UM FANTASMA RONDA O MUNDO CRISTÃO
Ricardo André
“Um fantasma ronda a Europa — o fantasma do comunismo”. É assim que Karl Marx e Friedrich Engels iniciam o Manifesto Comunista, uma das obras mais importantes da História, publicado em 1848. Nesse panfleto político se consolidou a maioria das ideias que rondava os socialistas da época, agrupando os ideais revolucionários em uma obra só. A luta de classes entre a burguesia e o proletariado assim como a abolição da propriedade privada eram aspectos intrínsecos a análise materialista da sociedade desenvolvida pelos dois pensadores alemães.
Eles sugeriram a participação dos trabalhadores no processo político em uma época em que muitos eram contra até mesmo o voto universal, fazendo parte de um movimento radical nas teorias da Europa. Mais que isso: eles defendiam a ideia de que os próprios proletários deveriam conduzir a transformação na sociedade, em um movimento até o comunismo.
Eles acreditavam ainda
que isso seria inevitável. A vitória dos trabalhadores colocaria um fim ao
capitalismo que estava sendo moldado e continua sobrevivendo até os dias de
hoje. Se autodestruindo, o sistema seria substituído pelo socialismo, e,
depois, finalmente, pelo comunismo.
Essa obra impactou
profundamente o mundo no século passado. Inspirou revoluções socialistas, a
exemplo da Revolução Russa em 1917, a criação de partidos comunistas e o
surgimento de movimentos sociais de caráter marxista em várias partes do mundo.
Após 175 anos da
publicação do Manifesto Comunista, um novo fantasma ronda o mundo cristão e não
é o comunismo, mas o neofascismo. O
Brasil vive uma crise social e política que deixa em evidência o quanto os
cristãos brasileiros são ideológicos e rasos. É assustador ver professos
cristãos, tanto católicos como evangélicos, aderindo o neofascismo ou a extrema
direita. O fato mais evidente da união do mundo gospel com o
pensamento fascista foi o apoio irrestrito da maioria dos evangélicos e
católicos carismáticos a candidatura de Jair Bolsonaro nas duas últimas
eleições presidenciais no Brasil. Centenas de pastores de forma esdrúxula
orientaram seus fiéis a votarem na candidatura de extrema-direita e que
apresentava-se bastante distante dos valores pregados por Cristo. Muitas
igrejas tornaram-se verdadeiros palanques eleitorais. Durante as campanhas eleitorais
de 2018 e 2022 viu-se imagens deprimentes de alguns pastores considerados
ícones de igrejas evangélicas e fiéis fazerem ‘arminhas’ com as mãos para
demonstrar apoio ao candidato Bolsonaro, bem como transformando os cultos em
comícios pró-Bolsonaro. Grande parte dos evangélicos o vê como um
“predestinado”, que veio para “libertar” e o segue fielmente.
Se quisermos entender
nosso preocupante presente, precisamos prestar atenção à história. Ela nos
lembra as brutalidades, injustiças e violências perpetradas pelos nazifascistas
na Itália, na Espanha e, de forma extremada, na Alemanha sob o nazismo de
Hitler, no século passado. Foram cerca de seis milhões de judeus assassinados,
e outros milhares de socialistas, ciganos, camponeses, homossexuais - em nome
de “raça pura”, pensamento único, uniformização da sociedade a partir dos que
estão no poder tiranizando a maioria do povo e tecendo relações sociais
escravocratas.
A pergunta que surge de
pronto é: Por que apesar do nazifascismo ter sido uma experiência tão nefasta e
devastadora para a humanidade no passado atrai hoje milhões de cristãos no
Brasil e no mundo? Antes de buscarmos uma resposta para essa questão, é preciso
sabermos o que é o fascismo. Estudiosos do assunto têm definido o fascismo como
uma ideologia, de caráter extremamente nacionalista, que identifica no
estrangeiro ou no diferente uma real ameaça contra a ordem da nação. Os
fascistas não têm nenhum apreço pela democracia, defendem a formação de um
regime autoritário capaz de destruir o regime democrático; são altamente
preconceituosos e conservadores; não suportam a igualdade social; defendem a
submissão das mulheres (o patriarcado) e, por meio de fake news promovem a guerra cultural contra aqueles que pensam
ideologicamente deles, a exemplo dos “esquerdistas” ou “socialistas”.
