A ETERNIDADE NOS DARÁ RESPOSTAS QUE GOSTARÍAMOS DE OUVIR HOJE

 Ricardo André

“Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar. Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. Mas ele me disse: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim” (2 Coríntios 12:7-9, NVI).

INTRODUÇÃO

Neste capítulo 12 de sua segunda carta aos coríntios, o apóstolo Paulo fala de uma experiência extraordinária que ele havia tido há quatorze anos antes da escrita da carta. Experiência tão extraordinária que ele hesita em falar sobre ela. Ele fala do homem que viveu essa experiência na terceira pessoa, mas nitidamente ele estava falando de si mesmo. A questão é que ele queria evitar ao máximo de se vangloriar como faziam os falsos apóstolos.

Paulo afirmou que teve visões e revelações da parte do Senhor. Ele foi arrebatado ao terceiro céu, isto é, ao paraíso, lugar da morada de Deus, e ouviu palavras inefáveis, impronunciáveis (2 Co 12:4). Então para garantir que ele não viesse a se exaltar, Deus lhe enviou um espinho na carne (v. 7). O apóstolo não explicou que espinho era esse, mas deixou claro que lhe era muito doloroso. Não era apenas uma irritação na pele, mas algo que o fazia sofrer intensamente.

Então por três vezes ele pediu ao Senhor que resolvesse essa situação incômoda. No entanto, ele escutou do Senhor: “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. (v. 9). Na versão BKJ Fiel 1611 esse verso aparece assim: “A minha graça é suficiente para ti, porque a minha força se aperfeiçoa na fraqueza”.

Ao escrever esse texto aos coríntios, o apóstolo apresenta uma mensagem desafiadora e repleta de esperança: “a minha graça te basta”. Essas palavras, ditas a ele por Cristo, ressoam com poder e consolo até hoje, encorajando todos os que enfrentam dificuldades e se sentem sobrecarregados pela vida.

Neste contexto, a “graça” de Cristo é entendida como seu amor incondicional, sua misericórdia que não merecemos, mas que é abundantemente dada a todos nós. Essa graça é o que nos capacita a superar os desafios, a permanecer firmes em meio às tempestades da vida e a seguir em frente quando tudo parece perdido.

Mas, o que era o espinho na carne do apóstolo Paulo? O que realmente significa as palavras do Senhor Jesus “a minha graça te basta”? Como essa afirmação, feita há mais de dois mil anos, pode impactar nossas vidas no século XXI?

Essas são as perguntas que buscaremos responder ao longo desta mensagem. Vamos mergulhar profundamente nessa poderosa declaração de fé e explorar como ela pode transformar nossas vidas, nossas atitudes e nossos relacionamentos.

Eu convido a todos e todas a junto comigo desvendar o significado por trás das palavras de Jesus e entender como a graça de Deus é, verdadeiramente, tudo o que precisamos.

I – O “ESPINHO NA CARNE”

A natureza exata deste espinho é objeto de debate entre os estudiosos até hoje, ao mesmo tempo objeto de muita especulação. É óbvio que tratava-se de uma forma de sofrimento físico ou angústia que Paulo suplicou ao Senhor para remover.

Possivelmente ele estivesse referindo-se a sua luta contra a tentação e o pecado. Afinal, ele mesmo fala sobre sua batalha pessoal, quando era dominado pelo mal e sobre sua incapacidade de fazer o bem que desejava (Rm 7:19, 20).

Poderia também ser a terrível a terrível oposição que ele enfrentava. Muitos questionavam a genuinidade de seu apostolado, outros rejeitavam sua mensagem da graça (2 Co 12:11, 12; 1 Co 9).

Poderia ser a pesada carga que ele carregava, ao sofrer um martírio quase permanente para pregar o evangelho (2 Co 11:23-27). Talvez estivesse pedindo apenas que Deus aliviasse sua carga.

Ellen G. White explica que esse “espinho na carne” tratava-se da dificuldade de visão do apóstolo. Ela escreveu: “Paulo tinha uma aflição física; sua visão era ruim. Ele achou que, por fervorosa oração, a dificuldade pudesse ser removida. Mas o Senhor tinha Seu propósito e disse a Paulo: ‘A Minha graça basta’. Ela o capacitará a suportar a enfermidade” (Carta 207, 1899, citado em CBASD, v. 6, p. 1235).

Seguindo a mesma interpretação de Ellen White, o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia sugere que se tratava de uma enfermidade física, “não era mental nem espiritual. Era algo evidente, que lhe causava considerável constrangimento e inconveniência. Era uma aflição que afetava os olhos (Gl 4:13-15)” (v. 6, p. 1017).

De fato, em Gl 6:11 e 17, Paulo sugere que algo não ia bem com seus olhos. Possivelmente, ele nunca tenha se recuperado plenamente da viagem a Damasco. A visão clara do Cristo glorificado pode ter lhe custado muito da visão física. Qualquer que fosse a natureza desse espinho doloroso, ele orou intensamente para que lhe fosse retirado; mas a resposta divina foi: “A Minha graça te basta”.

