram novamente a estrela, e foram guiados a Belém.”8 Avistaram a cidade e entraram.

Para surpresa deles, a estrela parou em cima de uma casa comum. Os magos pararam à distância, e esperaram que a estrela prosseguisse até um palácio. Mas a estrela não prosseguiu.

“Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Então abriram os seus tesouros e lhe deram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2:11, NVI). Finalmente os magos acharam o Dono da festa, e fizeram a festa para Ele. Quanta vontade de dar um presente de Natal! Quanta vontade de dar para Jesus! Quando aqueles sábios orientais viram o menino Jesus reconheceram sua divindade e, prostrando-se diante Dele, O adoraram, diz a narrativa bíblica. Tinham percorrido uma enorme distância e driblado todo tipo de perigos para cultuar o Rei dos judeus. O recorte da cena dos magos com Cristo e Seus pais evidencia senso de adoração. O enfoque não eram e nunca deveriam ser os presentes e tudo o que foi criado em torno disso para consolidar o consumismo e fortalecer tradições completamente dissociadas da história bíblica, a exemplo da figura do Papai Noel, símbolo do natal comercial. O foco era Jesus, o adorado, porque simplesmente é Deus.

A casa de Jesus onde os magos o visitaram

Agora, vamos abrir um parêntese para uma pequena discussão teológica. Que casa era essa em que os magos encontraram a Jesus? Estamos acostumados a ver imagens em que os magos aparecem no estábulo, ao lado da manjedoura. Os presépios em nossos dias, comumente colocam na cena do nascimento de Jesus, a presença dos magos, adorando juntamente com os pastores o menino Jesus. Afinal, a visita ocorreu no estábulo ou na casa? O evangelista Mateus afirma que eles entraram "na casa" (Mt 2:11), e não numa estrebaria. Obviamente, essa não era a noite do nascimento de Jesus, “mas depois que Jesus nasceu” (Mt 2:1, NVI). A partir daí, pode-se concluir que após o nascimento de Jesus, seus pais já estavam morando numa casa e que ele não era mais um recém-nascido numa manjedoura. Logo, essa visita dos magos a Jesus aconteceu depois de vários dias, semanas ou até meses do nascimento de Dele e também após a visita dos pastores descrita por Lucas 2. A visita ocorreu muito provavelmente após a consagração de Jesus no templo de Jerusalém. Se a visita ocorreu após a apresentação no templo, Jesus teria pelo menos 40 dias de idade9, pois “a lei levítica estipulava que o tempo de “impureza” da mãe se tivesse um menino era de 40 dias, se tivesse uma menina, era de 80 dias [...]. Durante esse período ela deveria permanecer em casa e não deveria participar das práticas religiosas públicas. [...] A ida ao templo ocorreu antes da visita dos magos, porque, depois disso, José e Maria não se atreveriam a visitar Jerusalém. Além disso, deixaram Belém e foram ao Egito quase que imediatamente após a visita dos magos (ver Mt 2:12-15)”10    

Seguindo essa linha de pensamento, alguns afirmam que Jesus já teria a idade de um ou dois anos, já que Herodes mandou matar os meninos dessa idade. Esta posição parece forte, se levarmos em conta que o evangelho de Mateus afirma nitidamente que o Rei Herodes inquiriu sobre “o tempo exato em que a estrela tinha aparecido” para os magos (Mt 2:7, NVI). Note que o texto diz claramente que Herodes procurou saber sobre o “tempo exato”, não por alto ou mais ou menos, mas com exatidão. Com isso, ele veio a conhecer a idade de Jesus. Assim, se Jesus nasceu quando "a sua estrela apareceu" no leste, pode-se concluir que quando os magos o visitaram ele poderia estar ainda com até 2 anos de idade. Herodes deve ter esperado o retorno dos magos por alguns dias ou semanas, e então, quando percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos (Mt 2:16). Se os magos tivessem visitado Jesus recém-nascido, Herodes não teria colocado a idade da criança próximo aos dois anos de idade. Repetimos: Ele calculou essa idade com base nas informações que recebeu dos magos.

De fato, Ellen G. White afirma que no dia em que Jesus nasceu, os magos ainda estavam no Oriente, e viram “uma luz misteriosa nos céus, naquela noite em que a glória de Deus inundara as colinas de Belém. Ao desvanecer-se a luz, surgiu uma luminosa estrela que permaneceu no céu.”11 Até que investigassem os tratados de astronomia, consultassem sacerdotes e filósofos, e pesquisassem as profecias hebraicas, levou um bom tempo. Depois, “foram instruídos em sonhos a ir em busca do recém-nascido Príncipe"12, e gastaram outra temporada entre os preparativos e a viagem propriamente dita. Isto explica a demora até o encontro com Jesus.