Recentemente, o
filósofo e professor da Universidade de Yale nos EUA, Jason Stanley, em seu
livro “Como Funciona o Fascismo”, publicado em 2018, instigado, como tantos,
pela eleição de Donald Trump e outros episódios contemporâneos de retrações
democráticas, propôs uma série de princípios fundamentais para o fascismo. A
partir de um resgate de uma série de experiências históricas, o autor enumera
dez elementos constitutivos de uma política de tipo fascista, quais sejam: 1)
defesa de reviver um passado mítico e glorioso; 2) uso intenso de propaganda para
distorcer e minar conceitos e instituições democráticas (tendo como pretexto o
combate à corrupção); 3) anti-intelectualismo, atacando permanentemente universidades
e intelectuais; 4) irrealidade; 5) uma forte noção de hierarquia; 6)
vitimização; 7) valorização da lei e da ordem baseada na ideia de grupos
minoritários criminosos; (8) ansiedade sexual e defesa do patriarcado; 9)
denúncia às grandes cidades cosmopolitas como centros de corrupção política e
moral; 10) valorização do “trabalho árduo” em prejuízo de sistemas de bem-estar
social.
Segundo os ideólogos da
extrema direita, os “esquerdistas” ou “comunistas” possuem um suposto “plano”
para destruir a cultura ocidental, essencialmente marcada pelos valores
judaico-cristãos. E, essa destruição ocorreria por meio de ataques culturais
que desprezariam os valores do cristianismo, da família cristã e da nação,
abrindo espaço para uma nova visão de mundo e um sistema de controle,
envolvendo liberação sexual e um declínio moral e estético, bem como a aprovação de
leis a favor do aborto, do casamento homoafetivo, entre outras coisas, que
gradualmente implantaria o socialismo no Brasil e no mundo.
Ora, se os intelectuais
religiosos neofascistas dizem que o diferente e os esquerdistas vão destruir os
valores e tradições do cristianismo, pregam então que apenas uma “guerra
cultural” imediata contra tais demônios trará a verdadeira paz no Brasil e no
mundo. É
a partir dessas ideias enganosas potencializadas pelas redes sociais que a extrema-direita mobiliza os cristãos de
todos os matizes em torno dos seus objetivos e os atrai para seu campo
político. De modo que nesses últimos quinze anos um movimento fundamentalista
religioso tomou força e adotou o neofascismo, defendendo a
proteção e a restauração de valores cristãos, já que esses estariam
supostamente “sob ataque”.
Contaminados por essa
teoria conspiracionista, denominada de “Marxismo Cultural”, os cristãos nos
EUA, Brasil e em outras partes do mundo acreditam estar participando de uma
guerra entre o bem e o mal, uma guerra espiritual. Portanto para eles, eleger
políticos fascistas como Donald Trump e Jair Bolsonaro é batalhar por Deus,
pois estão salvando a família e a pátria do comunismo. Na
eleição passada, os evangélicos acreditavam piamente que estavam lutando
(física e espiritualmente) contra o mal encarnado em Lula, um “político das
trevas”, “diabólico”, corrupto, que usurpou o sistema político a fim de
reintroduzir no Estado Brasileiro o projeto satânico da esquerda de destruição
da família, da Igreja e, por fim, de toda a civilização judaico-cristã.
A
direita cristã e a “estratégia” de ascensão ao poder
Hoje temos em nosso
país uma extrema direita perigosa aliançada com as igrejas cristãs, cujos
líderes para defender os chamados valores cristãos e da família pregam o ódio,
a intolerância, o desrespeito ao outro que pensa ou vive de modo diferente
daquele que julgam ser o correto. Mais não somente isso, possuem um plano
político para tomada de poder no Brasil. A estratégia política evangélica,
especialmente de algumas igrejas neopentocostais para dominar o país é
denominado de “Teologia do Domínio” ou “dominionismo”, desenvolvida primeiro
nos Estados Unidos, e depois importada para o Brasil. E é essa estratégia de
“guerra santa” que explica a entrada em campo de centenas de pastores e
milhares de evangélicos na campanha pela reeleição do presidente Jair
Bolsonaro. Para além da campanha presidencial, alguns líderes das igrejas
evangélicas fundam e filiam-se a partidos políticos de direita para elegerem vereadores,
prefeitos, governadores e deputados estaduais, deputados federais e senadores, vistos
pelos evangélicos como “servos de Deus” ou “ungidos do Senhor” para dominar a
política. Tomando o poder, a nação será uma nação consagrada ao Senhor Jesus,
pensam eles. Essa é a lógica da “Teologia do Domínio”.