Todos nós temos um “espinho na carne”. Nesse mundo impregnado pelo pecado e cheio de cicatrizes, não estamos imunes a dor, ao sofrimento e as inúmeras dificuldades. O sofrimento alcança todos nós. Numa hora ou outra ainda passaremos por momentos e situações doloridas. Muitas vezes somos confrontados com o fim do casamento, conflito com os filhos, crise financeira, um acidente que nos deixam paralíticos ou paraplégicos, um trauma emocional, o remorso de consciência quando sucumbimos as tentações, a perda de um ente querido de forma trágica ou por uma doença terminal, um diagnóstico de uma doença grave. Quantas famílias convivem com a perda ou dor! Tudo isso são espinhos na nossa carne ou na nossa vida. Nessas ocasiões, muitas vezes, os amigos e irmãos de fé desaparecem. Então, somos tomados pelo sentimento de derrota quando vemos as coisas darem errado na nossa vida. Somos levados a indagar: por que as coisas não dão certo comigo? Por que, Senhor, tudo isso acontece comigo, apesar de ser um servo teu, buscar diariamente a Tua presença, querer o bem das pessoas, dos meus familiares, ser uma pessoa honesta, … Por que as coisas não dão certo? Por que, Senhor?

Quantas vezes temos a sensação de que estamos sozinhos ao enfrentarmos uma luta ou um desafio em nossa vida? Dependendo do tamanho da adversidade, somos dominados pelo medo e pelo desespero, nossa fé é abalada e nos sentimos à deriva, à mercê dos ventos da tempestade da vida.

Nossos dramas humanos são inúmeros e diversos. Jesus sempre nos diz a verdade e é por isso que em João 16:33 Ele afirma: "No mundo tereis aflições [...]”. Ele não disse que poderíamos, Ele disse teríamos. Mas, por quê? A única resposta que posso dar honestamente consiste em três palavras: "Eu não sei." Eu não posso estar no lugar de Deus e dar uma resposta completa a essa pergunta.

É possível que, em algum momento da vida, você tenha orado fervorosamente para se livrar de uma dificuldade, apenas para ver passarem os dias e tudo continuar como sempre. Que sentimento alimentou, então? Nesses momentos, o que mais buscamos são respostas. Queremos entender os porquês. Mas tudo o que nossa mente alcança é muito limitado, além de correr o risco de um equívoco. Apenas Deus e a eternidade vão nos mostrar as respostas. Só na eternidade compreenderemos plenamente por que coisas ruins aconteceram e acontecem conosco.

Sobre isso Ellen G. White escreveu: “Todas as perplexidades da vida serão explicadas. Onde para nós apareciam apenas confusão e decepção, propósitos frustrados e planos subvertidos, veremos um propósito grandioso, vitorioso – uma harmonia divina” (Educação [CPB, 2021], p. 214).

“Tudo quanto nos tem confundido acerca das providências de Deus será esclarecido no mundo vindouro. As coisas difíceis de serem compreendidas terão então explicação. Os mistérios da graça nos serão desvendados. [...] Ao reconhecermos o terno cuidado Daquele que faz todas as coisas contribuírem para o nosso bem, regozijar-nos-emos com júbilo inexprimível e repleto de glória” (Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja [CPB, 2007], v. 9, p. 286).

Portanto, no Céu veremos que as aflições permitidas por Deus tiveram um objetivo em vista, e que Sua misericordiosa providência tirou algo de bom das experiências com que Satanás pretendia destruir-nos (Rm 8:28). Essa é a segurança que podemos ter: Deus sempre permite o que é melhor, por mais que não sejamos capazes de compreender hoje.

Ellen White nos garante que, apesar do sofrimento, “Deus não conduz jamais seus filhos de maneira diferente do que eles escolheriam se pudessem ver o fim desde o princípio, e discernir a glória do propósito que estão realizando como Seus colaboradores” (A Ciência do Bom Viver [CPB, 2015], p. 479)

Veja só! Aqui está Paulo convivendo com uma provação, sem que isso significasse abandono ou castigo da parte de Deus. Em vez de remover o espinho, Deus promete a Paulo que Sua graça compensará a dificuldade enfrentada. Deus havia permitido a prova para mantê-lo humilde. Quanto maiores fossem seus privilégios, mas necessário era que percebesse sua absoluta dependência de Deus.

Então, quando você se deparar com os “espinhos” da vida, lembre-se de que não está sozinho. Deus está com você, e a graça Dele é suficiente para você. Ele te fortalecerá e te sustentará, assim como fez com Paulo.

Quando você perde um ente querido, que é responsável pelo sustento da casa e fica sem saber que caminho tomar, e se pergunta: “O que devo fazer?”, Deus vai dizer: “Minha graça é suficiente para você”. Quando você precisa ser enviado para trabalhar num lugar que não esperava, Deus vai dizer: “Minha graça é suficiente para você”. Quando está sob o comando de um chefe dominador, com quem você se sente amedrontado diante do que pode acontecer, Deus vai dizer: “Minha graça é suficiente para você”. Quando você tem que conviver com uma dor que não passa, com uma consciência culpada e com um filho rebelde, Deus diz: “Meu poder é revelado quando você é fraco!”