Quanto a casa onde Jesus recebeu a visitas dos magos, a Bíblia Sagrada não revela que casa era essa. Há quem diga que tratava-se de uma hospedaria, uma vez que, com o fim recenseamento não mais haveria excesso de hóspedes. Outros dizem que tratava-se de uma casa alugada por José após o nascimento de Jesus. Todas essas posições são possíveis, e dificilmente se poderá saber ao certo o que ocorreu. Seja qual for a casa ou a época, o importante é que Jesus recebeu, dos magos, um presente de Natal.

Um presente para nós

O primeiro presente de Natal, porém, não foi o presente dos magos. Naquele primeiro Natal, antes de os magos chegarem a Belém, outro Presente estava sendo dado por Deus para nós, e o presente era o próprio Jesus. Ele é o verdadeiro Presente de Natal.

Ao passo que os magos se sacrificaram para dar um presente para Jesus, Deus estava sacrificando-Se para dar um presente para nós. E que Presente! Deus condescendeu em tornar a humanidade o centro das atenções do Natal, dando-nos o que de mais precioso havia no Céu - Seu próprio Filho. Nosso para sempre, Ele veio como um menino “que nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9:6, NVI). Quem pode negar que esse foi o mais extraordinário evento na história terrestre, o maior presente de Deus para a humanidade? Ele entrou neste mundo para aproximar-Se de nós, mostrar-nos o amor de Deus e dar-nos vida eterna. “Ao tomar a nossa natureza o Salvador ligou-Se à humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos estará ligado por toda a eternidade."13

Após receber o Presente de Deus, o homem passou a ser a única criatura do Universo a ter parentesco com a Divindade, o que ele não possuía nem mesmo antes do pecado. Nem os anjos possuem esse parentesco. Não existe, por exemplo, nenhum anjo que seja também Deus. Existe, porém, um homem que é Deus, ou seja, o homem possui um Irmão entre as três Pessoas da Divindade. E isto nós ganhamos de presente no Natal. O Dono da festa fez a festa para nós.

O nosso presente para Jesus

E nós, para quem estamos fazendo a festa no Natal? Geralmente desejamos "boas festas e feliz Natal " para muita gente. E é bom que assim seja. Mas o que entendemos por "boas festas"? Para as crianças, a festa é boa quando recebem muitos presentes. E não somente para elas. Para Jesus também, por incrível que pareça. Ou Jesus não gosta de presentes? Óbvio que sim. O problema é que quase nunca Ele recebe um presente de Natal.

Não há nenhum erro em dar presentes para os amigos e familiares. O erro está em nos esquecermos de que Jesus é o Dono da Festa. “Muitos oferecem presentes aos seus amigos terrestres, mas não têm nada para dar a Jesus, o seu Amigo do Céu, que lhes dá todas as bênçãos. Não devia ser assim. Devemos dedicar a Ele o melhor do que possuímos, o melhor do nosso tempo, dos nossos recursos e do nosso amor. Podemos também dar a Cristo, quando damos nossas ofertas para confortar os pobres e anunciar aos pecadores o Salvador. Deste modo podemos ajudar a salvar aqueles por quem Ele morreu. Estas são dádivas que Jesus aceita e abençoa.”14

Para Jesus, a festa é boa quando Lhe damos Seu presente predileto. É um presente tão desejado que Ele chega a pedi-lo: “Meu filho, dê-me o seu coração” (Pv 23:26, NVI). Esse é o melhor presente para Jesus. Durante esse período natalino, o maior presente que podemos apresentar a Jesus é um coração receptivo, somos nós mesmos. Não importa quão insignificante seja nossa vida, é a intenção pura e o gesto de fé que Lhe agradam. Os magos deram tudo de si, e, junto com o presente, levaram o próprio coração. Jesus espera o nosso presente. Não gostaria você de desejar "boas festas e feliz Natal" para Jesus? Curvemo-nos e adoremo-Lo neste natal!

Feliz Natal para todos e todas!!!

Referências:

1. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [Tatuí: CPB, 2004], p. 48.

2. Francis D. Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia [Tatuí: CPB, 2014], v. 5, pág. 293.

3. Interpretação de Mateus 2; Biblioteca Bíblica digital. Disponível em < https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2015/11/interpretacao-de-mateus-2.html> Acesso em 11 de dezembro de 2023.

4. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [Tatuí: CPB, 2004], p. 60.

5. Francis D. Nichol, obra citada, p. 293.

6. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações [Tatuí: CPB, 2004], p. 60, 61.

7. Idem, pág. 63.

8. Idem, p. 60.

9. Francis D. Nichol, obra citada, p. 296.

10. Francis D. Nichol, obra citada, p. 770.

11. Ellen G. White, obra citada, p. 60.

12. Idem.

13. Idem, p. 25.

14. Ellen G. White, Vida de Jesus [Tatuí: CPB, 1987], p. 29, 30.

 

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