Há anos que os
evangélicos de extrema-direita formaram uma “bancada evangélica” no Congresso
Nacional, apelidada de “Bancada da Bíblia”, que não para de crescer, no embalo
dos templos neopentecostais dos bispos eletrônicos espalhados por todo o país. Ocorre
que ela vem votando sistematicamente contra a democracia, o Brasil e o povo brasileiro
sem que uma parcela considerável dos evangélicos percebam. Ela
é
campeã no apoio maciço a projetos que penalizam e sacrificam ainda mais os que
já não têm nada. E todos sabem que a maioria esmagadora dos evangélicos
pertence à parcela mais pobre da população.
A bancada evangélica,
com raras e honrosas exceções, nos últimos tempos apoiou: A farsa do golpe parlamentar, sem crime de responsabilidade, que tirou do governo uma presidenta
honesta, para pôr no seu lugar um bando de criminosos; A emenda que congelou
gastos com saúde e educação públicas por 20 anos; A mudança na lei do petróleo,
que entregou as riquezas abundantes de óleo da camada do pré-sal aos
estrangeiros, verdadeira traição à pátria; A reforma trabalhista, que liquidou
com a CLT (o que nem a ditadura militar ousou), roubando direitos históricos da
classe trabalhadora e abrindo caminho para a hiperexploração dos que vivem de
seu trabalho; Apoiou o projeto de terceirização irrestrita, inclusive da
atividade fim, que destruirá categorias profissionais e provocará a
precarização generalizada do mundo do trabalho. Exemplo: em vez de contratar um
bancário ou um metalúrgico, respeitando os direitos conquistados por seus
sindicatos, o empregador optará por um terceirizado, com salário menor e sem
direitos; Vários projetos de lei e de emendas constitucionais que representam
retrocessos em direitos e garantias sociais alcançados ou em processo de
conquista são articulados por estes grupos. Entre eles estão a liberação do
porte de armas, a redução da maioridade penal, a privação dos povos indígenas
ao direito aos seus territórios, a obstrução ao direito ao aborto legal em caso
de estupro, o desprezo ao Estado Laico com a imposição de princípios religiosos
específicos sobre todos os cidadãos e cidadãs, entre outros.
A
extrema direita cristã e os ataques golpistas do dia 08 de janeiro
Inconformados com os
resultados das eleições do ano passado, que sagraram a vitória do candidato de
centro-esquerda Luiz Inácio da Silva, milhares de cristãos tanto católicos como
evangélicos bolsonalistas armaram acampamentos em frente a vários quartéis
generais no Brasil. E permaneceram ali durante dois meses, preparando-se para
um ataque golpista que pretendia demover do poder o Presidente Lula, eleito
democraticamente pela maioria dos eleitores brasileiro. Esses acampamentos
receberam apoio do alto comando do Exército e foram financiados por empresários
bolsonaristas, principalmente ligados ao agronegócio. A tentativa de golpe
aconteceu no dia 08 de janeiro de 2022, quando milhares de bolsonaristas
fascistas invadem os palácios dos Três Poderes da República – o Planalto, o STF
e o Congresso Nacional - e promovem um quebra-quebra, destruindo as mobílias e muitos
objetos de arte que fazem parte do patrimônio cultural do Brasil, que chocaram
o país e o mundo. Toda imprensa internacional comentava, na TV e nos onlines,
no domingo, a tentativa de golpe de bolsonaristas.
O ataque a essas
instituições da República representou um ataque a democracia. O objetivo claro
dos extremistas era produzir o caos a fim de que as Forças Armadas entrassem
com um golpe sob o pretexto de garantir a lei e a ordem. Sem o apoio da
comunidade internacional, da mídia local e de grande parcela da população, a
tentativa de golpe fracassou. O novo governo tomou medidas rápidas e acertadas,
a exemplo do decreto de Intervenção Federal na segurança pública do Distrito Federal,
que garantiu a ordem e a segurança.