Refletindo sobre esse texto, penso que meu espinho na carne me faz entender que sou extremamente dependente de Deus. Sem o seu amor e a sua misericórdia, não passo de alguém que não consegue sequer lutar contra minha natureza corrompida pelo pecado. Ao mesmo tempo, o meu espinho na carne me faz ser solidário com meus irmãos, buscando ajudá-los em suas lutas e tribulações. O meu espinho na carne me faz desejar, cada dia mais, que nosso Salvador e Senhor, Jesus Cristo, volte o quanto antes, pois como disse Paulo, “considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rm 8:18, NVI).

II – A SUFICIÊNCIA DA GRAÇA

Na resposta de Jesus a oração de Paulo – “a Minha graça te basta” – encontramos um poderoso lembrete para Paulo – e para todos nós – de que mesmo em meio ao sofrimento, a graça de Deus é suficiente. A mensagem do Senhor revela a profunda humildade de Paulo e sua dependência total da graça de Deus. É um lembrete para nós, também, de como devemos encarar nossos próprios desafios e dificuldades.

É vital ressaltar que esta resposta divina não é uma promessa de uma vida sem desafios ou dor. Ao contrário, é uma garantia de que, em meio a essas adversidades, Deus estará presente. É uma declaração que expressa o poder de Deus em operar por meio de nossas fraquezas, transformando-as em plataformas para o Seu poder e glória.

A resposta do Senhor, “a Minha graça te basta” também nos confronta com a realidade de que não somos autossuficientes. Mas a graça de Deus que é suficiente para tudo em nossa experiência cristã. Ela nos sustenta e nos fortalece. Por causa dela, somos aceitos, perdoados e salvos. No entanto, isso vai além de simplesmente perdoar os pecados. A graça de Deus também capacita e fortalece os crentes a enfrentar adversidades e viver de acordo com os preceitos divinos. Nossa inteligência não nos basta; nossos recursos financeiros e nossos bens também não. Nossos amigos ajudam, mas não resolvem tudo. Só a graça é suficiente.

“A Minha graça te basta”, nos convida a confiar na suficiência da graça de Deus em todas as circunstâncias, por mais difíceis que sejam. Nossa fé em Deus e a aceitação de sua graça nos fortalecem e nos capacitam a superar os desafios da vida.

CONCLUSÃO

Caro amigo leitor, cada um tem seu “espinho na carne”, mas a graça divina continua sendo suficiente. Deus ainda não concluiu Sua obra em nós. Quando ela for concluída, todos os desafios serão superados. Quando Deus não dá a bênção que pedimos, Ele nos dá a paz de que precisamos.

A graça Dele sempre nos basta! Essa mensagem de Jesus é um lembrete de que, mesmo nos momentos mais sombrios, quando sentimos que estamos no fim de nossas forças, a graça de Deus é suficiente – não apenas para nos sustentar, mas também para nos transformar e nos fortalecer, mostrando Seu poder perfeito em nossas fraquezas.

Podemos não entender completamente por que certas coisas acontecem em nossas vidas, por que somos afligidos com certos “espinhos”. No entanto, a certeza de que a graça de Deus é suficiente nos momentos de nossa maior fraqueza pode nos trazer conforto e força.

Muitas vezes Deus permite que “os espinhos” nos atinjam para que eles se tornem bênçãos para nós, pois eles nos permitem ter um encontro mais íntimo e real com Deus. Quantas pessoas tiveram seu verdadeiro encontro com Deus em um momento de dor! Pararam para reavaliar sua vida espiritual e colocá-la em ordem. Passaram a buscá-Lo e a depender mais Dele. A extremidade do homem sempre é a oportunidade de Deus. Apesar de não ser o causador do sofrimento, Ele o permite como uma oportunidade eterna.

Nosso desafio é abrir os olhos, muitas vezes banhados de lágrimas, e enxergar as bênçãos que podem existir por trás de um momento de dor, reconhecendo que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28) e confiando no momento em que Ele “enxugará dos olhos toda a lágrima” (Ap 21:4).

Apelo: Você gostaria de confiar plenamente na graça de Deus em todas as áreas da sua vida e não em sua própria força ou habilidades (Provérbios 3:5-6)? Gostaria de dizer: “Senhor, dá-me Tua graça para eu enfrentar os desafios e as dificuldades que estou enfrentando atualmente”?

Oração: Querido Deus e bom Pai que estás no Céu, agradecemos-te pela Sua graça que é mais do que suficiente para nós. Que o Teu Espírito nos ajude a compreender plenamente a profundidade e a amplitude deste versículo, e a viver de acordo com essa verdade. Que esta mensagem toque nossos corações, transforme nossas vidas e se irradie para aqueles ao nosso redor. Ajude-nos a lembrar que, mesmo nos momentos mais difíceis, a Tua graça nos basta. Em nome de Jesus. Amém.