Importa ressaltar que
esse triste episódio de vandalismo visto em Brasília teve a participação
efetiva dos cristãos neofascistas, movidos por discursos religiosos ideológicos
de diversos pastores nas redes sociais. Tais discursos estavam eivados de
pautas morais, o conservadorismo da sociedade brasileira. Exatamente pautas que
mobilizam esse seguimento da sociedade. Nos vídeos divulgados nas redes sociais
viu-se, de forma deprimente, alguns “crentes” de joelhos orando, cantando hinos
e erguendo a Bíblia Sagrada. Os pastores não estavam presente nos acampamentos
tampouco no dia do ataque fascista, mas pavimentaram o caminho, legitimando os
acampamentos bolsonaristas há meses e atos dos extremistas. Alguns deles
organizaram caravanas para levarem fieis a Brasília. É um vitupério para o
cristianismo! Pastores que deveriam ser exemplos de pacificadores, de respeito
às leis do país e a democracia, fizeram exatamente o contrário, instigaram os
fiéis a desobedecerem as leis e a praticarem a violência.
Não podemos esquecer o
efeito das pregações e os gritos golpistas de Silas Malafaia nas redes, os
apelos golpistas de Cláudio Duarte e de outros pastores usando sem nenhum pudor
a Bíblia Sagrada para justificar suas falas antidemocráticas em favor de uma
ditadura teocrática bolsonarista. Certamente, em Brasília, no dia 08, havia,
seguidores de Malafaia e Duarte. Eles têm propagado um discurso de legitimação
da morte e da destruição, que é antibíblico e anticristão. Esse fato deplorável
escancarou o neofascismo das igrejas cristãs do Brasil.
As
pautas dos cristãos neofascistas e as Sagradas Escrituras
As pautas e atitudes
defendidas pelos cristãos de extrema-direita não se coadunam com os valores
expressos na Palavra de Deus. Eles, lamentavelmente, preconizam o
ódio, a intolerância, o desrespeito ao outro que pensa ou vive de modo
diferente daquele que julga ser o correto, contrariando o que Cristo sempre
pregou, que foi o amor ao próximo, amar o outro como a si mesmo. Ele disse: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mateus
22:39, NVI).
Muitos evangélicos
chegam ao absurdo de defenderem a famigerada ideologia do “bandido bom é
bandido morto”. Como subscrever tal ideia, quando Jesus não hesitou em impedir
o apedrejamento da mulher adúltera (Jo 8:7) e ainda salvou o malfeitor pregado
na cruz ao lado da sua (Lc 23:39)? Bandido bom é aquele que é ressocializado e
transformado. Com que cara visitaremos os presídios para pregar o evangelho
eterno depois de apoiar que tem como slogan “bandido bom é bandido morto”? Cristãos
que apoiam essa ideia deveriam ler o texto em que Jesus censura Pedro que,
mesmo agindo em legítima defesa, lançaria mão de uma arma, o que apenas
reproduz a violência (Mt 26:52). Lembremo-nos de que “bem aventurados os
pacificadores porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9).
A escritora cristã
norte-americana Ellen G. White afirmou que, quando uma pessoa desenvolve “o
espírito de ódio e vingança” por outra, viola o sexto mandamento da santa Lei
de Deus, que proíbe não matar (Êx 20:13). Ela escreveu: “Todos os atos de
injustiça que tendem a abreviar a vida; o espírito de ódio e vingança, ou a
condescendência de qualquer paixão que leve a atos ofensivos a outrem, ou nos
faça mesmo desejar-lhes mal (pois "todo aquele que odeia a seu irmão é assassino"
I João 3:15) ... são, em maior ou menor grau, violação do sexto mandamento” (Mente, Caráter e Personalidade, v. 2, p.
527). E, ainda diz que “aquele que dá ao ódio um lugar no coração, está
pondo o pé no caminho do assassínio, e suas ofertas são aborrecíveis a Deus”
(Ibdem). Portanto, os discursos de ódio e de violência de muitos cristãos
bolsonaristas contra os mais vulneráveis é profundamente anticristão, porque
nega os princípios bíblicos.
Defendem o armamento da
população civil como solução para a violência. Tal postura não se coaduna com o
princípio cristão, uma vez que incita o ódio. Ademais, Cristo Jesus veio para
estabelecer a paz (Lc 2:14, 29; 19:42), Ele ensinou a necessidade de paz (Mt
5.9). “Deixo-lhes a paz; a minha paz
lhes dou” (Jo 14:27). Pensando nessa carência de harmonia e união entre os
cristãos, Paulo escreveu aos colossenses: “Seja
a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em
um só corpo; e sede agradecidos” (Cl 3:15).
A bancada evangélica no
Congresso Nacional sempre vota em projetos conservadores e reacionários, que
retiram direitos dos trabalhadores, que privam os indígenas de usufruírem do
direito aos seus territórios, que reduz a maior idade penal para punir os
menores em conflito com a lei. As Sagradas Escrituras revelam um Deus amoroso,
que ama cada pessoa com cada fibra do Seu Ser, cuja maior revelação foi a
encarnação de Jesus. Elas dizem: "Porque
Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele
crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16, NVI). A pauta do amor
de Deus é justiça, despojamento e misericórdia. É a preferência pelos mais
fracos, chamados de “pequeninos”: os pobres, as crianças, os negros, as
mulheres, os desprezados, os presos, os estrangeiros. Ele assegurou: “Sempre
que o fizeram a um destes meus pequeninos irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt
25:40) e “Sempre que o deixaram de fazer a um destes mais pequeninos, foi a mim
que o deixaram de fazer” (Mt 25:45).
A Bíblia ainda diz: "Erga a voz em favor dos que não podem
defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com
justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados" (Pv 31:8,9,
NVI). Portanto, à luz das Sagradas Escrituras, a busca da justiça social
não é uma opção para os cristãos, mas um mandado do Senhor.
No passado, movido pelo
chamado de Deus e pela compreensão de que Ele deseja a justiça, os profetas
ousaram ser a voz dos oprimidos (Is 1:17, 23 e 24; Mq 6:8; Ez 16:49). Deus
ainda hoje pede que busquemos a justiça social e lutemos contra a opressão e
pelos direitos dos pobres e excluídos. Como cristãos, antes que Cristo Jesus
volte em glória e majestade, devemos promover as mudanças sociais que refletem
os valores e ensinamentos de Jesus.
Erguer a voz para
afirmar de forma abstrata que defende a família e na prática defende amputar
direitos trabalhistas, previdenciários, dos indígenas e dos quilombolas, retirar
dinheiro do SUS e da farmácia popular é na prática pôr no corredor da morte
milhões de famílias empurrando-as para a fome, a doença e a morte lenta, como a
tragédia que está acontecendo com o povo Yanomami. Estes estão morrendo de fome
e de doenças por terem sido desprezados pelo governo Bolsonaro, e que negou
ajuda a eles durante seus quatro anos de governo, bem como, de forma criminosa,
favoreceu a invasão dos mineradores e madeireiros nas terras dos indígenas
yanomais.
Conclusão:
O fantasma do fascismo
ronda o mundo cristão da atualidade. Todavia, definitivamente, o fascismo não
combina conosco. O discurso de vários líderes religiosos dá voz aos ódios
internalizados: ódio de classe, de gênero, de gays, das minorias. Ele congrega
vários ódios. Já passou, portanto, da hora de os evangélicos
abrirem os olhos, abandonarem o ideal fascista e voltarem-se para o verdadeiro
cristianismo, que possui o Deus encarnado e amoroso como
referência.
Se a comunidade
evangélica decidir continuar ficar do lado dos opressores dos fracos e daqueles
que desejam fazer da violência o centro de gravidade de um país, ela estará
dando uma clara demonstração de que o cristianismo não tem valor. Para isso,
não existe perdão.
No cristianismo, a
neutralidade quando a vida e os direitos das pessoas estão em jogo é um pecado.
O Deus cristão exige a coragem de saber se posicionar contra os violentos, no
pelotão dos indefesos condenados ao esquecimento e principal alvo da violência.
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